Texto por Agatha Azevedo | Fotos: Agatha Azevedo e David Robins
A cerimônia de inauguração da Escola, localizada em São Joaquim de Bicas, região ocupada pelo MST durante a Jornada de Lutas “Reforma Agrária na terra dos corruptos” em 2017, reflete o esforço do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e dos parceiros e parceiras em criar um lugar em que a educação possa ser, de fato, popular e acolhedora.
No trabalho realizado pelo MST no local, se escancara a necessidade de fazer com as próprias mãos da classe trabalhadora uma nova forma de produzir conhecimento. “Para a nossa escola, as identidades das nossas turmas cultivam a memória dos nossos antepassados na construção de uma escola emancipatória. Nossas turmas tem mística: Dandara, Marielle Franco, Krenak e Maxacali não são apenas nomes aqui.”, explica Amarildo Horácio, vice-diretor da Escola.
Um dos maiores frutos é o empoderamento das crianças e dos jovens Sem Terra, que fazem da lona preta, da foice e da enxada, a luz no fim do túnel nessa sociedade excludente. Luíza da Cruz Silva, de 13 anos, conta como a Escola de seu acampamento ajudou ela a se sentir bem consigo mesma: “Eu era apenas a menina negra na cidade, do cabelo duro, eu perdi um ano de escola por conta disso e eu não tinha nada. Eu vim pra cá pra lutar e quero agradecer à Escola Elizabete Teixeira por ter me dado tudo.”
Não é por acaso que a Escola se chama Elizabete Teixeira. Segundo Matilde Oliveira, do setor de educação do MST, a senhora grisalha, com mais de 90 anos, é fonte de inspiração e resistência. “Homenagear é nós não deixarmos que a luta do povo se perca. O MST é herdeiro das lutas camponesas e saúda a luta de Elizabete Teixeira. Ela era mulher camponesa e lutou junto com seu companheiro, João Pedro Teixeira, pela terra, ele foi assassinado antes da ditadura e ela teve que se esconder e mudar de nome. Só anos depois conseguiu reunir a sua família. Nós que produzimos, muitas vezes não podemos colher dos benefícios, mas aqui essa escola é nossa, construímos coletivamente e estamos em casa. Comemorar é não deixar que nossa energia e esperança se perca.”
Por fim, a Escola finca a sua bandeira nas trincheiras da luta pela educação e contra projetos como o Escola Sem Partido. “A cor da nossa bandeira não é vermelha por detalhe, é vermelha por essência. A luta por transformação é o que nós acreditamos. A nossa pedagogia foi parida na luta social, e nós afirmamos com toda certeza: não arredaremos um centímetro da produção e da socialização do conhecimento, mas queremos discutir as questões cotidianas e políticas. Não vamos renegar a nossa história”, diz Amarildo.
Confira as fotos da Cerimônia:
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