Desde que foi anunciado por Michel Temer como presidente da Petrobras, o nome de Pedro Parente é amplamente criticado por funcionários de carreira da empresa e especialistas no setor de petróleo. O motivo, é claro, é sua biografia com longo histórico de atuação contra os interesses da população brasileira.
Na década de 1990, Parente era consultor do FMI e se notabilizou nas gestões de FHC como uma espécie de ponte junto aos grandes empresários e, depois, como simpatizante da entrada do país na ALCA, a área de livre comércio que os EUA gostariam de criar no continente para facilitar a exportação de seus produtos industrializados para América Latina. Na época, ele também estava entre os que defendiam que a Petrobras deveria mudar de nome, e passar a se chamar “Petrobrax” para facilitar a pronuncia em inglês.
Ainda naquele governo, ficou conhecido como “ministro do apagão”, porque foi nomeado em 2001 o responsável por chefiar a equipe com profissionais de diversas áreas para gerir a crise de abastecimento que levou o Brasil ao racionamento de energia e a situações de cortes devido à falta de geração. Parente se tornou um dos rostos mais conhecidos do sucateamento e das sucessivas privatizações no setor.
Nos anos seguintes, trabalhou sempre com o alto empresariado. Não com setor de petróleo, como seria de se imaginar para quem foi empossado no cargo de presidente da Petrobras, mas preferencialmente com mercado de ações e especificamente com banco JP Morgan, presidido no Brasil por José Berenguer, sócio de Parente na empresa PRADA Ltda. A empresa dos dois é especialista em gestões de grandes fortunas. [Leia-se, aí, especialista em especulação com ações]
Agora a frente da Petrobras, a gestão de Pedro Parente tem as mesmas características de seus trabalhos anteriores. Com ele à frente, a empresa viu uma rápida valorização das ações negociadas na Bolsa de Valores e a divulgação de lucros bem maiores que os das gestões anteriores, dois fatos que geraram certamente dividendos excepcionais para os rentistas, mas, enquanto isso, o preço nas bombas de combustíveis teve alta delirante, provocada por sua diretriz de reajustes diários e atrelados à variação internacional, e as refinarias brasileiras diminuíram o uso das suas capacidades em benefício de um aumento das importações.
Poderíamos sintetizar mais esta gestão de Parente como um mar de rosas para os especuladores, que olham sobretudo para seus lucros, e um novo desastre para população consumidora – que espera de uma empresa pública, como a Petrobras, uma contribuição para melhoria das condições sociais no Brasil, e não uma sabotagem no desenvolvimento. Afinal, a diferença entre uma estatal e uma empresa privada é que a primeira tem função pública, deve pautar seus investimentos e políticas de preços de olho no benefício do Estado, e a segunda só precisa se preocupar com os lucros dos seus proprietários.
Hoje o que há na prática é que a Petrobras é gerida como se ela já tivesse sido privatizada, como se os donos da empresa já fossem os banqueiros, e não os brasileiros. O caráter nacional e o papel estratégico foram abdicados pelo presidente em exercício em atendimento aos lobistas do setor, que estão sempre empenhados em melhorar os negócios das multinacionais do petróleo e das empresas privadas nacionais que possuem contratos com a Petrobras.
Como resultado, profissionais dos transportes, como os caminhoneiros(as) que estão em greve, se tornaram há tempos as vítimas preferenciais dos lucros que Parente entrega na outra ponta da cadeia para os acionistas da empresa.
Por estes motivos, não vejo outra saída para crise que se alastra pelo país senão o imediato afastamento de Pedro Parente da presidência da Petrobras. Sua atuação não combina com o que se espera de um gestor da maior empresa pública que nós temos. É preciso substituí-lo e substituir suas políticas, impedindo essa privatização disfarçada que, em poucos meses, já demonstrou os impactos calamitosos que teria para todos os setores produtivos.