Jornalistas Livres

Tag: Portugal

  • Sem previsão de voo de retorno, brasileiros passam dias e noites no aeroporto de Lisboa

    Sem previsão de voo de retorno, brasileiros passam dias e noites no aeroporto de Lisboa

    Por Clara Luiza Domingos, de Lisboa, especial para o Jornalistas Livres

    Desde que foi decretado estado de emergência em Portugal, no dia 18/03 (segunda-feira), para tentar conter o contágio do coronavírus, o movimento na capital do país, Lisboa, quase sempre intenso, diminuiu drasticamente. As medidas de contingência estão sendo levadas a sério pelos moradores de Portugal, mas os visitantes que chegaram à Portugal antes das medidas de prevenção contra a Covid-19 agora enfrentam problemas para cumprir as regras de saúde pública.

    No aeroporto de Lisboa, Lucas Alves Américo, de 23 anos, é um dos brasileiros que teve seu voo de volta para Curitiba cancelado, depois de que as empresas aéreas encerraram suas atividades, obedecendo ao decreto português. Sem dinheiro para bancar a hospedagem até que surja uma solução, a alternativa para Lucas e cerca de outros 35 brasileiros presos no aeroporto de Lisboa foi dormir no chão do saguão e outros, impedidos de entrar, na porta. “Meu voo seria no dia 20/03 (sexta-feira), até que minha companhia, Air Europa, fechou. Na central informam que não conseguem encaixe em outro e não tenho direito ao reembolso (imediato). Nos deram duas opções, ou esperar até que as empresas voltem a trabalhar, ou solicitar um voucher para utilizar daqui um ano”, explica Lucas.

    Com a cotação do euro acima de 5,40; a realidade é de que um dia a mais na Europa para quem vem do Brasil e paga suas despesas em reais, é um custo muito alto, que não estava nos planos de muitos que chegaram aqui, com dinheiro calculado para as férias. 

    https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/234924881231683/

    Em nota, a Embaixada do Brasil em Lisboa respondeu que tem trabalhado, em conjunto com às autoridades portuguesas, para aumentar a frequência de voos excepcionais ao Brasil, ao passo que autoridades em Brasília têm negociado diretamente com as companhias aéreas o aumento das frequências. Informou ainda que todos os brasileiros que se encontram nessa situação devem Todos os brasileiros nessa situação devem, em primeiro lugar, contactar o consulado competente para identificar-se, fornecer detalhes sobre sua situação. Foi também criado número de plantão emergencial em Brasília, por telefone ou WhatsApp (+55 61 98260-0787), que pode ser acionado pelos brasileiros.

    Os deputados Beatriz Gomes, Alexandre Vieira e Filipe Soares, parlamentares do Bloco De Esquerda (BE), de Portugal, assinaram uma carta com destino ao Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiro questionando o que tem sido feito para mandar de volta os expatriados de forma segura para suas casas.

    Na carta, os parlamentares ratificam que o grupo está completamente exposto ao vírus da pandemia e denomina como inconsequentes as soluções que vêm sendo apresentadas ao grupo até agora. “Muitos destes cidadãos e cidadãs possuem imunodepressões, patologias clínicas ou idades avançadas, pelo que o seu risco de exposição ao vírus é ainda mais elevado. O cenário no exterior do Aeroporto de Lisboa é igualmente representativo do tratamento indigno a que estão a ser sujeitas estas pessoas, sendo muitas aquelas que compõem as filas quilométricas que se vão aglomerando no exterior e sem quaisquer certezas sobre quando e de que forma poderão retornar aos seus países de origem”.

    Mas a falta de informação efetiva é o que tem preocupado Mariana Camillo Rocha, uma das brasileiras que também teve seu ticket cancelado nos últimos dias. Ela conta que tentou entrar em contato com a Embaixada, preencheu pelo menos 12 vezes o formulário eletrônico com suas informaçõse detalhadas – primeiro passo após enviar uma mensagem via WhatsAPP. Mas tudo em vão. 

    “Os nossos voos estavam marcados para hoje (22/03), mas foram cancelados no dia 17. No mesmo dia do cancelamento já entramos em contato com a companhia e, desde então, estamos tentando voltar. Não deixamos para resolver de última hora. No dia 18/03 foi nosso primeiro contato com a Embaixada, via e-mail, mensagens, tentativa de ligações; mas ontem descobrimos que eles não estão fazendo nada. Não temos para onde ir, a dona do Airbnb que estávamos não quer nos ajudar, nem mesmo cobrando mais barato”, relata.

    Segundo Camila, que estava em Portugal a passeio com outros três amigos, o falta de informação no aeroporto é grande e nem todos podem ter acesso à parte interna, para tentar contato com outra companhia, tentar negociar um novo bilhete. “Os seguranças estavam na porta, só pode entrar quem já tem bilhetes confirmados”. 

    O Jornalistas Livres em Lisboa também tentou contato com a Embaixada do Brasil por diferentes vias, mas não houve resposta. Segundo a presidenta da Casa do Brasil de Lisboa, Cyntia de Paula, apesar de associação ter um trabalho voltado para os migrantes em Portugal, foram muitos os pedidos de socorro por parte dos turistas que não conseguiram embarcar de volta e não conseguem contato com a representação oficial do Brasil no país luso. “Essa é uma situação emergencial, que também necessita uma resposta de emergência, para que sejam garantidos os direitos básicos das pessoas. Tem gente que está lá e não tem dinheiro para pagar hostel, não tem mais dinheiro para pagar comida”, ressalta Cyntia. 

    São poucas as companhias a operar neste momento, a TAP está sendo a principal, com voos diários para São Paulo. Mas mesmo aqueles que tiveram condições financeiras de pagar média de 350€ (quase 2 mil reais), para conseguir um assento de última hora nos próximos dias, ainda não está está completamente seguro se vai conseguir retornar, tendo em vista que as reservas ainda correm o risco de serem canceladas. Aqueles que não contam com recursos para se arriscarem comprando um novo ticket, contam apenas com a incerteza e esperança de que alguma autoridade brasileiras ou o Governo Federal e suas representações no exterior possam ajudá-los.

    A falta de suporte fez o grupo de brasileiros se articulam pela plataforma Vakinha para conseguirem arrecadar fundos para pagar as despesas básicas necessárias até que uma solução seja negociada. 

    https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/152500835980465/

     

  • Mulheres em luta contra o capital

    Mulheres em luta contra o capital

    Por Clara Luiza Domingos, especial de Lisboa para Jornalistas Livres*

    No dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher Trabalhadora, as ruas de Portugal foram ocupadas pelas milhares de portuguesas e mulheres imigrantes em Portugal que estavam em luta contra o machismo sistêmico e cultural. Proposto pela marxista alemã Clara Zetkin, o Dia Internacional da Mulher Trabalhadora é o símbolo da luta emancipadora das mulheres e permanece como um importante dia de luta pelo progresso social e igualdade de direitos.

    Ameaçadas pelo feminício, violadores, impedidas de ter acesso a um aborto seguro e legal em muitos países, corpos explorados, disparidade salarial entre homens e mulheres, sobrecarga pelo trabalho doméstico invisibilizado, jornadas duplas, triplas, relações abusivas. Essas são algumas das dificuldades que a mulher do segundo milênio ainda enfrenta e a impede de alcançar emancipação plena. Essas, entretanto, são também a força motriz para que a mulher, ainda que subjugada frágil pela sociedade, se rebelem radicalmente contra o sistema, exijam mudanças no comportamento dos homens e paralisem as ruas a cada novo dia 8 de março.

    Em Lisboa, duas organizações feministas distintas foram responsáveis por mobilizazem milhares de mulheres para irem às ruas na data simbólica. Por vias diferentes da cidade de Lisboa, mulheres protestaram por seus direitos e reconhecimento, acusando bravamente a estrutura capitalista pela posição de exploradas, cuja mulher ainda está inserida nos dias de hoje. 

    No marcha que seguiu pela Avenida da Liberdade de Lisboa, conduzida pelo Movimento Democrático de Mulheres, pertencente ao Partido Comunista Português (PCP), camponesas e mulheres do interior de Portugal mostraram o poder do feminino e a sabedoria das mais velhas. Mulheres da terra marcharam com seus trajes típicos e cânticos de força. Assista à cobertura da marcha ao vivo feita pela equipe de correspondentes do Jornalistas Livres em Portugal. Logo no início, são as mulheres alentejanas expressam um de seus cantos:

    https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/555113275351448/

    Cobertura: Bruno Falci / Jornalistas Livres

     

    Múltipla e diversa, a Rede 8 de Março unificou coletivos e organizações feministas para que as mulheres saíssem juntas pelas ruas de Portugal na data representativa para a Greve Internacional Feminista, em direção à Assembleia da República de Portugal. Todas as vozes foram bem-vindas, cada qual com sua bandeira, num único tom, fazendo prevalecer a luta de seus direitos. Além de Lisboa, as cidades de Coimbra, Porto, Braga, Aveiro, Amarante, Évora, Faro, Viseu, Vila Real e Ponta Delgada tiveram as ruas tomadas pela onda roxa de mulheres marchando juntas por igualdade de direitos.

    https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/2308165219480664/

     

    https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/192909505303072/

    Cobertura: Clara Luiza Domingos

     

    manifesto da Rede 8 de Março destaca-se que as mulheres em toda sua pluralidade têm se levantado em defesa dos seus direitos, contra a violência, a desigualdade e preconceitos. “As violências que sofremos são múltiplas, a Greve que convocamos também o é. No dia 8 de Março faremos greve ao trabalho assalariado, ao trabalho doméstico e à prestação de cuidados, ao consumo de bens e serviços”

    Andreia da Rede 8 de Março explicou os pilares do manifesto e o porquê de acreditarem que este são os próximos passos para a emancipação da mulher em Portugal.

    Durante a Greve, a atriz feminista, performer audiovisual e produtora de arte Samara Azevedo, representou o Coletivo Andorinha – Frente Democrática Brasileira de Lisboa. Em sua fala, ela marcou o posicionamento do coletivo em defesa das tantas brasileiras e outras imigrantes de Portugal que são muitas vezes estigmatizadas e vítimas da violência racista e xenofóbica. 

    O Coletivo Andorinha – Frente Democrática Brasileira de Lisboa surgiu em 2016 juntamente com as manifestações que aconteceram em todo Brasil e em várias cidades do mundo contra o golpe parlamentar-jurídico-midiático em curso na época, para fazer resistência internacional em defesa da presidenta democraticamente eleita Dilma Rousseff. Assista a fala de Samara Azevedo abaixo:

    https://www.instagram.com/tv/B9fZZlVn2qf/

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    Diferentes nacionalidades, representações políticas, coletivos, organizações se concentraram no Largo Camões antes de iniciarem a marcha até a Assembleia da República. O fotógrafo e filmaker Guilherme Stein contribuiu com o Jornalistas Livres em Lisboa e produziu um vídeo durante o momento a concentração da Greve Internacional Feminista. Pilar Del Rio, jornalista, escritora, tradutora espanhola e presidente da Fundação José Saramago foi uma das mulheres mandou uma mensagem de resistência via vídeo.

    Vídeo e edição: Guilherme Staine

     

    Greve Internacional Feminista em Portugal

    O Jornalistas Livres em Portugal também acompanhou os atos da Greve na cidade de Porto e Coimbra. Em Coimbra, a Rede 8 de Março mobilizou mais de 500 pessoas para o ato. A organização liderada pela Rede também contou com o apoio de outros coletivos da cidade, bem como a reivindicação de pautas diversificadas. Coimbra é uma cidade com mais de 4 mil estudantes internacionais, o que proporcionou à Marcha uma variedade de denúncias e reivindicações internacionais.

    https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/256303835365021/?vh=e&d=n

    https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/1274645632925233/?vh=e&d=n

     

    Cobertura: Luiza Abi Saab

    Na Cidade do Porto, PT, também foi a Greve Feminista Internacional que mobilizou as mulheres locais. A marcha celebrou a diversidade. Mulheres e simpatizantes do movimento feminista em busca da melhoria da educação, igualdade social, pela precariedade e desigualdade laboral,  e o não ao feminicídio, que está a crescer em Portugal. Por isso, nas ruas elas pedem: Basta!

    https://www.instagram.com/tv/B9et5UcB-4R/?igshid=t9tpqek7ob6x

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    Cobertura: Nilce Costa

  • Boaventura de Sousa Santos fala sobre as esquerdas no poder em Portugal e Espanha

    Boaventura de Sousa Santos fala sobre as esquerdas no poder em Portugal e Espanha

    Entrevista de Bruno Falci e Luiza Abi Saab, em Coimbra, especial para o Jornalistas Livres

    Texto: Bruno Falci / Jornalistas Livres

    O professor Boaventura de Sousa Santos, doutor em Sociologia do Direito pela Universidade de Yale (1973) e professor da Universidade de Coimbra e Coordenador Científico do Observatório Permanente da Justiça Portuguesa, recebeu-nos em sua sala no CES – Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra para a terceira mais uma edição do “Jornalistas Livres entrevista em Portugal” , ciclo de conversa realizado pelos correspondentes do JL em Portugal. Na Universidade de Coimbra, onde é professor, Boaventura abordou diversos temas de âmbito internacional da atualidade. Entre esses temas, destacam-se a aliança política empreendida pelos partidos de esquerda em Portugal (conhecida pela denominação de Geringonça), que passa por mutações após as últimas eleições legislativas no país, assim como a experiência recente de uma coalizão de esquerda na Espanha.
    Há alguns anos, Sousa Santos afirmou que Portugal era o único país de esquerda da Europa que realmente a governa à esquerda, através da aliança do Partido Socialista (PS), Partido Comunista Português (PCP) e Bloco de Esquerda (BE). O cenário atual apresenta a Espanha tendo uma experiência de coalizão de esquerda, através da junção de projetos do Partido Socialista e do Podemos. Essa coalizão apresenta traços semelhantes à Geringonça portuguesa, composta pelo PS, PCP e BE? Considerando o resultado das últimas eleições parlamentares realizadas em Portugal, podemos considerar que essa aliança pluripartidária de esquerda ainda existe no país?
    O professor emérito do CES responde a essas indagações:
    “O processo espanhol recebeu influência do processo português. Muitos de nós, eu próprio incluído, tenho fortes amizades com o Podemos desde o seu início. Sou muito amigo do Pablo Iglezias. Escrevi um livro no Brasil intitulado “Esquerda do Mundo, Uni-vos”, que está na segundas edição pela Editora Boitempo, em São Paulo. Este livro também foi publicado na Espanha e leva a ideia da unidade das esquerdas antes que os fascistas cheguem ao poder. Eu vi com muita força aqui em Portugal em 2015, quando a ultra direita aplicou as medidas de ajuste estrutural, destruindo parte do que era o nosso estado de bem-estar e as políticas sociais. Vi que havia uma ameaça e os portugueses precisavam votar à esquerda, pois a direita estava unida e a esquerda, como sempre, desunida”.
    Sousa Santos esclarece que “ que esse processo denominou-se de geringonça e foi criado por quem não gostava da união das esquerdas. Adotamos esse nome e hoje ele já tem sinônimos e traduções em inglês e alemão. Isto é uma inovação política obviamente. Chama-se geringonça porque é a primeira vez que os partidos de esquerda se uniram e não era uma coisa muito frequente na Europa, pelo contrário. Era um acordo muito limitado com pontos muito definidos e escritos. Os partidos divergiam em muitas coisas e se declaravam que, pelo menos, em alguns pontos estavam de acordo em por fim às privatizações, estavam de acordo em defender um sistema nacional de saúde e privilegiar a educação pública, aumentar o salário mínimo nacional, aumentar as pensões mais baixas. Havia muitos pontos em desacordo, mas nesses estavam em acordo. Esse foi o modelo pragmático e tem a característica de ser somente dos partidos de esquerda. Até as eleições passadas esse modelo funcionou bem”
    Para Boaventura de Sousa Santos não existe mais uma geringonça formal na política portuguesa como anteriormente. O que existe hoje é uma geringonça informal, que já está sendo mostrada no Parlamento, na discussão do orçamento.
    Entrevista completa no vídeo abaixo:

     

    Jornalistas Livres entrevista em Portugal

    A entrevista realizada com o professor de  Boaventura de Sousa Santos é a terceira realizada pelos correspondentes do Jornalistas Livres em Portugal, para o programa especial de entrevistas e discussão sobre a sociedade, política e direitos humanos. Outras duas entrevistas já foram realizadas para o ciclo, a estreia foi realizada com o ator, roteirista, diretor e militante do PCdoB, Benvindo Sequeira, que atualmente mora em Portugal, em uma entrevista ao vivo pelo facebook. O segundo encontro foi com o também ator brasileiro Paulo Betti, ao vivo pelo Facebook. O ator que passou uma temporada em terras lusitanas apresentando sua peça “Autobiografia autorizada” e participando de outros encontros culturais, conversou com o Jornalistas Livres em Portugal sobre a cultura, suas impressões sobre Portugal e o cenário político no Brasil.

    Além de Sequeira, Betti e Sousa Santos; os correspondentes do Jornalistas Livres em Portugal também vão entrevistar outras figuras públicas, ativistas dos mais diferentes da sociedade brasileira, portuguesa, da América Latina e mundo que estejam morando ou de passagem por Portugal. Acompanhe as chamadas de entrevistas pelas redes do JL e participe ao vivo conosco das transmissões pelo facebook enviando comentários e perguntas.

    Abaixo as entrevistas com Bemvindo Sequeira e Paulo Betti:

    https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/o-ator-humorista-diretor-de-teatro-cinema-bemvindo-sequeira-%C3%A9-o-primeiro-convida/2554616894814026/

    Entrevista por Bruno Falci e Clara Luiza Domingos / Jornalistas Livres

     

    Entrevista por Clara Luiza Domingos / Jornalistas Livres

  • Polícia portuguesa agride brasileiras no carnaval de Lisboa

    Polícia portuguesa agride brasileiras no carnaval de Lisboa

    Por Clara Luiza, de Lisboa , especial para o Jornalista Livres

    A folia de carnaval em Lisboa terminou em agressão física por parte da PSP (Polícia Portuguesa) na noite do último domingo (23/02). Duas mulheres brasileiras foram agredidas de forma desproporcional por um grupo de agentes da polícia do serviço especial da capital portuguesa, ao lado da Estação do Cais do Sodré, ponto de encontro dos foliões após os cortejos de carnaval. O vídeo da agressão foi divulgado por uma das vítimas da ação brutal dos policiais.

    https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/251294645863829/

    Tai Barroso, editora do jornal lisboeta Rosa Maria, mora em Portugal há 2 anos e meio tenta proteger a mulher que estava sendo já violentamente abordada pelos agentes.  Os policiais, então, responderam de forma truculenta. Um deles usa o cassetete para imobilizá-las, joga-nas no chão e, no ápice da falta de controle por parte da equipe de polícia, um outro agente dispara um tiro para o alto, no meio dos foliões. A mulher que estava sendo agredida inicialmente prefere não ser identificada, mas em contato com Tai, revelou que sofreu uma fratura na cabeça e precisou ser suturada com seis pontos. Ela ainda afirmou que a violência foi gratuita e não houve nenhuma razão para que a polícia a agredisse.

    a PSP se pronunciou ao jornal português Expresso admitindo que os agentes recorreram ao uso da força para deter uma mulher que, segundo eles, era suspeita de integrar um grupo que causou distúrbios no domingo na zona do Cais do Sodré. Em outras palavras, havia um grupo de foliões ocupando a rua do bar, onde ocorria a ressaca dos bloquinhos de Lisboa, quando a polícia tentou avançar com suas viaturas pela mesma rua e, impedidos pela multidão que ocupava a rua, partiram para a brutalidade.

    Abusos por parte da PSP tem se tornado frequentes o suficiente para indicar a xenofobia e o racismo sistemático de Portugal.  Este não é o primeira vídeo de agressão por parte da polícia de portugal que é registrado na rua. Há pouco mais de um mês, no dia 19 de Janeiro, foi o caso de Cláudia Simões, mulher negra espancada por agentes da PSP que se tornou público. Cláudia foi espancada pela PSP em frente à sua filha de 8 anos, após ser insultada pelo motorista do ônibus de Vimeca, região do concelho de Lisboa. O que gerou toda a agressão foi o fato da filha ter esquecido o passe em casa. Depois de agredir, algemar e humilhar Cláudia, a PSP justificou a atitude brutal como “estritamente necessária para o efeito à resistência de Cláudia”.

    Cláudia Simões mostra o rosto com hematomas após ataque da polícia portuguesa. Foto: Ana Baião / Jornal Expresso
  • Nasce Coletivo Paulo Freire, em Lisboa

    Nasce Coletivo Paulo Freire, em Lisboa

    Por Coletivo Paulo Freire especial para Jornalistas Livres

    Na noite do último dia 23 de janeiro, no núcleo de Lisboa da Associação José Afonso (AJA), foi lançado o Coletivo Paulo Freire. Este se define enquanto um movimento cívico, sem fins lucrativos, autónomo em relação aos partidos, radicalmente democrático e voltado para o progresso social. É composto por educadores brasileiros e portugueses, interdisciplinar, integrado por profissionais de diferentes áreas e artistas em diversas linguagens. Seu objetivo é desenvolver atividades de educação e cultura populares, com ações de formação, discussão e produção de um conhecimento crítico e libertador, aliando o pensamento e a atuação social, com a ciência e a arte. Além de inspirado pelo pensamento de Paulo Freire (1921-1997), procura divulgá-lo em Portugal.

    É assim uma ação de resistência contra a grande ofensiva que a extrema-direita brasileira, liderada pelo atual governo Bolsonaro, tem realizado contra o patrono da educação brasileira, pensador reconhecido internacionalmente e o terceiro autor mais citado no mundo na área de humanas. O posicionamento abertamente marxista e católico do autor de “Pedagogia do Oprimido” (1968) o tornou alvo preferencial dos fundamentalistas e, por isso, a defesa de seu pensamento é hoje um elemento na luta em defesa da democracia brasileira. A própria decisão de construir o coletivo foi tomada por alguns dos participantes da “Marcha Amorosa”, que marcou o aniversário de Paulo Freire em todo o mundo, e que em Portugal, por uma questão de segurança, foi realizada na marcha final da Festa do Avante!

    Numa sala lotada, com mais de oitenta participantes, refletindo o enorme interesse despertado por Paulo Freire e por sua obra, foi apresentada a primeira ação, já em curso, de alfabetização e reforço de leitura com os utentes do centro de dia da Comissão Unitária de Reformados, Pensionistas e Idosos (CURPI) de São João da Talha. No projeto, que adotou o nome do grande poeta popular algarvio, António Aleixo (1899-1949), se desenvolve um trabalho com o uso de poesias e um banco de memórias, com o registro de suas histórias, para desenvolver a sua autonomia e consciência.

    Primeiro encontro do Coletivo Paulo Freire, na cidade de Lisboa, em Portugal. Foto: Facebook Coletivo Andorinha

    Com a presença de várias instituições, como a Associação Mares Navegadas; a Associação para o Desenvolvimento das Mulheres Ciganas Portuguesas (AMUCIP); do projeto Literacia para a Democracia e da Associação Portuguesa para a Cultura e Educação Permanente (APCEP); da Associação Portuguesa de Recursos Hídricos; do Sindicato de Professores da Grande Lisboa (SPGL), a própria AJA, entre outras, se apresentaram outros projetos em vista, e para o qual se procuram parceiros. Entre estes está a viabilização da presença de obras de Paulo Freire nas bibliotecas públicas e universitárias portuguesas, do qual está quase ausente, apesar da longa história de movimentos, antes e depois do 25 de Abril, que se utilizaram do método de Paulo Freire para alfabetização de adultos.

    Como apontado pelos membros do coletivo, essa iniciativa, um desdobramento de um grupo de estudos sobre a obra de Paulo Freire e sua relação com a Sociomuseologia, é um exercício de coerência com a obra do marxista brasileiro que, como notado por um dos apresentadores, “sempre foi um exemplo de práxis, aliando sua teoria à prática social”. Foi isto que também ressaltou o representante do Partido Comunista Português (PCP), André Levy, na sua saudação ao Coletivo que nascia, dizendo que se “revêem também na ideia de educar não só para compreender o mundo, mas para transformá-lo”.

    Para encerrar a atividade, marcando seu caráter também cultural, ocorreu a apresentação de músicas do cancioneiro português, com o cantor e maestro João Silva, a participação da cantora brasileira, Mabel Cavalcanti, ambos acompanhados pelo excepcional tecladista, João Marques.

  • Deputada do governo explica a mudança da aliança de esquerda que conduz Portugal

    Deputada do governo explica a mudança da aliança de esquerda que conduz Portugal

    Por Isabel Moreira, deputada do Parlamento português pelo Partido Socialista. Especial para o Jornalistas Livres

     

    A Geringonça acabou?

    Sim e não.

    Passo a explicar.

    Em 2015 fez-se história. PS, PCP, BE e PEV entenderam-se pela primeira vez. O PS foi Governo com o apoio parlamentar de toda a esquerda e assim deu-se voz à maioria parlamentar que rejeitava a manutenção do Governo de direita.

    Em Portugal havia uma espécie de barreira psicológica que impedia a esquerda de se entender, pelo que só a direita gozava desse privilégio. Fez-se história, portanto, ao acabar com um mito empobrecedor da democracia segundo o qual governar é coisa que assiste ao centro e à direita, fatalmente.

    Como é sabido, para a Geringonça ser Geringonça foram assinadas posições escritas entre o PS e os seus parceiros à esquerda contendo as matérias do guião que nortearia as chamadas posições comuns ao longo dos quatro que se cumpriram com estabilidade, como é sabido.

     Em outubro de 2019, o PS ganhou a eleições sem maioria. Após conversações com os Partidos à esquerda, não foram assinadas posições conjuntas. Na espuma dos dias ficam as acusações recíprocas. Naturalmente, o PS imputa ao BE a impossibilidade de acordo e o BE imputa ao PS a mesma impossibilidade. Não será difícil de compreender que haverá responsabilidades de todos e que se o PS precisa menos da esquerda para governar, os Partidos à esquerda do PS, em face dos resultados eleitorais, precisam de se distanciar mais do PS do que têm feito.

    Posto isto, se a Geringonça como a conhecemos acabou, o facto é que os parceiros preferenciais do PS continuam a ser os de sempre. As políticas deste Governo continuam as políticas da Geringonça, pelo que estranho seria que PCP ou BE, de boa fé, passassem a ser contra as mesmas.

    Por isso mesmo, no que toca ao Orçamento de Estado para 2020, a esquerda viabilizou-o na generalidade.

    Estou certa de que nesta legislatura teremos de negociar mais e de dialogar sempre, mas também estou certa de que serão os Partidos da  Geringonça  a demonstrarem que há um novo paradigma político em Portugal, no qual o PS é o file da balança da esquerda.

     

    Assista a entrevista exclusiva com a deputada Isabel Moreira, para o Jornalistas Livres