Nesta entrevista exclusiva e especial, Roberto Mafra (44 anos),Presidente na Associação Recreativa e Cultural – ONG Banda do Fuxico e gerente-geral na FLASH CLUB, analisa a conjuntura real que vivemos na esfera política e pública, além das situações negativas que vem ocorrendo com a falta de patrocinador no Carnaval de Rua em SP. Ex-diretor artístico da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo – APOGLBT entre os anos de 2016 e 2017, Mafra atuou também como Property Master no Grêmio Recreativo Cultural Social Escola de Samba Vai-Vai e foi Coreógrafo no Grêmio Recreativo Social Cultural Escola de Samba Pérola Negra.
Neste Carnaval, as responsabilidades são enormes devido à 18ª realização do Trio Elétrico “Banda do Fuxico”, bloco fundado em 2001, sendo o primeiro bloco LGBTIQ+ no Estado de São Paulo. A ONG é registrada pela Associação das Bandas Carnavalescas da Cidade de São Paulo (ABASP). Hoje, possui mais de 60 ONGs parceiras em diversos segmentos, apenas na cidade de São Paulo, levando a eles toda forma de apoio e inclusão.
O desfile este ano ocorrerá no pré-carnaval (24/2) no Largo do Arouche, região central de São Paulo, com o título “MULHERES EMPODERADAS DA BANDA DO FUXICO, SOMOS A VOZ DA FOLIA”. Estima-se em mais de 40 mil pessoas seguindo o bloco em seus percursos pelas ruas do centro.
HUMBERTO MERATTI – Mafra, como é encarar essa responsabilidade de dar voz e levar a alegria através do Carnaval, ao seu público em específico, que vem nos últimos tempos passando por tantas desigualdades frente às questões de diversidade e gênero?
ROBERTO MAFRA – Humberto, somos o primeiro bloco assumidamente LGBTIQ+ na cidade de São Paulo. Quando surgimos no dia 29/01/2001, não existia essa gama gigantesca de blocos de rua na cidade. Só existiam os blocos da ABASP à qual nosso bloco é associado. Hoje, somos mais de 600 blocos e bandas de rua. Acredito que 30% desses blocos tenha temática LGBTIQ+ e os outros alternativos. É lógico, que as coisas ficaram mais difíceis aos órgãos públicos sobre a questão de logística, para essa quantidade de blocos, mas acredito também que atraímos mais cultura dentro do Carnaval de Rua, colocando nas ruas um grito de liberdade através de temas que trazem essa linguagem LGBTIQ+ e acredito que o carnaval é uma manifestação popular onde podemos esbanjar nossa alegria através da folia. Não é fácil fazer carnaval, principalmente hoje, quando os poucos patrocinadores escolhem os blocos e fazem questão de investir nos blocos de grandes artistas que chegam de fora para somar no nosso carnaval com os seus megablocos. Isso só tende em crescer.
“Estamos lutando para resguardar nossas tradições de blocos que começaram há mais de 20 anos e que sejamos reconhecidos pela prefeitura e por cada gestão nova que chega a cada quatro anos e não conhece nossa historia, pois só queremos levar alegria para o povo desse País lindo e festivo que é o Brasil.”
HUMBERTO MERATTI – Mafra, você também acredita que os movimentos artísticos e culturais da comunidade LGBTIQ+ estão chegando pra valer nos Carnavais de Rua pra ficar e não sair mais, ocupando assim seus lugares de direito?
ROBERTO MAFRA – Com certeza Humberto, isso foi mais uma forma de expressar nossa cultura e gritar por nossos direitos. Através da cultura popular estamos cada vez mais nos fortalecendo e assumindo nossos gêneros e orientações sexuais.
HUMBERTO MERATTI – Em relação ao dia de desfile do Bloco Bando do Fuxico, qual será a mensagem que vocês pretendem passar ao público presente, sabendo-se que hoje o Carnaval de Rua em SP é tão misto, que reúne em diversos blocos LGBTIQ+, uma quantidade altíssima de aliados ao movimento.
ROBERTO MAFRA – Primeiro que o nosso tema será “MULHERES EMPODERADAS DA BANDA DO FUXICO, SOMOS A VOZ DA FOLIA”, e precisamos além da alegria e da folia, conscientizar as pessoas sobre os direitos para/e cada gênero, além de promover campanhas contra a homofobia e o machismo, e principalmente campanhas de uso do preservativo, para combate a doenças sexualmente transmissíveis, através da distribuição de insumos.
“Mas o nosso maior objetivo é que todos sejam felizes nessa festa popular, assegurando inclusive o respeito”.
HUMBERTO MERATTI – Vivemos em um cenário político completamente conturbado, onde pessoas no poder todo dia noticiam frases ingratas ou inoportunas, além das mensagens de ódio, principalmente, sobre a comunidade LGBTIQ+ e com isso, muitos replicam. Para o bloco, como é visualizado este cenário político e público atual?
ROBERTO MAFRA – Um país onde se mata um LGBTIQ+ a cada 19 horas por homofobia e ódio, e olha que isso acontecia antes do atual cenário político de vitória da direita. Agora, com essa nova gestão presidencial, que tem um governo assumidamente homofóbico, machista, racista e que prega o ódio escancaradamente, infelizmente só tende a piorar. Acompanhamos diariamente as notícias sobre as mortes dos nossos LGBTIQ+ em nosso Brasil.
“Infelizmente a maioria dos brasileiros também são assim, homofóbicos e racistas, tanto é, que elegeram o Bolsonaro. Acredito que a luta continua e não iremos desistir de nos defender e defender nossa população, somos todos iguais independente da raça, cor, religião e etnia.”
*Humberto Meratti é especialista em políticas públicas culturais e gestor cultural