Jornalistas Livres

Autor: Aloisio Morais

  • O engano dos números de mortos na pandemia: A ilusão dos milhares – (I)

    O engano dos números de mortos na pandemia: A ilusão dos milhares – (I)

    Historiadores da Matemática afirmam que a invenção dos números foi estimulada por necessidades contábeis. Seria o caso dos famosos tokens escavados em Uruk, na Mesopotâmia: cerca de três mil anos antes de Cristo, objetos de argila com diversos formatos (cones, discos, cilindros, etc.) eram usados para expressar quantidades.

    Professor Alexandre Santos de Moraes[1] Professora Caroline Lacerda de Deus[2]

    Ignoramos a correspondência exata, mas o método funcionava mais ou menos assim: um token cônico poderia servir de símbolo para representar três sacos de cevada, ao passo que um cilíndrico representaria dez. Dispostos lado a lado, três cones e dois de cilindros representariam algo como 29 sacos de cevada. Esses objetos, portanto, faziam um processo de substituição conceitual: um escriba minimamente treinado poderia reconhecer, num átimo, a quantidade de produtos que eventual soma de tokens indicasse.

    O sistema se tornou mais sofisticado com a invenção da escrita e passou a dispensar o uso desses objetos. Bastava anotar (em papiros, pedras, tabletes de argila etc.) um símbolo que cumpria a função dos antigos tokens mesopotâmicos. Existiram inúmeros sistemas de numeração, mas o que se firmou globalmente foi o que utiliza algarismos indo-arábicos. Ele exige apenas dez símbolos (0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9) para expressar qualquer quantidade, razão pela qual é também chamado sistema decimal. O método é simples e eficiente, sobretudo por manejar as quantidades em função da posição que esses números ocupam. O valor do número “1” é diferente em “15” e “2001”: no primeiro caso, indica “10”, ao qual é apensando o “5” para formar “15”; no segundo, indica apenas uma unidade que foi adicionada ao “2000”.

    Mesmo o leitor pouco habituado ao universo da matemática deve conhecer a quantidade insofismável de questões que se desdobram com o refinamento desse processo de abstração. Não nos referimos apenas às famosas operações que são feitas a partir deles e que não precisam, para existir, de qualquer referente no mundo material. Assim, na base de tudo quanto é soma e equação, integral e divisão, derivada e multiplicação, há um “real matemático” que se impôs como resultado do desenvolvimento científico. Ele nos privou da exigência de buscar, em todo número, o objeto ou quantidade correspondentes. Se, para a Ciência, foi uma necessidade que se deu ao longo de seu desenvolvimento, para a vida em sociedade esse movimento se tornou fonte de possíveis e perigosos enganos.

    Letargia na pandemia

    Essa pode ser uma das explicações possíveis para a letargia diante dos números da pandemia. Números menores parecem chocar mais do que números maiores. Especialistas em etnomatemática devem discorrer sobre esse fenômeno com mais competência, mas arriscamos dizer que essa percepção se desenvolve com as práticas cotidianas. Em nossa rotina, não estamos habituados a manipular números muito grandes. A quantia que se lê no extrato da conta corrente não exige grande familiaridade com a casa dos milhares; não nos programamos para comprar três toneladas de feijão ou a beber 758.432 litros d’água além dos dois recomendados por dia. Números de telefone não expressam quantidade, assim como os dos canais de TV. Um litro faz mais sentido que mil mililitros. Quando se olha o relógio e vê que são 15h, deduz-se a posição que estamos no curso do dia, e não que se passaram 54.000 segundos desde 0:00h.

    Em suma, há certa tendência de que a abstração matemática aumente com a quantidade. Quando se lê que 30 pessoas morreram, temos mais facilidade em imaginar o significado e impacto da morte do que quando lemos que morreram 50 mil. Convivemos facilmente com 30 pessoas. Podemos fechar os olhos e imaginá-las lado a lado, produzindo uma imagem mental bem acurada do espaço que ocupam em uma superfície. A tarefa se torna mais difícil diante da cifra de 50 mil. Imaginar 30 sepulturas dispostas uma do lado da outra é tarefa simples; imaginar 50 mil é bem mais complicado.

    A cilada que essa situação provoca é tão curiosa como trágica: quanto mais mortos, mais se caminha em direção a essa abstração que dilui os números em símbolos amorfos e pouco eloquentes. Quanto mais mortos, mais distantes ficamos da realidade material traduzível pela quantificação e mais nos aproximamos desse “real matemático”, marcado pelo valor do número em si, e não pelo que ele traduz.

    Muita gente percebeu esse fenômeno. Nas redes sociais e nas mídias hegemônicas, busca-se estratégias para aquecer a frieza dos números. A comparação é uma delas. No dia 8 de agosto de 2020 atingimos o número assustador de 100 mil mortos, que é simbólico, em parte, porque exige a utilização de novo dígito. Cem mil é muita gente, tanta que é difícil imaginar. Cem mil é, por exemplo, o número de brasileiros e brasileiras que se reuniram no Rio de Janeiro em 26 de junho de 1978 para protestar contra a ditadura-militar. Cem mil é o número aproximado de mortos com a explosão da bomba atômica em Hiroshima no dia 6 de agosto de 1945. Cem mil foi o número de torcedores num Maracanã lotado que assistiram a vitória de 2 x 0 do Brasil sobre o Uruguai nas Eliminatórias de 1993. Cem mil é, enfim, o número de mortos em apenas cinco meses de epidemia do novo coronavírus no Brasil. De cada 7,3 mortos pela doença no mundo, um é brasileiro.

    Tragédias históricas

    Se esses números não são suficientes para dimensionar o terrível cenário que vivemos, comparemos com o número de vítimas de tragédias que chocaram o país e que não podem cair no esquecimento. Incêndios, por exemplo. Um dos mais famosos deve ser o incêndio do Gran Circus Norte-Americano, em Niterói (RJ). Morreram 503 pessoas nessa tragédia ocorrida em 1961. Um cemitério teve de ser ampliado e outro integralmente construído para sepultar as vítimas. No estádio Caio Martins, dezenas de carpinteiros fabricavam caixões para acomodar os cadáveres. Também foi muito conhecido o incêndio do Edifício Joelma, em São Paulo, ocorrido em 1º de fevereiro de 1974 e que deixou 187 mortos. Dois anos antes, também em São Paulo, o incêndio no Edifício Andraus fez 16 vítimas fatais. Em 1984, o incêndio na Vila Socó, em Cubatão, vitimou 93 pessoas. Outro incêndio recente que produziu enorme comoção nacional ocorreu em 2013, na Boate Kiss, em Santa Maria (RS). Foram 242 mortos.

    Somados, esses incêndios totalizam 1.041 vítimas fatais. São 17 mortos a menos do que o coronavírus levou de nós apenas no dia 7 de agosto de 2020.

    Convém não esquecer também os acidentes aéreos, acontecimentos que provocaram enorme repercussão. Em 2009, a queda da aeronave da Air France matou 228 pessoas. Em 1973, o acidente com boeing da Varig em Paris matou 123 pessoas. O acidente com o Fokker 100 da TAM, ocorrido em 1996, provocou 99 mortes. Em Congonhas, acidente aéreo em 2007 deixou 199 mortos. O mais recente, que vitimou 71 pessoas, foi a queda do avião da Chapecoense na Colômbia, ocorrido em 29 de novembro de 2016.

    Esses acidentes aéreos provocaram ao todo 720 óbitos. O total representa menos da metade do número de mortos pelo novo coronavírus em 5 de agosto de 2020, quando morreram 1.469 brasileiros e brasileiras.

    Também não se pode esquecer de tragédias ambientais, provocadas pela exploração desmedida com a anuência negligente e cúmplice das autoridades competentes. Em Brumadinho (MG), no dia 25 de janeiro de 2019, uma barragem sob responsabilidade da Vale rompeu e vitimou 270 pessoas. Quatro anos antes, na também cidade mineira de Mariana, rompimento de barragem com características similares ceifou 19 vidas. Em 2011, deslizamentos na região serrana do Rio de Janeiro ocuparam a mídia nacional e internacional. Ao todo, calcula-se que 917 pessoas tenham morrido com a tragédia. Em abril de 2010, na cidade de Niterói (RJ), um deslizamento ocorrido no Morro do Bumba deixou 48 pessoas mortas. Em 2008, inundações em Santa Catarina mataram 135. Em Caraguatatuba (1967), enchentes e deslizamentos mataram 436 pessoas. Outras tantas poderiam e deveriam ser lembradas, mas essas parecem representativas do longo inventário de desastres brasileiros.

    Esses acontecimentos totalizam 1.824 mortes, quase o mesmo número de novos casos do coronavírus registrados em 14 de abril de 2020.

    Massacres

    Por fim, não se pode ignorar os massacres ocorridos pela sanha autoritária do Estado. Também são muitos. Recordemos apenas de três. Em 1993, policiais militares atiraram contra jovens em situação de rua que dormiam na escadaria da Igreja da Candelária, no Centro do Rio de Janeiro. Foram oito mortos. Sete pessoas foram condenadas e suas penas, somadas, ultrapassaram 700 anos de reclusão. Todos estão em liberdade. Um ano antes, em São Paulo, também policiais militares praticaram o que ficou conhecido como Massacre do Carandiru. No total, 111 pessoas morreram. O responsável pela operação, coronel Ubiratan Guimarães, foi inicialmente condenado a 632 anos de prisão. A sentença, no entanto, foi revogada e ele permaneceu em liberdade até 2006, quando foi morto com um tiro no abdômen. Por fim, e não menos importante, é necessário recordar os mortos pela ditadura militar brasileira (1964-1985). Segundo o relatório da Comissão Nacional da Verdade, 434 vidas foram ceifadas pela repressão. Os responsáveis seguem morrendo sem pagar pelos seus crimes.

    Apenas nesses três casos, soma-se 553 mortos, o mesmo número de pessoas vitimadas pelo novo coronavírus em 6 de abril de 2020, ou seja, bem no início da pandemia.

    O engano dos números parece melhor resolvido quando colocado em perspectiva, mas nada acontece sem risco. Um leitor com inteligência abaixo da média poderia acompanhar os exemplos acima e pensar não que a pandemia está sendo tragicamente subestimada, mas que nossas tragédias anteriores não foram tão expressivas assim. O Brasil já não nos permite colocar mau-caratismo em dúvida, tampouco o desapreço sádico pela vida de quem, quase sempre, se diz seu defensor antes mesmo do nascimento. Mas há também quem não apoia genocídios e permanece refém do engano dos números, e isso acontece por uma razão que excedente a matemática: números simbolizam quantidades, mas não é sua vocação registrar o luto e sofrimento do referente a que fazem menção.

    A realidade da vida não é a realidade da matemática. Na vida, muitas coisas são explicáveis em termos matemáticos, mas os termos matemáticos são demasiado pobres para traduzir toda a complexidade da vida. Do ponto de vista comunicacional, não parece existir tarefa mais importante nesse momento do que a de demonstrar a dor que os números escondem. É preciso traduzi-los em gráficos, fazer comparações e mobilizar todo recurso didático disponível para gerar a sensibilidade que conforta, a disciplina que contém o avanço da doença e a indignação que nos anima a enfrentar a anestesia moral que também nos contamina. Sabe-se, muito naturalmente, que nada que é humano tem uma explicação monocausal.

    Na base de nossa letargia não mora apenas o engano dos números, mas os esforços que o governo federal tem feito para disseminar ainda mais a doença, os discursos genocidas alinhados ao de Bolsonaro que ecoam das redes sociais ao púlpito de algumas igrejas, o negacionismo científico, a indiferença patológica com a morte, a dura capacidade de conviver com desgraças e, não menos importante, o impulso eugenista que grassa em tempos de fascismo. Para combater esses inimigos, a Matemática entrega suas armas à Política.

    O mundo material, onde pessoas morrem e sofrem, não é o mundo dos cálculos diferenciais. Caso fosse, poderíamos expressar esse mundo em uma equação que, resolvida, solucionaria todos os nossos problemas ou que, no limite, permaneceria insolúvel, como fascinante mistério que um dia chegaria ao fim e nos conduziria a um futuro redentor. Mas a realidade da vida não é, definitivamente, a realidade da Matemática.


    [1] Professor do Departamento de História e do Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal Fluminense.             

    [2] Professora de Matemática da Fundação Municipal de Educação de Niterói  (RJ) e da Secretaria Municipal de Educação de São Gonçalo (RJ).

  • Mais um caso absurdo de censura a chargista

    Mais um caso absurdo de censura a chargista

    O chargista e ilustrador do Diário do Grande ABC, Luiz Carlos Fernandes, foi acionado na Justiça pelo prefeito de São Bernardo do Campo (SP), Orlando Morando (PSDB), por causa de uma charge publicada no jornal.

    A iniciativa revela um grave atentado à liberdade de expressão, razão pela qual Fernandes está recebendo inúmeras manifestações de solidariedade, sobretudo dos chargistas de vários cantos do país, a exemplo do que ocorreu, recentemente, com Aroeira. A ele manifestamos também nossa total solidariedade!

    Confira abaixo algumas charges publicadas em solidariedade a Fernandes:

  • Quilimérios, um povo isolado entre belas rochas de Minas

    Quilimérios, um povo isolado entre belas rochas de Minas

    Quem percorre o Vale do Jequitinhonha no extremo Nordeste de Minas, quase divisa com o sul da Bahia, vê ao longe um conjunto de belas pedras de granito como se tivessem sido despencadas numa chuva de meteoritos. É difícil passar por ali e conter a vontade de ir ver de perto, afinal, a pacata e hospitaleira cidade de Rubim fica logo ali. Pois bem, foi neste belo lugar que um antigo quilombo volante, certamente vindo do interior da Bahia, resolveu se fixar de vez, esquecendo-se do tempo e da chamada civilização, vivendo ali esquecido, isolado. São os Quilimérios, um nome de origem desconhecida.

    Uma equipe de cineastas e jornalistas de Belo Horizonte esteve lá e fez o interessante curta-metragem chamado Quilimérios, um documentário de 24 minutos que trata da história deste povo que vive isolado desde o século XIX, na parte mineira do Vale do Rio Jequitinhonha, que logo depois deságua no litoral baiano. Escondidos entre altas pedras de lugares quase inacessíveis, os Quilimérios ainda são desconhecidos por muita gente que vive até mesmo na própria região.

    O curta Quilimérios conta um pouco da história deste povo, mostra cenários deslumbrantes e lugares quase intocados do Baixo Jequitinhonha, filmados praticamente com celular e drone, “o que o torna um produto experimental e inovador”, afirma Emerson Penha. O diretor do curta revela que ir a esta comunidade e fazer o documentário foi muito significativo: “É impressionante, nos dias de hoje, com tanta tecnologia, um povo permanecer isolado. Por outro lado, é importante poder mostrar que o mundo tem lugar para todos, independentemente do seu jeito de ser e viver. Todos têm direito a viver como desejam e isso precisa ser respeitado”, observa.

    Na região do Baixo Jequitinhonha, divisa entre Minas Gerais e Bahia, as pedras gigantes marcam o caminho do rio. A muralha natural isola tudo, até mesmo a passagem do tempo. Nesse cenário, os Quilimérios vivem como no século XIX. Para eles, o isolamento foi a única opção e até hoje o mistério de sua existência permanece. A explicação sociológica mais razoável é que seriam remanescentes dos quilombos volantes, grupos nômades formados por afrodescendentes que escapavam do cativeiro, indígenas expulsos de suas terras e mesmo brancos que fugiam das cidades por diversas razões.

    A história que se conta entre várias gerações na região de Rubim, cidade mais próxima e de pouco mais de 10 mil habitantes, é que esse grupo de pessoas foi formado a partir da fuga de um ex-escravo, Juca Preto, contratado por um fazendeiro da vizinha cidade de Pedra Azul para matar alguém importante. Após cometer o crime, Juca fugiu para a região onde seus descendentes vivem até hoje e que permanece quase inacessível. Ali só se chega a pé ou a cavalo. Na fuga, Juca levou uma índia, com quem teria dado início à família dos Quilimérios. São pessoas muito reservadas, que cultivam costumes antigos e têm hábitos comportamentais como o casamento endogâmico. Atualmente restam apenas alguns quilimérios remanescentes, já que as novas gerações vêm se transferindo para Rubim.

    Quilimérios é um filme de Emerson Penha, com música de Túlio Mourão, fotografia de Fábio Damasceno, produção de Zu Moreira, edição de Rafael Diniz (Fiel) e argumento de Tião Soares.

    Confira o vídeo acima indo ao Youtube.

  • Delegado ameaça machões com cadeia

    Delegado ameaça machões com cadeia

     

    O vídeo acima é uma contribuição do delegado Douglas Antônio Ramos Magela ao projeto Paracatu Lar Familiar, desenvolvido desde setembro do ano passado pelo Ministério Público Estadual, por meio da 4ª Promotoria de Justiça de Paracatu, no Noroeste de Minas. O projeto nasceu após a cidade virar notícia nacional em maio do ano passado, quando um homem matou uma ex-namorada e disparou sua arma contra fiéis que estavam no interior de uma igreja. Resultado: outras três pessoas morreram, entre elas duas mulheres.

    Depois deste e outros episódios, o Ministério Publico chegou à conclusão de que em alguns casos a punição não é o suficiente, pois o agressor, após pagar a pena volta a cometer o mesmo crime. Diante disso, a promotora de Justiça Maria Constância convidou um grupo de advogadas para realizar um projeto, com apoio de várias entidades, criando, então, o Paracatu Lar Familiar, que atua na conscientização das pessoas quanto à violência doméstica.

    Pelo visto, o projeto vem dando certo. Segundo o delegado Douglas informou à reportagem dos Jornalistas Livres, “os índices de violência contra a mulher aqui nunca estiveram tão baixos na cidade. Queremos mostrar com vídeo que nós, homens, estamos ao lado das mulheres ajudando neste projeto a conscientizar as pessoas contra a violência doméstica, a violência contra a mulher”. Além do delegado, que gravou o vídeo acima,  várias entidades e autoridades da cidade têm aderido ao projeto, que tem sido levado também a várias escolas para conscientizar as crianças quanto à questão da violência contra a mulher. Estão ainda na pauta do Ministério Público local a implementação da Patrulha Maria da Penha, como programa de Policiamento de Prevenção Orientado à Violência Doméstica (Provid) e a aplicação do Formulário Nacional de Avaliação de Risco do Conselho Nacional de Justiça.

     

  • Governo Bozo quer censurar chargista

    Governo Bozo quer censurar chargista

    Em mais uma investida do governo Bolsonaro contra a liberdade de expressão, o ministro da Justiça, André Luiz Mendonça, pediu à Polícia Federal e à Procuradoria-Geral da República (PGR) que abram um inquérito para investigar uma charge de Renato Aroeira que associa o presidente Jair Bolsonaro ao nazismo.

    “Solicitei à @policiafederal e à “MPF_PGR abertura de inquérito para investigar publicação reproduzida no Twitter ‘Blog do Noblat’, com alusão da suástica nazista ao presidente Jair Bolsonaro. O pedido de investigação leva em conta a lei que trata dos crimes contra a segurança nacional, a ordem política e social, em especial seu art. 26”, justificou Mendonça em uma rede social. A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) soltou nota a respeito condenando a censura contra um trabalho humorístico (confira ao lado).

    Aroeira, um dos mais consagrados chargistas do país, produziu uma charge em que a cruz vermelha de um hospital é transformada em suástica, símbolo do nazismo, numa alusão ao fato de o presidente ter incitado a invasão de hospitais com pacientes infectados pelo coronavírus. A charge publicada em blogs das redes sociais é uma crítica amparada pela liberdade de expressão, uma cláusula pétrea da Constituição brasileira. Aroeira, que faz parte do grupo Jornalistas pela Democracia, declarou ao portal 247 que “a SeCom deveria se chamar SeCen – Secretaria de Censura”.

    Bolsonaro já teve um secretário de Cultura demitido por imitar Goebbels, além de ter recebido críticas da comunidade judaica por usar um slogan nazista.

  • Covid-19 teria chegado à menor cidade do país

    Covid-19 teria chegado à menor cidade do país

     

     

    Escondida no Alto Paranaíba, Centro-Oeste de Minas, Serra da Saudade é o município com menos habitantes neste Brasil grande e nem sempre esperto. Tem quase 800 habitantes, mas mesmo assim não escapa do novo coronavírus. Três casos suspeitos já foram detectados na cidade, segundo boletim divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde nessa sexta-feira, 24. Não deixa de ser um alerta num momento em que vários prefeitos mostram-se assanhados com a ideia de reabrir o comércio e outras atividades em suas cidades.

    A explicação para o surgimento do vírus estaria no número de pessoas que procuraram a pequena cidade para se isolarem e se protegerem, o que começou a preocupar o prefeito e os seus moradores. Serra da Saudade está a 239 quilômetros de Belo Horizonte e conta com apenas um posto de saúde, que tem um clínico geral e um pediatra do Programa Saúde Familiar.

    No fim de março, quando ainda não tinha nenhum caso suspeito registrado, a página da prefeitura nas redes sociais já mostrava uma mensagem pedindo para que a população ficasse em casa. “Nossa cidade não tem estrutura e nem aparelho respirador”, dizia.

    As aulas foram suspensas ainda em março. O prefeito Alaor José Machado (PP) orientou a população a seguir o decreto editado pelo governo do estado. Foram concedidas férias a alguns servidores municipais e apenas os serviços essenciais estão funcionamento, como os dois mercados da cidade e o posto bancário. Até mesmo a lotérica foi fechada.

    Na prefeitura a ordem é fugir de repórteres. Foi, inicialmente, a forma encontrada para tirar a cidade de evidência, porque no início do isolamento muitos forasteiros seguiram para Serra da Saudade na esperança de fugir do vírus. O aumento de visitantes foi sentido logo pelos moradores, que ficaram desconfiados. “O que aconteceu no início era que as pessoas estavam vindo de fora. Achavam que por ser pequeno era mais seguro. Mas agora estamos mais vulneráveis, temos poucos habitantes e acredito que se alguém se contaminasse a população seria contaminada em massa”, disse a assistente social Juliana Alves Inácio ao jornal Estado de Minas no início de abril.

    Agora, a pacata cidade está intranquila com a ocorrência de casos suspeitos da covid-19, e com razão.

     

    A lenda da origem do nome do lugar

    Há muitos anos, por volta do século 18, vivia no lugarejo uma tribo de índios, que por motivos desconhecidos, acabou sendo dizimada, restando ali apenas uma índia, que vivia em total abandono e solidão. Até que um dia, parentes da índia que moravam na Bahia, lhe escreveram uma carta.

    No entanto, naquela época, as correspondências eram transportadas por carros de boi, charretes, trens de ferro, automóveis, e as malas se molhavam, secavam e com isso acabou danificando a correspondência destinada à índia.

    Quando a carta chegou ao seu destino, a índia já tinha falecido de desgosto e saudades de seus entes queridos. Os moradores da época abriram a correspondência e a única palavra que se podia ler era SAUDADE, daí o nome de Serra da Saudade.