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  • Os camisas negras de Bolsonaro

    Os camisas negras de Bolsonaro

    Mais de 1 milhão de crianças, 2 milhões de mulheres e 3 milhões de homens foram submetidos ao assassinato e à tortura de forma programada pelos nazistas com o objetivo de exterminar judeus e outras minorias. Nos primórdios da Itália fascista, os camisas negras – milícias paramilitares de Mussolini – espancavam grevistas, intelectuais, integrantes das ligas camponesas, homossexuais, judeus. Quando a ditadura fascista se estabeleceu, dez anos antes da nazista, Mussolini impôs seu partido como único, instaurou a censura e criou um tribunal para julgar crimes de segurança nacional; sua polícia secreta torturou e matou milhares de pessoas. Em 1938, Mussolini deportou 7 mil judeus para os campos de concentração nazista. Sua aliança com Hitler na 2ª Guerra matou mais de 400 mil italianos.

    Perdoem-me relembrar fatos tão conhecidos, ao alcance de qualquer estudante, mas parece necessário falar do óbvio quando ser antifascista se tornou sinônimo de terrorista para Jair Bolsonaro. Os direitos universais à vida, à liberdade, à democracia, à integridade física, à livre expressão, conceitos antifascistas por definição, pareciam consenso entre nós, mas isso se rompeu com a eleição de Bolsonaro. O desprezo por esses valores agora se explicita em manifestações, abraçadas pelo presidente, que vão de faixas pelo AI-5 – o nosso ato fascista – ao cortejo funesto das tochas e seus símbolos totalitários, aqueles que aprendemos com a história a repudiar. Jornalistas espancados pelos atuais “camisas negras” estão entre as cenas dessa trajetória.

    A patética lista que circulou depois que o deputado estadual Douglas Garcia(PSL-SP) pediu que seus seguidores no Twitter denunciassem antifascistas mostra que o risco é mais do que simbólico. Depois do selo para proteger racistas criado pela Fundação Palmares, e das barbaridades ditas pelo seu presidente em um momento em que o mundo se manifesta contra o racismo, e que lhe valeram uma investigação da PGR, essa talvez seja a maior inversão de valores promovida pelos bolsonaristas até aqui.

    A ameaça contida na fala presidencial e na iniciativa do deputado, que supera a lista macartista pois não persegue apenas os comunistas, tem o objetivo óbvio de assustar os manifestantes contra o governo e de açular as milícias contra supostos militantes antifas, dos quais foram divulgados nome, foto, endereço e local de trabalho.

    É a junção dos “camisas negras” com a Polícia Militar, que já se mostrou favorável aos bolsonaristas contra os manifestantes pela democracia no domingo passado em São Paulo e no Rio de Janeiro. E que vem praticando o genocídio contra negros impunemente no país desde sua criação, na ditadura militar, muitas vezes com a cumplicidade da Justiça, igualmente racista.

    Como disse Mirtes Renata, a mãe de Miguel, o menino negro de 5 anos que foi abandonado no elevador pela patroa branca de sua mãe, mulher de um prefeito, liberada depois de pagar fiança de R$ 20 mil reais, “se fosse eu, a essa hora já estava lá no Bom Pastor [Colônia penal feminina em Pernambuco] apanhando das presas por ter sido irresponsável com uma criança”. Irresponsável. Note a generosidade de Mirtes com quem facilitou a queda de seu filho do 9º andar.

    Neste próximo domingo, os antifas vão pras ruas. Espero não ouvir à noite, na TV, que a culpa da violência, que está prestes a acontecer novamente, é dos que resistem como podem ao autoritarismo violento. Quem quer armar seus militantes, e politizar forças de segurança pública, está no Palácio do Planalto. É ele quem precisa desembarcar. De preferência de uma forma mais pacífica do que planejam os fascistas para mantê-lo no poder.

    Por: Marina Amaral, codiretora da Agência Pública

  • Juventude hitlerbolsonarista? Governo quer formar milícias armadas em escolas militarizadas

    Juventude hitlerbolsonarista? Governo quer formar milícias armadas em escolas militarizadas

    Por: Roberto Ponciano

    Walter Benjamin, um judeu alemão, que se suicidou para escapar à perseguição do nazismo, quando fugia, na fronteira entre França e Espanha, foi um heterodoxo crítico literário/filosófico marxista, que previu o desastre nazista. Prever o desastre, não é, de maneira derrotista, sucumbir preventivamente a ele. Ao anunciar a falência da ideia de progresso e a esterilidade das oposições democráticas de esquerda ao nazismo na Alemanha, Walter virou o profeta do imenso genocídio que viria a se configurar diante dos olhos de quem não acreditava que o país mais culto e letrado de Europa fosse capaz de gestar o mal absoluto: o nazifascismo.

    Venho falando de fascismo no Brasil desde 2013. Eu alertei que a Lava-Jato, o macarthismo brasileiro, era um movimento de fundo fascista, que queria judicializar a política no Brasil, criminalizando toda a esquerda. O bolsonarismo é um passo além. O movimento tem tendências paranoicas e psicopatas que vão um grau acima, chegam ao nazismo. Entre o nazismo e o fascismo, irmãos siameses, há uma questão de gradação. Mussolini (admirado e, no princípio, copiado por Hitler) era o líder do Partido Nacional Fascista italiano e um genocida, mas não criou pogrons (perseguições específicas contra uma etnia) e nem campos de concentração. O festim diabólico apelidado de reunião ministerial, que mas parecia o set de filmagem de Saló de Pasolini, revelou ao Brasil, abertamente, o pensamento, mais do que fascista, nazista de Bolsonaro, Weintraub e Damares.

    Estes intentos nazistas são corroborados pelas falas golpistas e tirânicas do General Heleno, que conseguiu açular alguns militares de reserva. O perigo do nazismo em Bolsonaro é que, ao contrário da ditadura militar de 1964, ele não tem nenhum projeto de país. Braga Neto na reunião parecia alguém que quisesse ensinar balé aos símios. Um governo que perde rapidamente sua base de apoio e que aposta cada vez e mais na radicalização, apelando para um exército de fanatizados, que, no entanto, por todas as pesquisas, deve atingir entre 20% e 30% do eleitorado brasileiro, o suficiente para gerar o caos, o confronto, um conflito civil e dar as desculpas para rasgar as últimas garantias constitucionais.

    Não, eu não mudei de posição. Quem alerta para o desastre não diz que o desastre é inevitável. Pessimismo em análise não é derrotismo. “Pessimismo na análise, otimismo na ação”, diria Gramsci. Reitero: alerto para o avanço do fascismo desde 2013. E desde 2016 mostro elementos nazistas nas falas de bolsonaro. O ódio às mulheres (misoginia, pulsões anais sadomasoquistas reprimidas são características da histeria em massa nazifascista), homofobia, racismo, desejo de exterminar o inimigo imaginário, Bolsonaro nunca escondeu isto em seus discursos. Assustador e revelador foi vê-lo falar de seus intentos abertamente em uma reunião ministerial.

    Passos para montar um exército de milicianos nazistas, Bolsonaro e seus filhos metralha já tem dado de maneira aberta. O motim nazifascista no Ceará teve a participação aberta do bolsonarismo. Durante a ditadura militar, militares de baixa patente, praças e paramilitares eram apenas uma linha auxiliar do regime. Não acertamos a conta com nosso passado. A anistia perdoou os criminosos e, sadicamente, perdoou as vítimas. Igualou quem matou e quem morreu. Anistiou criminosos igualando suas vítimas aos torturadores. Os esquadrões da morte, as milícias, todas as organizações paramilitares são herança da ditadura.

    Todavia, a história não se repete. A primeira vez ela acontece como tragédia, a segunda vez, como farsa. Se na ditadura militar, o imenso contingente de oficiais de reserva, praças e baixas patentes, tanto das forças armadas, quanto das PMs, era uma linha auxiliar controlada facilmente pelo regime, com Bolsonaro (que no máximo teria atuado em 64 como algum torturador do delegado Fleury), esses homens tornam-se constituintes de um poder que se organiza de maneira subversiva e paralela, e chantageia e pressiona todo o tempo o Estado Democrático de Direito.

    A finalização de um golpe, com a tirania pessoal de Bolsonaro não é o único perigo para a democracia. Já vi várias análises dizendo que este golpe é inevitável (não concordo com este fatalismo, embora também alerte para o perigo golpista). Com certeza Bolsonaro tem esta aspiração e força os limites de nossa pálida democracia toda semana. Mas, como ele mesmo diz, se vê limitado pelos, cada vez em menor número, alucinados com seus cartazes pró AI5 que consegue reunir na frente do Palácio do Planalto. Basta ver as imagens aéreas em comparação com, por exemplo, as manifestações contra a PEC 95.

    Imagem distribuída pelo próprio Bolsonaro da manifestação a seu favor em 24 de maio de 2020
    Protesto contra a PEC do Teto dos Gastos em 29/11/2016. Foto: www.mediaquatro.com . Ver mais em https://jornalistaslivres.org/cronica-de-um-dia-tragico-em-brasilia/

    Enquanto não consegue finalizar seu intento de uma tirania pessoal, vai financiando e armando suas milícias pessoais. Já conseguiu emplacar até o advogado do escritório do crime como assessor no ministério da saúde. Não temos ideia de quantos mais milicianos estão nomeados em cargos de terceiro, quarto ou quinto escalão pelo país. O nazista disse abertamente na reunião ministerial que quer armar o povo (suas milícias) para derrotar o “inimigo”. Quem for considerado inimigo, ele já declarou diversas vezes, deve ser expulso do país ou sofrer as consequências. E quem pensa que é delírio, é bom lembrar que Bolsonaro aumentou o limite de compra de projeteis de 200 munições por pessoa/ano para 500 por mês (6.000 por ano), o que dá para montar pequenos exércitos milicianos. Junte-se a isto a medida que afrouxa a marcação controle de munições por parte do exército e para a qual chegou a exonerar um general e colocá-lo na reserva. Todos estes movimentos aconteceram sob nosso olhar complacente, sem nenhuma reação nossa.

    O perigo das milícias nazistas é maior que o do golpe. O Brasil se transformar na Colômbia, onde bandos paramilitares agem livremente assassinando opositores à luz do dia. Já temos isto feito de forma aberta no campo brasileiro. Já houve uma experiência de terror controlado, executada pelo mesmo escritório do crime ligado ao bolsonarismo, no caso Marielle. Devemos tomar as medidas democráticas legais para que o crescimento e o poder armamentício das milícias não avance mais do que avançou. Lembrando que o Rio de Janeiro, território onde o bolsonarismo foi criado, já tem bairros inteiros dominados por ela, às claras, e com a total omissão do poder público. E a maior apreensão de armas de guerra de última geração no estado, 117 fuzis modelo M-16 vindos dos EUA, foi feita na casa de um amigo/sócio do vizinho de Bolsonaro, o miliciano Ronnie Lessa, acusado de ser o assassino de Marielle.

    O passo mais descarado e ostensivo para isto foi dado por Paulo Guedes. Espanta-me que a esquerda tenha protestado apenas contra o “trabalho escravo”, quando Guedes tem a coragem de anunciar que quer treinar jovens nos quartéis e depois usá-los para cavar buracos, pagando 200 reais por mês.

    O menos ruim aí é o trabalho escravo. Creio que a maioria das pessoas nem se deu conta de que Guedes sugeriu criarmos a guarda nazista, a juventude hitlerista bolsonarista, com dinheiro público. O problema é que a esquerda introjetou o absurdo. Alguns estados governados pela esquerda aceitaram a excrecência que são as escolas cívico-militares, colégios de “pedagogia” militar em plena democracia. Algo não previsto em lugar nenhum da nossa constituição, mas que diante da falta de verbas, quando condicionadas a elas, foram aceitas avidamente de norte a sul. Mas, muito pior do que isto é a proposta de milícias estatatais bolsonaristas feita por Guedes.

    O governo financiaria jovens que iriam para os quartéis serem doutrinados com “OSPB” e, depois, por 200 reais por mês, estariam disponíveis para “ações governamentais”. A disciplina Organização Social e Política do Brasil, nem matéria escolar é mais. Tenho 49 anos, portanto, sou da geração que teve OSPB e Educação Moral e Cívica na escola. Cada estabelecimento de ensino dava, nessas matérias, aquilo que desejava. Além de ensinar o hino nacional e o que representava cada estrela da bandeira, podiam incluir a estrutura do estado e até história. Obviamente que, usando-se as forças armadas para amestrar jovens, através de OSPB, não vai se ensinar hoje a eles “direitos humanos”. Jovens pobres (nenhum jovem de classe média vai se alistar para ganhar 200 reais por mês) que serão doutrinados e estarão ao dispor do Bolsonarismo, para qualquer ação por uma ninharia, e tudo pago com dinheiro público.

    Óbvio que temos que evitar isto! E uma das formas é denunciar que a maior tragédia é que de maneira clara e aberta o bolsonarismo tenha coragem de propor a criação de uma milícia paga com dinheiro público, sem acobertamentos, sem subterfúgios.

    O anjo da história, tese IX de Benjamin, olha para o passado, para a sucessão de tragédias e catástrofes, para o sofrimento dos humilhados e derrotados, mas é impelido por um vento irresistível para o futuro. É impossível parar a roda da história. Mas é possível SIM evitar as catástrofes, as tragédias, antes que elas aconteçam. O bolsonarismo já desdenha ocultar que declarou uma guerra de morte à frágil democracia brasileira. Temos que estar alertas e desarmar seus planos, destruir sua tentativa de criação de um gigantesco exército paramilitar. Ou paramos esta construção, o autômato do mal absoluto e estrutural, ou ele ficará maior que Bolsonaro. Um exército de paramilitares, milicianos, armados até os dentes, de jovens alistados e mal pagos para cumprir tarefas de uma seita nazista, lutando contra um inimigo imaginário, é uma séria ameaça à democracia, que está sendo arquitetada, tijolo por tijolo, frente a nossos olhos complacentes.

     

    Roberto Ponciano é escritor, mestre em Filosofia e Letras, especialista em Economia.

  • “O presidente perdeu a condição de governar”, dizem ex-ministros

    “O presidente perdeu a condição de governar”, dizem ex-ministros

    O claro flerte com o fascismo, a exultação da ditadura e as honrarias a assassinos e torturadores, uma constante na vida política de Jair Bolsonaro, finalmente está levando a centro-direita a voltar, ainda que devagar, à luta pela preservação dos Direitos Humanos no Brasil. Enquanto o PSDB tinha interesse na queda, por quaisquer métodos e motivos que fossem, dos governos petistas, a escalada fascista, o negacionismo da ciência e mesmo os crimes da familícia foram sempre minimizados ou mesmo ignorados. Agora que uma pandemia global ceifa, oficialmente, mais de 16 mil vidas de brasileiros, cinco ex-ministros sociais-democratas e um ex-ministro de Lula, todos fundadores e representantes da Comissão Arns de Defesa dos Direitos Humanos, publicaram artigo na Folha de S. Paulo para dizer o óbvio: Bolsonaro não possui as mínimas condições de seguir governando e enquanto ele não for impedido não será possível criar saídas para o genocídio diário e com viés de crescimento até onde a vista alcança. Antes tarde do que mais tarde ainda.

    Veja abaixo a íntegra do documento:

    Hora de falar ao povo, detentor e destinatário dos rumos do país

    Assistimos em 2019 ao desmanche de instituições e estruturas de Estado, em nome de alinhamentos ideológicos e guerras culturais.

    A partir de fevereiro último, com a chegada da pandemia em nosso território, ao grande desmanche somaram-se ataques à ordem constitucional, à democracia, ao Estado de Direito. Não podem ser banalizados, muito menos naturalizados.

    Como alertaram os cientistas, a Covid-19 encontraria no Brasil campo fértil para o seu alastramento: um país-continente com enorme desigualdade social e concentração de renda, sistema de saúde fragilizado por cortes e tetos orçamentários, saneamento básico precário, milhões de brasileiros vivendo em bairros, comunidades e distritos sem infraestrutura, sucateamento da educação pública, desemprego na casa das 13 milhões de pessoas e uma economia estagnada.

    Acrescente-se a esse quadro as características próprias da atual pandemia — um vírus com alta velocidade de transmissão e sintomatologia grave, para o qual ainda não há remédio ou vacina eficazes.

    Talvez não imune ao vírus, mas com toda certeza imune ao sofrimento humano, o presidente da República, Jair Bolsonaro, tem manifestado notória falta de preocupação com os brasileiros, com o risco das aglomerações que estimula, com a volta prematura ao trabalho, com um sistema de saúde que colapsa aos olhos de todos e até com o número de óbitos pela Covid-19, que totalizam, hoje, muitos milhares de casos — sobre os quais, aliás, já se permitiu fazer ironias grosseiras e cruéis.

    Mas a sanha do presidente não para por aí.

    Enquanto o país vive um calvário, Jair Bolsonaro insufla crises entre os Poderes. Baixa atos administrativos para inibir investigações envolvendo a sua família.

    Participa de manifestações pelo fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal. Manipula a opinião pública, e até as Forças Armadas, propagando a ideia de um apoio incondicional dos militares como blindagem para os seus desatinos.

    Enfim, o presidente deixa de governar para se dedicar à exibição diária de sua triste figura, em pantomimas familiares e ensaios golpistas.

    Preocupado com o amanhã e sob o peso do luto, o Brasil precisa contar com um governo que coordene esforços para a superação da crise, começando por ouvir a voz que vem das casas, das pessoas que sofrem, em todas as partes.

    Não há como aceitar um governante que ouve apenas radicais fanáticos, ressentidos e manipuladores, obcecado que está em exercer o poder de forma ilimitada, em regime miliciano-militar que viola as regras democráticas e até mesmo o sentido básico da decência.

    Só resta sublinhar o que já ficou evidente: Jair Bolsonaro perdeu todas as condições para o exercício legítimo da Presidência da República, por sua incapacidade, vocação autoritária e pela ameaça que representa à democracia. Ao semear a intranquilidade, a insegurança, a desinformação e, sobretudo, ao colocar em risco a vida dos brasileiros, seu afastamento do cargo se impõe.

    A Comissão Arns de Defesa dos Direitos Humanos entende que as forças democráticas devem buscar, com urgência, caminhos para que isso se faça dentro do Estado de Direito e em obediência à Constituição.

    José Carlos Dias
    Presidente da Comissão Arns de Defesa dos Direitos Humanos e ex-ministro da Justiça (governo FHC)

    Claudia Costin
    Ex-ministra de Administração e Reforma (governo FHC)

    José Gregori
    Ex-ministro da Justiça (governo FHC)

    Luiz Carlos Bresser-Pereira
    Ex-ministro da Fazenda (governo Sarney), ministro da Administração e Reforma do Estado e ministro da Ciência e
    Tecnologia (governos FHC)

    Paulo Sérgio Pinheiro
    Ex-ministro da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos (governo FHC)

    Paulo Vannuchi
    Ex-ministro de Direitos Humanos (governo Lula).

    Texto original em : https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2020/05/o-presidente-perdeu-a-condicao-de-governar.shtml

  • Tamires Sampaio: Palácio do Planalto ou Escritório do Crime, STF abre inquérito contra Bolsonaro. E daí?

    Tamires Sampaio: Palácio do Planalto ou Escritório do Crime, STF abre inquérito contra Bolsonaro. E daí?

    Por Tamires Gomes Sampaio, especial para os Jornalistas Livres 

    O Brasil possuí a maior taxa de contágio pelo coronavírus do mundo, os casos confirmados e o número de mortes estão aumentando a cada dia e o presidente Bolsonaro deixou explicito seu total descaso com a crise que estamos vivendo no país. Bolsonaro se preocupa mais com os crimes com os quais sua família está envolvida do que com a vida de milhões de brasileiros que está em risco diante de suas ações no governo.

    Depois das declarações do ex-ministro Sérgio Moro na sexta-feira (24) sobre a tentativa de Bolsonaro em interferir nas investigações da Polícia Federal e em inquéritos que correm em sigilo no Supremo Tribunal Federal (STF), fomos surpreendidos por uma revelação do site de jornalismo investigativo The Intercept que divulgou a existência de possível relação de seu  filho, Flávio Bolsonaro, com um esquema de construção civil ilegal liderado pela milícia do Rio de Janeiro. Além disso, no domingo, foi divulgado que Carlos Bolsonaro, também filho do presidente, estaria ligado a um esquema criminoso de disparos em massa de notícias falsas, fato que também está sendo investigado.

    No mesmo dia da revelação de Sérgio Moro, assistimos em nossas casas, com um misto de indignação e revolta, o pronunciamento dado em resposta por Bolsonaro. Primeiro, porque sua total incompetência para ocupar o cargo de presidente fica escancarada em seus discursos Segundo, porque o ouvimos não só reconhecer a interferência em investigações na PF, como também deixar escapar que o assassinato da vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, era um dos casos que estavam sendo investigados e que ele tentava interferir.

    Ao mesmo tempo, é importante que se entenda que Moro não pode se eximir de sua responsabilidade pelo tempo que ocupou o cargo de Ministro da justiça. Os crimes que hoje ele acusa Bolsonaro de ter cometido, podem ter se iniciado com sua conivência, o que igualmente merece investigação. Ele que ironicamente reconheceu em seu pronunciamento que durante as gestões do PT a PF possuía realmente autonomia para as investigações, afinal foi durante os governos Lula e Dilma que foram construídas políticas de combate à corrupção e de fortalecimento ao Ministério Público e a Polícia Federal.

    A interferência de Bolsonaro na Polícia Federal, ao tentar nomear Alexandre Ramagem como diretor-geral da PF, um notório amigo de sua família, que provavelmente irá engavetar todas as investigações relacionada aos Bolsonaros, configura crime de responsabilidade e demonstra que Bolsonaro não medirá esforços para manipular qualquer investigação contra ele e sua família. Diante desse verdadeiro escândalo, o Procurador Geral da República (PGR), Augusto Aras, solicitou ao Supremo a abertura de um inquérito para apurar os fatos narrados por Sérgio Moro e solicita que ele seja ouvido pelo STF sobre as acusações que fez durante a coletiva.

    O Ministro Celso de Mello determinou a abertura do inquérito e, assim, Bolsonaro será investigado pelos crimes de falsidade ideológica, pois Moro declarou que não assinou a demissão do antigo diretor geral da PF; coação no curso do processo e obstrução de justiça, pelas tentativas de Bolsonaro ter acesso às investigações feitas pela PF e aos inquéritos do STF; advocacia administrativa, ao tentar fazer os interesses de sua família se sobrepor às investigações que estão em curso; prevaricação, por agir de acordo com os interesses pessoais e não como presidente; e, por fim, corrupção passiva privilegiada.

    Dentre as acusações que Moro fez, a tentativa de interferir em investigações da PF e inquéritos do STF chamaram atenção, afinal: o que estaria Bolsonaro tentando impedir de ser investigado? Em sua própria coletiva Bolsonaro nos respondeu essa pergunta ao falar sobre como a PF estava dando mais interesse ao assassinato de Marielle Franco ao invés da facada que recebeu durante a campanha em 2018. A declaração chamou atenção pois seu filho Flávio Bolsonaro foi apontado como um dos possíveis envolvidos no assassinato de Marielle por sua relação com componentes de um dos grupos da milícia do Rio de Janeiro, o Escritório do Crime.

    No sábado (25), o site The Intercept Brasil divulgou provas de que Flávio Bolsonaro estava envolvido em um esquema de construção ilegal de prédios no Rio de Janeiro. A matéria publicada apresenta documentos sigilosos e dados levantados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro a que o Intercept teve acesso.

    De acordo com a investigação que o MPRJ está fazendo, Flávio Bolsonaro financiou e lucrou com a construção de prédios erguidos pela milícia usando dinheiro público. O financiamento teria sido feito por meio de “rachadinhas”, nome popularmente dado à prática de desvio de parte da remuneração de funcionários públicos, no caso, funcionários do gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio e que era organizada por seu ex-assessor Fabricio Queiroz. Esta investigação preocupa a família Bolsonaro e é um dos motivos do presidente para trocar o comando da Polícia Federal.

    Gráfico com as declarações absurdas de Bolsonaro desde o início da pandemia de COVID 19 no Brasil. (Autor desconhecido)

    Essa revelação do Intercept torna ainda mais próxima a relação da família Bolsonaro com o brutal assassinato de Marielle, porque após dois anos de investigações sabemos não só que o assassino era vizinho dos Bolsonaros como era membro do chamado “Escritório do Crime” (organização miliciana especializada em assassinatos por encomenda) e que seu assassinato provavelmente estaria ligado ao fato de que os milicianos acreditavam que ela poderia atrapalhar os negócios ligados à grilagem de terras na zona oeste do Rio de Janeiro, como revelado pelo Secretário de Segurança do RJ, Richard Nunes.

    O cerco contra a família Bolsonaro está apertando e a sua relação com a milícia do Rio de Janeiro fica a cada dia mais escancarada. Estamos hoje, graças às “fake news” propagadas durante às eleições de 2018 – coordenadas pelo Carlos Bolsonaro de acordo com investigação feita pela PF  – e a atuação do então juiz Moro ao prender Lula injustamente e impedi-lo de concorrer às eleições, sendo governados por uma família de milicianos.

    Com o Inquérito do PGR instaurado pelo STF, caso a tentativa de Bolsonaro de interferir nas investigações da Polícia Federal seja confirmada, ele não terá a menor condição de continuar ocupando o cargo de Presidente da República e deverá ser afastado de imediato, seja por meio de sua renúncia ou de abertura de processo de impeachment.

    O Brasil, assim como o restante do mundo, está passando por uma crise sanitária sem precedentes em sua história com o avanço do coronavírus, que já matou mais de 5.100 pessoas e que infectou 73 mil pessoas, de acordo com o número de casos confirmados. Portanto, mais do que nunca, precisamos de um governo que garanta que a população tenha acesso a políticas de inclusão social que permitam que elas fiquem em casa e façam o isolamento com a segurança de que poderão pagar suas contas e se alimentar. Além disso, que também garanta seus direitos trabalhistas sejam assegurados e não destruídos, como está acontecendo durante a gestão Bolsonaro. No Palácio do Planalto deve ser um espaço de formulação de políticas de combate às desigualdades e de proteção da vida dos milhões de brasileiros e não esta política de morte que estamos vendo sendo implementada neste verdadeiro escritório do crime.

     

    Dra. Tamires Gomes Sampaio é advogada, mestra em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e militante da Coordenação Nacional de Entidades Negras (CONEN). Foi a primeira presidente negra do Centro Acadêmico de Direito do Mackenzie.

     

     

     

    Fontes utilizadas no artigo:

    https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2020/04/27/celso-de-mello-stf-inquerito-bolsonaro-moro.htm

    https://www.jota.info/stf/do-supremo/pgr-requer-abertura-de-inquerito-ao-stf-para-apurar-fatos-narrados-por-sergio-moro-24042020

    https://oglobo.globo.com/brasil/celso-de-mello-sorteado-relator-do-pedido-de-inquerito-sobre-discurso-de-moro-1-24392794

    https://theintercept.com/2020/04/25/flavio-bolsonaro-rachadinha-financiou-milicia/

    https://www.em.com.br/app/noticia/nacional/2018/12/14/interna_nacional,1013283/milicia-matou-marielle-pela-ocupacao-de-terras-diz-secretario-de-se.shtml

    https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/04/pf-identifica-carlos-bolsonaro-como-articulador-em-esquema-criminoso-de-fake-news.shtml?aff_source=56d95533a8284936a374e3a6da3d7996

     

  • Bolsonaro voltou mais cedo para o Rio no dia do assassinato de Marielle, diz Tuíte

    Bolsonaro voltou mais cedo para o Rio no dia do assassinato de Marielle, diz Tuíte

    O presidente da República Jair Bolsonaro mentiu sobre estar em Brasília na tarde da data do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, segundo tuíte da jornalista Thais Bilenky, então repórter da Folha de S. Paulo. Às 12h28 do dia 14 de março de 2018, Thaís postou mensagem dizendo que, segundo a assessoria do então deputado, Bolsonaro antecipou a volta para o Rio de Janeiro após passar mal por intoxicação alimentar. No dia seguinte, a Folha repercutiu a informação, que foi confirmada pela assessoria do deputado.

    Esta mensagem foi trazida à tona somente hoje cedo, pelo deputado federal David Miranda (PSoL) e pela ex-candidata a presidente Manuela D’Avila (PCdoB), em meio ao escândalo diplomático da invasão da Embaixada da Venezuela. Ela aponta contradição muito suspeita no depoimento do presidente às redes sociais e meios de comunicação. O porteiro do Condomínio Vivendas da Barra afirmou à Polícia Federal que a entrada do miliciano Élcio Queiroz, comparsa de Ronie Lessa e executor do assassinato, na casa 58 fora autorizada pelo “Seu Jair”, às 17h10 do dia 14. Às 3h50 do dia 29 de outubro, após reportagem no Jornal Nacional, JB gravou um vídeo exasperado da Arábia Saudita alegando aos gritos de “imprensa porca, canalha e imoral”, que estava no plenário em Brasília no dia do assassinato, ocorrido às 21h30. A postagem de Thais, hoje repórter da revista Piauí, ainda pode ser conferida na sua conta do Twitter. Durante a manhã, os próprios tuiteiros conferiram no site transparência da Câmara de Deputados que o seu gabinete comprou passagem de ida e de volta no mesmo dia 14.

    A revelação da mensagem está liderando o Trend topics do Twitter desde o final da manhã. O sumiço de Carlos Bolsonaro das redes sociais nesta semana, com o encerramento de todas as suas contas, está sendo apontado pela opinião pública como apagamento de provas, já que ele falava do pai, de armas e da campanha à Presidência e ao Congresso Nacional. O filho 02 de Bolsonaro também foi pego em contradição. Primeiramente ele disse que estava na Câmara de Vereadores desde a tarde do dia do crime e depois afirmou que estava em casa, no Vivendas da Barra.

    Além de remeter à óbvia e necessária investigação do retorno do ex-deputado ao Rio pelo voo da Gol, que necessariamente deve ter a viagem em seus registros, a revelação de hoje abre uma nova linha de apuração: quais consequências teve a intoxicação alimentar? Há registros de atendimento médico? Que relação ela pode ter com os supostos problemas gástricos de Bolsonaro anteriores à facada que catapultou a sua campanha?

    Indícios há de sobra, mesmo com a adulteração de áudios e a destruição de provas. O que parece faltar é vontade política de investigar nas instâncias policiais e jurídicas. Como dizem os comentaristas das redes sociais, o que espanta é os tuiteiros acharem mais provas do que a polícia.

  • Acharam o Queiroz. Agora resta saber quem paga as suas contas

    Acharam o Queiroz. Agora resta saber quem paga as suas contas

    Fabrício Queiroz,  ex assessor de Flávio Bolsonaro que foi flagrado pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) movimentando quantias incompatíveis em sua conta (cerca de R$ 1,2 milhão), foi localizado pela mídia, não pela Polícia Federal de Sérgio Moro.

    Morando em bairro de luxo de São Paulo, e ainda sem esclarecer como pagou R$ 133 mil em dinheiro no badalado Hospital Israelita Albert Einstein, segue seu tratamento no mesmo hospital, que fica no mesmo bairro. Queiroz também movimentou R$ 24 mil para a conta da primeira-dama Michele Bolsonaro, que alegou ser pagamento de uma dívida.

    A revista Veja publicou nesta sexta-feira (30) uma reportagem sobre o paradeiro de Fabrício Queiroz. De acordo com a revista, Queiroz está morando em um bairro de luxo de São Paulo, o Morumbi, o mesmo do famoso Hospital Albert Einstein, onde ele segue tratamento contra câncer de cólon.

    O ex assessor de Flávio Bolsonaro estava desaparecido desde o dia 12 de janeiro deste ano, quando foi visto dançando pelos corredores do Albert Einstein. Curiosamente, apesar de não ter fugido, Queiroz nunca foi encontrado pela Polícia Federal, comandada pelo ministro da Justiça Sérgio Moro. Desde seu desaparecimento, uma das perguntas que mais movimentou as redes sociais foi “Cadê o Queiroz?”.

    Descoberto o paradeiro do laranja da família Bolsonaro, agora restam as perguntas: quem pagou e paga  suas contas? Como e para quem Queiroz movimentou quantia incompatível com sua renda?

    Será que Flávio Bolsonaro irá responder?