Por Martha Raquel e Guilherme Imbassahy para os Jornalistas Livres
Um espaço ocupado por mulheres para trazer qualidade de vida para seus filhos, a Ocupação Independente Aqualtune, batizada em homenagem a avó materna de Zumbi dos Palmares, abriga 30 famílias sendo 35 crianças e 5 portadoras de necessidades especiais. O prédio localizado em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, estava abandonado desde que o colégio Butantã foi fechado em 2008. Há um ano e oito meses, um grupo de famílias sem-teto ocupa o local.
Inajara Trindade é uma das moradoras da ocupação. Ela é cabeleireira e mãe de 4 filhos, sendo um deles autista. Ela não recebe nenhum tipo de auxilio do governo e preferiu morar na ocupação para poder cuidar das crianças. “Desde que eu descobri a deficiencia do meu filho eu me vi obrigada a parar de trabalhar, e eu não tendo trabalho eu não tenho como pagar aluguel e nem alimentar minhas crianças”, desabafa Inajara.
A ordem de reintegração de posse foi concedida no dia 25 de setembro e pode ser executada a qualquer momento. Além de moradia, a ocupação também oferece aos moradores diversas atividades educativas e culturais.
EU NÃO CONSEGUI ESTUDAR
Crianças que moram em ocupações por moradia ou nas ruas têm, além do direito à moradia, o direito à educação retirado. Brenda Aline Soares Romão, uma jovem de 20 anos, foi morar em ocupações aos sete anos. Na primeira ocupação conseguiu permanecer por dois anos e, pulando de ocupação em ocupação cursou até a 5ª série do ensino fundamental. Os despejos retiram dela não apenas o teto, mas também todos os laços criados com a região. Escolas, pontos de cultura, amigos, tudo sempre foi deixado pra trás. Brenda passou por outras 11 ocupações até chegar à Ocupação Independente Aqualtune, onde tem esperança de se estabilizar.
“Eu quero ter uma casa, eu quero ter pelo menos um lugar pra eu poder ter algum outro sonho. Enquanto eu não tiver um lugar pra ficar eu não posso desejar mais nada porque isso sempre fica me barrando. Cada despejo é um pesadelo, é uma humilhação. As pessoas tiram fotos, é humilhante”, diz a jovem.
Por ter ficado fora da escola por não ter um lugar fixo para morar, ela se preocupa com a educação dos irmãos mais novos “É difícil pra mim ver meus irmãos chorando na hora de ir embora do prédio, isso parte meu coração. Eu gostaria que eles pudessem ter o que eu não tive”.
LUTA PELA PERMANÊNCIA
As trinta famílias que ocupam o antigo colégio seguem resistindo na ocupação. Além de moradia, a ocupação oferece aos moradores diversas atividades educativas e culturais como aulas de reforço para as crianças, oficina audiovisual, teatro para adolescentes, coral para todas as idades e aulas de esperanto e inglês. Na última semana foi realizada uma virada cultural contra a ameaça de despejo. As crianças e adolescente já criaram um vínculo com a região e estão matriculadas em escolas próximas.