De uma cidade chamada Nova Iorque, no interior do Maranhão, nascia há um século, José Guimarães Neiva Moreira. Um dos grandes jornalistas que o Brasil produziu e um grande nacionalista.
Com o espírito pioneiro desde púbere, criou o jornal periódico “A LUZ”, como também fundou em Teresina, onde foi estudar, o jornal “A Mocidade.” De volta ao Maranhão, agora em São Luís, foi trabalhar no Jornal “Pacotilha”, depois incorporado pelos Diários Associados, de Assis Chateaubriand. No Rio de Janeiro trabalhou no jornal “Diário da Noite” e na revista “Cruzeiro”, ligados ao grupo de Chateaubriand.
Neiva compreendia perfeitamente que sua função não era apenas informar, mas se utilizar dos jornais, revistas, TVs e rádios para transformar, para dar voz aos despossuídos de informação e direitos, e fazer desses meios de comunicação, notícia que gerasse ação, e consequentemente mudanças.
Uma das premissas essenciais da carreira jornalística é contextualizar os acontecimentos, provocar reflexão acerca deles e suas implicações, e ser também um agente crítico.
Levado para a política, em 1950 elegeu-se deputado estadual no Maranhão, onde defendeu as bandeiras nacionalistas, dentre elas, a criação da Petrobras e da Eletrobras tornando-se uma referência no campo progressista.
Já como deputado federal eleito em 1954, fundou a Frente Parlamentar Nacionalista, que visava viabilizar uma plataforma voltada à coordenação da intervenção do capital estrangeiro na economia nacional, em especial no campo energético e na remessa de lucros para o exterior.
Partidário do princípio de autodeterminação dos povos e da posição de não-alinhamento em relação aos blocos inerentes da Guerra Fria, Neiva Moreira apoiou as Reformas de Base, propostas pelo presidente João Goulart, e se aliou a Leonel Brizola. Sofreu as perseguições que o golpe militar impôs aos nacionalistas.
Cassado seu mandato pelo AI-1 e posteriormente exilado, não perdeu a premissa da indignação. Continuou a exercer o jornalismo combativo, apaixonante, lutando contra as ditaduras e os interesses monopolistas de uma classe dominante que visa exclusivamente o capital.
Em pleno exílio ousou enxergar além dos horizontes impostos pelos protagonistas da bipolarização mundial.
Criador da revista “Cadernos do Terceiro Mundo” deu notoriedade ao processo de desenvolvimento da África massacrada, roubada, e vilipendiada pelos europeus. Mergulhou nas grandes causas do Oriente Médio, em suas culturas e seus desafios, revelou a face da brutalidade e selvageria das guerras civis na emancipação de Moçambique e Angola, dentre outros conflitos.
Fez escutar personalidades como Nelson Mandela, Yasser Arafat, José Ramos Horta, Xanana Gusmão, quando estes ainda eram rotulados pejorativamente pelos barões do embuste midiático.
Congregava dentro de sua atuação dois princípios – ética e paixão-, num jornalismo que serviu como referência no debate intelectual e na reflexão das raízes das desigualdades, e na luta pela soberania e na autodeterminação dos povos.
Combativo em seu jornalismo enfrentou as ditaduras em nosso continente. Como um contestador nato, lutou o bom combate, se solidarizou e se irmanou às mazelas dos povos do terceiro mundo.
Cepa ilustre do jornalismo e do Trabalhismo deixa um legado de honradez e de reflexão às gerações vindouras, e disso tudo podemos concluir que, é possível sim, um mundo mais igualitário, mais humano e com um jornalismo mais decente.
Henrique Matthiesen, Bacharel em Direito, Jornalista, colaborador dos Jornalistas Livres