“A polícia matou Ricardo na frente de todo mundo”

Por Flávia Martinelli, Gustavo Aranda, Lina Marinelli e Martha Raquel, dos Jornalistas Livres.
SÃO PAULO, 12 de julho de 2017.
Em frente as cameras, a Polícia Militar executou um carroceiro morador de rua em pleno horário de rush, num dos bairros mais ricos de São Paulo.

Uma das mais letais policias do mundo (5 mil mortos nos últimos 10 anos) a PM paulista mais uma vez matou de maneira covarde, brutal e sem nenhuma justificativa. Era fim do dia, hora de trabalhador que acorda as 5 da manhã para recolher material reciclável começar a pensar em jantar. O carroceiro Ricardo Silva Nascimento, que há anos morava na rua, próximo ao Pão de Açucar da Teodoro Sampaio em Pinheiros, deixou sua carroça estacionada perto de “casa” e foi até a “Pizza Prime” tentar comer algo. Em seu site, a pizzaria oferece “ingredientes selecionados para que cada mordida seja inesquecível” diz querer “estar presente nos encontros entre amigos, nas reuniões de família e em todos os momentos felizes”, e que acredita que “todos nós merecemos sempre o melhor da vida.” Mas a propaganda na prática é outra história. Um funcionário da Prime resolveu chamar a polícia para tirar o “incômodo” morador de rua dali. Pouco tempo depois, Ricardo estaria morto, assassinado a sangue frio. Ele levou pelo menos dois tiros, um no peito, e outro na cabeça quando já caído no chão. Algumas testemunhas afirmam que ele segurava um “pedaço de madeira” quando a PM chegou, mas todas com quem a reportagem conversou e que deram seu depoimento a Julio Neves, o Ouvidor das Policias,, afirmam categoricamente que o rapaz foi executado. Logo após o crime, a PM enviou helicóptero, diversas viaturas, carros e motos ao local, mas todo esse efetivo não foi para prender o matador ou tentar socorrer a vítima.
Completando o “serviço sujo”, eles recolheram as cápsulas das balas, obrigaram uma testemunha a apagar vídeo que mostrava como tudo aconteceu, levaram embora o corpo de Ricardo, numa viatura da Ronda Escolar e alteraram toda a cena, impossibilitando qualquer trabalho de perícia.
De tão acostumados a usar esse expediente – mata, recolhe as cápsulas, recolhe o corpo e diz que agiu em legítima defesa – os policiais se esqueceram apenas de notar que estavam numa das ruas mais movimentadas da cidade e em pleno horário de pico. Todo mundo viu o que aconteceu. Resta saber se mesmo com tantas testemunhas, com as câmeras de segurança dos comércios, com os outros tantos vídeos gravados e que escaparam de ser apagados, a Polícia Militar do Estado de São Paulo e o Governador Geraldo Alckmin, do PSDB, ainda vão insistir em acobertar e manter criminosos dentro da corporação. Esses policiais mataram, intimidaram testemunhas, destruíram provas, adulteraram a cena do crime e só não esconderam o cadáver por que estavam em um bairro nobre da cidade. Ricardo Silva Nascimento trabalhava duro todo dia recolhendo lixo reciclável, era um homem pobre, não tinha nenhum tipo de proteção. Isso não pode ser uma sentença de morte.
Segundo levantamento feito pela GloboNews – baseado em dados da Secretaria de Segurança – Policiais militares mataram mais de 5 mil pessoas em SP nos últimos 10 anos. Os dados mostram que de janeiro a março deste ano foram 160 mortes, número 132% maior que no mesmo período de 2007.
Testemunha teve sua unha arrancada ao policial tomar teu celular e o obrigar a apagar imagens do crime. (Foto: Jornalistas Livres)
 Em nota a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo disse que os dois policiais que participaram do crime e a guarnição da Força Tática que retirou o corpo do local foram afastados.

COMENTÁRIOS

4 respostas

  1. Para onde vamos olhar agora? A quem recorremos? Justiça parcial feita para ricos. Legislativo vendido, que, atente as interesses específicos daqueles que os compraram. Executivo corrupto, muito mais interessado em retirar direitos do que lançar mão de um projeto de desenvolvimento nacional. Enquanto isso, a classe considerada pobre e desemparda, é exterminada como insetos. O que faremos?

  2. Barbárie! “Em nota a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo disse que os dois policiais que participaram do crime e a guarnição da Força Tática que retirou o corpo do local foram afastados.” Afastados pra onde?! Afastados dos olhos da população que tudo vê, tudo sente e nada pode fazer? Afastados depois do crime praticado? Até quando isso?!

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