Entre os dias 6 e 8 de outubro, agricultoras, agricultores e militantes da agroecologia participaram do encontro regional de agroecologia (ERÊ) expondo seus produtos na Feira de Arte e Cultura do Movimento Sem Terra em Belo Horizonte. A união dos eventos foi uma oportunidade grande para valorizar cada ação realizada nos territórios para transformar dia após dia o modo de produção e de consumo de alimento. Descubram o perfil dos que participam dessa transformação. Lindas histórias bem sucedidas que mostram que a mudança é o abrigo das sementes.
Joaquim Carlos trabalha na Cooperfrutas em Paracatu no Noroeste de Minas. A cooperativa trabalha com polpa de fruta, a partir das frutas de 50 sócios de agricultores familiares. Damirom Rodrigues é da Copefran que produz alimento em geral (plantas medicinais e cachaça, exposto na barraca e outros produtos variados).
Ambas são afiliadas à UNICAF (a união nacional de cooperativas de agriecologia e agricultura familiar). É a primeira vez que participam da feira do MST, mas já participaram da Agriminas.
Joaquim também é Presidente do conselho municipal de segurança alimentar e nutricional. Para ele a maneira de defender e expandir a agroecologia é ocupar os espaços institucionais como o conselho de desenvolvimento rural sustentável e o fórum mineiro da economia popular solidária. Também a formação de agricultores familiares é fundamental.
Na região do Vale do Jequitinhonha e Diamantina, au lado do município de Presidente Kubitscheck, encontra-se a comunidade Quilombo de Raiz com cerca de 40 famílias.
A comunidade tem três eixos de produção, a agricultura familiar, a colheita de sempre vivas e o artesanato. Ingrate e Tamara são apanhadoras de flores e aprenderam a tradição desde crianças. “Antes a gente só apanhava as flores e nosso coletivo foi se profissionalizando com o artesanato nos últimos dez anos”, conta Ingrate. O artesanato conhecido com o nome de capim dourado é feito com uma espécie de sempre-viva chamada sedinha.
Mas a comunidade olha o futuro com preocupação. A expansão da monocultura do eucalipto na região, invadindo as terras do quilombo que está em processo de demarcação de terra, tem afetado o manejo das plantas nativas. “A colheita de flores de diminuído de 20kg para 5kg em 10 anos. Precisamos buscar sempre mais longe da comunidade para encontrar as flores”, lamenta Tamara.
Para defender seus direitos, a comunidade compõe a CODECEX (comissão de defesa dos direitos das comunidades extrativistas), junto com dezenas de outras comunidades tradicionais.
Gilvania é agricultora em Divino, na região da Zona da Mata, onde a Cooperdom é a principal produtora de alimentos oriunda da agricultura familiar.
Ela dedica sua militância para o projeto Eco jovem, voltado à formação de jovens lideranças nas organizações locais.
“Nosso objetivo é manter e valorizar os jovens na roça, resgatar a identidade. E preciso acabar com a vergonha de dizer que moramos na roça”.
O projeto é uma articulação de entidades onde sindicatos, cooperativas, e pastoral da juventude rural estão envolvidas.
Geraldo Gomes, é agricultor desde os 7 anos de idade em Sertanópolis em Minas, no semiárido do norte. O trabalho dele: guardião das agrobiodiversidade da caatinga. Aos 54 anos, ele montou um banco de sementes crioulas com mais de 200 espécies e aproveita todas as ocasiões de encontro com outros agricultores para resgatar e trocar sementes desaparecidas.
“Por causa das mudanças climáticas, do desmatamento, dos agrotóxicos, cerca de 50% das espécies nativas da região tem desaparecido nos últimos 10 anos”, lamenta Geraldo. Para isso ele se envolve em feiras, projetos universitários, nas escolas, em projetos de documentários audiovisual, para tentar reverter o tempo.
Vender mudas de hortaliças por poucos centavos e alcançar sustentabilidade financeira é possível! Esse foi o desafio que George Lucas, jardineiro de Belo Horizonte está vivendo há dois anos, com o projeto “fábrica de hortas”.
Ele começou a plantar mudas na horta de casa e vender nas feiras. Aos poucos expandiu no sítio familiar em Esmeraldas e hoje está com o projeto de iniciar uma horta urbana no centro da cidade nos próximos meses.
“E preciso se preocupar mais com segurança alimentar e o processo de compra de alimento. Me envolvo para que todos tivessem sua horta caseira”, relata.
Quando em 1992 ela ocupou o acampamento Lauro Valencia, no interior de São Paulo (Itabera), com o MST, Maria Nazaré, nunca imaginava que se tornaria 25 anos depois, a sócia mais antiga da Coplantas, uma cooperativa de 32 mulheres que faz produtos medicinais.
“A terra que ocupamos tinha sido envenenada pelo fazendeiro e causava feridas na pele das crianças e dos animais”, lembra. Procurando remédios, um grupo de mulheres aprendeu a fazer pomadas a partir das plantas que passaram a colher em vários assentamentos da região. “No início a gente até fazia as pomadas com banha de porco!”, brinca Nazaré.
O grupo foi se estruturando e a cooperativa trabalha hoje em um laboratório farmacêutico de cerca 400m2 e um lote de cultivação de 3000m2. As ervas medicinais são vendidas em feiras e mediante parcerias com o SUS, a fundação FIOCRUZ e projetos universitários, contribuindo para garantir uma fonte de renda para todas as integrantes.
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