História em quadrinho feminista critica naturalização da sobrecarga das mulheres na pandemia

A ideia da narrativa surgiu a partir das pesquisas que revelaram que homens cientistas haviam aumentado a produtividade a pandemia. Potiguar radicada no Rio de Janeiro, a artista Lara Ovídio integra o time que idealizou o projeto

Por Allan de Almeida, da agência Saiba Mais

A história em quadrinhos com abordagem feminista “Família Ghee” estreou nesta terça-feira (1º) no Instagram @johannatds. Com linguagem predominante irônica, a tirinha aborda o feminismo em tempo de pandemia, faz reflexões sobre a disparidade da produtividade de mulheres e homens nesse período, além de criticar a desigualdade de gênero.

Ao todo, 12 episódios serão publicados, um a cada dia, às 11h, no Instagram. Uma das autoras é a artista potiguar Lara Ovídio, atualmente radicada no Rio de Janeiro. Além dela, também integram o time a cineasta Mykaela Plotkin, que mora na Cidade do México, Johanna Thomé de Souza, que vive em Paris. Juntas, elas formam o “Fúria Criativa”, nome pelo qual vão construindo novos trabalhos.

A ideia da narrativa surgiu a partir das pesquisas que revelaram que homens cientistas haviam aumentado a produtividade na pandemia. De acordo com Lara Ovídio, surgiu urgência de falar sobre o tema devido a sobrecarga das mulheres durante o isolamento social.

Em levantamento do projeto brasileiro Parent in Science, em resultados preliminares, 40% das mulheres sem filhos não concluíram seus artigos, contra 20% dos homens. Além disso, o estudo afirmou, também, que 52% das mulheres com filhos não concluíram seus artigos, contra 38% de homens.

“A produção com esse tema coloca em evidência uma coisa que não tem sido tratada, mas sim naturalizada, que é a sobrecarga (de trabalho) das mulheres. E isso é bastante grave. Em um sistema que fala que é assim e que a gente se contente. Mas a tirinha vem e mostra que será o inverso e as mulheres vão se identificar”, afirmou a artista.

Um estudo do IBGE publicado no início de agosto apontou que as mulheres que se dedicam aos afazeres domésticos e cuidado de pessoas não só continuam sendo as que mais realizam esse tipo de trabalho, como têm tido participação crescente, passando de uma taxa de 89,9%, em 2016, para 92,1%, em 2019.

“A maior taxa de realização de afazeres domésticos também pode ser efeito da crise do mercado de trabalho e da queda de renda das famílias, reduzindo as possibilidades de contratar empregada doméstica”, ponutou a analista do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Alessandra Scalioni Brito.

Além disso, Lara afirmou que o intuito é pensar sobre os impactos do feminismo tem passado e refletir sobre as possibilidades de resistência:

“Feminismo é um mundo anticapitalista mais igualitário em que pessoas tenham acessos, direitos, visibilidade e tenham possibilidades iguais. É um mundo contra o capitalismo”, explicou.

Produção

Lara Ovídio, Johanna Thomé de Souza e Mykaela Plotkin em reunião virtual para debater projeto foto: acervo pessoal)

Durante a produção da história, foram ouvidas histórias reais de pessoas próximas ao trio feminino que idealizou o projeto: Lara Ovídio, Johanna Thomé de Souza e Mykaela Plotkin.

Todo o processo criativo foi realizado por meio de reuniões online. As artistas possuem experiência no meio virtual. Juntas, criaram outros projetos mesmo morando em cidades diferentes: Lara mora no Rio de Janeiro, Mykaela, em Recife/PE, e Johanna, vive em Pithiviers, na França.

“Coletamos história de amigos e pessoas próximas, há uma frase que nos guiou durante o processo: “Não serei livre enquanto alguma mulher for prisioneira, mesmo que as correntes dela sejam diferentes das minhas”, de Audre Lorde”, conclui Lara.

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