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A investida do desgastado Lenín Moreno contra Assange. Por Murilo Matias

POR MURILO MATIAS

Presidente do Equador assume protagonismo internacional no caso Assange enquanto aumentam críticas internas contra a atual gestão

Em meio aos interesses globais que envolvem a prisão de Julian Assange e as implicações do caso para potências como Estados Unidos e Inglaterra, o papel do Equador tem passado quase desapercebido diante da grande repercussão do acontecimento.

A decisão do presidente equatoriano Lenín Moreno de retirar o asilo político ao fundador do site WikiLeaks responsável pela divulgação de documentos confidenciais,  surge no momento de maior fragilidade do mandatário à frente do cargo diante de uma agenda interna que aponta para a desidratação de sua imagem positiva e graves acusações de corrupção.

Menos de duas semanas atrás, o partido Alianza País, de Moreno, foi o grande derrotado das eleições municipais e regionais realizadas no país ao perder nas principais cidades, incluindo Guayaquil, controlada há anos por oligarquias conservadoras e a capital Quito, cujo vencedor foi o progressista Jorge Yuda.

No plano econômico, o endividamento crescente junto ao Fundo Monetário Internacional – o mais recente empréstimo concedido foi de quatro bilhões de dólares – e a demissão de quase dez mil funcionários públicos são elementos que ajudem a impulsionar o quadro de desgaste, comprovado pela rejeição de mais da metade dos cidadãos em relação ao presidente de acordo com pesquisa divulgada pelo Centro Estratégico Latino-Americano de Geopolítica (CELAG).

O mesmo levantamento demonstrou a disposição de apenas 11% do eleitorado em votar novamente em Moreno. “Esse presidente está acabando com o país. Diminuiu o orçamento para educação e saúde e hoje comete mais uma estupidez ao retirar o asilo de Assange”, critica Jimmy Enriquez.

Também nesse sentido, o ex-presidente Rafael Correa classificou Moreno como o maior traidor da América Latina depois do fato desta quinta-feira.

“O mais grave de todas ingerências e imposições que se produzem sob a região, sobretudo partindo dos Estados Unidos. Para isso se está violando normas internacionais e isso aparece na extradição de Assange, além da disputa doméstica de nosso país. A pergunta é como chegamos a esse ponto”, observa o equatoriano residente no Brasil Jorge Vivar, professor da Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia da UFRGS.

Eleito por margem estreita, Lenín Moreno chegou ao poder em 2017 com a missão de dar continuidade ao processo da Revolução Cidadã liderado até então por Correa e considerado um dos grandes movimentos de inclusão social verificado nos últimos anos.

Em poucos meses, uma inesperada ruptura deslocaria o novo presidente para o campo conservador provocando a descontinuidade do projeto aprovado nas urnas e a perseguição de adversários políticos, incluindo o vice-presidente eleito Jorge Glas, preso e afastado do cargo, e deputados da Assembleia Nacional.

O giro na arena geopolítica

O reordenamento de posições se daria por óbvio também na agenda externa. Além do constante pedido de empréstimos a órgãos internacionais, o alinhamento aos conservadores da região pode ser medido na postura perante a Venezuela ao reconhecer o autoproclamado Juan Guaidó chefe de estado venezuelano em clara oposição ao governo eleito de Nicolas Maduro. Nesse ano a tensão diplomática foi sentida também nas ruas, em episódio marcado pela xenofobia venezuelanos sofreram ameaças de violência no município de Ibarra, localizado no norte do Equador.

Em retrospectiva a esse quadro, a expulsão do fundador do WikiLeaks da Embaixada se desenhava como uma questão de tempo.

Entre as razões para a decisão o canciller José Valencia alegou a intromissão do asilado em assuntos de outros países e asseverou que a naturalização do australiano para a condição de cidadão equatoriano apresenta inconsistências. Moreno, por sua vez, afirmou que o jornalista agredia os funcionários de segurança da Embaixada e manchava as paredes com suas próprias fezes.

De acordo com documentos oficiais, 6,5 milhões de dólares foram gastos nesse período devido ao pagamento a médicos, alimentação e outras despesas especificadas.

Os principais jornais locais e a maioria da Assembleia Nacional postaram-se em defesa da ação de Moreno cancelando a proteção diplomática concedida há sete anos quando Correa presidia o país.

“Estamos frente a contínuas violações a leis e os direitos humanos. Os setores da direita, que englobam os grandes meios, aplaudem o feito. A esquerda rechaça, mas a maioria da cidadania está desinformada. Temos claro que se vulnerabilizou a constituição ao permitir o ingresso de forças britânicas à nossa embaixada, isso viola a soberania territorial”, contrapõe a ex-assembleista Sofia Spin.

Para além das cobranças ao tema da soberania e dos direitos humanos, Moreno enfrenta adversidades que podem inclusive causar a perda do mandato caso as investigações relativas ao chamado INA Pappers comprovem sua culpabilidade ao manter recursos em paraísos fiscais – a terminação INA corresponderiam ao final do nome das três filhas do presidente – Irina, Cristina e Carina.

“Consideramos que essa decisão correta sobre Assange não teve a ideia de nublar a investigação do INa Pappers. A situação de Moreno segue questionada. Na próxima semana a Fiscalia deve emitir seu parecer. Nossa bancada exige transparência e se os indícios indicarem a necessidade de um processo de afastamento, assim o faremos. O povo espera responsabilidade por parte da Assembleia”, opina o deputado Fernando Flores, da conservadora sigla Criando Oportunidades (Creo).

Ao cabo da ampla repercussão mundial, embora tenha dado fim a uma prolongada controvérsia no caso Assange a crise de Lenín Moreno pode estar somente começando.

As necessidades do povo do Equador seguramente não cabem na embaixada de Londres e se espalham por muitas partes da metade do mundo.

Julian Assange. Foto: Reprodução/YouTube

Comentários

Uma resposta para “A investida do desgastado Lenín Moreno contra Assange. Por Murilo Matias”

  1. Avatar de Inácio da Silva
    Inácio da Silva

    Esse asilo não teria nem que ser concedido…esse artigo enorme é para implicar com o dirigente equatoriano eleito, mas que não agrada aos progressistas…esse Assange, “perseguido”, pelas “ditaduras” da Suécia e EUA…tem mesmo é que responder pelos seus atos…

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