Jornalistas Livres

Autor: Aloisio Morais

  • Professoras são atacadas pela PM em Belo Horizonte

    Professoras são atacadas pela PM em Belo Horizonte

    O início da tarde desta segunda-feira teve momentos de batalha campal quando policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar atacaram indefesas servidoras da educação infantil em greve, no centro de Belo Horizonte. Elas realizavam manifestação de protesto em frente à prefeitura quando foram surpreendidas por jatos d’água e bombas de efeito moral.

    Professoras e demais servidores reivindicam o cumprimento da promessa do prefeito Alexandre Kalil (PHS) de equipar as carreiras da educação. “Hoje, um professor da rede infantil recebe R$ 1.400, enquanto o do ensino fundamental ganha R$ 2.200. Queremos que ele cumpra o compromisso assumido”, disse Wanderson Rocha, diretor do Sindicato dos Trabalhadores de Educação da Rede Pública Municipal de Belo Horizonte (SindRede-BH). A categoria pretende permanecer em greve até o dia 3 de maio.

    Em maio de 1979, durante greve de 41 dias das professoras da rede estadual de ensino, o governador Francelino Pereira ficou famoso por ter permitido que a PM jogasse água nas professoras, durante manifestação na Praça da Liberdade. No ano seguinte houve nova greve, quando vários professoras e professores foram presos, dentre eles Luiz Dulce, que liderava o movimento e veio a se tornar secretário particular do presidente Lula.

     

    Veja as imagens de Manuela Lima

  • Praça Tiradentes será do povo em Ouro Preto

    Praça Tiradentes será do povo em Ouro Preto

    Pelo visto, tudo indica que desta vez a Praça Tiradentes será do povo neste 21 de Abril, em Ouro Preto, assim como o céu é do condor. A histórica cidade contará com duas solenidades distintas neste sábado: a tradicional entrega das Medalhas da Inconfidência pelo governo mineiro acontecerá pela primeira vez no Centro de Artes e Convenção da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), no bairro Pilar, enquanto os movimentos populares vão se concentrar na Praça da Rodoviária a partir das 8h30, e dali marcham rumo à Praça Tiradentes, onde haverá a entrega da Medalha ‘Quem Luta Educa – Lula Livre’ a diversas personalidades populares.

    Este ato, previsto para as 11 horas, deverá contar com a presença de Lurian, que representará o pai, Luiz Inácio Lula da Silva. Ela será homenageada ao lado de representantes do movimento popular como o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), o Movimentos dos Trabalhadores Sem Terra (MST), da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Memorial da Anistia, representes do povo sírio e da vereadora Marielle Franco, executada no Rio de Janeiro, e entidades dos trabalhadores, entre outras.

    Já a entrega da Medalha da Inconfidência ocorrerá em local fechado e contará também com a presença de diversas personalidades, como o argentino Adolfo Pérez Esquivel, Prêmio Nobel da Paz de 1980, uma representante da vereadora Marielle Franco, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), o cartunista Laerte Coutinho, a filósofa e artista plástica Márcia Tiburi, Sílvio Neto, da direção do MST; o representante da Escola de Samba Paraíso Tuiuti, do Rio, Renato Ribeiro, o garçom do restaurante Casa do Ouvidor, Zé Preto, e Aline Ruas, do Movimentodos Atingidos por Barragens, entre muitas outras pessoas a serem homenageadas.

    Segundo o governo mineiro, a entrega das Medalhas da Inconfidência ocorrerá no Centro de Convenções da Ufop a pedido da comunidade e da Prefeitura de Ouro Preto.

     

  • Mineira cria camisa da Seleção vermelha

    Mineira cria camisa da Seleção vermelha

    Se você está preocupado(a) em torcer para o Brasil na Copa trajando uma camisa amarela, temendo em ser confundido(a) com um(a) coxinha, o seu problema está resolvido. A arquiteta e designer Luísa dos Anjos Cardoso, de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, acaba de criar a camisa vermelha da Seleção. “Ela é destinada para quem têm medo de ser confundido(a) com algum pato paneleiro”, explicou no Facebook.

    A ideia surgiu a partir do momento em que Luísa viu uma postagem de sua amiga Marcela Sathler no Twitter. Era um comentário sobre a notícia que mostrava algumas pessoas com camisas amarelas limpando a calçada do prédio da ministra do STF Carmen Lúcia, em Belo Horizonte, cuja fachada recebeu tinta vermelha durante um escracho na véspera. “Por favor alguém cria uma camiseta da CBF vermelha? Não quero usar a amarela na Copa”, escreveu a amiga.

    Dito e feito, Luísa deu asas à imaginação e nessa segunda-feira já mostrava a nova camisa da Seleção. Sua criação virou um sucesso nas redes sociais tão logo foi noticiada. E sua ideia é muita própria de alguém da esquerda: no lado direito do peito, em vez da logomarca da Nike a camiseta vermelha mostra uma foice e um martelo. E para não arrumar encrenca com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Luísa usa o escudo da extinta CBD, a Confederação Brasileira de Desportos, que originou da CBF.

    A camisa começa a ser comercializada nas próximas semanas ao preço de R$ 40 ou R$ 45, esta personalizada com o nome da pessoa nas costas.

    A camisa pode ser personalizada com o nome da pessoa
    Luísa deu asas à imaginação e acabou atendendo ao pedido de uma amiga
  • Perícia confirma que ônibus da caravana de Lula foi atingido por tiros

    Perícia confirma que ônibus da caravana de Lula foi atingido por tiros

    Agora é oficial e vem calar a boca de certos oportunistas da direita que lançaram dúvida e tentaram fazer a cabeça de seus leitores ou ouvintes com mentiras. Acredite se quiser, teve maluco que chegou ao ponto de afirmar que os próprios petistas teriam disparado os tiros para se passarem por vítimas. Mas agora, um laudo oficial da perícia confirma que um dos três ônibus da caravana de Lula pelo Sul do país foi realmente atingido por dois tiros, no Paraná, na semana passada. A conclusão está no laudo pericial do Instituto de Criminalística, assinado pelo perito Inajar Kurowski, apresentado na tarde desta quinta-feira, 5, em Curitiba, durante entrevista coletiva.

    Conforme a perícia, os dois tiros acertaram o lado direito do veículo. Um deles atingiu a lataria e a bala foi bloqueada por uma chapa de aço. O segundo disparo de arma de fogo acertou de raspão o vidro de uma janela. A bala não chegou a ser encontrada pelos peritos, mas foram recolhidas amostras de chumbo. O orifício por onde a bala entrou tinha cerca de 10 milímetros de diâmetro.

    O perito Inajar Kurowski informou que a arma era de calibre .32, que tem baixo poder de fogo. “É uma arma que já saiu de fabricação. Nem a arma, nem sua munição são mais fabricadas”, afirmou. Kurowski não quis apontar o tipo exato de armamento usado, mas disse que poderia ser uma pistola de dois canos paralelos, conhecida como garrucha. “Totalmente fora de uso. As pessoas têm isso como coleção ou como herança. São armas que ainda se encontram em circulação”, disse.

    O atirador estaria distante 18,9 metros da rodovia, em uma posição atrás do lado direito do alvo, e posicionado em um base com altura superior à do ônibus, cerca de 4,3 metros em relação ao asfalto. “O mais provável é que ele estivesse num barranco. A investigação é que vai verificar a localização”, explicou o perito. Pelo ângulo de impacto, a bala poderia ter atingido os passageiros, disse o autor do laudo. “Poderia ter transfixado a lataria e teria acertado a perna de alguém. E o tiro que acertou o vidro poderia acertar alguém na altura da cabeça”, observou Kurowski.

    No momento dos tiros, a caravana fazia o trajeto de 60 quilômetros entre Quedas do Iguaçu e Laranjeiras do Sul, na região oeste do Paraná. O delegado responsável pelo caso, Hélder Lauria, afirmou que o laudo da perícia facilita a investigação. Ele informou que já foram ouvidas 15 testemunhas, entre passageiros, pessoas que estavam nos locais onde os ônibus passaram e policiais rodoviários que acompanhavam a caravana. Ainda não há suspeitos.

  • Essa cachoeira pode acabar

    Essa cachoeira pode acabar

     

    Quem espichar o olhar pela janelinha do avião ao chegar ou sair de Brasília logo terá sua atenção despertada para vários grandes círculos lá embaixo, ao lado de extensas áreas de plantação quadriculadas. Aos olhos de um ET é possível que aquilo pareça algo como um grande campo de pouso à espera de seu disco voador, mas, na verdade, aqueles círculos são os pivôs centrais, que funcionam como um grande braço de chuveiro giratório usado para molhar as sementes ou a plantação que estão embaixo, esta, sempre viçosa.

    Ali, em pleno entorno de Brasília, nas barbas da capital federal, onde, por coincidência, serão realizados o Fórum Mundial da Água e o Fórum Alternativo Mundial da Água (Fama), entre os próximos dias 17 a 23 deste mês de março, está a maior concentração de pivôs centrais do país. Setenta e cinco por cento deles estão apenas nos municípios de Cristalina, em Goiás, e nas vizinhas Unaí e Paracatu no lado de Minas Gerais, garantindo grande produção de grãos do agronegócio o ano inteiro, às vezes com até três safras anuais. Não é à toa, nestes tempos de golpe, que no ano passado o agronegócio registrou um crescimento de 13%. A agricultura consome 70% da água usada pelo homem, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), e esse percentual vale também para o Brasil.

    Cristalina é a terra da irrigação e quem sofre as consequências são os rios Samambaia e São Marcos, da bacia do Rio Paraná. Até o ano passado eram 716 pivôs em 6.162 quilômetros quadrados, após os primeiros deles surgirem na década de 1980. Ali são plantados 45 produtos diferentes, dentre os quais a soja, milho, feijão, café, capim, algodão, trigo etc., etc.

    Até aí, tudo bem, afinal, o país precisa produzir e precisamos de alimentos. Ôpa, eu disse tudo bem? Não, nem tudo está bem por ali. Fala-se muito que o Rio São Francisco está secando a cada ano e, em uníssono, dizem que isso se deve ao desmatamento, a criminosa destruição do cerrado ou à mudança climática. Sim, o desmatamento em suas margens ocorre há séculos, inclusive, com a destruição de árvores do cerrado para alimentar de carvão a caldeira do vapor Benjamim Guimarães desde 1925, após navegar pelos rios Mississipe, nos Estados Unidos, e Amazonas.

    Uma praga

    Pois bem, durante 17 dias a reportagem dos Jornalistas Livres percorreu 4.800 entre Belo Horizonte e a Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso, com atenção especial voltada para o Noroeste de Minas, no Aquífero Urucuia, onde fica o Grande Sertão: Veredas, assim chamado pelo escritor João Guimarães Rosa, que percorreu por ali e deu asas à imaginação após ouvir histórias de vaqueiros e jagunços. Mas hoje, coitado, se “Joãozinho” voltasse ao Noroeste de Minas e conversasse com o povo dos lugares certamente derramaria lágrimas aos borbotões.

    Durante a viagem pudemos concluir que, na verdade, a culpa não é apenas da destruição do cerrado e suas veredas. O que está secando as águas do São Francisco, o chamado rio da integração nacional, são os pivôs centrais da irrigação desenfreada e as extensas plantações de eucalipto, destinado a produzir o carvão que alimenta as famintas bocas dos alto fornos das usinas siderúrgicas mineiras.

    O eucalipto, uma planta exótica originária da Austrália que gosta bastante de água para crescer, pôde ser visto em toda parte, em toda a extensão da viagem até o Oeste do Mato Grosso, contribuindo seriamente para a devastação do cerrado, além do agronegócio. Hoje, o eucalipto é responsável por 9% do Produto Interno Bruto (PIB) de Minas e ocupa, por baixo, 2% do território mineiro. Virou uma praga. Parece até que passou a ser usado para tornar certos latifúndios ‘produtivos’ e, assim, escaparem das ocupações dos sem-terra. E onde tem eucalipto só há ele, xô passarinhos e a fauna e flora do lugar.

    Autor de tese sobre desertificação no semiárido mineiro, Walter Viana, responsável pela fiscalização ambiental na Superintendência de Meio Ambiente e e Desenvolvimento Sustentável (Supram) no Norte de Minas, assim como outros ambientalistas, defende a proibição de novos plantios de eucalipto na região como forma de garantir a água. A cultura do eucalipto consome 230 litros de água por metro quadrado plantado a mais que o cerrado, além de provocar o rebaixamento do nível freático em meio metro por ano. Da média histórica de precipitação pluviométrica no Norte de Minas, por exemplo, de mil milímetros/ano, o eucalipto consome sozinho 800 milímetros. E como o cerrado precisa de 500 milímetros, há, portanto, um déficit de 300 milímetros.

    Ataque duplo

    No Noroeste de Minas, então, o diabo juntou a fome com a vontade de comer. E quem paga o pato é o pobre Rio São Francisco e tudo o mais que está às suas margens até desaguar na divisa de Alagoas com Sergipe “para formar o Oceano Atlântico”, como gostam de brincar os ribeirinhos. De um lado a irrigação do agronegócio chupa a água das nascentes dos rios que dão vida e volume ao Velho Chico. De outro lado, as plantações de eucalipto sugam a água do solo e comprometem o lençol freático, secando as veredas, justamente os locais onde estão as nascentes de água. Isso é fato e deixa desesperados os produtores e aqueles que se beneficiam das águas dos afluentes do São Francisco. E o que hoje está ruim, amanhã estará pior, sem dúvida, se nada for feito.

    Pivô central no cerrado

     

    Às margens do Rio do Sono, o distrito de Paredão de Minas retrata bem a situação. A vila pertence ao município de Buritizeiro e foi o lugar escolhido por Guimarães Rosa como local onde o bando de Riobaldo atravessou o rio para o embate final com Hermógenes. Ali, no centro do povoado, Diadorim cravou a faca em Hermógenes, que sucumbiu, mas foi ferida mortalmente. Paredão está cada vez mais com ares de ‘cidade fantasma’, devido ao êxodo de seus moradores, diante da falta de alternativas que garantam a sobrevivência.

    “Hoje estou parado com pescaria porque não temos água nos rios, que estão secando por causa do eucalipto. Estão fazendo bolsão na corrida da água, que gera oxigênio para a água, e aí os rios estão todos mortos”, conta Adailton da Silva Pamplona, pescador registrado desde 1992 na Sudep.

    “Estão acabando com as veredas, que são o minador (as nascentes d’água). Nossos buritis estão acabando desde que entrou aqui a Fazenda Sendas, do Arthur Sendas. Cada dia que passa pior está ficando, é mais eucalipto e desmate. O Sendas tinha gado, mas aí veio a Gerdau, comprou a fazenda e não deixou nada. Eles vieram aqui no Paredão e doaram bicicletas e uns livrinhos. Por que não deram 10 mil reais para a gente fazer uma faculdade, para preservar a natureza? Não, eles estão comprando a gente com bicicleta. Nós precisamos é que o turista venha à nossa região ver as belezas que tem”, completa Adaílton, que acaba não contendo as lágrimas.

    O bolsão para coletar água para os eucaliptos

    Os bolsões a que Adaílton se refere são grandes buracos feitos na terra onde a água de chuva corre no meio dos eucaliptos. A água é represada e forma uma grande piscina, um artifício usado como forma de garantir a umidade do solo em favor dos eucaliptos nos tempos de seca. Isso pode ser visto, por exemplo, numa extensa plantação de eucalipto em Buritizeiro, nas terras onde o falecido empresário carioca Arthur Sendas criava gado solto no cerrado. Com sua morte em 2008, as terras foram adquiridas pela Siderúrgica Gerdau, que derrubou tudo para plantar eucalipto. A Fazenda Porto Alegre tem uma área de 1.550 hectares, o que equivale a cerca de 1.550 gramados de um campo oficial de futebol. Imagine o tamanho! E, ironicamente, ao seu redor não faltam placas de “Preserve o meio ambiente”.

    Um prefeito assustado

    Outro que está assustado com as mudanças que vêm ocorrendo na região é o prefeito de Aruana de Minas, Ronaldo Verdadeiro, do PP. O município, distante 238 quilômetros de Brasília, se auto-intitula como “A Cidade das Cachoeiras”. “Nós temos um potencial muito grande em relação à água. Temos mais de 20 cachoeiras, entre elas a Cachoeira da Jiboia, com 144 metros de queda, e temos vários rios, como o São Miguel, que nasce em Formosa, em Goiás, e deságua no Urucuia, afluente do São Francisco. Estamos enfrentando uma situação muito difícil. O ano de 2017 foi difícil e 2016 foi muito mais difícil ainda. Hoje (em novembro passado) estamos com dois caminhões-pipa levando água a todos os cantos do município, principalmente nos cinco assentamentos do Incra e outras comunidades, levando água para beber e para os animais. Isso é cada vez mais frequente. Está muito difícil”, conta Verdadeiro.

    Prefeito de Aruana de Minas, Ronaldo Verdadeiro do PP

     

    “Nós temos aqui a localidade de Canguçu, onde nunca precisou levar água lá e agora foi preciso, porque o córrego Pasto dos Bois está secando. Da ponte pra baixo secou, coisa que há muitos anos a gente não via. Ele deságua no Rio São Miguel. Por isso estamos fazendo a nossa parte com um projeto com a Emater de cercamento de nossas nascentes. A Emater já fez um levantamento de todas as nascentes em 14 municípios e encaminhou para o Ministério do Meio Ambiente. São Pedro está mandando menos chuva porque o homem degradou o meio ambiente. Pra mim tem duas coisas que estão provocando isso, o desmatamento da Amazônia e os pivôs centrais”, avalia o prefeito.

    “A região nossa aqui é uma das maiores regiões irrigadas, com os municípios de Unaí e Paracatu. Produz muito, produz mas é preciso produzir com responsabilidade. Não adianta produzir e destruir de outro lado. Em Unaí tem uma família lá que é a maior produtora de feijão do Brasil, os Manica. Do jeito que as coisas estão caminhando aí a gente fica muito preocupado. Aqui na divisa com Unaí tinha uma das maiores veredas, mas destruíram, tocaram fogo. As cachoeiras estão ameaçadas, a própria Jiboia só recuperou agora nos últimos dias por causa das primeiras chuvas. Devido à escassez, hoje, na área rural, já existem cerca de 350 a 400 cisternas com capacidade para 20 mil litros de água para captar água de chuva, num trabalho da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco)”, acrescentou Verdadeiro.

    Três safras

    A secretária de Meio Ambiente e Turismo de Aruana, Ivone Ferreira, percorre bastante a região e também tem muito para contar: “Esse verão foi muito preocupante pra nós. Nós promovemos uma Semana do Turismo com alunos da rede pública e quando chegamos na Cachoeira da Jiboia a água não chegava nem a cair embaixo de tão pouca que tinha. Eu cheguei até mesmo a pensar que a cachoeira fosse secar, porque são muitos pivôs lá em cima, além do represamento das águas. Estão fazendo lavoura com três safras por ano usando os pivôs centrais. Eles plantam na época de chuva e na outra, no período de seca, usam a água dos pivôs, só que com isso eles estão fazendo três safras, quando o correto seriam duas. Vários rios e riachos secaram aqui e não secavam antes. Temos 33 cachoeiras aqui e a gente fica com medo de perdê-las”, conclui Ivone.

    Poço salvador

    Mais acima, no extremo Noroeste de Minas, em Serra das Araras, distrito de Chapada Gaúcha, o pequeno produtor rural Saul Durães e seu filho, Júnio, produzem feijão, milho, arroz e tem algumas cabeças de gado. No final do ano passado eles viveram uma situação dramática ao verem o córrego Marimbas secar e, temendo o pior, acabaram partindo para o que muitos agricultores da região estão fazendo: para garantir água estão pagando caro pela perfuração de poços artesianos. Saul acabou obrigado a reunir suas economias e pagar R$ 15 mil pela perfuração de um poco de 120 metros de profundidade.

    “Estou com 74 anos, sou nascido e criado aqui e nunca vi o rio Marimbas seco. A primeira vez foi esse ano. Aqui tinha muito peixe, surubim, jacaré, sucuri. Hoje não tem nem piaba. O problema é o desmatamento. Estão pegando o cerrado para fazer carvão, os rios estão secando e enchendo de areião. Várias empresas vieram plantar eucalipto nas cabeceiras dos rios.Todos os que secaram têm influência de eucalipto nas cabeceiras. Estava sustentando a criação com água armazenada até que choveu. Não tinha água no córrego de jeito nenhum. Os vizinhos também estão todos prejudicados. É só prejuízo. Com as primeiras chuvas, tem 23 dias que o rio Marimbas voltou a correr. Da barra até a cabeceira ele abastece 79 famílias. E nós estávamos com 47 famílias prejudicadas por causa da seca”, relata Saul.

     

    Em Minas, onde está a “produção” de 78% das águas do Rio São Francisco, segundo estudiosos do assunto, estima-se que um percentual de 70% de seus tributários estão secos ou estão secando, lembra o agrônomo e deputado federal mineiro Zé Silva, do Solidariedade, que preside na Câmara a Frente Parlamentar em Defesa dos Rios Brasileiros, hoje reunindo mais de 200 parlamentares. “Nossos rios estão morrendo de sede” gosta de dizer, repetindo o que dizia há anos o falecido jornalista e escritor mineiro Wander Piroli.

    Uma ameaça

    O Brasil está entre os dez países com a maior área irrigada do planeta, mostra estudo feito pela Agência Nacional de Águas (ANA). De acordo com o Atlas Irrigação, o uso da água na agricultura irrigada atualmente no país tem 6,95 milhões de hectares que produzem alimentos utilizando diferentes técnicas de irrigação. A pesquisa mostra ainda que o número representa apenas 20% da área potencial para a atividade, o que é preocupante.

    Isso explica por que a população do Oeste baiano também vem sofrendo com a falta d’água. Quem entrar no Google Earth, por exemplo, e dar uma chegada àquela região baiana vai ver que ela também está cheia de pivôs centrais sugando as águas dos rios. Isso acabou levando a população da cidade de Correntina a sair às ruas, em novembro, para botar a boca no trombone e protestar contra a falta d’água, que chegou ao ponto de secar as torneiras, devido ao baixo volume do Rio Arrojado.

    Mas o drama da população só chamou atenção quando cerca de mil pessoas entraram nas fazendas Igarashi e Curitiba, onde quebraram os pivôs centrais de irrigação e derrubaram as instalações elétricas. Está havendo um “hidrocídio” no país, alertou Roberto Malvezzi, o “Gogó”, da Comissão Pastoral da Terra e do Conselho Pastoral dos Pescadores na Região do São Francisco, ao denunciar a destruição dos mananciais. Vale lembrar que nos últimos dez anos o cerrado, que abrange 12 estados brasileiros, perdeu mais de 50 mil quilômetros quadrados, algo bem maior que o estado do Rio de Janeiro.

    Isso faz com que a guerra pela água fique cada vez mais acirrada. E a coisa está tão grave que 11 bispos de 16 dioceses banhadas pelo Rio São Francisco se mobilizaram e divulgaram um documento reivindicando uma moratória de dez anos para a região do cerrado e um repouso sabático para os principais biomas brasileiros.

    No oeste baiano corre a informação de que outorga, a autorização federal ou estadual para uso de água dos rios, chega a custar a propina de R$ 1 milhão. Hoje, uma fazenda com outorga é bem mais valorizada do que a que não possui a autorização. Por essas e outras cada um vai se virando como pode e a sede pelo lucro rápido fez, por exemplo, com que o fazendeiro paulista Luzenrique Quintal tivesse a cara de pau de fazer uma transposição das águas do Rio Araguaia para as suas duas fazendas em Goiás, para abastecer os pivôs centrais. A coisa foi tão acintosa que a canalização acabou interditada.

    Para terminar, vale registar que no último dia 5 cerca de mil mulheres sem terra ocuparam a fábrica de papel e celulose da empresa Suzano, em Mucuri, no extremo sul da Bahia, divisa com o Espírito Santo. Uma reclamação de destaque da ocupação foi o plantio desenfreado de eucalipto na região. Elas denunciaram que os monocultivos têm provocado uma grande crise hídrica na região por conta do alto consumo das árvores, que, “plantadas sem responsabilidade social e com objetivos financeiros”, têm secado os mananciais de água doce. Mais uma prova de que o eucalipto está se tornando uma praga nacional.

    Colaboraram Cynthia Camargo e Henrique F. Marques

     

  • Sofia Feldman recebe bolo da Prefeitura de BH

    Sofia Feldman recebe bolo da Prefeitura de BH

    Pelo visto, a solução financeira do Hospital Sofia Feldman, em Belo Horizonte, ainda está distante. Ontem, depois de propor uma reunião com o Conselho Curador da maternidade, representes da prefeitura não compareceram ao encontro e nem deram notícia. Se fossem até aquela unidade encontrariam dezenas de funcionários protestando contra uma possível intervenção da prefeitura na direção do hospital em troca de verba para sua manutenção.

    O Sofia Feldman é uma fundação financiada pelo SUS e pelo Estado de Minas que funciona no bairro Tupi, Zona Norte da capital, há mais de 30 anos, após ser idealizado pelo fotógrafo José Moreira Sobrinho. Atualmente vem atuado como uma referência para partos naturais e humanizados em todo o Brasil e América Latina. Para se ter ideia, neste momento duas equipes de funcionários da maternidade encontram-se no Japão e em Israel para levar as técnicas de parto desenvolvidas em Belo Horizonte. E é comum o hospital receber grávidas de vários e distantes estados, como Rondônia, que fazem opção e questão e dar à luz beneficiando-se das técnicas desenvolvidas no Sofia Feldman.

    E justamente por isso a maternidade gera ‘ciúmes’, principalmente no setor privado, onde há uma verdadeira farra em torno dos partos por ce$ariana$, que fazem a festa para os bolsos de médicos e hospitais. Isso explica também por que o Sofia Feldman é discriminado na distribuição de verbas públicas. Embora seja responsável por 40% dos partos (1.050 em média por mês) da rede pública de Belo Horizonte, o hospital recebe apenas 22% do bolo de recursos distribuído pelo SUS para sete maternidades da capital. Curiosamente, a Maternidade Odete Valadares, que cuida em média de 300 partos por mês, é a que mais recebe recursos. Curiosamente, também, tem maternidade que recebe R$ 18 mil por parto, enquanto ao Sofia são destinados apenas R$ 5 mil, quando necessitaria de pelo menos R$ 6.500 por parto, tendo o menor custo-benefício para o SUS.

    Desta forma, estrangulado, o Hospital Sofia Feldman vem administrando, hoje, uma dívida de R$ 90 milhões e pede socorro. A maternidade não conseguiu pagar o 13º salário  de seus funcionários e só agora conseguiu pagar os salários de janeiro. Diante da crise, a Prefeitura de Belo Horizonte ensaiou uma ajuda que, na visão dos funcionários da maternidade, trata-se de verdadeiro cavalo de Troia, uma intervenção que deturparia o modelo do hospital. Hoje a prefeitura não coloca nenhum recurso prório lá, apenas repassa recursos federais e do Estado de Minas. Cogitou bancar os custos do hospital mas, em contrapartida, o diretor geral e o diretor financeiro seriam indicados por ela e ficariam subordinados ao Executivo municipal, o que é rechaçado pelos funcionários e todas as pessoas ligadas à instituição, como é o caso do Conselho Curador.

    Mas, como a direção do Sofia Feldman está aberta ao diálogo para solucionar a crise financeira, ontem à tarde receberia representantes da área da saúde da prefeitura para prosseguir nas conversas. Mas os tais representantes da prefeitura acabaram dando o bolo nos integrantes do Conselho Curador, que decidiu partir para a elaboração de um documento formalizando uma proposta de como poderia ser amarrada uma parceria e aguardar um retorno. “Queremos isonomia quanto ao financiamento”, adiantou João Batista Lima, presidente do Conselho Curador.

    “Como o hospital é uma fundação particular, então a prefeitura tem de explicar como faria a parceria”, afirmou o advogado Obregon Gonçalves, integrante do Conselho Curador. “O importante é que o modelo de referência e excelência do Sofia seja respeitado”, acrescentou.

    “E lembramos que não abrimos mão do modelo de humanização do parto”, acentuou Bruno Pedralva, presidente do Conselho Municipal de Saúde. “E a proposta da prefeitura tem de ser aprovada também pelo Conselho”, lembrou.

    O fato é que por trás de toda a crise vivida pelo Hospital Sofia Feldman há um bando de urubus querendo ver a maternidade sucateada para impor seus interesses, o que, aliás, vem ocorrendo em inúmeras instituições de saúde do país, principalmente aquelas que são modelo até mesmo para a iniciativa privada. Por isso, no interior e fora do Sofia não falta quem olhe com preocupação para as movimentações do secretário Municipal de Saúde, Jackson Machado Pinto. Desde outubro, por exemplo, a prefeitura não tem repassado à maternidade os recursos do SUS e do Estado, o que seria uma forma de estrangular o Sofia Feldman.