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  • Governador do Rio rebate deputada e defende violência policial

    Governador do Rio rebate deputada e defende violência policial

    O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), reagiu mal às últimas declarações da presidente de Comissão de Direitos Humanos da Alerj, a deputada estadual Renata Souza (PSOL). O representante de Bolsonaro no Rio rebateu as constantes críticas feitas pela ex-chefe de gabinete de Marielle Franco, colocando a culpa pelas mortes em favelas nos defensores de direitos humanos.

    Durante sessão plenária na Assembleia Legislativa, na última quarta-feira (14), Renata Souza fez duras críticas ao governador Witzel, após o líder do governo na Alerj, Márcio Pacheco (PSC-RJ), afirmar que mais inocentes vão morrer. “A síndrome de Rambo do governador está colocada na lógica de guerra que é nefasta, cruel e violenta. O porta-voz do governo veio aqui falar que outras pessoas vão morrer. Que papel é esse do governador de dizer para a população que mais inocentes vão continuar morrendo?”, questionou a presidente da Comissão de Direitos Humanos.

    Na manhã da última sexta-feira (16), o governador Wilson Witzel abriu o dia na inauguração de uma base da Segurança Pública em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, onde aproveitou para rebater as críticas feitas pela deputada estadual Renata Souza.

    “Pessoas que se dizem defensoras de direitos humanos, ‘pseudo defensoras’ de direitos humanos, não querem que a polícia mate quem está de fuzil. Porque se não mata quem está de fuzil, quem morre são os inocentes”, afirmou. “Então, está na sua conta, defensor dos direitos humanos. Esses cadáveres desses jovens não estão no meu colo. Estão no colo de vocês, que não deixam que as polícias façam o trabalho que tem que ser feito”, emendou.

    O ataque do governador aos defensores dos direitos humanos por mortes em operações policiais também fez o presidente da Ordem dos Advogados do Rio de Janeiro (OAB-RJ), Luciano Bandeira, se pronunciar. “Quanto à declaração do governador, eu tenho apenas uma ponderação, nunca vi um defensor de direitos humanos entrar em favela dando tiro” resumiu.

    De Berlim, onde fez agenda com Jean Wyllys na Fundação Rosa Luxembrug, denunciando a situação vivida por defensores de direitos humanos no Brasil, a deputada estadual Renata Souza comentou o assunto. “A tentativa de inversão de valores e o ataque à dignidade dos defensores dos direitos humanos é só mais uma tentativa de desviar atenção. O governador deveria apresentar uma política de segurança com prevenção, inteligência e investigação”, aconselhou a ex-chefe de gabinete de Marielle Franco.

    Durante esta semana, seis jovens foram mortos dentro ou perto de comunidades do estado, durante operações da Polícia Militar do Rio de Janeiro.  Curiosamente, o governador afirmou que os responsáveis seriam traficantes tentando culpar a PM.

    Segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP-RJ), as Polícias Militar e Civil do Rio mataram 434 pessoas de janeiro a março deste ano. Foram quase cinco (4,82) mortos por dia, recorde para o período na série estatística de 21 anos, iniciada em 1998. As mortes continuam a crescer nos meses em curso.

    Com governo de Wilson Witzel, polícia do Rio de Janeiro matou quase 50% a mais no primeiro semestre deste ano. Segundo relatório divulgado pela Rede de Observatórios de Segurança o Estado teve aumento de 46% nas mortes envolvendo violência policial no primeiro semestre. A comparação é com igual período de 2018.

    No primeiro semestre do ano passado, foram registrados 82 casos de mortes por ação de agentes de segurança. O número saltou para 120 óbitos este ano. Entre grandes operações e patrulhamento, foram mais de mil ações policiais monitoradas. A conclusão da pesquisa Operações policiais no Rio em 2019: existe um novo padrão? é de que elas se tornaram mais frequentes, letais e assustadoras para a população, sem efetiva diminuição da violência.

    Durante esta semana, seis jovens foram mortos dentro ou perto de comunidades do estado, durante operações da Polícia Militar do Rio de Janeiro.  Curiosamente, o governador afirmou que os responsáveis seriam traficantes tentando culpar a PM.

    Durante a última semana, seis jovens foram mortos dentro ou perto de comunidades do Estado, durante operações da Polícia Militar do Rio de Janeiro.  Em declarações dadas à imprensa o governador afirmou que os responsáveis seriam traficantes tentando culpar a PM.

    Com informações da Rede Brasil Atual

  • Mulheres que ocuparam a Fazenda de João de Deus perguntam: quem mandou o vizinho de Bolsonaro matar Marielle?

    Mulheres que ocuparam a Fazenda de João de Deus perguntam: quem mandou o vizinho de Bolsonaro matar Marielle?

     

    Desde o dia 13 de março, quando cerca de 800 mulheres ocuparam a fazenda de João de Deus, em Anápolis-GO, as bravas militantes  do MST resistem próximas à sede da fazenda do médium preso por abusar de centenas de mulheres. João também é acusado de homicídio e pelo desaparecimento de várias pessoas.

    O clima de vigilância na ocupação Marielle Vive (nome dado para lembrar Marielle Franco, vereadora assassinada por lutar por direitos humanos), é constante, já que funcionários da fazenda circulam diariamente pela área; alguns, armados. Na entrada da ocupação, diversas faixas chamam a atenção de quem passa: pelo fim do feminicídio, direito ao aborto e ao próprio corpo, entre outras questões de fundamental importância para as mulheres. Mas a pergunta que está na boca de todas e todos na ocupação Marielle Vive é:

    Quem mandou o vizinho de Bolsonaro matar Marielle?

    Conheça um pouco do dia a dia na ocupação do MST, pelas lentes dos fotógrafos Leonardo Milano e Matheus Alves, para os Jornalistas Livres.

     

    Fotos: Leonardo Milano

     

     

    Fotos: Matheus Alves

     

  • “Trabalhar com Jean Wyllys era viver na mira do tiro”, diz ex-assessor

    “Trabalhar com Jean Wyllys era viver na mira do tiro”, diz ex-assessor

    O ex-assessor de imprensa do deputado federal Jean Wyllys escreveu com exclusividade para os

    Jornalistas Livres e deu detalhes da rotina do parlamentar ameaçado de morte,

    que vivia sob escolta armada 24 horas. Os bastidores da atuação parlamentar de Wyllys,

    muitas vezes guardados a sete chaves pela sua assessoria

    agora são revistos em detalhes no relato a seguir:

     

    Quando as ameaças se intensificaram e a segurança armada começou a fazer a escolta do Jean, nossa vida também mudou. Os assessores precisaram cumprir um protocolo de segurança e, por muitas vezes, tínhamos que cancelar agendas, por causa das ameaças presentes.

    Dois carros blindados e três seguranças acompanhavam o deputado. Se ele quisesse ir à padaria comprar um pão, não poderia ir sozinho. Não podia ir à praia, à casa de amigos e nem andar a pé nas ruas.

    Certa vez, Jean se atreveu a sair de casa a pé para ir até a orla de Copacabana acompanhar um ato por liberdade religiosa. Resultado: foi agredido e insultado durante três quadras no percurso até o destino final. Em cada esquina, se ouvia uma barbaridade diferente.

    No Parlamento, a situação também não era diferente. Eu tinha a tarefa de assessor de imprensa. Deveria atender, da melhor forma possível, os colegas jornalistas que buscavam diariamente informações sobre a atuação parlamentar de Jean e notícias sobre seus posicionamentos políticos.

    Outros assessores sempre o acompanhavam nos corredores da Câmara até o plenário e relatavam que era comum outros deputados xingarem-no de “queima-rosca”, “viadinho”, “bicha louca” e uma lista de insultos, em sua maioria, homofóbicos.

    Segundo colegas de gabinete, Jean deixou de usar o banheiro compartilhado entre os deputados para evitar aborrecimentos. Era só ele entrar que começavam as piadas entre os “machões”. As mesmas que eu e ele ouvimos na quinta série no colégio. O mesmo bullying homofóbico. Os babacas não amadureceram, só viraram deputados.

    Entrar naquele carro gigante e blindado para cumprir agenda com Jean, era como viver na mira do tiro.

    Ele estava na mira, nós sempre soubemos.

    Nós, ao lado de Jean, estávamos em situação similar à do motorista Anderson Gomes e da assessora de imprensa, Viviane, que sempre acompanhavam a vereadora Marielle Franco.

    Depois que Marielle e Anderson foram assassinados no Rio, as ameaças contra Jean se intensificaram. A decisão dele tem um significado: ele não quer o mesmo fim.

    Lembro que chegaram a colar um adesivo na porta do gabinete em Brasília com os dizeres: “Bolsonaro vive”…

    Sete dias após a execução de Marielle, durante uma homenagem na Cinelândia, soubemos que nossas redes receberam notificações com ameaças e indicações exatas sobre os locais por onde passávamos.

    Jean fez a coisa certa.

    Respeitamos a decisão. Ele precisa se fortalecer e cuidar de sua vida. Viver na mira do tiro é uma maldição que eu não desejaria para ninguém. Em 8 anos de atuação parlamentar, ele melhorou a vida de muita gente. Revolucionou a minha. Me fez entender que somos milhões e que a luta mundial pela garantia de direitos da população LGBT é irreversível.

    Seguiremos!

  • Deputado que quebrou placa de Marielle ameaça diretora de escola

    Deputado que quebrou placa de Marielle ameaça diretora de escola

    Por Viviane Ávila

    O deputado federal pelo PSL-RJ, Daniel Silveira, aquele que quebrou a placa com nome de Marielle Franco colocada na Cinelândia, no Rio de Janeiro, gravou um vídeo no último sábado, dia 24, ameaçando Andrea Nunes Constâncio, a diretora do Colégio Pedro II, localizado em Petrópolis (RJ), de fiscalizar e entrar na escola sob sua gestão sem autorização, assim como, segundo o deputado, ele pode fazer em qualquer outro estabelecimento.

    “Diretora, eu sou um deputado federal, e o meu caráter é fiscalizador. Eu posso entrar em qualquer estabelecimento sem permissão. Entenda isso. Que isso fique muito claro. Não é você que pode me proibir. Logo você, que há dois anos entregou as chaves da escola Pedro II para vagabundos da esquerda invadirem a escola e atrapalharem as aulas”, disse Silveira, se referindo ao período de ocupações das escolas feitas pelos secundaristas entre 2015 e 2016.

    Na época, os estudantes reivindicavam uma Educação Pública com mais qualidade, mais inclusiva e humana, já que o projeto de reorganização escolar previa fechamento de escolas, separação de ensinos, migração escolar de estudante sem consulta aos pais, ensino à distância, demissão e perda de direitos de professores, entre outras questões. Ou seja, um processo de precarização escolar para futuramente entrar em processo de privatização.

    Ainda em vídeo, o deputado continuou sua ameaça à diretora, em tom sarcástico e palavras inclusive de baixo calão. “Se você tem todo esse medo, que um deputado federal esteja na sua escola, ainda mais com a minha vertente conservadora que combate a ideologia socialista comunista, isso me cheira a merda. E, se me cheira a merda, eu vou fazer um favor para você. A sua escola será a primeira a ser auditada. Eu vou solicitar uma auditoria desde o princípio da sua gestão, e ver se está tudo certinho, e se você realmente detém a moralidade como diz que detém.”

    Silveira também manda um recado a toda a classe trabalhadora da Educação, frisando a diferença de tratamento a professores conforme suas vertentes políticas, criminalizando a esquerda, como se fosse proibido ter ideologia. “Professores tem o meu respeito. Professores de esquerda tem o meu desprezo. Eu quero deixar isso muito claro”.

    No final do vídeo, ele pede para que compartilhem a ameaça até chegar à diretora e manda um último recado. “Eu quero que esse vídeo chegue muito claro pra que você entenda, diretora, que o marxismo cultural não será implantado, e não existirá mais escola com partido. Iremos criminalizar”. 

    A Federação dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino no Estado do Rio de Janeiro (Feteerj) e os Sindicatos Filiados emitiram uma nota em defesa e apoio à diretora do CENIP, Andrea Nunes, no site da Feteerj.

    “A Federação dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino no Estado do Rio de Janeiro (Feteerj) e os Sindicatos filiados repudiam a virulenta e absurda declaração feita pelo recém-eleito deputado federal Daniel Silveira (PSL) contra a professora Andrea Nunes Constâncio, diretora do Colégio Estadual Dom Pedro II em Petrópolis, o CENIP.

    A declaração mostra o total despreparo do recém-eleito parlamentar que, não contente em desqualificar os profissionais de educação, ainda faz ameaças à diretora. O CENIP é um colégio tradicional de Petrópolis, cujos servidores há décadas batalham contra a falta de investimentos e os baixos salários.

    Na verdade, a professora Andrea pode ter certeza de que o ataque e ameaças que sofreu serão respondidos por todas as professoras e professores de nosso estado.

    A Feteerj e os Sindicatos Filiados à Federação desde já se colocam à disposição da professora Andrea para ajudar nas medidas políticas e jurídicas cabíveis que o caso vai requerer.

    Feteerj e Sindicatos Filiados”

  • O Brasil figadal

    O Brasil figadal

    Desfez-se, de uma vez por todas, o mito de um Brasil cordial. Nossa sociedade não é afável, sincera, calorosa ou franca, no sentido que dá Houaiss ao adjetivo cordial. O Brasil votou com o fígado, com o sentimento visceral de rancor. E elegeu Jair Messias Bolsonaro presidente do Brasil para os próximos quatro anos. A marca histórica de um país que impõe pesado sofrimento aos pobres evidenciou-se novamente.

    Como é possível achar que um deputado, que habita a Câmara dos Deputados há 28 anos, represente o “novo” na política? Como aceitar sua proposta de armar a população para aumentar a segurança? Por que apoiar seu desprezo pelas mulheres? Por que o país elegeu um sujeito que reverencia a tortura e o mais funesto torturador?

    A caminhada do Brasil está repleta de eventos e práticas que fazem corar a todos que julgamos que nascemos iguais e devemos ter os mesmos direitos. Nesse último período, no entanto, há conformações que é preciso salientar. O poder executivo, eleito pelo povo em 2014, foi destituído por uma conjunção do poder econômico, do poder dos meios de comunicação, do poder legislativo, do poder judiciário e do poder dos outros integrantes do sistema de justiça: ministério público e polícias. O silêncio, revelando aparente neutralidade do poder militar, foi quebrado em momentos decisivos em apoio ao objetivo maior.

    A desmoralização e demonização da política vêm desde o início da Ação Penal 470, conhecida como “mensalão”, em 2006. É público que Joaquim Barbosa escondeu provas e evidências que mudariam o rumo do julgamento. Inúmeros juristas denunciaram as ilegalidades desse processo. Suas vozes não foram, contudo, ouvidas. Sucumbiram, sob intenso apoio, e aliança, dos meios de comunicação aos desmandos do Supremo Tribunal Federal, Os mesmos jornais, canais de televisão, rádios e revistas que hoje se espantam com a aberração que gestaram.

    Mal sabíamos que as artimanhas do STF visavam tornar inelegível a maior liderança popular do país. E assim fizeram. Condenaram Luiz Inácio Lula da Silva sem provas de que o apartamento de classe média no Guarujá fosse seu. O futuro ministro do STF, Sérgio Fernando Moro, o condenou por uma matéria de jornal e uma delação de criminosos que declarariam o que fosse preciso para se verem livres da prisão. O Tribunal Regional Federal da Quarta Região confirmou, em tempo recorde, a condenação. O Supremo Tribunal Federal autorizou sua prisão, antes de terminadas as possibilidades de apelação do ex-presidente. E o Tribunal Superior Eleitoral o tronou inelegível.

    O bloco no poder tentou viabilizar outros nomes “novos” na política. Não teve êxito. Não conseguiram se unir em torno de um nome. Todos os balões de ensaio foram bombardeados por frações do poder, quando não pela simples falta de apelo popular. Afinal, a farsa de que teriam sido escolhidos pelo povo em voto livre precisava prevalecer.

    O Brasil de 2014 tinha o menor desemprego da história recente do país, tinha o maior salário-mínimo desde 1964 e tinha saído do mapa da fome elaborado pela Organização das Nações Unidas. A incerteza política gerada pelos inconformados com o resultado da eleição, o contágio de uma débil economia mundial e erros cometidos pelo governo de Dilma Rousseff redirecionaram a economia brasileira, desde 2015 até hoje, para a recessão e o desemprego.

    Em meio a esta grave crise, o país levou ao poder executivo um grupo que promete aprofundar o corte de gastos públicos, a retirada de direitos, as privatizações e a abertura aos produtos estrangeiros. Um conjunto de ações que, diminuindo o consumo e o investimento, debilitará, ainda um pouco mais, a economia do país.

    A retirada de direitos sociais e a autorização para que as forças da repressão policial matem quem julgar adequado tornaram nossa sociedade ainda mais insegura. Tememos pelos mais pobres e por todos aqueles que precisam da proteção do Estado.

    Os Jornalistas Livres, formado exclusivamente por voluntários, nascemos em 2015 para mostrar o que era invisível para os meios de comunicação hegemônicos. Denunciamos inúmeras falcatruas e mentiras, com frequência beneficiadas ou mesmo veiculadas pelos próprios meios de comunicação. Denunciamos perseguições, violências e mortes de pobres, de pretos, de índios, de sem terras, de gays, de trans. Ajudamos alguns a verem com clareza a luta pelo poder que se desenrolava.

    Gritamos “não vai ter golpe, vai ter luta”. Teve golpe e não teve luta. Gritamos “Marielle, presente”. Ela está morta e seus algozes livres. Bradamos “Mestre Moa vive”. E ele está morto. Bradamos “machistas, fascistas, não passarão”. E eles passaram. Clamamos “ele não”. E as urnas disseram “ele sim”. Clamamos “Lula livre”. E ele está preso e “apodrecerá na cadeia” a prevalecer o desejo do presidente ontem eleito.

    Junto com o povo brasileiro mais sofrido, nós perdemos esta batalha. Estamos de luto.

  • Marielle está aqui

    Marielle está aqui

    por Kátia Passos e Anderson Moraes

    Em meio a todos os resultados das eleições onde temos o Coiso vencendo em 17 estados no 1o turno, Alexandre Frota, Major Olímpio, Janaína Paschoal, Kim Kataguiri, Eduardo Bolsonaro e tantos outros personagens da extrema direita conservadora eleitos, um acalento, uma felicidade gigantesca também está presente nos resultados das apurações das urnas, Marielle realmente virou semente: teremos diversas candidaturas negras, que eleitas com suas existências e resistências ocuparão os espaços de parlamentos pelo país.

    Vai ter sim! Talíria Petrone (PSOL-RJ), vereadora de Niterói professora, militante LGBTI, nona deputada federal mais votada no RJ.

    Vai ter sim, Erica Malunguinho (PSOL-SP), negra, trans, do quilombo Aparelha Luzia, como deputada estadual.

    Vai ter sim, Erika Hilton, gerontóloga pela UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos), foi eleita como membra da bancada ativista do PSOL em São Paulo. Ao lado de nove pessoas, pretende fomentar o debate do preconceito de gênero.

    Vai ter sim! Áurea Carolina (PSOL-MG), deputada federal, socióloga a mais votada em MG.
    Vai ter sim! a Andreia de Jesus (PSOL-MG), como deputada estadual.

    E não acabou.

    As experientes Leci Brandão (PCdoB – SP), deputada estadual e Benedita da Silva (PT-RJ), deputada federal foram reeleitas. Elas são as comandantes das lutas em defesa do povo de Candomblé, no caso de Leci, e Benê que fala todo dia de representatividade da mulher negra na Câmara Federal.

    E Marielle Vive!

    Vive e revive com todas as eleitas. Mônica Francisco e Renata Souza e Dani Monteiro, mulheres negras que trabalhavam com Marielle e que em 2019, ocuparão a ALERJ, como deputadas estaduais.

    E verdade seja dita, o racismo nosso de cada dia, doa a quem doer, fez com que até os próprios partidos desacreditassem das corajosas candidaturas. Tem gente espantada com os resultados nesses partidos, mas essas pessoas sempre estiveram aqui, entre a gente, precisou que uma candidatura caótica fosse instalada com Bolsonaro para que as coisas começassem a mudar. É início, mas é vitória, e é uma vitória para o país debater a história de 354 anos de escravidão, e outros 20 de Ditadura.

    Fundo partidário perto de zero e estrutura pífia, foi o que mais se viu nessa curta campanha, mas para os negros, isso foi elevado à terceira potência, segundo o desabafo de muitos deles, que encontramos nas ruas fazendo campanha com a ajuda de amigos, família e colocando à mostra toda a capacidade do povo negro de fazer um diálogo sobre a realidade da vida com o povo que sofre, que trabalha e que não vive sob a tutela de privilégios.

    Uma leitura é necessária: quando os partidos ignoraram essa oportunidade, mantendo seu velho e cansado jeito de fazer política, perderam a chance de reaprender na raça, como fazer a reaproximação com suas bases, com movimentos sociais e populares. E não adianta agora, depois de passado o perrengue de fazer campanha a trancos e barrancos, mas com muita criatividade, amor e organicidade, dirigentes partidários tentarem se aproximar dessas pessoas negras eleitas.

    Isso seria, no mínimo, hipócrita. Aquele partido, ou o outro deveria se curvar a essas pessoas e absorver humildade, além de se esforçar para de uma vez por todas, entender que a construção de uma eficaz frente que explique os efeitos drásticos que o Coiso poderá causar na vida das pessoas, fato que só é possível de ser feito com a maioria da população, ou seja, no Brasil, com negros, indígenas.

    Ainda assim, há tempo.

    Só que não dá mais para aguardar a hora de parar de teorizar Democracia e Fascismo. Está na hora de agir, de estabelecer ações concretas que mostrem o que Bolsonaro, de fato, trará (se eleito) para a vida dos negros pobres.

    Não se pode cometer o erro de ficar até os 45 minutos do segundo tempo, como foi no período passado, permanecer se afogando, morrendo e gritando: NÃO VAI TER GOLPE e depois, FORA TEMER. Essas manifestações podem ter sido aprendizados interessantes para uma parcela da população, uma maioria composta de pessoas privilegiadas, que, de dentro de suas bolhas confortáveis dos bairros de classe média, se declaram como “de esquerda” e defensoras de Direitos Humanos.

    Tomara que essa massa tenha percebido, que desde os tempos dessas palavras de ordem, a grande massa negra, pobre e periférica pouca unidade fez. E não fez, pois não se sentiu identificada com os privilegiados, que na volta para casa, saindo das manifestações, não são abordados de maneira vexatória pela polícia. Já os negros, agora sim, poderão ter sua representatividade na prática, nos parlamentos, como nunca se viu na história do Brasil. É um começo, mas é uma guinada negra muito linda e revolucionária para o país.

    Preta-Rara (arquivo pessoal)

    Nas redes sociais, vimos algumas manifestações emocionadas sobre o resultado das eleições, uma delas é a da rapper e MC, Preta-Rara que caminhou ao lado de diversas candidaturas negras nesse tempo curto de campanha. Sobre Erica Malunguinho, Preta escreve:

    “O povo preto elegeu minha amiga, Erica Malunguinho que o próprio partido dela, o PSOL desacreditou que seria possível.
    Para candidata branca a verba foi megainvestimento pra fazer campanha.
    Pra nóix foi uma mixaria, pq aqui no Brasil sempre escutei que se ganha política c o megainvestimento na campanha.
    Sendo assim, chupa PSOL e não retiro a minha palavra de falar que a esquerda também é Racista.
    Mais o nosso modo de organização é milenar, a sagacidade é ancestral e a vontade de vencer é inenarrável.
    Agora vcs entendem a nossa força, querida esquerda?
    A semente de Marielle germinou e cresceu fruta preta da existência à resistência.
    Agora o que sobra pra vcs e sair da porta, pq nosso bonde vai passar, ficar e permanecer até que as reparações históricas sejam de fato reparadas.
    Pq a coisa ainda ficará preta de ponta a ponta, pq nosso levante bem de peso e cada dia mais, estamos mais preparados pra ocupar nosso espaço de fato. E fica a lição aí pra esquerda brasileira que adora usar corpos pretos de chaveirinho pro seu discurso falido sem prática e nem vivência.
    Lidem e melhorem pois o quilombo está em festa e não tem hora pra acabar ✊🏿✊🏿
    Preta-Rara”

    Marcelo Rocha (arquivo pessoal)

    Para Marcelo Rocha (PSOL-SP) que foi pré-candidato a deputado estadual em São Paulo, as candidaturas negras eleitas já trazem uma surpresa partidária importante para os parlamentos:

    “É uma surpresa para as estruturas partidárias que já causa uma espécie de embate inicial: esse novo cenário de negros na política já inicia o fim da lógica da maioria de homens brancos de universidades públicas nos parlamentos. Isso dá o poder para o cara que é líder popular ser mais que um puxador de votos, ser um legislador e, com isso, estamos vendo o desejo das pessoas, de termos candidaturas negras. Assim, a partir do momento que os partidos reconhecerem isso, os negros passarão a ser os mais votados.
    Outra mudança que acontece em 2019, é a do confronto estético, que mostrará aos parlamentos a verdadeira representatividade do povo brasileiro. Essa circulação de negros nos parlamentos, por si só, já transformará a política que até agora está abastada de discursos racistas e homofóbicos, que no próximo ano, se continuarem a existir, não passarão impunes. O tão verbalizado “decoro parlamentar” terá de ser aplicado e todos esses anos de dominação branca e machista nos parlamentos serão cobrados, é a dívida.
    Marcelo Rocha”

    Nesse ano, temos que aplicar um olhar especial para o índice de abstenções: 20,33%. É necessário pensar sobre o problema da falta de representatividade que poderia ter diminuição drástica, com mais candidaturas negras valorizadas pelos partidos.

    Uma coisa é fato: nenhum parlamento será como antes. Os que ainda não passarão em 2019, por esses “confrontos estéticos” citados por Marcelo Rocha, não escaparão da mudança em 2020.

    Por isso, conclamamos Baobá, por uma história de resistência preta e assim, queremos deixar uma mensagem para as corajosas candidaturas negras e para o povo brasileiro que elegeu essas pessoas.

    Até o cair da última folha e enquanto a raiz resistir com seus frutos mesmo que secos, a árvore existirá e transbordará vida e vamos tentar entender o porquê continuar a lutar e resistir nesse Brasil que pode caminhar para o fascismo. Falar de resistência é lembrar do velho Baobá.
    Uma árvore que veio da África e que já na primeira vista, encanta pela grandiosidade, que vai para além de sua copa, tem cheiro de ancestralidade.

    As lendas em torno do Baobá trazem a força da resistência, a história de uma comunidade originária do orgulho de quem sempre lutou pela sobrevivência em terra de Brasil às vezes com “Z”.

    A raiz desta lendária e forte árvore tinha aos seus pés (raiz) Grios que sabidamente sentavam ao chão com olhos de esperança e força nas palavras, para assim transmitirem o que Xangô, ensinava com sua força e sabedoria.

    O individualismo é algo inventado pela branquitude, já na África se aprende a lutar coletivamente.

    Por isso, nesse segundo turno, não podemos votar apenas por ideologias, e sim por nossas ancestralidades e comunhão com a raiz de um povo que nasce da benção, da reza, da cura, do canto, do tambor e da vida.

    A nossa luta passa por Xangô e seu Oxé que juntamente com sua companheira Iansã, a primeira a surgir nas cerimônias, lutam juntos, por justiça.

    Nada pode tocar quem tem o corpo fechado pela fé e a raiz de uma história preta de vivência secular. Esse é o povo brasileiro.

    Que venha dia 28 de Outubro! Marielle está aqui!