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Educação

O empresariado vai ao paraíso: o projeto de salvaguarda financeira do MEC aos institutos e universidades federais

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Rogério de Souza, Professor no IFSP

Há tempos o setor empresarial cobiça administrar os recursos destinados à educação pública brasileira, particularmente porque nos últimos 30 anos os diferentes governos aprovaram leis que obrigam os entes federativos (Municípios, Estados, Distrito Federal e União) a destinar percentagem para os diversos sistemas de ensino. Porém, a Constituição de 1988 e a Lei 9.394/1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB/EN) estabeleceram alguns limites para a atuação da iniciativa privada na gestão do dinheiro voltado à manutenção e desenvolvimento da educação pública.

Na década de 1990, em plena ascensão do ideário neoliberal, o empresariado avançou sobre o campo educacional por meio, sobretudo, de parcerias entre os setores público e privado – marcadas, em muitos casos, pela atuação de Organizações não Governamentais, as ONGs. Exemplo típico dessa investida é a interrupção na expansão das instituições federais de ensino superior (IFES), transferindo essa responsabilidade ao setor privado e, consequentemente, propiciando a proliferação de faculdades particulares em diferentes lugares do país.

Mas a intenção última de neoliberais dos anos noventa era gerir diretamente os recursos destinados à educação pública. A título de ilustração, pode-se mencionar a malsucedida tentativa de fomentar o ensino profissional a partir de parcerias entre entes federativos (Municípios e Estados), sindicatos/associações e o setor industrial, com a utilização direta de recursos governamentais para promover formação técnica de nível médio.

Nesse mesmo período, institutos e fundações educacionais ligados ao setor privado (e mantidos inicialmente através de isenção fiscal) foram constituídos com o intuito de auxiliar a difícil travessia da educação brasileira em busca de melhorar o processo de ensino aprendizagem e, ao mesmo tempo, abocanhar parte dos recursos destinados aos diferentes sistemas de ensino. Nos últimos anos, as propostas dessas entidades sem fins lucrativos avançaram, sobretudo, nas redes municipais (responsáveis pelos Ensinos Infantil e Fundamental), adotando práticas bem parecidas: desenvolvem expertise sobre determinada etapa de ensino; ofertam, gratuitamente, assessoria educacional a municípios e estados; após um período, atrelam a continuação desse apoio pedagógico ao pagamento de vultosos valores. Em um período relativamente curto, essas entidades passaram a determinar os rumos das políticas educacionais de diferentes entes federativos (principalmente dos sistemas municipais) apartir da apresentação de dados, práticas e modelos internacionais considerados confiáveis para resolução da questão. Ao mesmo tempo, essas entidades sem fins lucrativos não dependem mais dos recursos financeiros das grandes organizações privadas que as criaram- são verdadeiros cases de sucesso.

Nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-2016) esse processo perdurou, vide o PROUNI (Programa Universidade para Todos) e PRONATEC (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego), com a diferença que neste período as instituições públicas (Educação Básica e Ensino Superior) assistiram a um real crescimento.

Com o golpe parlamentar de 2016, a iniciativa privada agitou-se novamente e pressionou o então governo federal para facilitar o abocanhamento dos recursos públicos voltados à educação. A reforma do Ensino Médio (Lei 13.415/2017) possibilitará, entre outras coisas, a atuação escancarada das entidades particulares, especialmente por meio dos conhecidos institutos e fundações, na gestão dos recursos públicos e determinação dos rumos pedagógicos dessa etapa de ensino. Assim, o círculo da educação brasileira estava quase fechado: Ensinos Infantil, Fundamental e Médio condicionados à gestão financeira e ao interesse da iniciativa privada. Faltava apenas o Ensino Superior.

Com o crescimento vertiginoso dessas instituições nos governos Lula e Dilma e, consequentemente, das verbas destinadas à educação (de 50 bilhões em 2005 para quase 150 bilhões em 2016), o empresariado (agora não somente o brasileiro) passou a cobiçar a participação na gestão e determinação pedagógica das IFES. Todavia, essa incursão seria mais difícil devido à relativa autonomia, garantida pela Constituição de 1988 e ratificada na LDB/EN de 1996; e a atuação crítica das universidades e institutos federais (estes últimos formados em 2008 com status de universidade). Para isso, far-se-ia necessária uma mudança estrutural, que a atual equipe do Ministério da Educação (MEC) denominará revolucionária.

A crise econômica, acentuada com o golpe de 2016, aprofundou o déficit das contas públicas e serviu de justificativa para a aprovação da Emenda Constitucional n. 95 que determinou o teto dos gastos públicos. Não bastasse esse estrangulamento do setor público de maneira geral, os sucessivos cortes e contingenciamento no orçamento da educação inviabilizaram as IFES, provocando o lamentoso anúncio de que algumas universidades e institutos não terão recurso para funcionar até o final de 2019.

Nesse contexto, o Ministério da Educação (MEC) apresentou na última quarta-feira, 17, o programa Future-se, anunciado como salvaguarda econômica aos institutos e universidades federais, e que levará à autonomia financeira das IFES. Na realidade, o Future-se, um plano confuso e pouco detalhado (por isso fica difícil uma análise mais aprofundada), transforma os institutos e universidades em reféns do mercado, pois atrela o funcionamento e desenvolvimento daqueles à lógica deste.

O Future-se, ou pelo menos o que fora divulgado até aqui, está divido em três partes: 1) Gestão, Governança e Empreendedorismo; 2) Pesquisa e Inovação; e 3) Internacionalização. Na prática propõe transferir a administração dos recursos das IFES para Organizações Sociais (as OS), transformar o professor em um empreendedor e criar um fundo econômico a partir do patrimônio dos institutos e universidades.

Uma das características das IFES é a relativa autonomia em relação aos ditames políticos e o humor do mercado. Conforme consta nos seus estatutos, estas se constituem em autarquias federais, vinculadas ao Ministério da Educação, detentoras de autonomia administrativa, patrimonial, financeira, didático-pedagógica e disciplinar. Essa particularidade possibilitou, até o momento, o desenvolvimento de experiências acadêmicas que contradizem, em alguns casos, a vontade de governantes (inclusive criticando governantes de diferentes matizes ideológicas) e volatilidade do chamado interesse do mercado.

Além de cursos de excelência e condições dignas de trabalho, as IFES oferecem condições materiais para os seus estudantes se formarem, como auxílio estudantil e apoio pedagógico. Desse amálgama saíram diferentes profissionais que se destacaram na sociedade brasileira, contribuindo para o desenvolvimento do país. Assim, ao contrário do que o MEC menciona, é a relativa autonomia a interesses externos que permite aos docentes dessas instituiçõesrealizarem trabalhos respeitados no mundo todo e que contribuem para a melhora do Brasil.

Utilizando-se da justificativa de que os reitores brasileiros são “verdadeiros heróis”poisse preocupam em gerir financeiramente os institutos e universidades federais no lugar de somente se dedicarem à expansão e ao aperfeiçoamento do ensino, pesquisa e extensão; o MEC indica que acabará com essa relativa autonomia quando propõe transferir a função de administrar o recurso dessas instituições para as OS,  as entidades privadas sem fins lucrativos. Para isso, o governo Bolsonaro flexibilizará a Lei 8.666/1993, que rege a utilização dessas verbas. Portanto, além de sugerir que os reitores e equipe são incompetentes para administrar a máquina pública, o atual governo cria poros (largos) que permitem a tão sonhada transferência do erário para a iniciativa privada (sem fins lucrativos) sem a rigidez de um órgão público. Essa experiência não é nova, vide os exemplos na área de saúde e as conhecidas denúncias de desvios de dinheiro.

Para garantir a adesão do corpo docente ao programa, o MEC apresentou a seguinte catilinária: propõe transformar o professor em um empreendedor, responsabilizando-o pela captação de recursos para a sua respectiva instituição e suplementado seu próprio salário. Ou seja, torna o docente uma espécie de vendedor de produtos acadêmicos. É isso mesmo! Para o MEC um professor em Regime de Dedicação Exclusiva (RDE) poderá se dedicar a captar dinheiro e ficar com boa parte dele. E até o momento o governo não problematizou que as atividades de ensino, pesquisa e extensão, tripé das IFES, serão prejudicadas pois professores em RDE utilizarão boa parte do seu tempo para buscar recursos externos.

De maneira contraditória, o Future-se retira a possibilidade de reitores e equipe (quase sempre docentes) gerirem os recursos destinados às IFES, mas atribui “competências e habilidades” aos mesmos professores para garimpar recurso na iniciativa privada, agora motivados pela retenção de parte de verba conquistada. Na apresentação do programa, o representante do MEC chegou a mencionar que: “A gente está fazendo do cargo de professor universitário o melhor emprego do Brasil. Ele vai ter o salário dele garantido e toda receita própria que ele conseguir captar vai ser dele. Vai ter natureza privada desde que ele exporte o que a gente tem de melhor, que é o conhecimento.”

Outro corpo estranho à dinâmica dos institutos e universidades federais é o estabelecimento de um Fundo privado (negociado na Bolsa de Valores) que financiará projetos acadêmicos que se mostrarem viáveis para o chamado mercado. Além de inúmeras dúvidas devido à incompletude da proposta, uma questão se destaca: e os projetos que não despertarem interesse por parte do mercado, ou seja, que não forem avaliados como lucrativos, serão financiados?

Durante a apresentação o representante do MEC recorreu, mais de uma vez, ao termo sistêmico para mencionar que o programa engloba todas as particularidades das IFES. Entretanto, quando debruçamo-nos sobre o Future-se não identificamos facilmente a atuação dos cursos de Licenciatura de maneira geral e de Ciências Humanas em particular. Da forma exposto, o programa transmitiu a impressão que foi construído somente para alguns departamentos e tem, como um dos seus objetivos, a regulamentação e expansão de atividades financeiras desenvolvidas por docentes em Regime de Dedicação Exclusiva.

Destarte, o Future-se, aproveitando-se de uma crise econômica acentuada em 2016, propõe uma suposta autonomia financeira às IFES que, na prática, significa a dependência ao mercado de capitais e a submissão à logica administrativa da iniciativa privada por meio da concessão às Organizações Sociais da gestão dos recursos públicos. Na realidade é uma privatização por dentro dos institutos e universidades federais, submetendo ao empresariado a tão sonhada verbas destinadas ao Ensino Superior.

Para aqueles que pensavam que o setor privado se contentaria com a proliferação do sistema de capitalização expandido a partir da Reforma da Previdência, do controle das verbas carimbadas para os setores de saúde e ensino de alguns estados e municípios se enganaram, parte do empresariado cobiça gerir – recorrendo à máxima de que o problema das contas públicas é de gestão e não de falta de recurso, todo o Estado brasileiro.

 

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Educação

Há dois meses, uma escola e seus sonhos foram ao chão

Documentário conta a história da Escola Popular Eduardo Galeano

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Por Lucas Bois e Raquel Baster*

A escola popular Eduardo Galeano foi o primeiro local a ser destruído durante despejo violento que começou no dia 12 de agosto deste ano, pela Polícia Militar, e que se seguiu por três dias, no acampamento quilombo Campo Grande, município de Campo do Meio, em Minas Gerais. Após dois meses do despejo, é lançado o curta documentário “Sonhos no chão, sementes da educação” com depoimentos de educandos, educadores e representantes do setor de educação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) sobre a situação atual do acampamento.

“Ser analfabeto é a gente ficar no escuro e uma pessoa no escuro, ela não é ninguém”. Essa frase dita no documentário por Adão Assis Reis, explica a importância do acesso à educação contextualizada para alcançar a luz do conhecimento. Aos 59 anos, ele se mostra pronto para voltar à sala de aula assim que a escola for reconstruída. Muitos outros trabalhadores e trabalhadoras rurais poderiam ter a chance de seu Adão, mas os dados vem demonstrando o contrário. Um levantamento de dados do Censo Escolar de 2019, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), sobre o número de estabelecimentos de ensino na Educação Básica apontou que, entre 1997 e 2018, foram fechadas quase 80 mil escolas no campo brasileiro. A Escola Popular Eduardo Galeano entra para a estatística não só como mais uma, mas como exemplo de uma política de fechamento de escolas do campo que acontece há anos no país. 

Desenho de uma criança do acampamento Quilombo Campo Grande, ao relembrar o dia do despejo e derrubada da Escola Eduardo Galeano. Frame do documentário “Sonhos no chão, sementes da educação” (2020).

O MST chegou a lançar uma campanha de denúncia em 2011, intitulada “Fechar escola é crime”. E em 2014 foi aprovada a lei (12.960/2013) que obrigou a realização de consulta às comunidades antes do fechamento de escolas do campo, indígenas e quilombolas. Mas parece que não surtiu muito efeito. A própria escola Eduardo Galeano foi fechada pelo governo de Minas Gerais no início de 2019, logo após outra tentativa de desejo no assentamento quilombo Campo Grande em 2018 e reaberta pela resistência do Movimento. “Quando começou o governo de Romeu Zema (Novo) nós recebemos a triste notícia que a Escola seria fechada. E a justificativa era poucos educandos. Eram duas salas aonde chegamos a ter 75 pessoas matriculadas. E, na maioria das vezes, nós mesmos que mantivemos a escola funcionando com nossos recursos porque mesmo sendo uma escola reconhecida, não era garantida pelo Estado”, explica Michelle Capuchinho do setor de Formação do MST.  

Ciranda das crianças do acampamento Quilombo Campo Grande, Campo do Meio (MG).
Frame do documentário “Sonhos no chão, sementes da educação” (2020).

O curta documentário descreve como o despejo e a destruição da Escola impacta diretamente inúmeras famílias, sobretudo crianças e adolescentes. Isso somado a um período onde o isolamento social e medidas de proteção à saúde deveriam ser prerrogativas à gestão estadual no enfrentamento à Covid-19. O MST alega que o despejo foi feito de forma ilegal, já que o processo judicial abrangia 26 hectares inicialmente e depois, sem justificativa e transparência das informações, foi ampliada para 53 hectares no último despacho da Vara Agrária que culminou no despejo de 14 famílias. Cerca de 450 famílias permanecem na área da usina falida Ariadnópolis, da Companhia Agropecuária Irmãos Azevedo (Capia), que encerrou as atividades em 1996.

O filme completo está disponível no YouTube: https://youtu.be/iT1kP7jTO0E

Ficha técnica
Curta-documentário: “Sonhos no chão, sementes da educação”
Imagens e edição: Lucas Bois
Roteiro: Raquel Baster e Lucas Bois
Duração: 22 minutos
Ano: 2020

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Educação

Volta às aulas é proibida pela Justiça em Colégio Militar de Belo Horizonte

Funcionários e inúmeros pais de alunos são contrários à retomada das aulas na instituição do Exército

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Aloísio Morais

A Justiça Federal deu um chega-pra-lá nos militares do Colégio Militar de Belo Horizonte e proibiu o retorno às aulas presenciais a partir da próxima segunda-feira, 21, a exemplo do que outras instituições do Exército pretendem fazer no país. A instituição tem cerca de 750 alunos, 42% do sexo feminino. Dezenas de pais de alunos são contrários à volta às aulas, mesmo com uma série de protocolos a serem adotados. Durante a ditadura, as instalações da escola abrigaram presos políticos, que foram vítimas de tortura no local.

A retomada das atividades escolares na unidade do Exército provocou discussões tanto na Prefeitura de Belo Horizonte quanto no Ministério Público Federal e, como medida de segurança, o Sindicato dos Trabalhadores Ativos, Aposentados e Pensionistas do Serviço Público Federal (Sindsep-MG) entrou na Justiça com um pedido em tutela de urgência para continuidade do regime remoto de aulas, o que foi acatado com a fixação de uma multa de R$ 5 mil por dia, caso ocorra descumprimento da determinação.

Colégio do bairro Pampulha foi usado para abrigar presos políticos durante a ditadura

Sem prejuízo

Na quarta-feira, 16, a direção do Colégio Militar encaminhou às famílias um comunicado informando sobre o retorno obrigatório às aulas na unidade, exceto para os alunos que comprovassem pertencer a grupos de risco para o novo coronavírus. Porém, para o sindicato, o retorno não é necessário, uma vez que os alunos não estariam sendo prejudicados pelo sistema de aulas on-line. Pela avaliação dos professores, os estudantes estão respondendo bem às aulas.

“Nós estamos conversando com os professores há mais de um mês, logo que eles perceberam que seriam convocados para um planejamento presencial das atividades e que incluía desde então o retorno às aulas na própria escola. Nós entendemos que não é necessário um retorno presencial quando tudo pode ser feito remotamente. Sabemos que a cidade está em processo de reabertura, mas achamos que não há necessidade de colocar mais pessoas nos ônibus e nas ruas se os alunos estão respondendo bem às aulas remotas. As aulas estão tendo qualidade”, ressaltou a diretora do Sindicato, Jussara Griffo, ao jornal O Tempo.

Segundo Jussara, o Colégio Militar tinha determinado que retornariam apenas aqueles funcionários que não compõem grupos de risco para a pandemia do novo coronavírus, mantendo em regime remoto, portanto, aqueles com idades superiores a 60 anos e portadores de comorbidades. “Se algumas pessoas permaneceriam em casa, entendemos que o trabalho pode ser mantido remotamente, então não há necessidade de retornar também os outros. Para quê colocar alunos em risco, famílias e professores? Se os alunos estão respondendo bem às aulas remotas, podemos mantê-las”, declarou.

O comunicado feito pelo colégio indicava que haveria um revezamento entre turmas e a adoção de medidas sanitárias relacionadas à Covid-19 para garantir a segurança de estudantes, funcionários e familiares. O retorno contradiz as políticas municipal e estadual que ainda mantêm as aulas suspensas nas redes pública e particular de Minas Gerais. Autoridades da Prefeitura de Belo Horizonte declararam nessa sexta-feira, 18, que poderia procurar a Justiça para pedir a proibição da retomada do ano na unidade militar. Em uma mesma direção, o Ministério Público Federal determinou que o diretor do colégio, o coronel Marco José dos Santos, explicasse à Justiça com um prazo máximo de 24 horas quais estudos técnicos e protocolos de segurança justificariam o retorno às aulas presenciais.

Barbacena


Desde o dia 26 de maio mais de 200 alunos da Escola Preparatória de Cadetes do Ar (Epcar) em Barbacena, no Campo das Vertentes, em Minas, testaram positivo para Covid-19. No dia 22 de junho, o Ministério Público Federal emitiu recomendação ao diretor de Ensino da Aeronáutica, major-brigadeiro do Ar Marcos Vinícius Rezende Murad, e ao comandante da Escola Preparatória de Cadetes do Ar, brigadeiro do Ar Paulo Ricardo da Silva Mendes, para suspender imediatamente todas as aulas e demais atividades acadêmicas presenciais.
A Epcar é uma escola de ensino militar sediada em Barbacena que admite alunos de idade entre 14 e 18 anos por meio de concurso público. No local, estudantes de várias cidades de todo o Brasil vivem em regime de internato e, por isso, dormem em alojamentos e têm aulas em horário integral.

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Cotas

Única vereadora preta de Natal celebra cota do fundo eleitoral para candidaturas negras

Divaneide Basílio (PT) acredita que a decisão do Tribunal Superior de Eleitoral, que determina distribuição proporcional do fundo eleitoral e partidário para candidaturas negras vai incentivar a participação de mais negros e negras na política

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Da agência Saiba Mais

O Tribunal Superior Eleitoral determinou que a partir de 2022 os fundos partidário e eleitoral terão que ser usados de forma proporcional para as candidaturas negras. A decisão é estendida também para o uso do tempo no rádio e na TV das campanhas.

O posicionamento do TSE é fruto de uma consulta feita pela deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), que solicitou a destinação de 50% da verba para candidaturas negras, uma vez que conforme dados do IBGE o Brasil tem 55% da população nesse recorte.

A medida foi anunciada pelo presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, e tem a intenção de reduzir o desequilíbrio na participação eleitoral e no financiamento de campanhas das candidaturas de negras e negros. Essa deliberação se soma à determinação de 2018, que obriga o repasse de percentual fixo de 30% do fundo eleitoral para candidaturas de mulheres.

A subrepresentação das mulheres nos espaços de poder do Brasil, e em especial das mulheres pretas, é uma realidade. As mulheres são 51% da população brasileira, mas governam apenas 12% das prefeituras. Já as mulheres pretas administram apenas 3% dos municípios mesmo representando um contingente de 27% da sociedade.

E mesmo as cidades governadas por mulheres são proporcionalmente menores do que aquelas que contam com homens na chefia do Executivo. Apenas 7% da população no país moram em municípios administrados por mulheres, brancas ou pretas. Do total de prefeituras governadas por mulheres, 91% são de municípios com até 50 mil habitantes

Os dados estão disponíveis para consulta pública e foram divulgados pelo Instituto Alzira, organização que desenvolve ferramentas para contribuir com o aumento na participação das mulheres na política.

O parlamento de Natal é um exemplo desse desequilíbrio e subrepresentação. Das 28 cadeiras, apenas uma é ocupada por uma mulher preta. Não bastasse ser a única, a cientista social Divaneide Basílio (PT) também é a primeira vereadora negra da história da Câmara Municipal de Natal.

Para ela, a decisão do TSE deve garantir maior representatividade nos parlamentos:

– Acompanhamos com lupa esse debate, esse tema é algo para nós muito significativo porque vai garantir a ampliação da representatividade. Uma parlamentar como a Benedita da Silva (PT-RJ) provocando esse debate só reforça que a representatividade importa e que nós podemos disputar em condições de igualdade. Porque essa é uma pauta de todo o país. Eu sou a única negra em Natal, mas na maioria dos estados também é assim”, destaca.

Divaneide comemora e compara a decisão do TSE válida para 2022 com a obrigatoriedade do repasse de 30% para as candidaturas femininas.

– O processo, apesar de lento, já representa para as mulheres um avanço. Uma mudança de postura, com isso mais mulheres estão percebendo que poderiam se candidatar, tem melhores condições pra isso. Não é fácil conciliar a vida doméstica com o trabalho. E é uma mudança que nós, no PT, já iniciamos com o projeto Elas por Elas, garantindo formação. Lançamos esse projeto dm 2018 e hoje já é uma realidade e tem ajudado a nos fortalecer. No Rio Grande do Norte o Elas por Elas ajudou na capacitação das mulheres, contribuiu com o planejamento da campanha e aumento o nível de debate”, disse.

Além da questão financeira, a parlamentar que tentará a reeleição em 2020 acredita que a decisão do TSE estimula o envolvimento da população negra do debate político. O próprio Instituto Alzira reconheceu o avanço já notado em 2018 embora a subrepresentação seja latente.

Divaneide não acredita que haverá uma disputa por mais espaço entre candidatos negros e candidatas negras. A pauta antirracista, segundo ela, vai unir o candidatos.

– Vai ser bom pra todo povo negro. A pauta antirracista é de todo mundo, negro e negra. Nós mulheres negras estamos fazendo um debate para aprimorar o gênero de classe e raça. Vamos fazer um Elas por Elas com recorte de mulheres negras. Essas interfaces não são para colocar um grupo em superioridade, mas para mostrar que aquele grupo representa mais de uma identidade”,

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