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Tag: reorganização escolar

  • Salvador Allende, República de Cuba: os nomes das escolas que Alckmin quer fechar

    Salvador Allende, República de Cuba: os nomes das escolas que Alckmin quer fechar

    Por Alceu Luís Castilho, para o Outras Palavras 

    Primeira chamada: as professoras.

    Adalgiza Segurado da Silveira (São Paulo); Alayde Maria Vicente (Guarulhos); Antonieta Grassi Malatrasi (Lençóis Paulista); Dinora Rocha (Iguape); Elza Salvestro Bonilha (Sorocaba); Eurydice Zerbini (São Paulo); Iolanda Vellutini (Pindamonhangaba); Iracema Brasil de Siqueira (Mogi das Cruzes); Iracema de Oliveira Carlos (Ibitinga); Ivani Maria Paes (Barueri); Laís Amaral Vicente (São Paulo); Lâmia del Sistia (Guarujá); Maria Aparecida Soares de Lucca (Limeira); Miss Browne (São Paulo); Regina Pompeia Pinto (Cachoeira Paulista); Sebastiana Paie Rodella (Americana); Sonia Aparecida Bataglia Cardoso (Santa Bárbara D’Oeste); Sueli Oliveira Silva Martins (Mogi das Cruzes); Yonne Cesar Guaycuru de Oliveira (Pindamonhangaba).

    No que depender do governador Geraldo Alckmin, essas 19 professoras, entre elas duas Iracemas, não mais serão nomes de escolas em São Paulo. O governo estadual anunciou em outubro o que chama de “reorganização” da rede de ensino. E significa, na prática, o fechamento de 94 escolas (número reduzido depois para 93, pois a EE Augusto Melega, em Piracicaba, será mantida), conforme lista divulgada no dia 28 de outubro.

    Segunda chamada: os professores.

    Álvaro José de Souza (Botucatu); Álvaro Trindade de Oliveira (Ribeirão Pires); Américo Belluomini (Valinhos); Antônio de Mello Cotrim (Piracicaba); Augusto Baillot (São Paulo); Bruno Pieroni (Sertãozinho); Dorival Dias de Carvalho (Sorocaba); Eruce Paulucci (Avaré); Antonio de Oliveira Camargo (São Paulo); Astrogildo Arruda (São Paulo); Firmino Ladeira (Mogi das Cruzes); Flavio Gagliardi (Sorocaba); Francisco de Paula Santos (Roseira); Geraldo Homero França Ottoni (São Paulo); João Cruz Costa (São Paulo); João Nogueira Lotufo (São Paulo); Joaquim Garcia Salvador (Guarulhos); José Augusto de Azevedo Antunes (Santo André); Lênio Vieira de Moraes (Barueri); Oscar Graciano (Carapicuíba); Pedro Fonseca (São Paulo); Renê Rodrigues de Moraes (Guarujá); Oswaldo Salles (Santa Cruz do Rio Pardo); Salvador Ortega Fernandes (Sorocaba); Sebastião Ramos Nogueira (Campinas); Silvio Xavier Antunes (São Paulo).

    Com esses 26 homenageados, o total de professores e professoras na lista de 94 escolas chega a 45. Quase metade do total. Um detalhe em meio à história que se rasga (a dos alunos, professores, funcionários, comunidade) ao se fechar uma escola. Mas não deixa de ser significativo.

    Principalmente quando se observa que, entre os nomes de escolas fechadas, estão a República de Cuba e a República de El Salvador. Ou a EE Joaquín Suárez, presidente uruguaio no século 19. A América Latina, que em 1989 ganhou um Memorial, em São Paulo, perderá sua voz até na toponímia?

    Não no que depender dos alunos da EE Salvador Allende. A escola foi uma das primeiras entre 43 escolas ocupadas em meio ao atual levante estudantil em São Paulo. Eles se inspiraram também na história do presidente chileno, derrubado em 1973 pelos militares: “Como podemos ficar quietos numa escola com esse nome?

    A resistência dos alunos colocou o governador Geraldo Alckmin em xeque: como autorizar a polícia a reprimir estudantes que ocupam escolas (os jornais falam surrealmente em alunos “invadindo escolas”) para que elas simplesmente não fechem?

    Seria exaustivo contar a história de cada um dos professores e professoras que correm o risco de perder a homenagem que receberam. Mas tomemos o caso do estudante Henrique Fernando Gomes, que dá nome a uma escola em Barueri. Ele tinha 16 anos e morreu em 2006, em um acidente de ônibus. Era um estudante dedicado, muito conhecido no Jardim Maria Helena III. A comunidade colheu mais de 3 mil assinaturas e ele se tornou o nome da escola, que levava o nome do bairro, em 2007. Há menos de dez anos, portanto. Caso a escola feche, terá sido uma homenagem-relâmpago.

    NOMES E NOMES

    Outros nomes são bem mais antigos. Entre as escolas da lista está a Miss Browne, na Pompeia, que leva o nome de uma educadora americana e foi criada em 1932 — um ano simbólico para os paulistas, o da “revolução” constitucionalista. José Leandro de Barros Pimentel defendeu São Paulo em 1932, e dá nome a uma escola em Barueri — na lista. Mesmo caso das paulistanas Barão Homem de Mello e Paulo Machado de Carvalho, o “marechal da vitória” (pela vitória na Copa do Mundo de 1970), o mesmo que dá nome ao Pacaembu.

    Nem todos os homenageados possuem uma história das mais nobres. Os povos indígenas que o digam. Na semana passada eles cobriram com sacos de lixo a estátua de Fernão Dias Paes, na ocupação da escola que leva seu nome em Pinheiros e se tornou símbolo da resistência estudantil ao fechamento em bloco pelo governo estadual. Paes foi um bandeirante — como tal, para os defensores de direitos indígenas, um genocida. Um caçador de esmeraldas — e de índios — que morreu de febre no meio da mata.

    Sobrou também para outros homenageados que representam o poder. Entre eles Amador Aguiar, o fundador do Bradesco, que dá nome a uma escola em Barueri — perto, portanto, do quartel general do banco, na Cidade de Deus, em Osasco. Curiosamente, as Escolas Estaduais República de Cuba e República de El Salvador — nome que reverencia Jesus Cristo — também ficam em Barueri. (Detalhe: a EE República de Cuba já tinha sido atingida em 1987; a parte do ensino básico, na época primeiro grau, migrou para o município e a EEPG foi renomeada para José Vital Alves Freire.)

    Oswaldo Sammartino foi prefeito de Jandira. Não foi poupado. Guilherme de Oliveira Gomes e João Bastos Soares foram deputados. As escola com seu nomes, em Osasco e Cachoeira Paulista, estão na lista da degola. O mesmo vale para a que homenageia o prefeito Santinho Carnevale e o vereador Fortunato Arnoni, em Ribeirão Pires; o industrial Luigino Burigotto, em Limeira; o coronel Antônio Paiva de Sampaio, em Osasco; Brás Cubas, o fundador de Santos.

    E sobrou ainda para o padre João Batista de Aquino, em Agudos; para a Pequeno Cotolengo de Dom Orione, em Cotia; para os pastores Amaro José dos Santos e Rubens Lopes, em Guarulhos; e até para o Rotary (que adora instalar sua marca em praças no começo de cidades, pelo interior paulista), também em Guarulhos. Igualmente para o jornalista Tito Lima — homônimo de Frei Tito, assassinado pela ditadura.

    “Nomes de nomes”, dizia Caetano Veloso na música Língua. (“Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas. Sejamos imperialistas. Cadê? Sejamos imperialistas!”) Nomes como Castro Alves (o escritor abolicionista), o regionalista Valdomiro Silveira e o português Guerra Junqueiro, poeta antimonarquista e anticlerical, todos na lista da degola. Ou a Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo — o pintor Di Cavalcanti. (“O que quer, o que pode essa língua?”)

    Em março, o governo do Maranhão decretou a mudança do nome de dez escolas relacionados à ditadura de 1964: entre elas duas Costa e Silva, uma Emílio Médici, uma Castello Branco. Duas passaram a se chamar Educador Paulo Freire. (“E deixa que digam, que pensem, que falem”.)

  • Intimidação contra a ocupação da Escola Estadual Pio Telles Peixoto

    Intimidação contra a ocupação da Escola Estadual Pio Telles Peixoto

    Pressões, intimidações e revolta. Foi este o clima que encontrei na Escola Estadual Pio Telles Peixoto, que fica na Vila Jaguara, zona noroeste de São Paulo, na sexta-feira, 13/11. A escola estava ocupada pelos estudantes, em protesto contra a reorganização escolar proposta pelo governador Geraldo Alckmin, que acarretará o fechamento de 94 escolas e o encerramento de ciclos e de turnos de ensino em muitas outras.

    A Pio Telles Peixoto, que ensinava 251 alunos do 6º ao 9º ano do fundamental e mais 654 estudantes do ensino médio da 1ª à 3ª séries, além de 481 alunos da Educação de Jovens e Adultos, passará a ter apenas o ensino fundamental do 6º ao 9º ano.

    Quando cheguei, percebi logo que a Secretaria de Educação tinha uma estratégia bem articulada para encerrar a ocupação e evitar que a mesma servisse de exemplo para outras escolas da região.

    No portão dos alunos, para onde me dirigi na tentativa de entrar na escola, tive pouco êxito. Os estudantes, precavidos, me indicaram que tentasse entrar pela secretaria. Lá, funcionários antipáticos receberam-me.

    Acabei entrando em contato com a primeira aluna que, entre tímida e receosa, concedeu entrevista a seguir, em que aborda como a reorganização deve impactar seus estudos:

    Gravei sua fala e voltei para a entrada, onde tentaria novamente conversar com alunos e entrar. No portão, conversei com Rafael (membro do grêmio estudantil do Pio Telles Peixoto), que me contou que naquele momento ocorria uma reunião entre alunos e a Sra. Lúcia Regina Mendes Espagolla, dirigente da Região Norte 1 e subordinada direta do Secretário da Educação. Segundo ele, depois de tal reunião seria possível entrar. Vinte minutos depois, consegui entrar, por volta das 15h30.

    Aqui vale um registro histórico…

    Em 2012, Lúcia Regina Mendes Espagolla apareceu nos jornais em situação mais do que constrangedora….

    Já ocupando a Diretoria Regional de Ensino Norte-1, que comanda 101 escolas estaduais de nove bairros da zona norte da capital, Lúcia Regina Mendes Espagolla “usou uma circular oficial e o site da instituição [Secretaria de Estado da Educação] para convocar dirigentes de escolas estaduais da capital a participar de reunião de apoio à campanha de José Serra (PSDB)”.

    Segundo o jornal “Agora”, que fez reportagem sobre a atividade eleitoral desempenhada por Lúcia Regina Mendes Espagolla, diretores e vice-diretores entrevistados disseram que, “depois de disparar a circular, Lúcia Regina telefonou para seus subordinados ameaçando os que não comparecessem à reunião da campanha com a perda do cargo.”

    Por causa do escândalo na época, a Secretaria de Estado da Educação foi obrigada a soltar uma nota, dizendo que, “ao tomar conhecimento do fato determinou o imediato afastamento da dirigente regional de ensino e instaurou procedimento administrativo de apuração”.

    Mas isso foi em 2012.

    De novo no batente, Lúcia Regina é um trator quando se trata de aplicar as diretrizes tucanas na administração escolar. Foi o que eu vi na escola ocupada.

    O clima aparentemente ameno, sem a presença de policiais e com alunos espalhados pelo pátio, apenas servia para mascarar a real situação de intimidação a que estavam submetidos alunos e professores na escola.

    Mas a verdade começou a aflorar quando conversei com um aluno que havia falado com a Sra. Lúcia…

    Logo, ele denunciou que a dirigente, na tentativa convencê-lo a parar com a ocupação da escola, lhe ofereceu uma vaga no colégio em que ele desejava estudar. Vejam depoimento abaixo:

    Alunos preferiram não ter o rosto filmado com receio de represálias

    Já para os alunos que passarão para o 3º ano do Ensino Médio, a proposta foi outra… Lúcia Regina propôs que os estudantes encerrassem a ocupação em troca da promessa de continuidade dos estudos no Pio Telles Peixoto em 2016 — apesar da tal “reorganização escolar”.

    Desconfiados, os alunos exigiram que essa promessa fosse selada em documento… É este que se vê aí, na sequência.

    Documento dado aos alunos que fizessem acordo com a Dirigente

    A tal “Ata de Reunião” está escrita em uma folha em branco, sem qualquer timbre, documento de identificação, nome da funcionária que assina, com uma redação bastante vaga, que efetivamente apenas se compromete a levar a proposta dos alunos a frente.

    Ahahahahahaha!

    Bons em interpretação de texto, os estudantes perceberam na hora a manobra. Tratava-se tão somente de um documento feito para criar entre os alunos uma falsa esperança de continuar da escola e, com base nisto, desestabilizar a ocupação.

    Vejam depoimento sobre o acordo proposto:https://goo.gl/X8pH0R.

    Trata-se de uma manobra anti-ética e vergonhosa para uma senhora que responde diretamente ao Secretário da Educação, Herman Jacobus Cornelis Voorwald.

    Já seria bastante se parassem por aí as artimanhas da senhora Lúcia para dissuadir os alunos de reivindicarem seus direitos, mas não parou.

    Ao longo de toda a tarde, membros da Secretaria de Educação presentes na escola tiravam fotos de alunos no pátio, sem pedir consentimento, como tentativa de intimidar. Em uma destas sessões fiz uma intervenção ao apontar a câmera para eles. Vejam como foi:

    Minha ação, no entanto, foi pouco eficaz… E eles começaram a me fotografar também, como forma de me intimidar. Tudo para compor a estratégia de desmobilização em curso.

    Os alunos, que ocupavam a escola desde o início do dia, e que tiveram uma comunicação bastante restritiva com os professores, devido às intimidações feitas, tiveram pouco tempo para pensar em como viabilizar a ocupação, o que fez com que a maioria optasse por sair da escola às 18h.

    Cartaz fixado no pátio dos alunos

    Resistiram cerca de 30 alunos, dentre os quais cerca de 10, que se propuseram a dormir na escola. Realizou-se uma nova reunião, onde alguns, desanimados com a evasão dos colegas e se sentindo contemplados com oacordo firmado com a Sra. Lúcia, acabaram por sugerir o fim de ocupação e o indicativo de uma possível retomada da mesma, com mais estrutura na próxima segunda-feira (16/11).

    Enquanto conversavam sobre como fariam para colocar as carteiras e cadeiras no lugar novamente, funcionários da Secretaria de Educação, forçaram uma porta fechada e invadiram o pátio onde estavam os alunos, como uma maneira de forçar o fim da ocupação.

    Superado tal momento, enquanto os alunos colocavam as cadeiras no lugar para deixar tudo como estava, ocorreu mais um episódio, protagonizado pelo Sr. Juvelino funcionário da Secretaria de Educação e identificado por ele mesmo como PCLP (ele não explicou o que é isso!), que em atitude extremamente autoritária pediu ao Rafael (professor de Sociologia da Escola) que se retirasse da mesma. O motivo: o fato de o professor não estar no seu horário de aula.

    Veja o vídeo aí embaixo.

    Este foi o último dos episódios de intimidação que presenciei durante a ocupação. A vitória obtida no Judiciário, cancelando todas as reintegrações de posse das escolas ocupadas pelo estudantes, certamente deve ser comemorada. Mas ainda não existe um final feliz para esta história… O melhor que se conseguiu até agora foi a certeza de que o movimentos dos alunos representa uma força que o governador não pode mais ignorar.

    Cartazes fixados no pátio dos alunos
  • Escolas ocupadas: a Fernão resiste

    Escolas ocupadas: a Fernão resiste

    Audiência de conciliação definirá rumos do movimento de ocupação das escolas estaduais de São Paulo. Se não houver acordo, estudantes terão 24 horas para desocupar escola antes da reintegração de posse.

    Com imagens de Paulo Ermantino, Sato do Brasil, Renata Simões e Taba Benedicto

    Uma barreira de policiais militares separa a rua dos muros da Escola Estadual Fernão Dias Paes, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo. Ocupada por estudantes, a maioria adolescentes, desde a manhã de terça-feira (10/11), a escola está isolada por fileiras de carros da PM, motos da Ronda Ostensiva de Apoio de Motocicletas (Rocam), homens da Força Tática e soldados da Polícia Militar armados. Do lado de dentro, alunos se revezam em vigília, cozinham e limpam o “Fernão”. Nada foi depredado.

     

    Fotos: Taba Benedito

    Na tarde de ontem (12/11), um Oficial de Justiça, acompanhado de um Promotor do Estado, encaminhou aos estudantes uma intimação para que compareçam à audiência de conciliação, que será realizada hoje, às 15h, na 5a Vara da Fazenda Pública, no Fórum Central de São Paulo. Estarão presentes uma comissão de estudantes da Fernão Dias Paes, o juiz, advogados e um representante do governo do estado. Os adolescentes devem apresentar uma pauta de reivindicações e discutir a proposta. Caso não haja acordo, a reintegração de posse, cujo mandado está nas mãos dos alunos, se dará a partir de 24 horas da audiência de reconciliação.

    “Na audiência de conciliação o juiz poderá determinar a suspensão dessa reorganização do sistema educacional do Estado de São Paulo até que sejam feitas diversas consultas públicas e sejam esclarecidas não só aos estudantes, mas aos pais, à sociedade, aos professores, o impacto da proposta”, explica Rildo Marques de Oliveira, presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe).

    A falta de escuta e diálogo do Governo do Estado de São Paulo é a principal reclamação dos estudantes. “Querem tratar um assunto político como assunto jurídico, nos tratando como criminosos por estarmos aqui lutando por algo que é de direito, uma educação melhor”, declarou um dos alunos que ocupam a escola. Eles pedem que as medidas de reorganização escolar sejam amplamente discutidas com a população e não se baseiem em evidências burocráticas de espaços vazios. Para eles, a escola é mais do que a taxa de espaço ocioso. Faz parte da formação enquanto indivíduos, o que vai bem além do ciclo único. A secretaria alega que ofereceu transporte para os alunos se reunirem com representantes do governo. Os estudantes não aceitaram sair da escola.

    De acordo com levantamento da Secretaria Estadual de Educação, a Escola Estadual Fernão Dias Paes tem 702 vagas e 26% de espaço ocioso. A nova proposta determina que apenas o Ensino Médio se mantenha no estabelecimento de ensino, recebendo 332 novos estudantes. Os 213 alunos dos anos finais do Ensino Fundamental da Fernão Dias Paes serão remanejados para a Escola Estadual Deputado Godofredo Furtado, a 1,5km de distância, que atenderá apenas o Ensino Fundamental. O projeto de Geraldo Alckmin prevê o fechamento de 94 escolas e a transferência de cerca de 311 mil estudantes para instituições de ensino na região onde moram.

    Foto: Paulo Ermantino

     

    Foto: Sato do Brasil

    Fernão

    A “Fernão”, apelido carinhoso cunhado pelos estudantes, existe desde 1947. Ex-alunos lembram da árvore plantada diante do colégio nos anos 1950, do forte grêmio estudantil que enfrentou a ditadura (o que levou o “professor Leonardo, de História” a ser demitido quando apoiou o movimento), da professora Clélia, de Português, “brava mas ótima”, dos jogos de vôlei e basquete, da bolinha de gude no pátio, dos beijos roubados no corredor e das vezes em que tiveram que pular o muro para não perder aula. É uma escola que marca quem passa por ela e deixa saudade. “Bons tempos”, dizem muitos.

    Mas os tempos de agora parecem lembrar mais o bandeirante Fernão Dias Paes, que escravizou cerca de 5 mil indígenas no século XVII e enforcou o próprio filho, que se rebelou contra o pai, a título de exemplo para os homens da Bandeira Esmeralda, que chefiava.

    Os pais dos atuais alunos que ocupam a Fernão, muito ao contrário do bandeirante, se emocionam ao falar da força dos meninos e meninas acampados na escola. “Estou aqui para apoiá-los. A conquista política já aconteceu”, afirmou um deles, que não quis se identificar, e esteve todas as noites diante da escola acompanhando a filha. “Sinto orgulho”, disse, de olhos marejados.

    Para Mauro de Oliveira Borges, pai de Cauê, 16 anos, aluno de uma escola particular que participa da ocupação, é preciso escutar os estudantes. “Fechar escolas em um país em que faltam escolas é um ato contraditório. A paixão da juventude é que move o mundo.”

    A mãe do Tales, que fez 17 anos ontem, enviou um texto de apoio ao filho. “Fico muito feliz de ele estar hoje na luta na ocupação Fernão Dias. Me dá a sensação de que alguma coisa eu fiz certo e me dá esperança de um futuro melhor.”

    *Maria Carolina Trevisan é Jornalista Amiga da Criança

  • De: Eduardo Suplicy Para: Geraldo Alckmin

    De: Eduardo Suplicy Para: Geraldo Alckmin

    Suplicy faz apelo ao Governador Geraldo Alckmin para que se estabeleça o diálogo com os estudantes da Escola Estadual Fernão Dias Paes. Na noite desta terça-feira (10/11), o secretário de direitos humanos do município, esteve na escola e levou água aos estudantes. O fornecimento foi cortado.

     

    Foto: Giovanna Consentini

    De Eduardo Suplicy para os Prezados Governador Geraldo Alckmin Secretário da Educação Herman Jacobus Cornelis Voorwald:

    Estive ontem à noite na Escola Fernão Dias Paes onde conversei com aproximadamente 20 estudantes do ensino médio que ali se encontram, com os portões fechados com cadeados por eles mesmos, e havendo um número significativo de policiais militares e viaturas em torno da estabelecimento. Ponderaram a mim o seu desejo de serem ouvidos sobre a reorganização das escolas estaduais que obrigarão alguns dos estudantes a mudarem de estabelecimento. Trata-se de uma manifestação pacífica, de ocupação daquele edifício, durante o dia por mais de cem estudantes, tendo a maior parte dos mesmos, sobretudo os menores de idade, voltado para casa, acompanhados de seus pais. Transmitiram-me que não causaram qualquer dano às dependências da escola. Que tentaram ser ouvidos pela Secretaria da Educação, mas que não tiveram êxito. Quero transmitir um apelo pessoal de bom senso ao Governador Alckmin e ao Secretário Herman Woorwald no sentido de abrirem um diálogo direto com os estudantes da Escola Fernão Dias Paes, com seus pais e professores, com o objetivo de conversarem sobre as razões da reorganização das escolas da Rede Estadual de Ensino, de suas razões, vantagens e desvantagens, tendo em conta o objetivo maior de se melhorar a qualidade da educação para toda a população do Estado de São Paulo. Sou testemunha de como Vossa Excelência, Governador Geral Alckmin, sempre se dispôs ao diálogo aberto com todos aqueles que realizam manifestações pacíficas para expressar seus ideais e objetivos em prol do bem comum.

    Respeitosamente, o abraço amigo,

    Eduardo Matarazzo Suplicy

    Secretário Municipal dos Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo

  • FLAGRA: Bandeirante assassino está na cabeça do PM que reprime alunos em defesa da escola

    FLAGRA: Bandeirante assassino está na cabeça do PM que reprime alunos em defesa da escola

    Repare: tem um bandeirante assassino, genocida de índios, em cima da cabeça do PM encarregado de reprimir os curumins que lutam em defesa da escola pública. É Fernão Dias Paes, o “Caçador de Esmeraldas”, que viveu entre 1608 e 1681 espalhando morte, miséria e sofrimento em série. Pois a estátua do monstro está lá, dentro da escola estadual que leva o nome dele.

    Um exemplo apenas…. Em 1661, Fernão Dias empreendeu expedições ao sertão em busca de índios para escravizar. Penetrou o Sul “até a serra de Apucarana”, no “Reino dos índios da nação Goianás”, sertão do atual Estado do Paraná. Retornou em 1665, com gentes de três tribos, mais de quatro mil índios para vender em São Paulo.

    Em carta oferecendo seus serviços ao governador (não, não era Geraldo Alckmin ainda rsrs), Fernão Dias assim se definiu: “Chefe de ilustre família, senhor de vastos latifúndios e de milhares de escravos, de aldeias de índios e de grossos cabedais, além de [proprietário de] corpo de armas numeroso.”

    Por esse tipo de trabalho sujo, o canalha foi homenageado por príncipes e reis de Portugal, e por legiões de nobres puxa-sacos.

  • Mais de 5 mil estudantes vão às ruas contra Alckmin em SP

    Mais de 5 mil estudantes vão às ruas contra Alckmin em SP

    Estudantes de escolas estaduais, pais, professores e diretores realizaram hoje (9) um protesto pedindo o não fechamento das escolas estaduais, consequência da “reorganização” que o Governo Alckmin pretende aplicar na rede de ensino.

    O ato começou por volta das 8h da manhã na região da rua augusta, seguiu em passeata pela Av. Paulista e percorreu as vias da região central de São Paulo.

    Foto: Mídia NINJA

    A medida, que divide as escolas em ciclos, irá causar o fechamento de pelo menos 86 estabelecimentos de ensino do Estado de São Paulo e agravar a já existente superlotação nas salas de aula.

    Em São Paulo, o protesto foi marcado por muita luta e força da juventude, mas, também, pela conhecida truculência Polícia Militar. No meio da manhã, o congestionamento resultante do protesto chegou a cerca de 1,5 quilômetros, segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET).

    Durante o ato, a Policia Militar utilizou violência contra estudantes. Os PMs usaram spray de pimenta para “deter quem só estava ali fazendo bagunça” e atacaram um grupo de estudantes secundaristas. Alunos e jornalistas foram agredidos. Segundo a Policia Militar uma pessoa foi presa durante o protesto.

    Foto: Mídia NINJA

    Além da agressão física da PM, jornalistas tiveram os seus equipamentos quebrados por um policial, que também ameaçou quebrar o celular de uma estudante — antes de acertá-la com spray de pimenta.

    Além do protesto na capital, mais de 25 cidades realizaram manifestações na manhã dessa sexta-feira (9).

    Os Professores, ligados ao Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), também realizaram ato contra a proposta na Rodovia Régis Bittencourt, em Taboão da Serra, na região metropolitana de São Paulo. O protesto resultou em um congestionamento com cerca de dois quilômetros de extensão.

    Após quase três horas e meia de protesto e cinco quilômetros percorridos, a manifestação terminou por volta das 11h30, em frente à Secretaria Estadual de Educação.