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América Latina e Mundo

Contagem regressiva para uma guerra dos EUA contra a Venezuela

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Artigo do Moon of Alabama publicado no último dia 28 de Julho, analisa como a mídia norteamericana vem dando as pistas para uma intervenção militar dos EUA na Venezuela. A mesma estratégia de “mudança de regime” já aplicada em outros países e com o mesmo objetivo: o controle do petróleo e dos recursos naturais do país. Leia e saiba por que você a única coisa que te contam na grande imprensa é que Maduro é um “ditador”, mesmo ele tendo sido eleito e seu mandato termine apenas em 2019.

Contagem regressiva:
Guerra dos EUA contra Venezuela

28/7/2017, Moon of Alabama

 

Neste domingo, em eleições gerais, a Venezuela vai eleger os membros de uma Assembleia Constituinte. 50% dos representantes serão eleitos nos distritos eleitorais já existentes. 50%, em distritos eleitorais especiais: “trabalhadores”, “agricultores”, “empregados assalariados”, dentre outros. Esse segundo grupo talvez pareça estranho, mas não é sistema menos democrático que o sistema eleitoral norte-americano, que dá maior peso aos eleitores em estados rurais, que nos centros urbanos.

A nova assembleia formulará mudanças a serem feitas na atual Constituição. Essas mudanças serão decididas em outra votação geral. É provável que o resultado reforce as políticas favorecidas por grande maioria da população e do governo social-democrata do presidente Maduro.

A parte mais rica da população e os lobbies e governos estrangeiros tentaram impedir ou sabotar a votação. Os EUA usaram vários instrumentos econômicos para pressionar o governo da Venezuela, incluindo guerra econômica e sanções cada vez mais ferozes. A oposição organizou violentas confrontações nas ruas, atacou instituições do governo e apoiadores do presidente e convocou greves gerais.

Mas a propaganda do NYT  pinta os atos de vandalismo da oposição na capital, Caracas, como se não passassem de manifestações de pequenos grupos de umas poucas centenas de jovens quase sempre violentos. As greves gerais convocadas pela oposição tiveram fraca ressonância, e até o Washington Post, obcecadamente anti-Maduro, teve de reconhecer:

“No setor mais rico da cidade, vários estabelecimentos comerciais fecharam, em apoio à greve convocada pela oposição, que está boicotando a votação e exigindo que seja cancelada.

As principais ruas da capital foram praticamente fechadas no início da manhã, e há notícias da polícia usando gás lacrimogêneo contra grevistas no centro. Nos bairros pobres na região oeste da cidade, a greve pareceu menos ampla, com mais lojas abertas e mais pessoas pelas ruas.”

(Tradução, do propagandês do WaPo: “Nem nos bairros ricos da cidade as lojas fecharam completamente. Tentativas, pela oposição, de bloquear ruas e estradas centrais foram impedidas pela polícia. Nos bairros pobres da cidade, a greve convocada pela oposição foi simplesmente ignorada.”)

A verdade é que a oposição só é ativa nos extratos mais ricos da população e só numas poucas cidades grandes. As áreas rurais pobres conheceram grandes avanços nos governos socialistas e continuarão a votar com os chavistas.

Ontem, em coluna assinada no New York Times o lobby da “mudança de regime” do Washington Office on Latin America (WOLA) [Gabinete Washington para a América Latina] expôs os passos adiante rumo à guerra na Venezuela:

“Desde o plebiscito, a oposição venezuelana vem tomando medidas para estabelecer um governo paralelo. Pode permanecer como iniciativa simbólica. Mas se a oposição insistir nessa via, logo alcançará condições de aspirar ao reconhecimento e aos financiamentos internacionais e, pelo menos implicitamente, poderá afirmar-se como governo paralelo e exigir o legítimo monopólio do uso da força. Em seguida, poderá buscar o que qualquer governo deseja: armas para se defender. Se for bem-sucedido, o golpe na Venezuela se lançará numa guerra civil, que fará o atual conflito parecer briga a tapas em recreio de escola.”

(O Gabinete Washington para a América Latina também teve papel ativo no golpe de Hillary Clinton contra Honduras.)

CIA pode-se dizer “transparente” sobre os planos:

“Numa das pistas mais evidentes de recente intromissão de Washington na política da América Latina, o diretor da CIA Mike Pompeo disse que “tenho esperança de que tenhamos uma transição na Venezuela e nós, a CIA, estamos fazendo o melhor possível para compreender a dinâmica naquela área”.

E acrescentou: “Estive recentemente na cidade do México e em Bogotá, há uma semana, falando sobre essa questão, tentando ajudá-los a compreender tudo que eles mesmos devem fazer de modo a obterem resultado melhor para a parte deles do mundo e para nossa parte do mundo.”

A nota prossegue:

“Na Venezuela, [o governo dos EUA] buscou enfraquecer os dois governos eleitos, de Maduro e de seu predecessor Hugo Chávez, que foi deposto brevemente num golpe em 2002. Alguns dos esforços visaram a distribuir fundos para grupos de oposição mediante organizações como National Endowment for Democracy [Dotação Nacional para a Democracia]; outros esforços aconteceram sob a forma de simples propaganda.”

Em maio de 2016 funcionários não identificados dos EUA disseram a jornalistas, num briefing reservado, que a Venezuela caía numa “crise” sempre mais profunda que podia acabar em violência.

Pode-se concluir que a violência que pode em breve abater-se sobre a Venezuela não é ação espontânea da oposição, mas efeito de um plano que está sendo posto em prática de fato desde, no mínimo, maio de 2016. E segue, muito provavelmente, o roteiro das revoluções coloridas a ferro e fogo que os EUA desenvolveram e implementaram em vários países ao longo da última década. Em seguida virão armas e apoio a uma oposição mercenária, fornecidos pelos países vizinhos que o chefe da CIA visitou, ou pelos EUA através daqueles países.

 

A eleição da Assembleia Constituinte prossegue como foi planejada. A oposição tentará sabotá-la ou, se a sabotagem não funcionar, usará de violência. É provável que armas e apoio e aconselhamento tático já tenham sido entregues através de canais da CIA.

O governo venezuelano é apoiado por eleitorado que supera em números, de longe, a oposição de direita alinhada com os EUA. Os militares não deram qualquer sinal de deslealdade ao governo eleito. A menos que algo imprevisível aconteça, qualquer tentativa para derrubar o governo de Maduro fracassará.

Os EUA também podem ferir a Venezuela, se interromperem as importações de petróleo venezuelano. Mas isso provavelmente fará aumentar os preços do gás norte-americano. Criaria um inconveniente de curto prazo para a Venezuela, mas petróleo é fungível, e outros consumidores sempre aparecerão.

Os EUA já tentam derrubar governos venezuelanos desde a primeira vez que o país elegeu governo com orientação socialista, em 1999. Os EUA instigaram um golpe em 2002, que fracassou quando povo e militares opuseram-se àquela escandalosa ingerência externa. Depois disso, os métodos de “mudança de regime” mudaram, passando a contar com o apoio também de uma militante “oposição democrática” alimentada de fora do país.

Essa ‘ferramenta’ já levou a resultados desastrosos na Líbia e na Ucrânia e fracassou na Síria. Tenho confiança de que o governo da Venezuela analisou esses casos e construiu seus próprios planos para responder a atentado semelhante.

Os EUA acabam de ordenar que familiares dos empregados da embaixada norte-americana deixem o país. É medida que só é tomada quando se antevê ação iminente.

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5 Comments

5 Comments

  1. Pingback: Contagem regressiva para uma guerra dos EUA contra a Venezuela | Jornalistas Livres | BRASIL S.A

  2. José de Almeida Bispo

    01/08/17 at 16:51

    Sem ter a bomba, bandido não respeita!
    A Coreia do Norte, dizem, vive morrendo de fome. Os ianques rosnam e rosnam e rosnam… e fica só nisso! A China, 15 anos antes de começar a ganhar dinheiro se precaveu: explodiu sua primeira bomba. Ninguém mexe com a China. A Rússia, sempre arrebentada economicamente, as tribos de assaltantes europeias e os ianques rosnam, rosnam e rosnam… e baixam a bola. No Brasil… temos a elite paulista e seus sócios nas outras províncias. E na Venezuela… eles só têm petróleo. Que é o que o assaltante quer.
    Que Deus proteja os venezuelanos! (Porque nós já nos lascamos!)

  3. Berajfj

    05/08/17 at 21:05

    Va morar la entao ptista

  4. EDER VINICIUS RAMOS PLATES

    11/08/17 at 7:13

    Democracia kkkkkkkk o cara acabou com TDs os direitos individuais, fez um golpe no legislativo, tem poderes ilimitados sem precisar de outro poder, pode destituir qualquer cargo onde quiser e vc vem falar em democracia? Faça me um favor, jornalista livre? Kkkkk o povo lá morre de fome, é perseguido por milícias, e vc fala em “ianque”. Toda desculpa pra ditadores é culpar os EUA. Matéria tendenciosa, pró esquerda, e o site é jornalista livre para puxar o saco da esquerda sociopata

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América Latina e Mundo

Chilenos enterram a Constituição de Pinochet e começam um inédito (e incerto) processo Constituinte

Carta Magna produzida em 1980 era a base do modelo neoliberal chileno, que destruiu a Saúde, a Educação e a Previdência públicas

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Estátua equestre do general Manuel Baquedano, que liderou expedições contra os indígenas do sul, pintada de vermelho - Bárbara Carvajal (@barvajal)

A data 25 de outubro ficará marcada para sempre na história do Chile. Em 2019, foi o dia em que mais de 1,2 milhão de pessoas saíram às ruas para exigir um país mais digno. Um ano depois dessa manifestação, a maior do país, no dia 25 de outubro de 2020 os chilenos decidiram enterrar o último legado da ditadura de Augusto Pinochet: a Constituição de 1980.

Por Amanda Marton Ramaciotti, jornalista brasileira-chilena

No domingo, milhões de chilenos votaram em um plebiscito sobre escrever ou não uma nova Carta Magna, uma medida que nasceu como uma saída política à crise social iniciada em 2019. O resultado foi avassalador: 78,27% da população aprovou a iniciativa, contra 21,73% que a rejeitou.

Além disso, 78,99% dos votantes disse que quer que a nova Constituição seja redigida por uma Convenção Constituinte formada por 155 membros eleitos pela sociedade; versus um 21,01% que expressou que preferia uma Convenção Mista, formada por 172 membros, a metade deles legisladores e o restante constituintes. 

A comemoração durou horas. Em Santiago, milhares de pessoas foram a pé, de carro e de bicicleta em caravana até a avenida principal da capital e à praça central (antes conhecida como Praça Itália e agora, pelas manifestações, chamada popularmente de “Praça Dignidade”). Bandeiras do Chile e cartazes com as palavras “adeus, general” (em referência ao Pinochet) eram vistos em várias ruas.

Nova Constituição: chance de o Chile renascer - @delight_lab_oficial
Nova Constituição: chance de o Chile renascer – @delight_lab_oficial

A sensação era de um êxtase coletivo. “Ainda não consigo acreditar no que está acontecendo… Mais do que isso, é impossível dimensionar tudo que conseguimos”, me disse uma manifestante. Em um dos edifícios emblemáticos de Santiago, foi possível ler uma grande projeção com a palavra “Renasce”.  

“Para mim, é o começo de uma nova era”, comentou um jovem que estava comemorando os resultados do plebiscito.

Ele tem razão. Apesar de que a Carta Magna “do Pinochet” —escrita pelo advogado constitucionalista e ideólogo da direita chilena Jaime Guzmán, sofreu alterações durante a democracia, manteve vários dos seus aspectos principais. Ela continuou sendo a base do modelo neoliberal chileno que se adentrou na saúde, educação e sistema de aposentadoria, e também impedia grandes reformas estruturais pela exigência de um quórum de dois terços ou três quintos que, na prática, sempre foi muito difícil de ser alcançado.  

O novo ciclo

A decisão de escrever uma nova Carta Magna encerra um ciclo doloroso para milhares de pessoas que foram vítimas da ditadura do Pinochet, uma das mais sangrentas na América Latina, e também para tantas outras que até agora vivem em um país desigual devido, em grande parte, às disposições da atual legislação. O ciclo que começa agora é cheio de esperanças, mas também repleto de desafios.

O presidente Sebastián Piñera, quem em nenhum momento do processo deixou claro qual era o seu voto, disse domingo de noite que o plebiscito “não é o fim, é o começo de um caminho que juntos deveremos percorrer para escrever uma nova Constituição para o Chile. Até agora, a Constituição nos dividiu. A partir de hoje todos devemos colaborar para que a nova Constituição seja o grande marco de unidade, de estabilidade e de futuro do país”.

Ainda são poucas as definições que já foram tomadas sobre como será a assembleia constituinte. Sabemos que, em abril de 2021, os chilenos voltarão às urnas para escolher os 155 cidadãos que serão parte do processo. Sabemos que ela estará formada de forma paritária por homens e mulheres (algo inédito no país). Mas ainda falta uma série de decisões, como se poderão participar do processo pessoas que não estejam associadas a partidos políticos e se o órgão terá assentos reservados para os povos originários.

A assembleia contará com até 12 meses para redigir uma nova Carta Magna, cujas normas deverão ser aprovadas por dois terços dos integrantes. Esta será submetida a outro plebiscito, cuja participação será obrigatória.

Esse ponto é o que desperta mais dúvidas na sociedade. É que o plebiscito do domingo passado foi de caráter voluntário, e acudiram às urnas um total de 7,5 milhões de chilenos dos mais de 14 milhões habilitados para votar. Apesar de ter sido a participação mais alta da sociedade desde 2012, quanto o sufrágio começou a ser optativo no país, a votação do dia 25 de outubro não deixa claro qual será o resultado final se as 6,5 milhões de pessoas que não participaram no domingo votarem em 2022.

Mas, como dizem por aqui, isso é uma decisão para o Chile do futuro. O Chile do presente quer comemorar. E tem motivos de sobra para isso.

O estádio nacional, um dos maiores centros de tortura durante a ditadura, neste domingo foi um dos lugares que recebeu mais votantes - Bárbara Carvajal (@barvajal)
O estádio nacional, um dos maiores centros de tortura durante a ditadura, neste domingo foi um dos lugares que recebeu mais votantes – Bárbara Carvajal (@barvajal)

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Chile

Chilenos se preparam para um plebiscito histórico sobre manter ou dar adeus à “Constituição do Pinochet”

Chilenos estão ansiosos para o plebiscito, adiado desde abril por conta da pandemia

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Era uma demanda colocada por alguns setores da sociedade chilena há anos, mas foram os protestos de 2019 os que voltaram exigir a derrubada da Constituição de 1981, imposta pela ditadura militar de Augusto Pinochet. Agora, no domingo 25 de outubro, mais de 14 milhões de chilenos acudirão às urnas em um plebiscito histórico que decidirá se o país “aceita” (aprueba) ou “rejeita” (rechaza) uma nova Carta Magna. A votação foi pensada como um caminho político para aplacar a crise social que o Chile enfrenta.

Por: Amanda Marton Ramaciotti, jornalista brasileira-chilena

Os ânimos estão à flor da pele. Nos muros, nas redes sociais, na mídia praticamente não se fala de outra coisa. Não é para menos, já que o plebiscito, inicialmente marcado para o dia 26 de abril, foi atrasado pelo governo devido à pandemia. Além disso, acontecerá somente uma semana depois do primeiro aniversário do chamado “estallido social”, iniciado em 18 de outubro de 2019, quando milhões de pessoas saíram às ruas para exigir um país mais igualitário. Mas a sociedade chilena -como tantas outras na América Latina e no mundo- está profundamente polarizada e, apesar de as pesquisas dizerem que a maioria votará pelo “aceita”, nada está definido.

Foto: Pablo Gramsch / Instagram: @active_grounds


Por um lado, o “apruebo” reúne intenções diversas, que vão desde exigir uma mudança no modelo neoliberal chileno até entregar mais direitos às mulheres, aos índios e às diversidades sexuais.

Alejandra Saez, uma trabalhadora independente, me disse que vai aprovar porque “se necessita uma mudança imediata, apesar de que o resultado chegue com o tempo, tomar a decisão de transformar o sistema já é um grande avanço”. “Quero que as novas regras validem o bem-estar das pessoas e não os cofres dos outros. Que não nos sintamos atacados pelo sistema”, afirmou.

Já o bioquímico Francisco Pereira me explicou que votará “apruebo” porque considera que é necessária uma “mudança drástica na atual Constituição, já que apesar de que outorga direito a serviços básicos, em nenhum momento garante o acesso a esses serviços, deixando muitos recursos principalmente nas mãos do mundo privado. Além disso, foi escrita para um contexto de desenvolvimento de país determinado muito diferente do atual, e é bastante rígida, o que dificulta que ela seja adaptada às atuais necessidades do Chile”.

Nas campanhas eleitorais, também é possível ver que muitos dos que pedem uma nova Constituição querem reformar as instituições encarregadas da segurança pública, já que, em 2019, pelo menos 30 pessoas morreram, milhares ficaram feridas e o Chile foi cenário de graves violações aos direitos humanos no marco dos protestos sociais, segundo Human Rights Watch, a ONU, entre outros. De acordo com o Instituto Nacional de Direitos Humanos, 460 pessoas sofreram lesões oculares durante as manifestações devido ao uso excessivo da força policial. Delas, pelo menos duas ficaram completamente cegas.

Por outro lado, Natalia C. (que pediu não ser identificada) aposta pelo “rechazo” porque considera que “não há necessidade de escrever uma nova Constituição inteira para realizar as reformas que o país precisa”. Nas redes sociais, as pessoas que chamam a votar por essa alternativa também dizem temer que o Chile se transforme em um país “caótico” e/ou “esquerdista”.

Além disso, muitos sinalizam que votar “apruebo” seria dar um aval à destruição de patrimônio que ocorreu no marco das mobilizações sociais. É que o metrô de Santiago, várias igrejas, ruas e estátuas foram parcialmente destruídos e/ou incendiados desde outubro de 2019, mas não há informação detalhada disponível sobre quem foram os responsáveis de cada um desses atos.

Foto: Pablo Gramsch / Instagram: @active_grounds


Muitos ainda estão indecisos. O microempresário Javier Baltra comentou que achava melhor votar nulo porque “ambas as opções estão cheias de problemas. Aprovar pode ser sinônimo de um Estado maior, e eu acho isso problemático para a economia. E rejeitar é deixar tudo como está até agora e não sei se isso é uma boa ideia”.

Além de escolher entre as opções “apruebo” ou “rechazo” uma nova Constituição, os chilenos devem votar se desejam que a eventual Carta Magna seja escrita por uma Convenção Constitucional formada por 155 constituintes eleitos ou por uma Convenção Mista de 172 membros (metade legisladores e metade cidadãos eleitos).


A LEI ATUAL


Qualquer pessoa que não conheça a história do Chile provavelmente se surpreenderá ao saber que um país como este tenha ainda uma Constituição que foi escrita na época da ditadura militar. “Nossa, mas é um país tão desenvolvido”; “como assim?”; “sério?” foram alguns dos comentários que recebi de amigos brasileiros quando contei sobre o que está acontecendo agora.


A Constituição atual foi aprovada em um questionado plebiscito realizado no dia 11 de setembro de 1980, em plena ditadura do Pinochet, quando milhões de chilenos viviam sob o medo da repressão, sem registros eleitorais e com os partidos políticos dissolvidos.
O texto foi escrito pelo advogado constitucionalista Jaime Guzmán, um dos maiores ideólogos da direita chilena, e que foi assassinado por um comando de ultraesquerda em 1991.

Ele foi escolhido por uma comissão designada pela ditadura. Posteriormente, a redação contou com a revisão e o apoio do Conselho de Estado e a Junta Militar, composta pelos máximos chefes do Exército e o diretor da polícia, que exercia como “poder legislativo”. Guzmán criou uma série de regras muito difíceis de alterar para perpetuar seu modelo econômico e político.

Como ele mesmo disse quando escrevia a Constituição, sua ideia era que, se os adversários chegassem a governar, eles se veriam “obrigados a seguir uma ação não tão distinta ao que alguém como nós gostaria (…) que a margem seja suficientemente reduzida para fazer extremamente difícil o contrário”.

Foto: Pablo Gramsch / Instagram: @active_grounds


Para realizar reformas à Carta Magna, Guzmán detalhou que é necessário alcançar um quórum de dois terços ou três quintos, segundo o caso, algo que, na prática, tem sido praticamente impossível de conseguir, porque nem o oficialismo nem a oposição conta com essa quantidade de votos.

Essa Constituição também instaurou um modelo econômico, político e social neoliberal, que se adentrou na educação e na saúde privada e um sistema de aposentadoria conhecido como AFP baseado na poupança individual e que no ano passado entregou aposentadorias pelo valor de 110.000 pesos chilenos (uns US$ 140). Esse sistema, hoje sumamente questionado pela população chilena, foi elogiado pelo Ministro de Economia do Brasil, Paulo Guedes, em várias ocasiões.

Se bem que o texto legal não estabeleça especificamente que a saúde, a educação ou o sistema de aposentadoria devam ser privados, na prática, sim, impõe princípios que limitam a ação do Estado e promove a atividade privada nesses setores. Por exemplo: não existe no Chile nenhuma universidade que seja gratuita.

Segundo analistas, a Constituição atual também é hierárquica e desconecta a cidadania do poder político, porque não inclui muitos mecanismos de participação.

Ao longo da sua história, sofreu duas modificações: a primeira, em 1989, ano do fim da ditadura, quando foi derrogado um artigo que declarava “ilícitos” a grupos que realizassem “violência ou uma concepção da sociedade do Estado ou da ordem jurídica de caráter totalitário ou fundada na luta de classes”. Outra, em 2005, quando depois de um grande acordo político o presidente socialista Ricardo Lagos conseguiu alterar outros aspectos, como que os comandantes em chefe das Forças Armadas passassem a estar subordinados ao poder civil, e a eliminação de senadores designados e vitalícios. Isto permitiu que em 2006 (há 14 anos!) o Senado fosse totalmente conformado por membros de eleição popular.

Agora, se a opção “apruebo” ganhar o plebiscito, o texto não só será modificado: a sociedade poderá dar adeus à chamada “Constituição do Pinochet”. Sem dúvidas, uma decisão histórica.

Veja também: Chileno preso no RIR: desembargador reconhece ilegalidade da prisão

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Bolívia

Veja a tradução da declaração de Evo Morales

Declaração de Evo Morales, ex-presidente da Bolívia, dada em 18 de outubro, dia da eleição presidencial após o golpe.

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DECLARAÇÃO DE IMPRENSA DO EX-PRESIDENTE EVO MORALES
Buenos Aires, 18 de outubro de 2020

  1. Desde a cidade de Buenos Aires, neste dia histórico, domingo, acompanho nosso povo em seu compromisso com a pátria, com nossa democracia e com o futuro de nossa amada Bolívia, de exercer seu direito ao voto em meio aos acontecimentos em nosso País.
  2. Saúdo o espírito democrático e pacífico com que se desenvolve a votação.
  3. Diante de tantos rumores sobre o que vou fazer, venho declarar que a prioridade é exclusivamente a recuperação da democracia.
  4. Quero pedir a vocês que não caiam em nenhum tipo de provocação. A grande lição que nunca devemos esquecer é que violência só gera violência e que com ela todos perdemos.
  5. Por este motivo, conclamo as Forças Armadas e a Polícia a cumprirem fielmente o seu importante papel constitucional.
  6. Diante da decisão do Tribunal Supremo Eleitoral de suspender o sistema DIREPRE (Divulgação de Resultados Preliminares) para ir diretamente para a apuração oficial, informo que, felizmente, o MAS possui seu próprio sistema de controle eleitoral e que nossos delegados em cada mesa irão monitorar e registrar cada ato eleitoral.
  7. O povo também nos acompanhará nesta tarefa de compromisso com a democracia, como o fez tantas vezes, situação pela qual somos gratos.
  8. É muito importante que todas e todos os bolivianos e partidos políticos esperemos com calma para que cada um dos votos, tanto das cidades como das zonas rurais, seja levado em conta e que o resultado das eleições seja respeitado por todos.
  9. Neste domingo, no campo, nas cidades, no altiplano, nos vales, nas planícies, na Amazônia e no Chaco; em cada canto de nossa amada Bolívia e de diversos países estrangeiros, cada família e cada pessoa participará com alegria e tranquilidade na recuperação da democracia.
  10. É no futuro que todos os bolivianos, inclusive eu, nos dedicaremos à tarefa principal de consolidar a democracia, a paz e a reconstrução econômica na Bolívia.
    Viva a Bolívia!
    Evo Morales

Tradução: Ricardo Gozzi /Jornalistas Livres

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