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  • Estado de exceção e direito penal do inimigo são duras realidades do Brasil

    Estado de exceção e direito penal do inimigo são duras realidades do Brasil

    Por Antonio Carlos Carvalho

    (Texto publicado originalmente pela Fundação Perseu Abramo neste link)

    Vivemos dias sombrios. Estado de exceção e direito penal do inimigo são duras realidades do Brasil. Se essa realidade nunca abandonou as periferias desse país, é verdade que agora ela se escancara aos olhos de quem quiser ver.

    A operação de um sistema jurídico que não garante defesa, que julga antes de conhecer as provas e que prende para obter detrações é sacramentada pelo constante apoio da campanha dos meios de comunicação, que, semana após semana, anunciam as balas de prata que acabarão com um mal comum único fabricado para distrair as desigualdades do Brasil.

    Essa poderia ser a descrição de outros períodos da nossa história. Ditaduras precisam existir no coração das pessoas. Carregar pra si o ódio, a raiva e a necessidade de perseguir um inimigo une pessoas, mobiliza emoções e cria um amálgama social destruidor.

    Esse foi o cerne das manifestações verde-amarelas e do golpe parlamentar viabilizado pelas forças da mídia brasileira, que se uniram à perseguição penal violenta da Operação Lava Jato. O inimigo comum estava declarado por essas forças: o PT é o fundador da corrupção e gerador da crise brasileiras, e precisa ser desligado do poder, extinto e combatido.

    Definidas a exceção e o inimigo, haveria ambiente para o estabelecimento de uma nova ordem política e econômica para o Brasil. Não contaram com um elemento: o povo. O povo é a regra, e não a exceção numa nação. E não existe liderança política da história desse país que conheça mais essa regra do que Lula. Ele já foi tratado como inimigo pelo Delegado Fleury, por Roberto Marinho, pelos Civita, pelos Mesquita, pelos Frias, pelos generais da ditadura, pelos proprietários das empresas metalúrgicas, pela aristocracia brasileira. Todos a bem de um ideal nacional. Sérgio Moro é o nome da vez.

    E querem que ele seja. Basta ver as capas das revistas Veja e Istoé desse final de semana. Lula virou inimigo nacional por ter um acervo presidencial, por frequentar Atibaia e por ter pensado em frequentar o Guarujá. E Moro, o combatente número um desse inimigo. Como as cascas de cebola de Hannah Arendt, o juiz de primeira instância do Paraná ocupa um papel na exceção que foi criada: o de tentar fazer valer alguma regra que não existe.

    Mas essa é mais uma travessia, para o povo brasileiro e para Lula. E, como diz Guimarães Rosa, citado no início do texto, é ali que está o real, a realidade, o fato. E a humanidade, os sentimentos, a felicidade, a democracia e a justiça social só podem aparecer nos fatos. Como nos natais que o presidente passou com catadores e catadoras, como na entrega da transposição do Rio São Francisco ao povo do Nordeste, no pau de arara que o trouxe para São Paulo, nas greves, nas ruas, nas duas vezes em que foi eleito para a presidência. E por isso ele é o inimigo. Travessia. Lula sempre teve a viola pra cantar.

     

     

  • Está começando a Jornada de Lutas pela Democracia – Curitiba 09hs00

    Está começando a Jornada de Lutas pela Democracia – Curitiba 09hs00

    Trabalhadores e trabalhadoras de todo o país começam a montar o acampamento da Jornada de Lutas pela Democracia em Curitiba.

    por Paulo Jesus
    por Paulo Jesus

    A cozinha já está sendo montada para o café da manhã e mais pessoas estão chegando.

    por Paulo Jesus
    por Paulo Jesus

    Mesmo com 12º de temperatura em Curitiba, 1500 pessoas já chegaram hoje no Acampamento da Democracia para prestar apoio ao ex-presidente Lula no depoimento à Sérgio Moro.

    por Cidoli

    A Polícia Militar já apareceu no início para intimidar os acampantes.
    O acampamento da Jornada da Democracia em Curitiba está sendo montado na Rua Dario Lopez dos Santos, entre Omar Sabagg e Viaduto do Capanema.Curitiba, 09 de maio de 2017, 09hs00.

    por Cidoli

     

     

     

     

  • O boato exequível, plausível e com gosto amargo antecipa e prepara o direita volver e convoca o esquerda prá valer

    O boato exequível, plausível e com gosto amargo antecipa e prepara o direita volver e convoca o esquerda prá valer

    A notícia do último dia 05/05 de que a Câmara dos Deputados preparava a conclusão do golpe, postergando as eleições para 2020, depois esclarecida pelo deputado petista Vicente Cândido, assustou muitos e correu as redes sociais. Não são poucos os que se lembraram das eleições que nunca ocorreram, prometidas para 1966, dois anos após o golpe de 64. Muitos também se lembram do início do processo de impeachment, lançado imediatamente após a segunda vitória de Dilma, mas que, na ocasião, poucos levaram a sério.

    Em 1964, vimos dois anos se transformarem em 20

    e o governo ditatorial ganhar volume e forma,

    cujas consequências desastrosas ainda pairam

    sobre o sistema político, o corpo e a alma dos brasileiros.

    Estamos hoje imersos nos efeitos imediatos de um golpe não ultrapassado e o bom funcionamento de seus mecanismos recém azeitados se atualizam todos os dias no novo golpe do presente. Hoje, vivemos no seio de outro golpe que anseia novamente por se consolidar indefinidamente. Seus autores não o reconhecem como golpe, portanto, seus protagonistas não reconhecem a necessidade de seu término. O golpe hoje é indefinido, sem tempo para acabar. Sua conclusão não ocorrerá após ‘uma destruição total dos direitos dos trabalhadores’ porque não há limites para alcançar essa totalidade.

    Estabilidade, direitos trabalhistas, previdência social

    não é tudo o que pode ser retirado dos trabalhadores.

    Ainda muitos podem ser empurrados para a pobreza através de mecanismos de hiperconcentração de renda sem limites, promovidos ou tolerados pelo Estado; sistemas como saúde e educação podem ser reduzidos a pó; escolas sem partido podem se tornar uma prática; o sistema judiciário pode ser completamente aparelhado pela ultradireita; milhões de pessoas comuns podem ser criminalizadas, perseguidas, etc. Ainda há muito por fazer. O poço não tem fundo.

    O passo decisivo, para o início do sem fim do golpe, após a deposição de Dilma, seria a subsequente prisão de Lula. Contudo esse passo ainda não pôde ser dado, já está atrasado e logo pode se tornar inviável. Portanto, e justamente por isso, nada indica que não se tentará fazê-lo a todo custo a partir de agora.

    19/03/2017- Monteiro- PB, Brasil- Os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff viajam para Monteiro-PB ao lado do governador Ricardo Coutinho. Foto: Ricardo Stuckert / Instituto Lula

    O momento é, contudo, de extremo risco porque a cada dia se torna mais difícil dar esse passo sem a possibilidade de gerar uma reação violentíssima e sem precedentes daqueles que, não apenas avaliam a gestão do ex-presidente como a melhor de toda a história brasileira, como observam e aguardam cada passo dado pelo juiz Sérgio Moro para denunciar seus novos arbítrios.

    Hoje, o juiz Moro não representa apenas aquele que comanda a operação Lava-Jato,

    ainda um herói para alguns,

    mas é também aquele que pode sepultar a democracia

    ao inviabilizar a candidatura à reeleição do presidente mais bem avaliado do Brasil e, ao mesmo tempo, deixar ilesos outros delatados sob sua jurisdição: Aécio Neves, Geraldo Alckmin, José Serra hoje descansam em berço esplêndido nas suas barbas, a despeito das inúmeras delações premiadas citando seus respectivos nomes associados a dezenas de milhões de reais em propinas por eles, supostamente, recebidas.

    Pouco a pouco as pessoas passam a enxergar a figura do Juiz como um efeito de luzes e sombras preservados pela Rede Globo e grupos que não tem plataforma política para o conjunto da nação a não ser o Fora Dilma! E o prende o Lula!

    A retórica vazia de grupos como MBL e Vem prá Rua,

    se esgoela como nunca e se torna cada vez mais verborrágica e violenta

    pela prisão do ex-presidente,

    porque é a única plataforma que lhes resta.

    Como um dos Brothers do reality show da emissora, o Juiz Moro, deve toda a sua fama e visibilidade à veiculação de seu nome e imagem pelos veículos de comunicação comandados pela Rede Globo. Sem ela, seria apenas um juiz de 1a instância como qualquer outro dos milhares que existem no país: desconhecidos e anônimos como qualquer trabalhador.

    30/03/2017- Brasília – Juiz Sergio Moro durante depoimento na comissão de reforma do Código de Processo Penal
    Foto: Lula Marques / AGPT

    Justiceiro, figurando nas pesquisas de intenção de votos para 2018 e rei dos pedidos de selfie, o juiz atua para se manter no centro do holofotes globais.

    O golpe jurídico-midiático-parlamentar alimenta fantasias

    instruídas pela pulsão de morte e práticas de pendor totalitário,

    portanto nunca será uma incoerência e nem um absurdo

    encontrarmos entre seus apoiadores devotos da volta à ditadura.

    Mas, isso significa apenas: queremos os milicos trabalhando para nós, fazendo nossa segurança, salvaguardando nosso patrimônio e torrando o dinheiro público para fazer a guarda pretoriana dos muito ricos e dos privilegiados. É claro que isso precisaria ser combinado com a bola antes do jogo, ou seja, com os militares.

    O discurso que apregoa dicotomizações é tolo e perigoso por princípio. Trabalha para simplificar questões muito complexas que exigem paciência e trabalho de pensamento. Trata-se de propagar o fim de algo, alguém, algum grupo, etnia ou categoria construído sobre os ideais da mesmidade. Proclama-se: um dia seremos um só, iguais, indiscerníveis e contentes. Um mundo de mesmidade, onde apenas os iguais subsistiriam se embebendo em sua própria semelhança.

    É essa fantasia secreta

    que alimenta muitas práticas violentas e discricionárias no Brasil

    e que se manifesta em inúmeras práticas corriqueiras

    travestidas de civilização, depuração, higienização e ordem.

    Essa é a ofensa que ninguém mais do que os mais brasileiros dos brasileiros, os indígenas e suas comunidades indígenas representam no Brasil. São os mais próximos e os mais distantes. São os estranhos em nós e por isso são vítimas dos maiores ataques e atrocidades, e negligenciados em sua semelhança e diferença por todos os governos até hoje. São os brasileiros, do Brasil profundo, que não se pode ver, conviver e deixar viver.(entrevista do diretor funai)

    Brasília – Índios do Acampamento Terra Livre fazem nova manifestação na Esplanada dos Ministérios (José Cruz/Agência Brasil)

    Com essa estratégia eliminacionista os grupos que hoje apoiam e compõem o governo conseguiram empurrar muitos ao cataclisma, instruindo e conclamando muitos a começar do zero, acabar com a raça dos petistas (não conseguem sequer analisar o espectro imenso dos movimentos de esquerda no país), dos comunistas, dos índios, dos vândalos, dos terroristas, dos vagabundos que fazem greve e que não acordam cedo. Porém, eliminar, matar, decepar, acabar são façanhas que só podem ser cometidas com um instrumento bem conhecido: a violência. Então, claro, são os aparatos de promoção e autorização das violências como o sistema de justiça, o sistema penitenciário, o sistema de segurança e as forças armadas que são, direta ou indiretamente, convocados para a realização da façanha. Desse modo trata-se de usar boa parte do estado brasileiro para realizar essa tarefa.

    Hoje, milhões em dinheiro público estão sendo gastos para acusar alguns, perseguir alguns e caçar a cidadania de alguns; milhões gastos na prática de injustiças e perseguições espetaculosas para violentar índios e movimentos sociais e para cometer graves violações de direitos sem a devida apuração.

    Malversação do dinheiro público não é apanágio dos que recebem propinas,

    mas dos que utilizam cargos e salários públicos

    para agir em interesse próprio, corporativo ou de classe.

    Nesse sistema e convocação aberta capturaram no conjunto da população os que passam as vidas procurando quem atacar e de quem se defender. São muitos, então a oferta de atacar os odiados construídos sob medida funcionou em sua primeira fase.

    Mas, a segunda fase do golpe encontra seu primeiro atoleiro. A despeito dos ataques vindos de todas as formas e todos os lugares, principalmente contra membros do partido dos trabalhadores, as pessoas estão comparando a virulência desses ataques com suas razões.

    Não entendem por que são tão atacados aqueles que realizaram conquistas incontestes para a população pobre e miserável, num contexto em que os muito ricos também ganharam. E não entendem porque conquistas inegáveis dos governos passados, claramente constatadas no cotidiano das pessoas mais pobres, são hoje tão atacadas por um governo que é flagrantemente poupado pelas mídias nacionais. O resultado disso é que pesquisas recentes indicam que uma eventual candidatura de Lula, alavancaria 6 vezes mais eleitores do que teria o atual presidente não eleito do país, o rejeitado Michel Temer que não teria qualquer chance de chegar a um eventual segundo turno.

    Nesses últimos anos nem Lula, nem o PT e nem a esquerda foram destruídos.

    Ao contrário, muitos grupos e movimentos se fortaleceram, continuam nas ruas e outros foram criados. Exemplo disso é que meses após a conclusão da primeira fase do golpe seria impossível pensar numa greve geral com a adesão de 35 milhões de pessoas, porém no último dia 28 ela foi realizada com êxito.

    28 04 2017-São Paulo SP Brasil -Manifestação das Centrais Sindicais contra as mudanças trabalhistas e da Previdencia no Largo da Batata .Foto Ricardo Stuckert

    Começaram a falhar os artifícios do golpe e seus artífices são empurrados para acentuar seus ataques aos instrumentos de preservação da democracia. Diante disso, certamente, preparam o segundo tempo do golpe que só virá a tona mais próximo das eleições, caso a prisão de Lula não seja realizada a fórceps. Nesse caso, os desdobramentos sociais e políticos são imprevisíveis.

    Inúmeras novas forças de esquerda surgem no país e as já existentes se fortalecem, mais cientes do que houve no país e da premência em assegurar, num futuro breve, a democracia que perdemos.

    Mesmo parte significativa da população que atendeu os chamados da Globo, bateu panelas e apoiou o impeachment percebe hoje a parcialidade flagrante do juiz Sérgio Moro quando, a despeito das dezenas de delações sobre Aécio Neves, José Serra, Michel Temer e seus ministros tudo é feito com grande discrição, sem alarde, quase no silêncio, enquanto qualquer fato envolvendo Lula e membros do PT se transforma em espetáculo. Pois bem, o exagero desse espetáculo começa a gerar o efeito contrário. Como um bolo predileto enfiado goela abaixo começa a gerar náuseas.

    Esses ex-batedores de panelas não esperam que membros do partido dos trabalhadores sejam poupados, mas esperariam tratamento igualitário para todos os delatados, sem o que tudo ganha a feição de quadrilha, grupo e facção que se auto protege sob as asas do mais novo caçador de marajás: Sérgio Moro

    Já é possível entrever e suspeitar das intenções da operação Lava-Jato e do juiz e, se tudo seguir como está, logo mais se poderá se chegar à seguinte conclusão: afinal não se tratava de combater a corrupção, mas deixar a corrupção apenas para os parceiros, amigos, comparsas. Não havia embate ideológico e concepção de país, mas pressa em proteger apaniguados e neutralizar inimigos.

    Aécio Neves, José Serra até ontem arautos da decência e da honestidade, hoje não tem moral para subir na tribuna do Senado para acusar ninguém. Não há coerência, não há lógica e não há como justificar isso, a não ser como fábula, brincadeira de mau gosto e delírio.

    Os governistas e golpistas ultrapassaram,

    não apenas os limites da decência,

    mas da lógica, da compreensão e do entendimento.

    Quem, em sã consciência,

    acreditaria que a retirada avassaladora de direitos do trabalhador

    é para o bem do trabalhador?

    Quem acreditaria que as medidas de ataque aos direitos humanos dos indígenas, dos trabalhadores e da população que depende de seus salários é para o bem dos brasileiros?

    A quem os governistas estão se dirigindo supondo que são completos imbecis? Ao conjunto da população brasileira?

    O rebote Lula, que o coloca nas alturas nas pesquisas de intenção de votos em 2018, está ocorrendo também porque há uma carência de discursos fiáveis, inteligíveis e inteligentes, porque a prática e os discursos burros, violentos, dicotômicos já exauriram a muitos e todos precisam da volta à alguma sanidade, a alguma palavra e ação pautada por uma ética compartilhável e plausível.

    Lula na cadeia, fora Dilma…o que mais? Tais bravatas não comunicam mais e juram de morte o devir da palavra e da própria linguagem no debate público.

    As pessoas voltam a buscar a palavra fiável e acreditam nas palavras de Lula, a partir daquilo que cumpriu do que prometeu no passado. Nem se lembram do que prometeu e não cumpriu, tamanha a carência de algo e alguém em quem acreditar.

    06/05/2017-São Paulo- SP, Brasil – O ex presidente Luiz Inacio Lula da Silva durante visita a Feira de organicos do MST na Parque da agua Branca.
    Foto: Filipe Araujo

    Todos sabemos que estamos diante de um presidente ilegítimo, que age antes como um usurpador de direitos da população pobre e vulnerável na calada da noite, e que agravará severamente o momento frágil e delicado pelo qual o país atravessa.

    Presidir para destruir.

    O atual presidente sem votos vai à televisão anunciar que vai abandonar a vida política em 2018. Não é verdade, como nada do que diz é fidedigno. A verdade de sua entrevista estará em outra frase: “Só espero que as reformas deem certo e que não haja necessidade de pedirem para eu continuar“. As intenções se encontram do lado oposto onde a grande imprensa jogou o foco e a luz. Podemos assim traduzir: “Fico até concluir minha tarefa porque há forças capazes de me manter no poder até lá.”

    Essa forças estão entre os 2% que hoje o apoiam.

    Prepara-se um conflito de 2% contra 98%.

    Por outro lado, na hipótese de Lula chegar ao poder uma vez mais, não haverá mais concessões ao Partido dos Trabalhadores. Ele terá de cumprir as promessas ainda não realizadas em seus dois mandatos anteriores e no tempo de Dilma, cujo não cumprimento colocou a democracia sob ataque, vulnerável e em risco; terá de trabalhar para devolver o que foi retirado dos trabalhadores; terá de se cercar de grupos e pessoas que hoje estão nas ruas construindo uma nova esquerda; terá de abrir o PT à sua transformação radical ouvindo os que, verdadeiramente, lutam pela democracia dentro e fora de seu partido; terá de lutar com unhas e dentes contra os oligopólios da grande mídia que massacram a democracia possível todos os dias.

    Ninguém pode mais se dar ao luxo da ingenuidade,

    após ter vivido a história recente do país,

    muito menos Lula.

    Quanto ao juiz Sérgio Moro, hoje parece que ele já se arrisca a ser lembrado no anais da história menos ao lado de um Giovanni Falcone e mais ao lado de um Lalau.

  • A morte, os moraes e os moros

    A morte, os moraes e os moros

    Quando alguns se colocam no papel de justiceiros

    contra inimigos escolhidos a dedo

    e insistem em permanecer nesse pedestal de barro é evidente que, enquanto o fazem, consideram que suas ações são incólumes e que não serão julgadas pela história. Os nazistas pensavam assim, os generais latino americanos pensam e pensavam assim, os Botha pró apartheid da África do Sul pensavam assim, os colonizadores escravocratas nas américas e etc. Estavam todos fazendo o bem para as pessoas que escolhiam defender, proteger, adular e fazendo o bem ao matar, torturar e explorar os inimigos desde suas posições de prestígio e poder institucional que grupos determinados e/ou uma parcela significativa da população lhes conferia. Não estavam sozinhos. Gozavam do apoio ou da omissão de muitos.

    Difícil afirmar qual o papel que o massacre à Lula e sua família tiveram na debilitação e morte de Dona Marisa. Ataques contínuos, odiosos, violentos e arbitrários contra a história, filhos e honra matam pessoas, mas é difícil aferi-los porque se misturam a muitos outros fatores que também determinam uma morte prematura ou um sofrimento que, pouco a pouco, conduz à debilidade psíquica e física que desencadeia o fim de uma vida.

    O ódio mata, sempre matará e continuará matando,

    mas ele o faz de modo invisível,

    sorrateiro e poucas vezes pode ser flagrado para ser julgado.

    Por isso é capaz de ceifar muitas vidas na obscuridade e na covardia.

    É claro que muitos odiosos, além do promotor público Rômulo Paiva Filho, ou do médico Richam Faissal Ellakis e tantos outros bem formados, bem alimentados e vestidos, nesse exato momento devem estar celebrando a morte da esposa de Lula. E desejando a morte do próprio Lula, se possível, com requintes de crueldade.

    Mas o ódio gera uma alegria imbecil para o odioso e destrutiva para o conjunto da comunidade e a sociedade onde vivem os odiosos, porque não se sacia com a morte de um. Ele migra para outros, nos quais os odiosos vestem uma carapuça de ferro por eles mesmos inventada, e neles atiram até aniquilá-los, e mais outro, gerando o círculo de violência que quando iniciado é muito difícil estancar. Tal prática não é episódica e eventual. Alguém imagina o que deve sentir o médico Raicham Faissal Ellakis por pacientes que o importunam no meio de um jantar ou o que pensa o promotor Rômulo Paiva Filho por colegas de profissão que lhe são adversários? O ódio é um hábito para alguns.

    Por vezes uma morte é a resultante de

    uma impossibilidade de resistir e um desejo de partir.

    Outras vezes é efeito da arrebentação de uma onda de injurias

    que destrói o sentido da vida

    e corrói as esperanças no futuro.

    Mas assim como surgem algozes, surgem também os que resistem aos algozes. Não são heróis, mas revoltados, injuriados, indignados e podem se tornar violentos diante da falta de alternativas. Isso acontece diante de um sentido de urgência, uma ininteligibilidade radical que orienta a reagir sempre que a sobrevivência está ameaçada. Se pessoas forem reduzidas a bichos, reagirão como bichos.

    Por mais desacreditado que esteja o sistema judiciário e de saúde no Brasil, fato é que quando flagramos os operadores do direito defendendo a injustiça e os médicos propugnando o ódio e a morte é sempre incitador de profunda revolta e medo no conjunto dos cidadãos. Os membros da sociedade letrada e rica têm defendido impropérios, violências e instigado a truculência mas não sabem com o que estão mexendo.

    Eles que chamam de bandidos os que lutam por um pedaço de terra;

    de vagabundos os que lutam por teto e abrigo e

    de vândalos os que lutam por educação digna,

    pecam por ignorância profunda e

    medo rasteiro de perder privilégios de classe.

    Cindem os movimentos sociais do sentido de suas lutas porque é exatamente o que tem de fazer para odiar. Inventar categorias que não existem; cindir causa e efeito; apartar os sujeitos de suas histórias; os homens de suas responsabilidades e dinamitar o pensamento e a reflexão sem ter o que por no lugar.

    Crianças de 3 anos podem fazer isso. Empurram o irmão da escada para destruir o que acham que seria um obstáculo à sua alegria e felicidade. Tornam-se, por essa via, cúmplices e artífices de violências e reações contra elas mesmas. Passarão logo a serem vítimas de crueldades que estão incitando, proclamando e defendendo, mas não serão capazes de cessá-las.

    Querem causar o desastre,

    mas jamais se responsabilizarão pelas consequências

    e jamais saberão como evitá-las.

    Não é possível acusar ninguém por uma morte cuja causa se esgota nas explicações sobre o corpo, mas é preciso ficar atento para rastro que o ódio deixa e que promete deixar mais óbitos atrás de si. A morte, efeito de ódios, é o caldo que faz recrudescer desejos de vingança e por aí os círculos da revolta se fecham, porque quando iniciados imantam a violência infinita que reduz toda disputa à contenda física paralisando por muito tempo o pensamento. Todo argumento perde valor e sentido e tudo se resume ao gosto ou desgosto do momento. Amo ou odeio e ponto final.

    A paz só reina duradouramente quando há

    senso de justiça, igualdade e futuro,

    ela precisa de nossa capacidade de imaginar, pensar e inventar. Sem isso somos bichos, predadores e presas, que podemos conduzir a um mar de dores insuperáveis, que só quem as viveu em outros momentos de crise pode testemunhar.

    Quando isso acontece o ódio veste sua armadura, autoriza-se e reage rompendo barreiras de decência e eliminando limites antes construídos com lutas e dificuldades em nome de um convívio possível e duradouro entre diferentes e divergentes. Estamos no Brasil muito longe da paz e muito próximos da guerra. Sempre estivemos, mas agora tudo assume ares de iminência.

    Há muitas maneiras de interpretar a morte de alguém. Pode ser mera casualidade, pode ser o destino, pode ser uma fatalidade, mas há outras interpretações que veem na morte a resultante de um processo de crueldades que não puderam ser cessadas pelas instituições e pessoas investidas de representação e legitimidade para fazê-lo e que deviam, por obrigação moral e ética, tentar evitar o pior e não insuflá-lo. O efeito colateral de interesses que dependem de mortes para se manterem ativos será a revolta e as ações sem previsão que elas engendram.

    Não temos mais como nos enganar,

    morreu Dona Marisa,

    o alvo agora é Lula,

    a despeito dos abraços comovidos e dos cumprimentos cínicos que povoaram o hospital Sírio-Libanês. Outros, milhares de alvos são exterminados nesse momento em muitas cidades brasileiras. Depois outros virão.

    A escória das elites brasileiras não pretende apenas atacar pessoas. Seu plano é muito mais ambicioso. Conduzir o Brasil ao que era: um imenso latifúndio de escravos e miseráveis com açoites em poucas mãos. Todavia muitos que se aproveitam desse momento não estão interessados nisso exatamente. Eles aproveitam a oportunidade para demonizar, matar, cruelizar e praticar, sem condenação, inefáveis maldades a céu aberto. O promotor Rômulo Paiva Filho e o médico Raicham Faissal Ellakis foram porta vozes de muitos. Um deveria zelar pela justiça o outro pela vida. Se formaram para isso. Porém num segundo tornaram-se boçais que instigam outros a beberem vísceras e sangue. Hienas roendo carcaças. Estamos no fundo do poço e o caminho só pode ser para cima.

    A morte cruel não encerra nada,

    mas dá início a um processo de dor e ressentimento

    que dificilmente poderá ser cessado

    com abraços protocolares à beira do caixão.

    A morte poderá nos instruir a nos levantarmos antes que outras mortes ocorram. E diante da premência de uma onda de maldades que não encontra termo, teremos de estancá-las de um jeito ou de outro.

    Teori morto, Moraes já vestia a toga para substituí-lo. Mal termina o sepultamento de Marisa e as armas já estão engatilhadas para Lula. Enquanto isso corpos são empilhados em todas as cidades brasileiras e aqueles que reclamarão seus mortos se multiplicam.

    Estaremos próximos de ter de decidir entre matar ou morrer?

     

    Nota

    Esse texto foi publicado, em 08/02/2017, no site dos Psicanalistas pela Democracia: http://psicanalisedemocracia.com.br/2017/02/a-morte-os-moraes-e-os-moros/

  • Sarney: “eles não aceitam nem parlamentarismo com ela”

    Sarney: “eles não aceitam nem parlamentarismo com ela”

    Corremos grande risco de nos enganar quando tentamos aprofundar uma análise antes que o calor dos acontecimentos se dissipe. No entanto, é preciso correr esse risco se queremos escolher de qual lado ficar, se queremos influir no desenrolar da história.

    O que conseguimos enxergar, hoje, nessa disputa pelo poder no Brasil? Vamos tentar montar um quadro com as declarações feitas sobre a presidenta Dilma nas gravações vazadas e ações que ela tomou nesses 17 meses de seu segundo mandato, especialmente no campo econômico.

    Dilma teve altos índices de popularidade, em seu primeiro mandato, até as manifestações de junho de 2013. Esses eventos, ainda que não consigamos entendê-los completamente, foram muito bem organizados para terem sido espontâneos. Sua aprovação desaba, mas mesmo assim vence as eleições em 2014, já tendo a oposição da elite política e econômica, bem como de ampla parcela da classe média.

    Entendemos a designação de Joaquim Levy e a linha neoliberal adotada em 2015, ajuste das contas públicas e reajustes abruptos de preços públicos no meio de uma recessão, como uma tentativa de conciliação, como um gesto de Dilma para conquistar apoio ao seu governo, após uma eleição que evidenciou a divisão entre dois projetos de país. Um projeto centrado na questão social, na diminuição de desigualdade com forte intervenção do Estado, por um lado, e um projeto privatizante com redução do Estado e de direitos sociais, por outro.

    A recessão, com aumento do desemprego, e a alta inflação foram resultantes das políticas adotadas por Levy e avalizadas por Dilma. Embora passível de discussão, a recessão e a inflação foram, no mínimo, agravadas pela busca de austeridade em meio a enorme incerteza política e debilidade econômica. De todo modo, a linha de política econômica adotada faz brotar críticas daqueles que votaram em Dilma. Seu nível de apoio político atingiu níveis assustadoramente baixos. A presidenta ficou quase só.

    No entanto, não sabíamos, imaginávamos, mas não tínhamos certeza, das movimentações subterrâneas que agora são trazidas à luz pelas gravações que têm sido divulgadas. As medidas contrárias aos direitos sociais adotadas pelo governo interino e as revelações gravadas culpando Dilma por não interceder nas investigações de corrupção dão as cores do golpe em curso.
    Ressaltemos que nunca houve tanta liberdade para que a Polícia Federal, o Ministério Publico e o Judiciário investigassem – o governo Dilma é o primeiro a abrir tamanho espaço.

    Vamos lembrar que o delator Delcídio afirmou que quem detinha o poder em Furnas era Eduardo Cunha e que Dilma o desalojou. Delcídio afirma ser essa a razão da vingança do ex-presidente da Câmara. As gravações mostram, ainda, o presidente do Senado, Renan Calheiros, revelando com grande ênfase a ira dos ministros do Supremo Tribunal Federal com a presidenta.

    A crença na independência do Judiciário, cantada em verso e prosa, fica absolutamente abalada e carente de explicações, quando o ex-presidente Sarney promete a Sérgio Machado que, sem advogado, não o deixará cair nas mãos de Sérgio Moro. As cartas da operação Lava-Jato são dadas pelos mais corruptos políticos?

    As gravações “acusam” Dilma, sobretudo, de ter “deixado” as investigações da Lava-Jato se aprofundarem demais. Sarney e Machado, na gravação divulgada em 25/05, concordam que Dilma não se “solidarizou” nem com Lula. As revelações da investigação atingiram fortemente o Partido dos Trabalhadores e a base de sustentação do governo e trouxeram à luz esquemas de corrupção que, de fato, viscejaram nos governos petistas. A grande imprensa e a oposição foram extremamente eficientes em criar a impressão de que havia corruptos apenas no Partido dos Trabalhadores. Aproveitaram-se da imagem já arranhada do partido por conta do mensalão.

    Vamos montar o mosaico?

    Dilma foi reeleita. A campanha sistemática dos meios de comunicação tradicionais mobilizou grande parte da classe média e elites econômica e política na oposição a ela. Ela tentou um programa econômico conciliador, mas perdeu apoio de quem a elegeu, sem conseguir novos apoios. Nenhuma medida que enviou ao Congresso, para fazer frente à crise econômica, foi aprovada. Sem holofotes, políticos e empresários investigados ou temerosos com as investigações tramaram sua queda. Contavam com a ira do Judiciário contra ela. “Não tem nenhuma saída para ela”, profetizou Sarney para o delator Sérgio Machado.

    Não contavam, no entanto que, mesmo com críticas profundas ao Partido dos Trabalhadores, diversos setores perceberíamos o golpe. Percebemos a seletividade e a morosidade suspeitas do Judiciário, percebemos o rancor que Dilma gerou nos políticos por não impedir as investigações, percebemos o enfurecimento da elite econômica e da classe média por garantir direitos sociais aos mais pobres, percebemos quantos investigados compõem o governo interino, percebemos que a democracia está suspensa. Percebemos, com os primeiros atos do governo interino, que conquistas importantes na renda dos mais pobres, na habitação, na cultura, na saúde, na educação, estão sendo destruidas.

    Percebemos o golpe e decidimos enfrentá-lo. Não tem mesmo saída para ela?

  • República de Congonhas: ex-ministro de FHC critica ação contra Lula e compara atitude de Moro a de golpistas do passado

    República de Congonhas: ex-ministro de FHC critica ação contra Lula e compara atitude de Moro a de golpistas do passado

    Por Maria Carolina Trevisan, especial para os Jornalistas Livres

    Na manhã desta sexta-feira (4/3), o juiz Sérgio Moro, responsável pelas investigações da Operação Lava Jato, em atitude contrária aos princípios do devido processo legal, obrigou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a prestar depoimento sob “condução coercitiva”. Agiu como um justiceiro, à revelia do que propõe um Estado Democrático de Direito. A atitude foi desnecessária e leviana. Lula declarou que falaria se tivesse sido convocado, como o fez outras vezes. Para conduzi-lo coercitivamente, o ex-presidente teria de haver recusado duas vezes o convite para depor, mas não houve nem a primeira intimação.

    Paulo Sérgio Pinheiro é presidente da comissão independente internacional da ONU de investigação sobre a República Árabe da Síria, em Genebra. Professor Titular de Ciência Política e pesquisador associado ao Núcleo de Estudos da Violência, da Universidade de São Paulo | Foto: Jean-Marc Ferre/ UN
    Paulo Sérgio Pinheiro é presidente da comissão independente internacional da ONU de investigação sobre a República Árabe da Síria, em Genebra. Professor Titular de Ciência Política e pesquisador associado ao Núcleo de Estudos da Violência, da Universidade de São Paulo, nunca foi petista. | Foto: Jean-Marc Ferre/ UN

    O depoimento de Lula nada trouxe de novo às investigações. Porém, a atitude do juiz fez borbulhar ainda mais a raiva – cada vez menos contida – de defensores da direita, o que provocou reações também violentas de militantes petistas. Na roda gigante que move as discussões políticas no Brasil hoje, estamos na iminência de uma guerra. O que se viu ontem no Aeroporto de Congonhas e diante da casa de Lula nas horas que antecederam a fala do ex-presidente, é um aviso de que o próximo capítulo, previsto para o dia 13 deste mês, pode ter ainda mais violência.

    Nesse perigoso jogo, Moro sucumbiu ao espetáculo. Vaidoso, submeteu-se e foi ator central na escalada de “revelações” capitaneadas pelo “Jornal Nacional” em parceria com a revista IstoÉ. Na balança da ética jornalística, sabe-se que para publicar vazamentos é também necessário apurar as acusações descritas. Não bastam supostas delações. As declarações de uma única fonte não servem como atestados de verdade absoluta.

    A atitude arbitrária do juiz, com reforço da mídia, acabou por expor a própria população a um limbo em que não se reconhece nem a Justiça e nem a verdade (que seria o propósito da fase de investigações apelidada de “aletheia”, ou “busca da verdade”, na versão heidggeriana da palavra). E daí para aprofundar as vertentes fascistas da nossa elite, não falta nada. O deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP), que também é advogado, acompanhou o testemunho do ex-presidente e classificou a condução coercitiva como “um baú de ilegalidades”.

    Junte-se a isso o fato de que levar Lula para depor no Aeroporto de Congonhas remete inevitavelmente à atitude de militares golpistas que conduziram familiares de Getúlio Vargas a depor, em 1954, no Aeroporto do Galeão, dias antes de seu suicídio.

    “Temos hoje a República de Congonhas, da Polícia Federal e do Ministério Público. Com exibicionismo atrabiliário, Moro se equivocou sesquipedalmente, justamente por fazer um bis da coreografia da República do Galeão”, afirma Paulo Sergio Pinheiro, cientista político, membro da Comissão Nacional da Verdade e ex-secretário de Estado de Direitos Humanos no governo FHC. “Não há nenhuma defesa que caiba para essa decisão desnecessária e autoritária do juiz Moro. Com a desculpa de evitar confrontos, estimulou tumultos e brigas”, completa Pinheiro. 

    Tumulto em Congonhas | Foto: Mídia Ninja
    Tumulto em Congonhas | Foto: Mídia Ninja

    Não cabe aos Jornalistas Livres defender Lula, como supuseram alguns leitores no decorrer do dia de ontem. Nosso papel é defender a democracia e mostrar também a versão que poucas vezes tem atenção dos jornalões e das TVs: compreender os fatos desde o ponto de vista do povo, dos trabalhadores, daqueles que historicamente são os mais oprimidos no país. Também faz parte da nossa responsabilidade como jornalistas traduzir o caminhar de uma operação do tamanho da Lava Jato. Porque o perigo para a democracia pode não aparentar monstruoso. Vem travestido de sensato, fundamentado no combate à corrupção, como um “heroi” que salva a pátria amada.

    No golpe moderno, a onda que reforça o fascismo que vive na sociedade brasileira à espreita de uma brecha parece vestir terno e camisa – pretos – e dispor da gigantesca máquina midiática. Está onde não se enxerga: no “jornalismo” e na “Justiça”. “Todos esperam ver um monstro ou uma criatura do inferno, mas na verdade veem um banal burocrata da morte cujas personalidade e atividade são testemunhos de uma extraordinária normalidade e até de um elevado senso de dever moral”, escreveu Leonidas Donskis no livro “A Cegueira Moral”, de sua autoria e do sociólogo Zygmunt Bauman.

    É hora da resistência e defesa da democracia se levantarem fortemente. “Nesta sexta vimos um grande passo para um golpe final contra a democracia no Brasil. Portanto, a resistência democrática precisa agir rápido, se manifestar no Brasil inteiro, formar uma corrente em defesa do Estado Democrático de Direito e fazer respeitar a eleição”, alertou o deputado Jamil Murad (PCdoB), que acompanhou a ação no aeroporto de Congonhas desde o início. “Aqui não é 1964, não. Precisamos impedir o golpe.” Ou, como orientou o ex-presidente Lula, eleito com mais de 58 milhões de votos (no segundo turno de 2006), “é preciso recomeçar”.