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  • E-mails vazados da Cambrige mostram poucas ações no Brasil, mas confirmam democracia hackeada

    E-mails vazados da Cambrige mostram poucas ações no Brasil, mas confirmam democracia hackeada

    A campanha eleitoral de 2018, que elegeu o atual des-presidente Jair Bolsonaro, foi essencialmente marcada pela disseminação indiscriminada de informações falsas. Os métodos de manipulação adotados pela equipe do então candidato de extrema-direita foram baseados nas práticas da empresa Cambrige Analytica fundada em 2013. Nas eleições americanas de 2016, o supremacista branco Steve Bannon (amigo pessoal da família Bolsonaro e de Olavo de Carvalho) usou seus métodos para influenciar a campanha de Donald Trump.

    Apesar de não ser novidade que a Cambrige Analytica fez negociações para se instalar no Brasil com objetivo de manipular as eleições de 2018, por intermédio do publicitário baiano André Torretta, novos e-mails vazados na última quinta-feira, dia 3, pela ex-funcionária da empresa Brittany Kaiser revelam grandes intenções dos marketeiros, que fizeram até uma reunião com um candidato ao pleito para presidência (cujo nome não é citado). Os arquivos, que datam de maio de 2016 a janeiro de 2017, mostram o tamanho da ambição da Cambrige Analytica para interferir no Brasil: “Nos próximos 18 meses, teremos 28 campanhas políticas e, pelo menos, 84 candidatos com orçamento em torno de R$ 2 milhões. Isso sem mencionar os contratos com governo federal e os 27 estados”, escreve Pedro Vizeu-Pinheiro, diretor brasileiro da SCL Group, empresa que era a controladora da Cambrige Analytica, em 29 de setembro de 2016 .

    Ao mesmo tempo em que Vizeu-Pinheiro tentava cooptar políticos, ele orientou Mark Turnbull, diretor responsável pelo setor de campanhas eleitorais dentro da Cambridge Analytica, a orquestrar uma parceria com alguma empresa de marketing brasileira. Em um e-mail ele explica que “não há ‘estrangeiros’ trabalhando em consultoria política aqui. O último foi James Carville [estrategista político do Partido Democrata dos EUA] em 1996. Para entrar no ‘segundo maior mercado político do mundo em gastos de marketing’, é necessário um parceiro local”, escreveu.

    No mesmo e-mail, Vizeu-Pinheiro recomenda André Torretta, dono da empresa de marketing Ponte Estratégia, como um possível parceiro. A associação, que levou o nome de CA-Ponte, seria anunciada pouco menos de seis meses depois, em março de 2017. Em entrevista à BBC, Torretta explicou que a parceira teria como foco a transferência e a “tropicalização” da metodologia de segmentação psicográfica, que traça o perfil psicológico dos eleitores. A intenção não era saber o perfil político e demográfico dos brasileiros, mas sim identificar do que as pessoas têm medo, o que as inspira, quais temas rejeitam e quais apoiam para adaptar a mensagem do candidato ao público. “O cara pode ser um medroso de direita ou um medroso de esquerda. Com qualquer um desses dois eu vou poder conversar sobre armamento, por exemplo, sobre controle de fronteira”, disse o marketeiro à época. Ele também divulgou suas intenções em usar do WhatsApp para as campanhas.

    Entre maio e setembro de 2016, as negociações para interferir nas eleições brasileiras seguiram por e-mail — a intenção era que Turnbull viajasse ao Brasil para encontrar com os possíveis interessados em adotar os métodos da Cambrige Analytica em suas campanhas. A visita aconteceu, de fato, em 26 de outubro de 2016. No entanto, as conversas revelam que, apenas um dia antes, Vizeu-Pinheiro não havia fechado nenhuma reunião entre políticos e Turnbull, o que deixou o responsável pela Cambrige Analytica desapontado: “Eu pouso na quarta pela manhã e estou livre até a tarde de quinta. Será uma tremenda oportunidade jogada fora se eu fizer toda essa viagem e tiver de ficar sentado em meu quarto de hotel atrás de um computador!”, escreveu Turnbull a Vizeu-Pinheiro. Em seguida, ele pede que Brittany Kaiser — que administrou todas as trocas de e-mail — tentasse agendar algumas reuniões. “Brittany, eu me lembro que você tinha contatos em São Paulo que [talvez] eu pudesse encontrar? Não se preocupe se não tiver. É que o Pedro tem sido um tremendo desapontamento em organizar as coisas para mim”. Segundo as mensagens, ela consegue apenas um encontro com a cônsul-geral do Reino Unido em São Paulo, Joanna Crelin, e a responsável pela área de comércio, Lauren Frater.

    Nesse momento, não há mais registros do que se sucedeu após essa visita de Turnball ao Brasil. No entanto, sabe-se que a empresa CA-Ponte foi anunciada seis meses depois, além de um e-mail de reunião de andamento dos contratos da Cambrige Analytica, datado de 25 de janeiro de janeiro de 2017, que revela pré-acordo com quatro prefeitos brasileiros. Não há detalhes sobre as negociações. O contrato de Vizeu-Pinheiro, segundo planilha vazada, termina apenas em 19 de julho de 2017.

    Todos os métodos usados pela Cambrige Analytica foram replicados pela equipe de campanha de Jair Bolsonaro, que recebeu, inclusive, orientações de Steve Bannon. Tanto que, na primeira viagem que fez aos EUA, assim que eleito, Bolsonaro se reuniu com o estrategista de Trump. Outra evidência de interferência é que, na semana passada, o Ministério da Justiça e Segurança Pública multou o Facebook em 6,6 milhões de reais por conta do compartilhamento indevido de dados de mais de 400 mil brasileiros. No documentário Privacidade Hackeada, disponível na Netflix, a eleição de Bolsonaro é apresentada como exemplo de fraude eleitoral comandada pela empresa de análise de dados. Em uma mensagem publicada após o vazamento dos e-mails, Brittany Kaiser escreve: “Nos últimos dois anos, dei evidências a pesquisadores, jornalistas e acadêmicos para analisar o que aconteceu na Cambridge Analytica e como nossos dados foram usados ​​para influenciar democracias em todo o mundo. Em nome da divulgação dessas práticas obscuras, estou liberando documentos e e-mails na íntegra para o bem público”. Ela revela que foram, ao menos, 65 países influenciados pelas práticas criminosas da empresa.

  • Surubão de Washington

    Surubão de Washington

    Por Mathias Alencastro *

    Noites tórridas na capital americana. Às vésperas do evento mais importante da presidência Bolsonaro, os ideólogos da ascensão do etno-nacionalista nas Américas se reuniram para celebrar uma nova era e, talvez, a reabilitação de Steve Bannon.

    Verdadeiro Forrest Gump da direita populista, Bannon fez fortuna negociando os direitos da célebre comédia Seinfeld, iniciou-se ao nacionalismo na Marinha, criou ódio pelo globalismo trabalhando na Goldman Sachs, e aprendeu a manejar a arte das fake news espalhando balelas no Breitbart.

    Ganhou fama internacional durante as eleições presidenciais de 2016 nos Estados Unidos, quando articulou o discurso protecionista e xenófobo que ajudou Donald Trump a conquistar o eleitorado subempregado dos polos pós-industriais e derrotar Hillary Clinton.

    Bannon e o seu camarada brasileiro, Olavo de Carvalho, têm muito que conversar. Afinal, as estrelas das campanhas estão desapontadas com os seus respectivos homens de palha.

    Tratado como um adolescente em fase de puberdade agravada pelos militares americanos, Bannon foi convidado a abandonar, meses depois da posse, o cargo de guru da Casa Branca que tinha exigido a Donald Trump.

    Depois de criticá-lo publicamente por ceder à pressão dos militares, Bannon acabou marginalizado por Trump. Desde então ele vem perdendo a sua aura, a ponto de ser mantido a distância pela direita populista europeia.

    Os dois alunos que Olavo de Carvalho emplacou no governo de Jair Bolsonaro também já viveram dias melhores. Ernesto Araújo só continua sendo chanceler na cabeça dos seus seguidores nas redes sociais, enquanto Ricardo Vélez sequer chegou a aterrissar em Brasília.

    Tal como Bannon, Olavo de Carvalho enfrenta a resistência do aparato militar-burocrático do Estado, sempre avesso à intervenção de iluminados. Infelizmente, uma polêmica contaminou o clima de festa.

    O autor do atentado de extrema-direita contra 50 muçulmanos em duas mesquitas em Christchurch, na Nova Zelândia, deixou um manifesto intitulado “A Grande Substituição”, uma referência explícita à obra do ensaísta francês de extrema-direita Renaud Camus.

    Popularizada na França pelo comentarista Eric Zémmour e elevada a mito literário por Michel Houllebecq, a teoria conspiratória da iminência de uma invasão muçulmana na Europa serviu de inspiração para a suspensão da entrada de muçulmanos nos EUA, única medida de relevo emplacada por Bannon durante a sua passagem-relâmpago pela administração Trump.

    Apesar do Brasil ser um exemplo de integração da comunidade muçulmana, a direita populista nunca hesita em recuperar essa teoria anti-islâmica para atiçar a fantasia das suas bases.

    Logo depois de empossado, o presidente Bolsonaro compartilhou um vídeo de um apedrejamento de uma mulher vestida em trajes muçulmanos, alertando para a ameaça dessa cultura “invadir o Ocidente”.

    A azarada Christchurch estava no caminho do viajante-terrorista, mas poderia ter sido qualquer outra cidade, em qualquer outro país do mundo.

    Quem importa o ódio, pode muito bem acabar importando a violência.

    *Mathias Alencastro – Pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento e doutor em ciência política pela Universidade de Oxford (Inglaterra).

  • Crise Democrática e Mudança Climática: um caminho para a solução

    Crise Democrática e Mudança Climática: um caminho para a solução

    Por Renata Callaça Gadioli Dos Santos e Laís Vitória Cunha de Aguiar

     

    ‘Qual a solução para a crise democrática? Estamos agora elegendo democraticamente ditadores. É uma situação bizarra. Uma democracia real requer a participação de cidadãos, e os cidadãos devem ser capazes de entender as coisas. Os especialistas devem ser capazes de conseguir discutir com a população.’

    Na tarde do dia 14 de dezembro, fomos ao hotel do cientista político Frank Fischer para entrevistá-lo. Este é o segundo ano consecutivo que o professor e cientista político, Frank Fischer, visita Brasília para participar como formador do Curso de Verão Internacional de Políticas Públicas (International Summer School on Public Policy). É a quarta edição do curso realizado pela EAP em parceria com Associação Internacional de Políticas Públicas (IPPA). Além do curso, o professor veio lançar seu recente livro em evento promovido pelo Curso de Gestão de Políticas Pùblicas da Universidade de Brasília, o qual trata do impacto da mudança climática na governança democrática e participativa. Tem como título Crise Climática e Prospecto Democrático: Governança Participativa em Comunidades Sustentáveis (Climate Crisis and the Democratic Prospect: Participatory Governance in Sustainable Communities).

    Professor Frank Fischer é americano radicado na Alemanha, onde ministra aulas no Departamento de Ciências Políticas e Sociais, da Freie Universität Berlin. É o criador da teoria Virada Argumentativa, teoria de análise de políticas públicas que observa os dados a partir dos valores contidos nos argumentos emitidos pelos atores elaboradores das políticas públicas.

     

    Estamos vivendo em um tempo no qual notícias e fatos falsos são levados igualmente a sério: algumas pessoas discutem se a Terra é redonda ou plana. Ou se o aquecimento global realmente existe. Muitos desses fatos são, porém, falsos. Os fatos falsos são também chamados corriqueiramente pela sua expressão em inglês: fake news.

    Donald Trump e Steve Bannon
    Foto: Mandel Ngan-AFP/Getty Images

    Frank Fischer considera que as notícias falsas, que conduzem a política e as relações em toda parte do mundo, podem ser consideradas um perigoso e grande desafio para as ciências políticas e sociais, pois elas têm como objetivo criar fatos e verdades sórdidas. São como armadilhas criadas para nos negarmos. Entretanto, ele não acredita que nossa preocupação deva estar exatamente nos fatos falsos, mas em seus significados, o que eles alimentam e o que eles querem representar. A questão central está nas diferentes concepções de ver o mundo e os fatos falsos ajudam a nos dividir. Essas notícias fortalecem a divisão da população em dois grupos, esquerda e direita, que não conversam entre si e que não acreditam na possibilidade de o grupo oposto falar alguma verdade ou algo confiável. Foi o que aconteceu nas eleições dos Estados Unidos, quando Trump e Steve Bannon emergiram e fizeram a população acreditar que eles poderiam ser a voz que representava o desejo de um grupo.

     

    FK: E você gostaria de me perguntar sobre o livro?

     

    JL: Sim, mas antes gostaria de discutir sobre alguns pontos interessantes apontados pelo senhor, como por exemplo a questão do cidadão comum querer se sentir melhor representado. Acredito que alguns políticos da atualidade fizeram isso.

     

    F.K.: Sim, políticos como Trump, e agora as pessoas estão começando a se arrepender, dizer: sinto muito por ter votado nele. Na minha família temos um grupo de primos que se reúne em um jantar uma vez por ano, mas temos que ter muito cuidado sobre o que falamos, porque começamos falando sobre os velhos tempos e acabamos falando sobre política e gritando uns com os outros, como se estivéssemos falando a partir do ponto de vista de nossos grupos políticos, não mais como família. Eu tenho uma prima que vive no Texas, e é muito conservadora, mas seu marido não. Eu não sei o porquê, mas eles foram ao Clube de Campo jantar, e lá estavam todo aquele grupo conservador, de direita. Eles defenderam tudo o que Trump fez, cada pequena coisa, foi horrível, e então o marido dela disse, como se para si mesmo, o cara é burro. Mas todos na mesa se viraram: o quê?! O cara é burro. Simples assim. Mas como, por quê? Eles questionaram, mas ele não quis ir a fundo e simplesmente fez um gesto para deixar de lado a questão. Enfim, quando vem um político e aponta tudo o que está faltando (trabalho, dinheiro), assim como os grupos ‘responsáveis’ pelos seus problemas (imigrantes), gerando um sentimento nacionalista, ele conquista a população sem esperança, eles acham que encontraram ‘o cara’ que irá resolver seus problemas.

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    As questões centrais, porém, continuam sem o devido conhecimento. As temáticas da pós-verdade ainda são desconhecidas e estamos rodando em círculos na superfície. Precisamos reconhecer que as pessoas realmente sofrem e que muitas questões precisam ser levadas à sério. As pessoas realmente estão frustradas e raivosas. Podemos encontrar esse mesmo contexto na Inglaterra, com as questões relativas ao Brexit e também na Alemanha. Alguns acreditam que o livre comércio oportuniza o “modo de vida americano”. Uma parte do problema é que a pós-verdade tenta convencer os pobres de que eles podem ter privilégios se o livre comércio voltar. Não se mostram os problemas.

    Os argumentos entre tribos diferentes gera o que Foucault chama de “regime da verdade”. Existem os fatos, mas eles pertencem a um sistema da verdade total. Alguns possuem certos fatos, que suportam um novo sistema neoliberal e não são rejeitados. Os fatos chamados de alternativos conduzem na direção que outras pessoas desejam ir. Qual fato é mais importante? A mídia e alguns cientistas sociais erram ao pensar que é preciso produzir mais fatos para contrapor à outros.

    A população já está dividida e não é com mais e novos fatos que um grupo vai convencer o outro a mudar de opinião. Não há nada que altere o pensamento dos grupos, pois para eles não importa. A maior e mais importante questão é como que esses dois grupos, que não confiam um no outro, podem ter a confiança reconstruída. Como eles podem se unir novamente? Ninguém sabe quanto tempo esse distanciamento vai perdurar, pois a cultura política está fraturada. Essa junção dos grupos não será fácil e pode levar gerações. Talvez possamos começar conversando com essas pessoas, perguntando como é a vida delas, o que elas pensam, se é possível trocarmos pontos de vista tentando nos compreender melhor.

    Somente depois os fatos podem ser inseridos no diálogo. Os liberais nunca se preocuparam em falar com essas pessoas, pois consideravam que elas não tinham diplomas acadêmicos. Esse tipo de pensamento dificulta o diálogo e podemos encontrar, até mesmo entre os liberais, neonazistas que exploram a situação para benefício próprio. Temos que saber para onde caminha a sociedade, onde achamos que queremos ir. Se os grupos querem ir para caminhos diferentes e até mesmo opostos é preciso encontrar um consenso.

    Um dos esforços para construirmos políticas públicas que solucionem problemas nem sempre identificados pela comunidade, mas existentes, é realizado pelo movimento alternativo do campo das ciências sociais e das políticas públicas. Um movimento que busca interpretar as políticas estipuladas, as ações dos atores, as deliberações. Esse grupo busca promover a Análise Interpretativa de Políticas Públicas. Do interesse do grupo emergiu a Rede de Análises Interpretativas de Políticas Públicas (IPA). Este grupo vem organizando, desde 2006, conferências e cursos de formação que questionam os modelos de análise de políticas públicas existentes até então.

    Analisam os valores das pessoas envolvidas na construção de políticas públicas, assim como os valores e as causas dos fatos que tem provocado no mundo diversas crises, perda de direitos civis e que fazem emergir diversos movimentos ambientais e movimento de mulheres dando a parecer que a sociedade está desmoronando. Os estudos mostram que somente pesquisas empíricas não podem mostrar as raízes dos problemas, elas não podem ser vistas. Os pesquisadores de metodologias empíricas só levam em consideração o que eles podem ver e muito do que se precisa entender deve ser escutado, está subentendido, que são os valores, como também as reais causas. A perspectiva interpretativa é um esforço para trazer a tona as pressuposições que existem por trás dos fatos, as suposições que estão escondidas. Trazê-las à tona para serem examinadas e discutidas. Frank Fischer complementa que a sociedade é construída por meio de significados sociais. Neste aspecto, mudança social envolve as mudanças de significados. Como exemplo, Frank Fischer cita as relações no passado entre brancos e negros, quando os brancos se sentiam no direito de dar ordens aos negros e estes os obedeciam. Estava definido nas relações sociais da época a possibilidade de um mandar e outro obedecer. Hoje não se pode mais dirigir a uma pessoa negra dessa forma. As próprias pessoas negras conseguiram alterar a forma como brancos deveriam se relacionar com elas. Elas mudaram os termos da relação. Os movimentos sociais lutam para mudar a definição das coisas. O movimento ambiental luta para mostrar que a natureza não é apenas um recurso a ser usado para nos fazer feliz e mesmo assim estamos nos matando.

    Conectada com a primeira temática, das notícias falsas, o ponto central é entender a verdade e conhecer fatos alternativos. O problema para o mainstream de políticas públicas é que, uma vez que você entra no mundo dos significados sociais, você não pode construir uma ciência empírica, rigorosa e preditiva. Assim, a análise interpretativa busca fazer uma ciência social reflexiva. Nós nos juntamos para nos entendermos, compreendermos as suposições que cada grupo tem de si mesmos, do mundo e as deles sobre nós. Suposições sociais que cada um constrói, cotidianamente, em parte porque deseja que algo aconteça, em parte por interesses pessoais. Essas suposições são expressadas pelos argumentos que pessoas e grupos emitem ao interpretar os significados sociais.

    Esses argumentos são construídos individualmente e coletivamente. Sim, a democracia está em crise. Na América Latina, na Europa, nos Estados Unidos da América. E aqui voltamos para o início do texto: qual a solução para a crise democrática?

    Uma democracia real requer a participação dos cidadãos, que devem ser capazes de entender os fatos, e os especialistas devem ser capazes de entrar em um tipo de discussão com os cidadãos. Assim o grupo de pesquisa de Frank Fisher desenvolveu o que é chamado Análise Interpretativa de Políticas Públicas (Deliberative Policy Analysis), que é uma forma de estudar os fatos, mas trazendo em conjunto todas as questões. Um exemplo: eu sento com os cidadãos para discutir os fatos, o que vocês acham? Poderia significar isso, isso e isso. Como nós queremos pensar sobre isso? Como vamos nos orientar em relação aos fatos?

    Essa é uma parte importante, mas nós também desenvolvemos uma teoria para governança, que nós chamamos de Governança Participativa (Participatory Governance), que é uma forma muito mais radical de ação-tenha cuidado com a palavra radical, o entrevistado nos pediu. Ele foi para Índia estudar um projeto no qual o governo pede às pessoas para que elaborem planos sociais. Foi ao Nepal e visitou um local no qual a comunidade que vive das florestas criou uma rede ligada a um tipo de hierarquia que vai até o governo federal, e debate com o Ministério das Florestas e Conservação do Solo (Ministry of Forests and Soil Conservation) a situação das florestas. O ministério vê tudo como ciência, considera que tem maior conhecimento do que aqueles aos quais escutam, nos relatou o professor, que disse veementemente: mas aquelas pessoas sabem do que estão falando, elas vivem nas florestas! Esse projeto submerge como produto da luta para trazer a democracia no Nepal, primeiro eles tiveram o rei e depois o governo maoísta. Quando ele esteve nas florestas encontrei um homem desse grupo, Maoístas (houve uma guerra entre o Partido Comunista do Nepal e o governo nepalês entre 1996 e 2006, que se tornou uma guerra civil). Ele me disse: uma das coisas que costumávamos fazer era vir as vilas com armas, mas depois percebemos que isso não funciona, que deveríamos conversar. Isso pode parecer óbvio para nós, mas eles são um grupo de guerrilhas, acostumados a isso, porém entenderam que se você quer dar uma boa impressão, você não mostra suas armas. Trazer armas é um gatilho para acabar com a discussão. O interessante é que esses projetos não aparecem nos países que são considerados as lideranças democráticas do mundo.

    Nepal – Foto: Dilvigação

    Existem outras iniciativas, como orçamento participativo, que fortalecem a democracia. Esse foco democrático procura encontrar Inovações Deliberativas Orientadas (Deliberative Orientated Inovations) que podem nos unir, trazer um diálogo significativo, sem distúrbios comunicativos. Normalmente existe uma propensão ideológica por trás dos discursos. A ideia é como identificar as ideias tendenciosas nos discursos, mas isso também é sobre poder, quem tem esse discurso tendencioso se beneficia disso, e não facilmente desistem. Mas existem experiências e projetos que provam que as pessoas conseguem fazer isso, elas não precisam ir até um gabinete para perguntar ao político o que eles estão fazendo. Elas não precisam saber sobre a equação, elas precisam saber sobre a aplicação da equação em seu cotidiano. Eu não quero saber toda a planta de uma usina nuclear, todos seus canos, eu quero saber o que significa quando você coloca uma usina nuclear no meu quintal. É uma discussão diferente. E nesse caso os cientistas não têm nenhuma posição privilegiada, eles são como qualquer outro cidadão.

    Frank Fischer foi visitar outro projeto, o Conselho Dinamarquês de Tecnologia (Danish Board of Technology), em que ao invés de somente contratar especialistas para fazer a análise técnica, eles iriam começar o que chamaram de Função Iluminadora da População (Public Enlightenment Function), trazendo cidadãos e cientistas juntos para pensar na análise: os cientistas dariam tempo para os cidadãos lerem, refletirem, e os cidadãos, com o tempo, poderiam fazer questões aos especialistas, mas os cientistas não poderiam dizer: não, não, você não sabe isso e isso, deveria saber. Eles deveriam somente responder às questões. Ao final eles realizaram uma conferência no Parlamento (com a TV nacional presente), e os cidadãos discutiram manipulação genética de alimentos, se queriam ou não. Até um certo ponto os cientistas puderam falar um pouco, mas não poderiam dominar a discussão. Depois de muitos dias de escuta, o entrevistado percebeu que estava realmente apreciando a discussão. Primeiro porque não pensou que eles não conseguiriam fazer, em segundo porque a escolha dos cidadãos foi aleatória, então havia um assistente social, um médico aposentado. Era um grupo bem misturado que normalmente não se uniria.

    O interessante, ele descreveu, foi que ao final esses relatórios, normalmente em linguagem inacessível a população, estavam acessíveis, em uma linguagem que nós podemos entender. Mas os conservadores voltaram ao governo e fecharam esse projeto, porque afinal eles não querem esse tipo de discussão. O projeto não está completamente parado, pode voltar, mas ao menos pôde mostrar que essas coisas podem acontecer. O entrevistado refletiu que o que devemos pensar é em como fazer esses arranjos para que uma política participativa ocorra com uma parcela maior da sociedade, incluindo o setor judicial, que se tornou manipulado por esses demagogos, e trazê-los para a discussão, fazer com que eles se sintam parte dela.

     

  • NAZISMO ESCANCARA SUA AMEAÇA: Slogan de Bolsonaro é tradução literal do lema de Hitler

    NAZISMO ESCANCARA SUA AMEAÇA: Slogan de Bolsonaro é tradução literal do lema de Hitler

    O ódio foi perigosamente inoculado no coração de milhões de brasileiros na velocidade de uma epidemia viral devastadora. Até que ponto o resultado das pesquisas representa o prêmio das massas às atrocidades que horrorizaram o país nas últimas semanas ou são apenas trunfo da lógica dos algoritmos na bolha virtual do candidato Bolsonaro? Ódio e seu modo de propagação são agora inseparáveis. Assassinatos políticos, estupros, espancamentos, profanação da memória de Marielle Franco, marcação da suástica no corpo de pessoas e nas paredes de igrejas, escolas, prédios públicos: todos esses episódios se assentam na base da crueldade nazista. É o que a filósofa Hannah Arendt chamou de “banalização do mal”, justificada pelo ódio ao inimigo, pelo medo à falsa ameaça do comunismo e pela mentira. Bombada pelas Fake News, a campanha eleitoral de Bolsonaro potencializa a banalização com a viralização do mal na política.

    Dias após reunião de Haddad com a Confederação dos Bispos do Brasil, Igreja amanhece pichada com suástica

    Na manhã deste domingo (14/10) a Capela da Igreja Católica de São Pedro da Serra, em Friburgo (RJ), amanheceu pichada com símbolos da suástica, como provável resposta ao encontro mantido pelo candidato Fernando Haddad com a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil. O fato coroou de horror a onda de violência na semana em que bolsonaristas assassinaram o mestre baiano Moa do Katendê, agrediram e marcaram uma estudante gaúcha de 19 anos com a suástica na barriga porque vestia uma camiseta do Ele Não, entre outros diversos  exemplos da intolerância cruel importada do nazismo dos EUA da era Trump.

    A identificação do candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro (PSL) com o neonazismo fica a cada dia mais escancarada e assumida, desde o seu slogan de campanha. “Brasil acima de tudo” é o plágio criminoso de “Deutschland Über Alles”, que significa “Alemanha acima de tudo”. Submetidos à lavagem cerebral da propaganda nazista, os alemães bradavam com ardor patriótico, a mão direita sobre o peito ou a o braço erguido, o lema dessa política de terror que levou o mundo à Segunda Guerra Mundial e exterminou mais de seis milhões de judeus e de 11 milhões de outros povos. O processo de aliciamento das massas, alojado no que Hannah Arendt chamou de “banalização do mal” (e da mentira) parece ganhar proporções ilimitadas. Alastra-se na velocidade dos algoritmos manipulados pelo cientista da “bomba atômica” virtual, Steve Bannon, o gênio do marketing que está bombando Bolsonaro, considerado o homem mais perigoso do mundo.

    Levando para o tradutor do Google

    A segunda parte do bordão, “Deus acima de tudo”, também era inscrita na fivela dos soldados do Exército Nazista. O refrão integrou inclusive o Hino Nacional da Alemanha até ser suprimido no final da guerra. Católico de batismo, Hitler se esforçava para demonstrar fervor religioso. Em muitas imagens do período de guerra ele aparece apertando a mão de um padre durante um discurso, ou marchando à frente de um pelotão de padres que o seguia fazendo o sinal nazista.  Indícios de prática e incentivo a essa ideologia proscrita da civilização vão, contudo, bem além do slogan da campanha eleitoral bolsonarista. O mais espantoso é que essa contravenção política siga em frente sem ser ao menos interpelada por uma justiça cúmplice, quando não protagonista, de uma espécie de banalização do mal na política.

    Às vésperas do segundo turno, as referências explícitas ao nazismo do candidato que obteve 46% dos votos válidos no primeiro turno já escandalizam o mundo e provocam reações de indignação de outros países. A justiça brasileira, porém, finge não perceber o que está acontecendo, embora a exaltação ao nazismo seja crime inafiançável no Brasil, assim como em qualquer país signatário das Nações Unidas e da Declaração Universal dos Direitos Humanos. O avanço inexplicável do candidato, aliás, se sustenta na doutrinação nazista intensificada há cerca de cinco anos com o ataque à política de direitos humanos, como se ela, e não a intolerância social, fosse responsável pela violência no país. A violação do mais importante legado da civilização ocidental encontra sua síntese perfeita na declaração de Bolsonaro de que “as minorias terão que se curvar às maiorias”. Essa máxima da filosofia do holocausto, proferida num comício realizado em Campina Grande, na Paraíba, levou ao delírio uma multidão aos gritos de “mito, mito, mito!”

    Sobretudo na Alemanha e Europa, que foram inteiramente destruídas pela demência de Hitler, a presença de um candidato com esse nível de ameaça à justiça, à paz social e aos direitos humanos causa neste momento pavor e perplexidade. Neste sábado (13/10), a Alemanha anunciou que caso o candidato seja eleito, vai romper unilateralmente as relações comerciais com o Brasil e a tendência é ser seguida por outros países democratas. Trata-se da potência com mais investimentos de multinacionais no Brasil, como a Volkswagen, Mercedes e Siemens. Segundo a presidente do Grupo Parlamentar Teuto-Brasileiro, Yasmin Fahimi, a possível eleição de Jair Bolsonaro pode impedir uma retomada da parceria estratégica fundamental para a já combalida economia brasileira. Declarou ela:

    “O Brasil está à beira de uma grande ruptura. Ficamos chocados com o fato de que, Jair Bolsonaro, uma pessoa que tornou socialmente aceitável um discurso de ódio tenha chegado à liderança. Do lado alemão, não vejo nenhuma base para uma parceria estratégica com um presidente como Bolsonaro”.

     

     

    Mesmo combatendo o nazismo com rigor, a Alemanha vive sob a ressurgência de grupos terroristas, como a Ku Klux Klan, os Skinheads, as milícias paralelas de extermínio, entre outros. Eles não cessam de reeditar a memória vexaminosa do holocausto que tornou o povo alemão cúmplice do Terceiro Reich no maior extermínio humano da história mundial. O problema é que o clamor e o aviso dessas forças internacionais não chegam à metade da população brasileira que teve suas consciências sequestradas pelo aliciamento político intensificado a partir de 2013. A esse nazismo mais rudimentar soma-se uma especie de nazismo às avessas, de ligações sionistas, como o orquestrado por Bolsonaro, que aparece em fotos rezando para a bandeira do Brasil, para a dos Estados Unidos e para a do Estado de Israel, ao qual declara seu apoio e devoção.

    Lado a lado nazismo/bolsonarismo

    Conivente com a onda de horror, a grande mídia brasileira, sobretudo os monopólios de televisão, finge não estar vendo a invasão fascista e já trata Bolsonaro como eleito. Seja por intimidação, adesão, omissão, conveniência ou interesses de negócios, a Record, chefiada pelo mercenário bispo Edir Macedo; Globo; Bandeirantes e SBT, todas sabotam os alertas que chegam do exterior ao povo brasileiro, tentando salvá-lo da bolha hipnótica desse neonazismo. E também dos artistas, intelectuais, ativistas poetas, músicos que enviam suas mensagens náufragas na tentativa de salvar o pais da tragédia anunciada.

    Arnaldo Antunes gravou o compungente “Isto não é um poema”. Numa sintaxe de guerra, em que a poesia se torna impossível, o videotexto reúne todos os episódios que mancham de sangue vermelho a bandeira nacional e a diversidade do povo brasileiro. Durante o feriadão, uma onda de mensagens vindas de todas as partes do mundo inundou as redes sociais, com a hashtag #BOL卐ONARO, que ganhou o topo mundial do Twitter, acentuando o símbolo da suástica no nome do candidato extremista.

    Em sua passagem pelo Rio, Roger Waters enfrentou a reação bolsonarista ao projetar um Ele Não no palco. E em artigo publicado pela Folha de S. Paulo de domingo, Caetano Veloso afirmou que é dever de todo brasileiro fazer algo para evitar a eleição de Bolsonaro, em repúdio a um artigo de Olavo de Carvalho exortando o candidato a destruir totalmente seus opositores enquanto grupos, organizações e até indivíduos, imediatamente após sua posse. “É evidente que todo cidadão brasileiro que mereça esse nome deve agir contra a possibilidade de eleição de Bolsonaro”, afirmou o cantor baiano.

    Na negligência do dever patriótico das grandes redes de ajudar a afastar essas práticas criminosas da política, a mídia independente luta sem trégua e descanso contra o perigo, enfrentando sozinha o império robótico das Fake News na campanha do militar reformado. Suas páginas são invadidas dia e noite por um exército de autômatos, muitos deles com perfis também falsos, que não dialogam, não interagem, não argumentam. Apenas intimidam, xingam e repetem o bordão de sempre no qual todos que não concordam com o #B17 são tachados de “comunistas”, “maconheiros”, “vagabundos”, “corruptos”, “ladrões”, “petralhas” ou “encostados na Lei Rouanet”.

    Por último, a histeria e a maldade fascistas chegou ao cúmulo de acusar de promover prática de pedofilia quem apoia o candidato Fernando Haddad, advogado e professor universitário, mestre em Economia, doutor em Filosofia, ex-ministro da Educação, que se opõe ao armamento da população e ao ensino do uso de armas a crianças. Calúnias desse nível, baseadas em montagens grosseiras, continuam circulando nas redes sociais.  Baseada na disseminação da mentira, a tecnologia de Chicago que elegeu Trump traz para as eleições brasileiras uma prática das mais sujas, fora do jogo da democracia. Ela potencializa e profissionaliza o emprego de baixarias como as que vimos na campanha contra Dilma Rousseff nas eleições de 2014.

    Desde a vida militar ativa, as “ideias” do militar. punido nos anos 80 com a reserva pelo Comando Maior do Exército por tentar explodir bombas nos quartéis para protestar contra os baixos salários, sempre dividiram o seu público entre aduladores e pessoas horrorizadas com o seu comportamento. No início dos anos 90, já no governo Sarney, foi proibido de entrar nos quartéis do Rio de Janeiro em decisão exemplar única na história do Exército Brasileiro, que nunca mais repetiu essa medida com um parlamentar. Acusado de “canalha, covarde e contrabandista” por um oficial e denunciado por ameaças de morte contra uma jornalista, agressões à ex-mulher e a colegas de farda, o capitão Jair Bolsonaro foi banido durante um ano dos quartéis. A justificativa  alegava desrespeito à hierarquia das Forças Armadas, intriga, com presença invasiva nos corredores militares para promover campanha política e angariar votos para sua candidatura a deputado federal, conforme reportagem publicada no DCM e nos Jornalistas Livres por Vinícius Segalla, que teve acesso a um dossiê do Exército-Maior das Forças Armadas.

    Analisando-se a trajetória de rebeldia e de submissão do capitão ao poderio militar, não há qualquer contradição: fica claro que ele infernizou a vida do Exército sob a égide da Nova República, após a democratização, justamente opondo-se aos que se recolheram para as casernas e decidiram deixar a política para as instituições civis. Em contrapartida, sempre enalteceu os ícones das Forças Armadas que atuaram na ditadura e continuam chamando o golpe de Revolução de 64. Desde sempre Bolsonaro se identificou com a parte mais torpe e inescrupulosa da corporação. Daí vem o culto à imagem dos torturadores, em especial ao seu ídolo general Brilhante Ustra, “o terror da presidente Dilma Rousseff”, como declarou ao dizer sim ao impeachment e dedicá-lo à memória do criminoso que introduzia ratos vivos na vagina de suas vítimas durante as sessões de tortura.

    “Uma mentira repetida muitas vezes torna-se uma verdade”, na famosa máxima de Joseph Goebbels, o ministro da propaganda de Hitler, que inspira Steve Bannon, guru da campanha de Bolsonaro e Mourão nas redes sociais. Repetindo calúnias sobre judeus e comunistas, Goebbels inflava o sentimento de superioridade dos alemães em jornais e panfletos. Mas foi usando o rádio e o cinema (dois meios insurgentes que exerciam grande fascínio, como as redes sociais hoje), que o líder mais cruel da humanidade aliciou grandes massas como cúmplices do seu projeto de morte. Valendo-se sempre da mentira contra os seus inimigos, que chamava de fracos e de ratos, ergueu seu mundo insano mentindo também sobre as qualidades dos que considerava fortes e belos, embora ele mesmo estivesse longe de corresponder ao padrão de beleza que vangloriava. Esse sentimento parece estar bem representado nas palavras do general Mourão, o vice do B., ao encerrar uma entrevista a jornalistas no aeroporto de Brasília para atender o neto e o filho que o aguardavam. Apontando para o neto, bem mais claro que ele e o filho, afirmou, como se desculpando pela própria descendência negra: “Meu neto é um cara bonito, viu ali, é o branqueamento da raça. Valendo-se de propaganda racista e de mensagens subliminares que estimulam o ódio e a xenofobia, incutiu a crença da superioridade ariana no inconsciente alemão com a ajuda da invenção de uma linguagem cinematográfica. No cinema nazista, os militares aparecem sempre filmados de baixo para cima, para ressaltar a supremacia bélica, enquanto os judeus são mergulhados no efeito de inferioridade pela câmera alta.

    Adolf Hitler apresentava, porém, uma vantagem sobre Bolsonaro: hábil orador, tinha larga cultura clássica e conhecimento de economia e geopolítica que usou para legitimar seus planos de purificação da raça ariana, com o extermínio de militantes de esquerda, judeus, imigrantes árabes, negros, homossexuais. Muitos estudos foram realizados sobre as relações entre o seu desvario pelo poder e seu caráter ressentido e agressivo com mulheres. Temperamental, explosivo e inculto, Bolsonaro não demonstra cultura mínima para a posição que pretende ocupar ou capacidade de desenvolver uma conversa inteligente. É acusado de fugir dos debates por medo de suas próprias declarações. Afirma coisas como “um afrodescendente não serve nem para procriar”, “claro que as mulheres deveriam ganhar menos porque engravidam”, “preferia ter um filho morto a ter um filho gay”, “ou os trabalhadores precisam escolher entre ter direitos ou emprego” e “não te estupro porque você não merece”, figuram na sua longa coleção de bestialidades.  E, no entanto a vítima do oportuno atentado a faca que o feriu gravemente e o premiou com intermináveis atestados médicos é aclamada por uma multidão de seguidores de cujo fanatismo nem a história, nem a estupidez do próprio líder é capaz de arrancar.

    Mas se nazismo é crime, como pode um candidato que faz apologia à tortura, a símbolos e ideias nazifascistas estar solto e ainda ser candidato a presidente da República?

    O que falta acontecer para acordarem os que deveriam zelar para manter o país livre dessa degradação ética, moral, política e social? Como não reagem as instâncias jurídicas e as instituições democráticas brasileiras, o STF, a OAB, o Senado, a Câmara Federal, os partidos, o próprio PT, a própria Frente Unificada Haddad Manuela Presidente para impedir que a aberração política se instale no Palácio do Planalto do maior país da América Latina? A ascensão pelo voto de um presidente que prega a violência nazista num país com as dimensões e importância do Brasil seria uma tragédia de proporções não só continentais, para a América Latina, mas para toda a democracia ocidental, como apontou o jornalista Pepe Escobar, em artigo publicado no sábado pelos Jornalistas Livres. Equivaleria ao lançamento de uma bomba atômica no século XXI e chega a representar a ameaça de uma III Guerra Mundial, segundo palavras do Papa Francisco. Mas parece que muito tarde acordamos de um sono comatoso, com a ilusão de que esse passado de horrores estava encerrado no século XX.

    Enquanto isso, o nazifascismo ressurge assustador na promessa da sinistra dinastia Bolsonaro, com sua fábrica de ogros fazendo já centenas de vítimas em via pública, onde a ordem de extermínio já está dada. Enquanto o bolsonarismo está livre para inocular no seio do povo brasileiro o vírus da sua ideologia de morte, negros, gays, trans, mulheres, estudantes, nordestinos, indígenas são abatidos nas ruas feito animais antes mesmo do segundo turno. O símbolo da suástica sobe as paredes das universidades brasileiras, igrejas e muros de escolas. Também é marcado a ferro e fogo, como gado, na barriga da estudante de 19 anos, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

    Nazismo em Blumenau: comemoração com o símbolo da suástica na bandeira vermelha

    Acrescentada dos ingredientes do neoliberalismo, a droga nazista parte  do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, onde refaz a volta cruel da história, acordando a herança ancestral do hitlerismo. O Partido Nazista fez mais adeptos no Sul do que em qualquer outra região do Brasil, como mostra o documentário Anauê! o integralismo e o nazismo na região de Blumenau, do cineasta Zeca Pires. Santa Catarina chegou a ter 45 mil simpatizantes, quase um terço do total no Brasil. Ainda no ano passado, grupos extremistas foram presos e investigados por comemorar o aniversário do Führer, um advogado negro recebeu ameaça de morte e a cidade acordou pichada de símbolos e cartazes com símbolos da suástica e cruz de celta ou cruz de ferro.

    Se antes o vírus nazista ficava restrito à Região Sul, a campanha Bolsonaro inoculou-o no inconsciente de grupos espalhados por todo o Brasil, de modo que hoje o ódio racista não poupa classe, nem idade, nem cor. Negros são esfaqueados por negros, nordestinos humilhados por nordestinos, mulheres esmagam mulheres. Está no cerne do nazismo semear a discórdia entre os povos, as etnias, os gêneros para manter o poder do dominador. E um povo antes considerado no mundo inteiro como relativamente pacífico e amoroso aplaude essas atrocidades aos gritos de “Mito, mito, mito!”. Como disse a filósofa da UFSC. Maria de Lourdes Borges, PhD em Hegel e Kant, no dia seguinte ao primeiro turno das eleições, dormimos no Brasil e acordamos com a sensação de estarna Alemanha de 1945.

     

    FÓRMULA EXPLOSIVA DE BOLSONARO CONJUGA

    NAZIFASCISMO COM NEOLIBERALISMO

    Campanha política eleitoral do PT mostra vínculos de Bolsonaro com nazismo

    Homem de ideias medíocres e insanas, odioso e sedento de poder, Hitler foi, durante longo tempo, ignorado e subestimado em suas pretensões de dominar o mundo até ascender ao comando do Terceiro Reich com amplo apoio popular. De modo muito semelhante, Bolsonaro também foi negligenciado nos quase 30 anos de vida parlamentar em que esteve abrigado em várias siglas de representatividade insignificante. Nesse período, deixou como saldo dois únicos projetos aprovados de agrados à caserna, sempre em benefício dos privilégios militares, que lhe garantiram o apoio inegável dos aparatos de repressão. Ao contrário de Hitler, que usou seu lastro cultural e sua erudição clássica em favor de suas ambições, Bolsonaro representa o culto à ignorância para um povo condicionado a se informar e se formar pelas redes sociais do MBL, Vem pra Rua e da Candidatura “O Brasil acima de tudo”, onde imperam a vulgaridade e o Fake News. Declaradamente dispensa a leitura de livros, despreza a formação superior e combate as instituições universitárias, que ele diz propagadoras da “ideologia de gênero e do comunismo”, sobretudo as áreas humanas, em favor da formação tecnicista. O marketing do novo embala os piores invólucros dos velhos e perigosos militares de 64.

    Em meio a propostas parlamentares marcadas pelo ridículo e irrelevância, votou contra todos os direitos trabalhistas, inclusive das empregadas domésticas, feito do qual ele se orgulhou várias vezes publicamente, para tornar pública a aliança com o empresariado e com as elites brasileiras. Sua principal obra foi a disseminação do vírus de uma política baseada no ódio às minorias, no combate aos direitos trabalhistas, na desmoralização das políticas públicas na mentalidade mediana do povo brasileiro. Tudo isso, como na experiência nazista, encoberto por um falso moralismo de quem legitima os atos mais execrados pela moral cristã, como estupro, feminicídio, milícias de extermínio, às quais ele declarou apoio em entrevistas, adultério, tortura, prostituição, zoofilia, enfim, violência racial, ambiental, política e de gênero.

    À diferença do nazismo alemão e do fascismo italiano, esse projeto é untado por um falso patriotismo que se desintegra ao ser contraposto à fúria bolsonarista pela privatização e entrega para as grandes corporações internacionais das riquezas nacionais: petróleo, energia, biotecnologia, meio ambiente, territórios indígenas, minério, Amazônia. Sem as benesses do nacionalismo europeu, o projeto privatizador de todas as estatais brasileiras, mesmo em áreas estratégicas para a soberania nacional, tende, ao contrário, a criar um Estado fraco, ausente e entregue aos ditames dos impérios estrangeiros.

    LIBERDADE É UM REVÓLVER NA MÃO E O ÓDIO NA CABEÇA

    Mesmo a proposta de garantir a segurança dos cidadãos se mostra uma farsa em favor do comércio da indústria armamentista mundial, há muito tempo empenhado em, através da influência na política, fazer do país um grande mercado consumidor de armas. E como o país pode aumentar o consumo de armas? Obviamente não com políticas de segurança, mas com ideologias que disseminem o ódio e a violência, capazes de justificar a compra de grandes lotes de armas pelo Estado. Todos os indícios desse plano perverso estão dados: desde o primeiro turno, grandes meios de comunicação (El País, Exame, Folha de S. Paulo, Estadão, Valor Econômico, Veja, Uol etc) anunciam o crescimento espantoso da Taurus, indústria gaúcha multinacionalizada, cujas ações nas Bolsas de Valores dispararam na frente de todas as outras com o efeito Bolsonaro durante a campanha eleitoral. O próprio candidato deixa essa mensagem bem explícita ao gravar um vídeo dentro da Taurus em que declara seu amor pelas armas como militar, acaricia o último modelo de um fuzil e promete promover a compra de um reluzente revólver para cada cidadão brasileiro. “Não que eu seja garoto-propaganda da Taurus, mas…”, inicia ele, na gravação de um vídeo tosco do ponto de vista técnico, mas eficiente do ponto de vista semiótico.

    Por isso as incontáveis cenas em que Bolsonaro aparece fazendo o gesto da metralhadora ou ensinando crianças a atirar, como diz ter feito com seus filhos desde os cinco anos, não devem ser vistas como bizarrice de um político mentecapto pela esquerda ou brincadeira sem maiores consequências pelos seus seguidores. Outra semelhança com o hitlerismo, esses gestos são ordens subliminares de armamento clandestino das milícias neonazistas plenamente obedecidas por homens e mulheres que já saíram às ruas para votar ou para matar. Elas são propagandas muito conscientes do candidato e de seus filhos (irmãos metralha?) para a indústria armamentista que patrocina sua campanha.  Cada pose fotográfica com uma arma imaginária que Bolsonaro dispara, seja sorridente ou bradando “vamos metralhar a petralhada do Acre” ou “vamos metralhar a favela da Rocinha como solução final” é um apelo de compra que será reproduzido aos milhões pelos seus seguidores.

    A promessa do “pai” fascista de garantir a cada cidadão brasileiro obediente a posse de uma arma esconde outra evidência: a de que a segurança pública será privatizada nas mãos de cada indivíduo. Com o revólver ele recebe a tarefa de cuidar de sua própria defesa, na base do olho por olho, dente por dente. “Não é apenas a sua segurança, é a sua liberdade. Povo armado é povo livre”, diz o líder no mesmo comercial.

    Campanha eleitoral do PT vai finalmente mostrar relações entre Bolsonaro e nazismo?

    Além do culto às armas, o modus operandi comum ao totalitarismo italiano mais evidente é o uso da bandeira do combate à corrupção como porta de entrada para a violência política. Em todas as experiências contemporâneas, o fascismo se fortalece colando a corrupção na mentalidade das massas como prática da esquerda, ainda que a direita se mostre infinitas vezes mais recorrente nessa prática. No caso brasileiro, o número de parlamentares de direita indiciados ou citados pela Lava-Jato ultrapassa de longe a esquerda, mesmo no caso do PT, que esteve 13 anos no poder, e perde em comparação proporcional ao PSL, um partido muitas vezes menor. Quanto mais à esquerda, menor o índice de corrupção. Mas ainda que a impunidade de inúmeros políticos de direita no Brasil, como Michel Temer, João Rodrigues, Roberto Jefferson (que acaba de anunciar apoio a Bolsonaro), Beto Richa, Aécio Neves ou Zezé Perrela, escancare a hipocrisia dessa bandeira levantada pelos próprios corruptos, a extrema direita se alimenta da ignorância para estalar o seu chicote calunioso no lombo alheio.

    Tratado de forma despolitizada e descontextualizada pelos meios de comunicação, o facho da corrupção tem um efeito de obliteração do raciocínio. Ele é capaz de cegar um povo sem formação política, para o qual nada tem um sentido mais simples e concreto do que culpar um político jogar pedras num político ladrão, não interessa se ele é alvo de lawfare, um processo assimilado sem crítica pela maior parte do povo brasileiro, cujas referências de verdade são a justiça, a mídia, a religião e a polícia. Grande parte da população só consegue se inserir na discussão política pelo viés da corrupção. Apresentada como causa estruturante das injustiças sociais e não com efeito da estrutura econômica,  essa bandeira esconde o fato de que a corrupção é a base da desigualdade social promovida pelo capitalismo. Num sistema em que o Estado só existe para manter a exploração das classes trabalhadoras, pois o poder de fato é exercido pelo mercado financeiro, o parlamento se coloca entre o Estado e a sociedade para ser corrompido pelo poder econômico. Desde o seu planejamento financeiro, as grandes empresas destinam em seus orçamentos gordas porcentagens para o pagamento de propinas em troca da aprovação de leis que reforçam os privilégios das elites, alargam os lucros dos bancos, sabotam os direitos trabalhistas, envenenam a alimentação com produtos cancerígenos do agronegócio, dizimam aldeias indígenas, entregam o petróleo, a Amazônia, a água, a energia elétrica…

    Na contramão dessa política de privilégios, as esquerdas têm um papel decisivo para impedir que o jogo de forças perverso seja completamente vitorioso e leve a classe trabalhadora à completa ruína. Por isso elas precisam ser combatidos ferozmente pelo nazifascismo em nome da ameaça do comunismo e do socialismo, hoje ironicamente os defensores mais intransigentes do respeito à democracia, enquanto o neoliberalismo não se cansa de violá-la. A esquerda precisa ser eliminada porque tem um papel importantíssimo no equilíbrio de forças, reconhecido pelas grandes potências da social democracia que convivem em relativa harmonia com os partidos comunistas. Só ela, com sua radicalidade de princípios em favor dos direitos sociais, é capaz de frear a sede de lucro e de destruição de projetos emergentes que conjugam a fórmula explosiva neoliberalismo mais nazifascismo.

    BANALIZAÇÃO DO MAL: candidatos apresentam prova da profanação da memória de Marielle

    “Chega de comunismo, acabou PCdoB”, brada em comício em Petrópolis, o candidato do PSC ao governo do estado do Rio, o ex-juiz Wilson Witzel. Ao seu lado, a dupla de candidatos a deputado estadual Rodrigo Amorim, e o candidato a deputado federal Daniel Silveira, ambos do PSL-RJ, mostram com o punho erguido e sorriso de vingança a placa em homenagem a Marielle Franco partida ao meio. Como os próprios anunciam orgulhosos, eles a arrancaram de um poste na esquina da Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, onde ela cumpria seu primeiro mandato pelo PSOL quando foi assassinada. Dão assim prova material ao crime do qual se vangloriaram dias antes em vídeos, fotos e ao vivos nas redes sociais. Exibir o símbolo da profanação do túmulo de uma líder abatida a tiros e sem justiçamento é uma forma de legitimar o seu assassinato, matando-a e violando-a novamente. É como se pudessem impedir a propagação da sua imagem negra, capaz de alimentar multidões insurgentes contra o racismo e a exclusão social e de gerar sementes de Marielles, como as 12 parlamentares negras eleitas no país. Aí recuamos do mago racista do marketing de Donald Trump para os rituais de magia negra da Ku Klux Klan e para o fogo da Idade Média.

    O fanatismo viral à la Steve Bannon não dá chances de salvar o coliseu de si próprio: os violadores de túmulo não só foram ovacionados por uma multidão ensandecida, como acabaram eleitos: Amorim como o deputado estadual mais votado do Rio, com 140 mil votos e Silveira, com 31.789 votos, a federal. Até que ponto esse resultado representa o prêmio das massas a um carrasco nazista ou mero trunfo da lógica dos algoritmos da cambridge analytica na bolha virtual do candidato Bolsonaro é uma incógnita. A repercussão pública dessa maldade está assentada na base da crueldade nazista, que a filósofa Hannah Arendt chamou de “banalização do mal” movida pelo ódio ao inimigo, pelo medo e pela mentira. Mas aqui a banalização do mal bombada pela fábrica de Fake News é potencalizada pela viralização do mal na política.

    Quando a esquerda é aniquilada pela calúnia ou repressão a toda forma de ativismo, essa fórmula resulta em líderes truculentos, como Rodrigo Duterte, nas Filipinas; Salviani, na Itália; Fujimori, que ainda ameaça o Peru, ou Donald Trump, nos Estados Unidos, entre um conjunto de ditadores insurgentes cuja face mais vulgar promete ser Bolsonaro. Um líder “intransponível para a realidade europeia”, para se referir às recentes declarações da principal líder da extrema direita francesa, Marie Le Pen, segundo quem “Bolsonaro diz coisas impalatáveis para o padrão europeu”, trocando em miúdos.  Com sua violência grotesca e indisfarçada, que os seguidores chamam de “autenticidade”, ele expõe ao mundo a essência mais cruel e verdadeira da nova sereia nazifacista que ameaça a sobrevivência do Brasil multicolorido e da própria democracia ocidental.

     

    BOLSONARISTAS ESPALHAM TERROR E CAOS PELO PAÍS

    Capoeirista assassinado ainda tentou argumentar calmamente, mas foi brutalmente esfaqueado

    Inflamados pelo discurso de ódio do deputado, seus filhos e outros seguidores, militantes extremistas espalham atacam, matam, estupram, espancam mulheres, negros, gays, trans, estudantes e opositores à candidatura nazista pelo Brasil afora.

    A lista do terrorismo é uma amostra do cenário de guerra que espera o país caso Bolsonaro seja eleito. Veja alguns casos publicamente denunciados e notificados.

    🚨 CAPOEIRISTA é morto com 12 facadas por militante de Bolsonaro: https://bit.ly/2y4nMTm
    O mestre capoeirista Moa do Katendê foi morto com 12 facadas nas costas, em Salvador (BA), depois de falar que tinha votado em Fernando Haddad.

    🚨 MULHER é torturada por militantes de Bolsonaro: https://bit.ly/2PtgqzE
    As torturas aconteceram dentro de um carro, e as ofensas, além de homofóbicas, também eram racistas.

    🚨 MULHER é atacada com barra de ferro por militantes de Bolsonaro: https://bit.ly/2RGFQv2
    Vocalista foi agredida em passarela de Nova Iguaçu, após responder a ambulantes que a ameaçaram.

    🚨 CACHORRO é morto em carreata por militantes de Bolsonaro: https://bit.ly/2QuTxfe
    O cachorro, de nome Marley, que latiu para uma carreata em apoio a Bolsonaro, que passava pelas ruas de Muniz Ferreira (BA), morreu depois de tomar três tiros disparados por um integrante da carreata que tinha se irritado com os latidos.

    🚨 MULHER foi agredida e marcada com suástica por militantes de Bolsonaro: https://bit.ly/2A2UdDh
    Ela foi agredida por usar a camiseta #elenão.

    🚨 JOVEM é agredida por apoiadores de Bolsonaro: https://bit.ly/2Oq81Aj
    A mulher foi sofreu violência física e verbal enquanto voltava para casa.

    🚨 PROFESSOR é ameaçado de morte por militante de Bolsonaro: https://glo.bo/2INUOvi
    O pai de um aluno se sentiu atacado politicamente com a explicação do professor sobre os usos da Lei Rouanet.

    🚨 HOMEM é morto em Curitiba por militante de Bolsonaro: https://bit.ly/2y2Thxd
    O assassino, que tinha conhecido o rapaz em um aplicativo de paquera, teria gritado “viva Bolsonaro” depois do crime.

    🚨 JORNALISTA é agredida e ameaçada de estupro por militantes de Bolsonaro: https://glo.bo/2ykZUu4
    Uma jornalista, em Recife (PE), foi agredida por dois homens ao sair do local de votação. Um deles vestia uma camiseta do Bolsonaro.

    🚨 MULHER é brutalmente agredida por militantes de Bolsonaro: https://bit.ly/2ydbdFj
    As imagens são assustadoras.

    🚨 SERVIDORA PÚBLICA foi espancada em Pernambuco após criticar Bolsonaro: http://bit.ly/2ye1SNI
    Ela foi agredida por uma mulher que estava numa mesa de apoiadores do capitão reformado.

    🚨 MILITANTES de Bolsonaro postam fotos com armas nas urnas: https://bit.ly/2yqQBIY
    Um eleitor, usando o cano de uma pistola, digitou e confirmou o número de seu candidato (17) na urna eletrônica. Muito orgulhoso, postou o vídeo nas redes sociais.

    🚨 MÃE É AGREDIDA, COM A FILHA, por militantes de Bolsonaro: https://bit.ly/2pGhlkQ
    Homens, vestidos com roupas de alusão a Bolsonaro, gritaram no rosto da mulher e de sua filha.

    🚨 JOVEM É AGREDIDO por militantes de Bolsonaro simplesmente por estar vestindo vermelho: https://bit.ly/2C1ZEDM
    O rapaz foi agredido por um grupo de homens por ser de esquerda.

    🚨 JOVEM é agredida por militante de Bolsonaro: https://bit.ly/2IHKViu
    Vidro de seu carro foi quebrado e manchas de sangue foram registradas durante carreata no Paraná.

    🚨 FUNCIONÁRIA é ameaçada com arma por militantes de Bolsonaro: https://glo.bo/2MAXod0
    A mulher relatou ter sido ameaçada com armas de fogo.

    🚨 CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO PAULO acorda com suásticas e símbolos nazistas em ato de vandalismo: https://bit.ly/2QNmkvD
    Os registros foram feitos por uma das vereadoras da cidade.

    🚨 PROFESSOR DA USP faz saudação nazista enquanto defendia Bolsonaro: https://bit.ly/2RMPtIv
    A saudação foi feita numa discussão pública no Facebook.

    🚨 HOMEM com boné vermelho é agredido no Paraná por militantes do Bolsonaro: https://bit.ly/2OjDHHG
    Segundo relatos, agressores eram parte de uma torcida organizada e proferiram gritos de apoio ao deputado Jair Bolsonaro.

    🚨 LIVROS sobre ditadura foram rasgados na biblioteca da Universidade de Brasília: https://glo.bo/2Qv14KT
    Até obras de referência sobre artistas do Renascimento estão sendo alvo de vandalismo.

    🚨 PESSOAS são ameaçadas por torcida organizada com gritos homofóbicos: https://bit.ly/2OPiq88
    As falas teriam sido “Ô bicharada, toma cuidado/ O Bolsonaro vai matar viado”.

    🚨 HOMEM é agredido por motorista de Uber militante de Bolsonaro: https://bit.ly/2ORmBQT
    A agressão começou quando ele respondeu à pergunta do motorista sobre seu posicionamento político.

    🚨 MULHER é agredida por integrante de manifestação pró-Bolsonaro: https://bit.ly/2PtgqzE
    As rasteiras vieram porque ela não aceitou os adesivos da campanha.

    🚨 EDIFÍCIO foi vandalizado por simpatizantes de Bolsonaro: https://bit.ly/2PtgqzE
    Os agressores se irritaram com a bandeira na janela de um apartamento.

    🚨 PROFESSORA sofre ofensas raciais de alunos: https://glo.bo/2CaQepI
    Os alunos também desenharam uma suástica.

    🚨 SUÁSTICAS e outras propagandas neonazistas são registradas em vários bairros de São Paulo: https://bit.ly/2CCOciX

  • O futuro da democracia ocidental está em jogo no Brasil

    O futuro da democracia ocidental está em jogo no Brasil

    Por Pepe Escobar*

    No Brasil está em jogo nada menos do que o futuro da política de todo o Ocidente – e do Sul global.

    Despojadas até a sua essência, as eleições presidenciais brasileiras representaram um choque direto entre a democracia e um neofascismo do início do século XXI, entre a civilização e a barbárie.

     

    Embate dramático entre Haddad e candidato fascista

    As repercussões geopolíticas e econômicas mundiais serão enormes. O dilema brasileiro ilumina todas as contradições que rodeiam a ofensiva populista de direita do Ocidente, justapondo-se ao inexorável colapso da esquerda. Os riscos não podem ser maiores.

    Jair Bolsonaro, apoiante ferrenho das ditaduras militares brasileiras do século passado, que tem sido apresentado simpaticamente como o “candidato de extrema-direita”, ganhou a primeira volta das eleições presidenciais no domingo com mais de 49 milhões de votos. Foram 46% do total, a pouca distância da maioria necessária para uma vitória imediata. Isto, só por si, já é um desenvolvimento incrível.

    O seu opositor, Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores (PT), só recebeu 31 milhões de votos, ou seja, 29% do total. Vai agora enfrentar Bolsonaro numa segunda volta em 28 de outubro. Uma tarefa digna de Sísifo aguarda Haddad: para igualar Bolsonaro, precisa de cada um dos votos dos que apoiaram os candidatos situados em terceiro e quarto lugares, mais uma substancial parte de quase 20% dos votos brancos e nulos.

    Entretanto, nada menos de 69% dos brasileiros, segundo as últimas sondagens, manifestam apoio à democracia. Ou seja, há 31% que não a apoiam.

     

    Um Trump tropical? Não.

    Revista britânica que defende o o liberalismo econômico considera Bolsonaro a ameaça para a América Latina

    A Distopia Central nem sequer o qualifica. Os brasileiros progressistas sentem-se aterrorizados com a ideia de enfrentar um deserto intelectual mutante, como no filme “Brazil” ou Mad Max, devastado por fanáticos evangélicos, capitalistas gananciosos do casino neoliberal e militares raivosos inclinados a recriar uma ditadura 2.0.

    Bolsonaro, um antigo paraquedista, tem sido retratado pelos media ocidentais dominantes como o Trump Tropical. Os factos são muito mais complexos.

    Bolsonaro, um membro medíocre do Congresso durante 27 anos, sem nada que se destaque no seu currículo, demoniza indiscriminadamente negros, a comunidade LGBT, a esquerda no seu todo, a “fraude” ambiental e, sobretudo, os pobres. Confessou abertamente ser a favor da tortura. Apresenta-se como um Messias – um avatar fatalista que aparece para “salvar” o Brasil de todos os “pecados” atrás referidos.

    A Deusa do Mercado, previsivelmente, abre-lhe os braços. Os “investidores” – essas entidades semidivinas – consideram-no bom para “o mercado”, com a sua ofensiva de última hora nas sondagens, refletidas numa recuperação do real brasileiro e do mercado de ações de São Paulo.

    Bolsonaro pode ser o “salvador” clássico de extrema-direita, segundo o molde nazi. Pode encarnar o populismo de direita até ao âmago. Mas não é, de modo algum, um “soberanista” – o lema de eleição no debate político em todo o Ocidente. O seu Brasil “soberano” será governado mais como uma ditadura retro-militar, totalmente subordinada aos caprichos de Washington.

    O vice-presidente proposto por Bolsonaro é um general reformado, escassamente letrado, um homem que se envergonha da sua origem mista e é abertamente a favor da eugenia. O general António Hamilton Mourão até já ressuscitou a ideia de um golpe militar.

    Por detrás desta equipa, encontramos enormes interesses económicos, ligados a recursos minerais, agroindústrias e a quase todos os “Cinturões Bíblicos” brasileiros. Acompanham-nos os esquadrões da morte contra os brasileiros nativos, os camponeses sem terra e as comunidades afro-americanas. É um paraíso para a indústria do armamento. Chamem-lhe a apoteose do cristão-sionismo tropical neopentecostalista.

    Louvado seja o Senhor 

    O Brasil tem 42 milhões de evangélicos – e mais de 200 representantes nos dois ramos do Parlamento. Não se metam com os seus jihadistas. Eles sabem como exercer uma influência maciça entre os mendigos do banquete neoliberal. A esquerda de Lula não sabia como os seduzir.

    Assim, mesmo imitando Mike Pence, Bolsonaro só é o Trump brasileiro até um certo ponto: as suas técnicas de comunicação – falar duro, de forma simplista — são uma linguagem que até um miúdo de sete anos percebe. Os italianos instruídos comparam-no a Matteo Salvini, o líder do partido Lega, hoje ministro do Interior. Mas também não é exatamente esse o caso.

    Bolsonaro é um sintoma de uma doença muito maior. Só atingiu este nível, um frente a frente na segunda volta contra Haddad, candidato de Lula, por causa duma Guerra Híbrida judicial/congressional/industrial/media, refinada e contínua, desencadeada contra o Brasil.

    Bastante mais complexa do que qualquer revolução colorida, a Guerra Híbrida no Brasil caracteriza-se por um golpe lawfare sob a cobertura da investigação anticorrupção da Lava Jato que levou ao impeachment da presidente Dilma Rousseff e à prisão de Lula, com acusações de corrupção sem quaisquer provas.

    Em todas as sondagens Lula ganharia estas eleições. Os conspiradores conseguiram metê-lo na prisão e impedi-lo de se candidatar. O direito de Lula a candidatar-se foi defendido por toda a gente, desde o Papa Francisco ao Conselho dos Direitos Humanos da ONU, assim como por Noam Chomsky. No entanto, numa deliciosa reviravolta histórica, o cenário dos conspiradores rebentou-lhes na cara quando o primeiro candidato a governar o país não é nenhum deles, mas um neofascista.

    “Um deles” seria idealmente um burocrata sem rosto, um apaniguado dos antigos sociais-democratas, o PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira –, neoliberais radicais viciados em colocar-se no centro-esquerda, quando são “aceitáveis” perante os neoliberais da direita. Chamem-lhes Tony Blairs brasileiros. As contradições específicas brasileiras, mais o avanço do populismo de direita no Ocidente, levaram à sua queda.

    Até a Wall Street e a City de Londres (que apoiaram a Guerra Híbrida no Brasil, depois de ela ter sido desencadeada pela NSA, que espionou a gigantesca petrolífera Petrobrás) começaram a mudar de opinião quanto ao apoio a Bolsonaro para presidente duma nação BRICS, que é líder do Sul Global, e que, até há poucos anos, estava em vias de ser a quinta maior economia do mundo.

    Tudo depende do mecanismo da “transferência de votos” de Lula para Haddad e na criação de uma Frente Democrática Progressiva séria e multipartidária na segunda volta para derrotar o crescente neofascismo. Têm menos de três semanas para o realizar.

    Steve Bannon. O efeito Bannon 

    Não é segredo nenhum que Steve Bannon é conselheiro da campanha de Bolsonaro no Brasil. Um dos filhos de Bolsonaro, Eduardo, encontrou-se com Bannon em Nova Iorque dois meses depois de o campo de Bolsonaro ter decidido aproveitar a supostamente inigualável visão de engenharia social de Bannon.

    O filho de Bolsonaro escreveu num tweet , nessa altura: “Estamos em contacto para reunir forças, especialmente contra o marxismo cultural”. Isto foi seguido por um exército de bots, que vomitaram uma avalanche de notícias falsas até ao dia das eleições.

    Um espectro assombra a Europa. Chama-se Steve Bannon. Este espectro mudou-se para os trópicos.

    Na Europa, Bannon está agora apostado em intervir como um anjo da perdição num quadro de Tintoretto, anunciando a criação duma coligação populista União Europeia-toda a direita.

    Bannon recebe publicamente os maiores elogios do ministro do Interior italiano, Salvini; do primeiro-ministro húngaro Viktor Orban; do nacionalista holandês Geert Wilders; e do flagelo do establishment de Paris, Marine Le Pen.

    No mês passado, Bannon fundou O Movimento; à primeira vista apenas uma start-up política em Bruxelas, com uma pequena equipa. Mas falamos em ambição sem limites: o seu objetivo é nada menos do que virar as eleições parlamentares europeias em maio de 2019 de pernas para o ar.

    O Parlamento Europeu em Estrasburgo – um bastião de ineficácia burocrata – não é exatamente um nome familiar na União Europeia. O parlamento está impedido de propor legislação. As leis e os orçamentos só podem ser bloqueados através de uma maioria de votos.

    Bannon pretende captar pelo menos um terço dos assentos em Estrasburgo. Está apostado em aplicar métodos ao estilo americano, já testados, tais com sondagens intensivas, análise de dados e intensivas campanhas sociais nos media – tal como no caso de Bolsonaro. Mas, claro, não há garantias de que vá funcionar.

    Steve Bannon – o estrategista de Trump e de Bolsonaro – rei das notícias falsas

    A pedra basilar de O Movimento, segundo tudo leva a crer, foi colocada em duas importantes reuniões no início de setembro, organizadas por Bannon e pelo seu braço direito, Mischael Modrikamen, presidente do pequenino Partido Popular Belga (PP). A primeira reunião realizou-se em Roma com Salvini e a segunda em Belgrado com Orban.

    Modrikamen define o conceito como um “clube” que vai “angariar fundos de doadores, na América e na Europa, para assegurar que as ideias ‘populistas’ sejam ouvidas pelos cidadãos da Europa que se apercebem cada vez mais que a Europa já não é uma democracia”.

    Modrikamen insiste: “Somos todos soberanistas”. O Movimento vai martelar quatro temas que parecem formar consenso em partidos políticos diferentes, de toda a União Europeia: contra uma “imigração descontrolada”; contra o “islamismo”; a favor da “segurança” na União Europeia; e em apoio a “uma Europa de nações soberanas, orgulhosas da sua identidade”.

    O Movimento deverá ganhar velocidade depois das intercalares do próximo mês nos EUA. Em teoria, poderá congregar diversos partidos da mesma nação à sua sombra. Poderá ser uma ordem muito alta, ainda mais alta do que o facto de os principais atores políticos já terem programas divergentes.

    Wilders quer rebentar com a União Europeia. Salvini e Orban querem uma União Europeia fraca, mas não querem ver-se livres das suas instituições, Le Pen quer uma reforma da União Europeia seguida por um referendo “Frexit”.

    Os únicos temas que unem este saco de gatos de populismos de direita são o nacionalismo, um confuso impulso anti-establishment e — muito popular — o desencanto com a pesada máquina burocrática da União Europeia.

    Encontramos aqui terreno comum com Bolsonaro, que se apresenta como nacionalista e contra o sistema político brasileiro – apesar de estar no Parlamento há séculos.

    Manifestação organizada pelo grupo Mulheres Unidas Contra Bolsonaro em Campinas

    Não há uma explicação racional para o avanço de última hora de Bolsonaro nas duas secções do eleitorado brasileiro que o desprezam profundamente: as mulheres e a região nordeste, que sempre foi discriminada pelo sul e pelo sudeste, mais ricos.

    Tal como a Analítica de Cambridge nas eleições norte-americanas de 2016, a campanha de Bolsonaro visou eleitores indecisos nos estados do nordeste, assim como as mulheres, com uma barragem de notícias falsas, denegrindo Haddad e o Partido dos Trabalhadores. Funcionou como mágica.

    A ação italiana 

    Estive no norte de Itália para ver até que ponto Salvini é popular. Salvini define as eleições para o Parlamento Europeu em maio de 2019 como “a última hipótese para a Europa”. O ministro italiano dos Estrangeiros, Enzo Moavero, considera-as as primeiras “verdadeiras eleições para o futuro da Europa”. Bannon também acha que o futuro da Europa está em jogo na Itália.

    É espantoso apreender a energia conflituosa no ar em Milão, onde o partido Lega de Salvini é muito popular enquanto, simultaneamente, Milão é uma cidade globalizada, a abarrotar de bolsõess ultraprogressistas.

    Num debate político sobre um livro publicado pelo Instituto Bruno Leoni, acerca da saída do euro, Roberto Maroni, antigo governador da poderosa região da Lombardia, observou: “A Italexit está fora do programa formal do governo, do Lega e do centro-direita”. Maroni lá sabe, afinal de contas, ele foi um dos fundadores do Lega,

    Mas deu a entender que há no horizonte importantes mudanças. “Para formar um grupo no Parlamento Europeu, os números são importantes. Este é o momento para aparecer com um único símbolo dos partidos de muitas nações”.

    Não são só Bannon e Modrikamen de O Movimento. Salvini, Le Pen e Orban estão convencidos de que podem ganhar as eleições de 2019 – com a União Europeia transformada numa “União das Nações Europeias”. Isso incluirá não só algumas das grandes cidades onde se passa toda a ação, com o resto reduzido a um estatuto de observadores. O populismo de direita argumenta que a França, a Itália, a Espanha e a Grécia já não são nações – apenas meras províncias.

    O populismo de direita sente-se imensamente satisfeito por o seu principal inimigo ser o auto-intitulado Macron “Júpiter” – ridicularizado por alguns em França como “o pequeno Rei-Sol”. O presidente Emmanuel Macron deve andar aterrorizado por Salvini surgir como a “luz principal” dos nacionalistas europeus.

    É para isto que a Europa parece estar a caminhar: um destruidor desafio de Salvini contra Macron.

    A luta entre Salvini e Macron, na Europa, pode ser uma repetição da luta entre Bolsonaro e Haddad, no Brasil. Alguns espíritos agudos brasileiros estão convencidos de que Haddad é o Macron brasileiro.

    Na minha opinião, não é. Tem formação em filosofia e foi um competente prefeito de São Paulo, uma das mais complexas metrópoles do planeta. Macron é um banqueiro Rothschild de fusões e aquisições. Ao contrário de Macron, que foi engendrado pela instituição francesa como o perfeito lobo “progressivo” a ser largado entre as ovelhas, Haddad encarna o que resta da esquerda realmente progressista.

    Haddad no enfrentamento com o nazismo mais grave da história do Brasil

    Para mais – ao contrário de todo o espectro político brasileiro – Haddad não é corrupto. Terá que oferecer a exigida porção de carne aos suspeitos habituais, se ganhar a corrida. Mas não será uma marioneta nas mãos deles.

    Comparem o trumpismo de Bolsonaro, evidente na sua mensagem de última hora, antes do dia das eleições: “Tornem o Brasil Grande de Novo!”, com o trumpismo de Trump.

    Os instrumentos de Bolsonaro são o elogio persistente da Pátria Mãe, das forças armadas e da bandeira.

    Mas Bolsonaro não está interessado em defender a indústria, os empregos e a cultura do Brasil. Pelo contrário. Um exemplo gráfico é o que aconteceu num restaurante brasileiro, em Deerfield Beach, na Flórida, há um ano: Bolsonaro saudou a bandeira americana e entoou “USA! USA!”

    Isso é puro MAGA (Make America Great Again) – e sem a letra “B”.

    Jason Stanley, professor de Filosofia em Yale e autor de How Fascism Works , leva-nos mais longe . Stanley sublinha como “a ideia no fascismo é destruir a política económica… Os empresários alinham com os políticos que usam táticas fascistas porque tentam desviar a atenção das pessoas das forças reais que causam a genuína ansiedade que elas sentem”.

    Bolsonaro domina estas táticas de diversão. É excelente em denegrir o alegado marxismo cultural. Bolsonaro encaixa na descrição de Stanley, tal como é aplicado aos EUA:

    “O liberalismo e o marxismo cultural destruíram a nossa supremacia e destruíram esse maravilhoso passado em que governávamos e as nossas tradições culturais eram as que dominavam. Depois, militariza o sentimento de nostalgia. Toda a ansiedade e perda que as pessoas sentem na sua vida, digamos por causa da perda do serviço de saúde, da perda das suas reformas, da perda da sua estabilidade, é enraizada numa sensação de que o verdadeiro inimigo é o liberalismo, que levou à perda do seu passado mítico”.

    No caso brasileiro, o inimigo não é o liberalismo, mas o Partido dos Trabalhadores, ridicularizado por Bolsonaro como “um monte de comunistas”. Ao celebrar a sua espantosa vitória da primeira volta, disse que o Brasil estava à beira de um “abismo” comunista corrupto e podia escolher entre uma via de “prosperidade, liberdade, família” ou “a via da Venezuela”.

    A investigação Lava Jato consagrou o mito de que o Partido dos Trabalhadores e toda a esquerda é corrupta (mas a direita não). Bolsonaro ainda ampliou mais o mito: todas as minorias e classe social é um alvo – na sua cabeça são “comunistas” e “terroristas”.

    Faz-nos recordar Goebbels – no seu texto fundamental “A Radicalização do Socialismo”, em que ele sublinha a necessidade de retratar o centro-esquerda como marxistas e socialistas porque, como Stanley assinala, “a classe média vê no marxismo não tanto a subversão da vontade nacional, mas sobretudo o ladrão da sua propriedade”.

    Isto está no centro da estratégia de Bolsonaro de denegrir o Partido dos Trabalhadores – e a esquerda em geral. A estratégia é encharcada em notícias falsas – mais uma vez refletindo o que Stanley escreve sobre a história dos EUA: “Todo o conceito de império baseia-se em notícias falsas. Toda a colonização baseia-se em notícias falsas”.

    A direita contra o populismo? Como já escrevi num artigo anterior , a esquerda no Ocidente é como um encadeado encadeado por faróis, quando se trata de combater o populismo de direita.

    Espíritos atentos, de Slavoj Zizek a Chantal Mouffe estão a tentar conceptualizar uma alternativa – sem conseguir arranjar o neologismo definitivo. Populismo de esquerda? Popularismo? Idealmente, devia ser “socialismo democrático” – mas ninguém, num ambiente pós-ideologia, pós-verdade, se atreveria a usar a palavra temida.

    A ascensão do populismo de direita é uma consequência direta do aparecimento de uma profunda crise de representação política em todo o Ocidente; a política de identidade erigida como um novo mantra; e o esmagador poder das redes sociais, que permitem – na definição inigualável de Umberto Eco – a ascensão do “idiota da aldeia à condição de oráculo”.

    Como já vimos, o lema central do populismo de direita na Europa é contra a imigração – uma variante mal disfarçada do ódio contra o Outro. No Brasil, o tema principal, realçado por Bolsonaro, é a insegurança urbana. Pode ser o Rodrigo Duterte brasileiro – ou Harry Duterte: “Atreve-te, idiota”.

    Ele intitula-se o Legítimo Defensor contra uma elite corrupta (apesar de fazer parte dessa elite); e o seu ódio de todas as coisas politicamente corretas, do feminismo, da homossexualidade, do multiculturalismo – tudo isso são crimes imperdoáveis contra os “valores da família”. Um historiador brasileiro afirma que a única forma de nos opormos é “traduzir” para cada setor da sociedade brasileira como a posição de Bolsonaro os afeta: “o armamento alargado, a discriminação, os empregos, (e) os impostos”. E isso tem que ser feito em menos de três semanas.

    Penso que o melhor livro que explica o fracasso da esquerda por toda a parte para lidar com esta situação tóxica é o livro de Jean-Claude Michea, Le loup dans la Bergerie (O lobo no curral) publicado em França há uns dias.

    Michea mostra, concisamente, como as profundas contradições do liberalismo, desde o século XVIII – políticas, económicas e culturais – o levaram a VIRAR-SE CONTRA SI MESMO e a separar-se do espírito inicial de tolerância (Adam Smith, David Hume, Montesquieu). É por isso que estamos mergulhados profundamente no capitalismo pós-democrático.

    Chamadas eufemisticamente “a comunidade internacional” pelos “media” dominantes ocidentais, as elites, que têm sido confrontadas desde 2008 com “as dificuldades crescentes que o processo da acumulação globalizada do capital enfrenta”, parecem agora dispostas a fazer tudo para manter os seus privilégios.

    Michea tem razão quando diz que o mais perigoso inimigo da civilização – e até da vida na Terra – é a dinâmica cega da acumulação infindável do capital. Sabemos para onde este bravo Mundo Novo neoliberal nos está a levar.

    O único obstáculo é um movimento autónomo, popular “que não esteja submetido à hegemonia ideológica e cultural de movimentos ‘progressistas’ que, durante mais de 30 anos, defendem apenas os interesses culturais das novas classes médias em todo o mundo”, diz Michea.

    Por agora, um tal movimento mantém-se no reino da utopia. O que resta é tentar remediar uma distopia iminente – como o apoio a uma verdadeira Frente Democrática Progressista – para bloquear um Brasil Bolsonaro.

    Um dos pontos altos da minha estadia em Itália foi uma reunião com Rolf Petri, professor de História Contemporânea na Universidade Ca’ Foscari, em Veneza, e autor do livro absolutamente essencial A Short History of Western Ideology: A Critical Account .

    Passando da religião, da etnia e do colonialismo, para o projeto iluminista de “civilização”, Petri tece uma tapeçaria devastadora de como “a geografia imaginada de um ‘continente’ que nem sequer era um continente, oferecia uma plataforma para a afirmação da superioridade europeia e da missão civilizadora da Europa”.

    Durante um longo jantar numa pequena trattoria veneziana longe das hordas galopantes de selfies, Petrie observou como Salvini – um pequeno empresário da classe média – descobriu astuciosamente como canalizar uma profunda saudade inconsciente de uma harmoniosa Europa mítica que nunca voltará, tal como o pequeno-burguês Bolsonaro evoca um regresso mítico ao “milagre brasileiro” durante a ditadura militar de 1964-1985.

    Todos os seres conscientes sabem que os EUA mergulharam numa desigualdade extrema “supervisionada” por uma plutocracia implacável. Os trabalhadores norte-americanos continuarão a ser lixados, tal como os trabalhadores franceses com o “liberal” Macron. O mesmo acontecerá aos trabalhadores brasileiros com Bolsonaro. Como dizia Yeats, que besta imunda, nesta hora tão negra, se lança à liberdade de nascer?

    Fonte: Instituto de Estudos Latino-Americanos
    [*] Pepe Escobar é jornalista, brasileiro, correspondente do Asia Times. O seu último livro é 2030 .

    O original encontra-se em consortiumnews.com/… . Tradução de Margarida Ferreira.

    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

  • Sua tia não é fascista, ela está sendo manipulada

    Sua tia não é fascista, ela está sendo manipulada

     

    Rafael Azzi, filósofo carioca radicado em Ouro Preto, MG, com ilustração de Duke

     

    Você se pergunta como um candidato com tão poucas qualidades e com tantos defeitos pode conseguir o apoio quase que incondicional de grande parte da população?

    Você já tentou argumentar racionalmente com os eleitores deles, mas parece que eles estão absolutamente decididos e te tratam imediatamente como inimigo no mais leve aceno de contrariedade?

    Até sua tia, que sempre gostou de você, agora ataca seus posts sobre política no Facebook?

    Pois bem, vou contar uma história.

    O principal nome dessa história é um sujeito chamado Steve Bannon. Bannon tinha uma visão de extrema direita nacionalista. Ele tinha um site no qual expressava seus pontos de vista que flertavam com o machismo, com a homofobia, com a xenofobia etc. Porém, o site tinha pouca visibilidade e seu sonho era que suas ideias se espalhassem com mais força no mundo.

    Para isso, Bannon contratou uma empresa chamada Cambridge Analytica. Essa empresa conseguiu dados do Facebook de milhões de contas de perfis por todo mundo. Todo tipo de dado acumulado pelo Facebook: curtidas, comentários, mensagens privadas. De posse desses dados e utilizando algoritmos, essa empresa poderia traçar perfis psicológicos detalhados dos indivíduos.

    Tais perfis seriam, então, utilizados para verificar quais indivíduos estariam mais predispostos a receber as mensagens: aqueles com disposição de acreditar em teorias conspiratórias sobre o governo, por exemplo, ou que apresentavam algum sentimento de contrariedade difuso ao cenário político atual.

    A estratégia seria fazer com que esse indivíduo suscetível a essas mensagens mudasse seu comportamento, se radicalizasse. Como as pessoas passaram a receber as notícias e a perceber o mundo principalmente através das redes sociais, não é difícil manipular essas informações. Se você pode controlar as informações a que uma pessoa tem acesso, você pode controlar a maneira com que ela percebe o mundo e, com isso, pode influenciar a maneira como se comporta e age.

    Posts no Facebook podem te fazer mais feliz ou triste, com raiva ou com medo. E os algoritmos sabem identificar as mudanças no seu comportamento pela análise dos padrões das suas postagens, curtidas, comentários.

    Assim, indivíduos com perfis de direita e seu tradicional discurso “não gosto de impostos” foram radicalizados para perfis paranóicos em relação ao governo e a determinados grupos sociais. A manipulação poderia ser feita, por exemplo, através do medo: “O governo quer tirar suas armas”. Esse tipo de mensagem estimula um sentimento de impotência e de não ser capaz de se defender. Estimula também um sentimento de “somos nós contra eles”, o que fecha a pessoa para argumentos racionais.

    Sites e blogs foram fabricados com notícias falsas para bombardear diretamente as pessoas influenciáveis a esse tipo de mensagem. Além disso, foi explorado também um sentimento anti-establishment, anti-mídia tradicional e anti “tudo isso que está aí”. Quando as pessoas recebiam várias notícias de forma direta, e não viam essas notícias repercutirem na grande mídia, chegavam à conclusão de que a grande mídia mente e esconde a verdade que eles tem.

    Se antes a mídia tradicional podia manipular a população, a manipulação teria que ser feita abertamente, aos olhos de todos. Agora, todos temos telas privadas que nos mandam mensagens diretamente. Ninguém sabe que tipo de informação a pessoa do lado está recebendo ou quais mensagens estão construindo sua percepção de realidade.

    Com esse poder nas mãos, Bannon conseguiu popularizar a alt right (movimento de extrema-direita americana) entre os jovens, que resultou nos protestos “unite de right” no ano passado em Charlottesville, Virgínia, que tiveram a participação de supremacistas brancos. Bannon trabalhou na campanha presidencial de Donald Trump e foi estrategista de seu governo. A Cambridge Analytica trabalhou também no referendo do Brexit, que foi vencido principalmente por argumentos originados de fake news.

    Quando a manipulação veio à tona, Mark Zuckerberg foi chamado ao Senado americano para depor. Pra quem entendeu o que houve, ficou claro que a democracia da nação mais importante do mundo havia sido hackeada. Mas os congressistas pouco entendimento tinham de mídia social; e quem estaria disposto a admitir que a democracia pode ser hackeada através da manipulação dos indivíduos?

    Zuckerberg estava apenas pensando em estabelecer um modelo de negócios lucrativo com a venda de anúncios direcionados. A coleta de dados e a avaliação de perfil psicológico das pessoas tinham a intenção “inocente” de fazer as pessoas clicarem em anúncios pagos. Era apenas um modelo de negócios. Mas esse mesmo instrumento pode ser usado com finalidade política.

    Ele se deu conta disso e sabia que as eleições brasileiras podiam estar em risco também. Somos uma das maiores democracias do mundo. O Facebook tomou medidas ativas para evitar que as campanhas de desinformação e manipulações ocorressem em sua rede social. Muitas contas fake e páginas que compartilhavam informações falsas foram retiradas do Facebook no período que antecede as eleições.

    Mas não contavam com a capilarização e a popularização dos grupos de WhatsApp. WhatsApp é um aplicativo de mensagens diretas entre indivíduos; por isso, não pode ser monitorado externamente. Não há como regular as fake news, portanto. Fazer um perfil fake no WhatsApp também é bem mais fácil que em outras redes sociais e mais difícil de ser detectado.

    Lembram do Steve Bannon, que sonhou com o retorno de uma extrema direita nacionalista forte mundialmente? Que tinha ideias que são classificadas como anti-minorias, racistas e homofóbicas? E que usou um sentimento difuso anti “tudo que está aí”, e um medo de os homens se sentirem indefesos para conquistar adeptos?

    Pois bem, ele se encontrou em agosto com Eduardo Bolsonaro. Bolsonaro disse que o Bannon apoiaria a campanha do seu pai com suporte e “dicas de internet”, essas coisas. Bannon é agora um “consultor eventual” da campanha. Era o candidato ideal pra ele, porque compartilhava suas ideias, no cenário ideal: um país passando por uma grave crise econômica com a população desiludida com a sua classe política.

    Logo depois de manifestações de mulheres nas ruas de todo o Brasil e do mundo contra Bolsonaro, o apoio do candidato subiu, entre o público feminino, de 18 para 24 por cento. Um aumento de 6 pontos depois de grande parte das mulheres se unir para demonstrar sua insatisfação com o candidato.

    Isso acontece porque, de um lado, a grande mídia simplesmente ignorou as manifestações e, por outro, houve um ataque preciso às manifestações através dos grupos de WhatsApp pró-Bolsonaro. Vídeos foram editados com cenas de outras manifestações, com mulheres mostrando os seios ou quebrando imagens sacras, mas utilizadas dessa vez para desmoralizar o movimento #Elenão entre as mais conservadoras.

    Além disso, Eduardo Bolsonaro veio a público logo após a manifestação e declarou: “As mulheres de direita são mais bonitas que as de esquerda. Elas não mostram os peitos e nem defecam nas ruas. As mulheres de direita têm mais higiene.” Essa declaração pode parece pueril ou simplesmente estúpida mas é feita sob medida para estimular um sentimento de repulsa para com o “outro lado”.

    Isso não é nenhuma novidade. A máquina de propaganda do nazismo alemão associava os judeus a ratos. O discurso era que os judeus estavam infestando as cidades alemãs como os ratos. Esse é um discurso que associa o sentimento de repulsa e nojo a uma determinada população, o que faz com que o indivíduo queira se identificar com o lado “limpo” da história. Daí os 6 por cento das mulheres que passaram a se identificar com o Bolsonaro.

    Agora é possível compreender por que é tão difícil usar argumentos racionais para dialogar com um eleitor do Bolsonaro? Agora você se dá conta do nível de manipulação emocional a que seus amigos e familiares estão expostos? Então a pergunta é: “O que fazer?”

    Não adiante confrontá-los e acusá-los de massa de manobra. Isso só vai fazer com que eles se fechem e classifiquem você como um inimigo “do outro lado”. Ser chamado de manipulado pode ser interpretado como ser chamado de burro, o que só vai gerar uma troca de insultos improdutiva.

    Tenha empatia. Essas pessoas não são tolas ou malvadas, elas estão tendo suas emoções manipuladas e estão submetidas a uma percepção da realidade bastante diferente da sua.

    Tente trazê-las aos poucos para a razão. Não ofereça seus argumentos racionais logo de cara, eles não vão funcionar com essas pessoas. A única maneira de mudar seu pensamento é fazer com que tais pessoas percebam sozinhas que não há argumentos que fundamentem suas crenças e as notícias veiculadas de maneira falsa.

    Isso só pode ser feito com uma grande dose de paciência e de escuta. Peça para que a pessoa defenda racionalmente suas decisões políticas. Esteja aberto para ouvi-la, mas continue sempre perguntando mais e mais, até ela perceber que chegou num ponto em que não tem argumentos para responder.

    Pergunte, por exemplo: “Por que você decidiu por esse candidato? Por que você acha que ele vai mudar as coisas? Você acha que ele está preparado? Você conhece as propostas dele? Conhece o histórico dele como político? Quais realizações ele fez antes que você o aprovasse?”

    Em muitos casos, a pessoa tentará mudar o discurso para falar mal de um outro partido ou do movimento feminista. Tal estratégia é esperada porque eles foram programados para achar que isso representa “o outro lado”, os inimigos a combater.

    Nesse caso, o caminho continua o mesmo: tentar trazer a pessoa para sua própria razão: “Por que você acha que esse partido é tão ruim assim? Sua vida melhorou ou piorou quando esse partido estava no poder? Como você conhece o movimento feminista? Você já participou de alguma reunião feminista ou conhece alguém envolvido nessa luta?”

    Se perceber que a pessoa não está pronta para debater, simplesmente retire-se da discussão. Não agrida ou nem ofenda, comportamento que radicalizaria o pensamento de “somos nós contra eles”. Tenha em mente que os discursos que essa pessoa acredita foram incutidos nela de maneira que houvesse uma verdadeira identificação emocional, se tornando uma espécie de segunda identidade. Não é de uma hora pra outra que se muda algo assim.

    Duas das mais importantes democracias do mundo já foram hackeadas utilizando tais técnicas de manipulação. O alvo atual é o nosso país, com uma das mais importantes democracias do mundo. Não vamos deixar que essas forças nos joguem uns contra os outros, rasgando nosso tecido social de uma maneira irrecuperável.

    P.S.: Por favor, pesquise extensamente sobre todo e qualquer assunto que expus aqui, e sobre o qual você esteja em dúvida. Não sou de nenhum partido. Sou filósofo e, como filósofo, me interesso pela verdade, pela ética e pelo verdadeiro debate de ideias. Sua tia não é fascista, ela está sendo manipulada.

    Rafael Azzi, filósofo