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Tag: luta

  • “Bora pra luta?”

    “Bora pra luta?”

    Foi assim que Preta, ex-entregadora do Ifood, me chamou antes de sair pra trabalhar.


    Ela trabalhava como entregadora na Rodovia Fernão Dias, que é considerada uma das mais perigosas do país.
    Preta é mãe solo e hoje trabalha como mototáxista numa rotina de 12h de trabalho.

    Antes de ser mãe, a Preta tinha uma relação com o trabalho na moto completamente diferente e, mesmo se tornando muito mais cautelosa na direção, sofreu um acidente há um mês que destruiu ela e a moto. Abriu uma vaquinha on-line para recuperar a moto, pois o aplicativo não ofereceu qualquer custo de manutenção do veículo e, depois de um mês, voltou às entregas nas rodovias, com o nariz fraturado e o corpo esfolado.

    Ela contou que no início da profissão como moto-girl, há dez anos, era uma das únicas mulheres do interior de São Paulo que trabalhava na direção.
    Quando foi trabalhar em São Paulo pela primeira vez era notada pelas pessoas com estranhamento, por ser uma mulher numa profissão perigosíssima.


    Durante o processo da reportagem, Preta saiu do Ifood, pois diz que estava sendo escravizada pelo aplicativo. Ela se solidariza com a luta dos entregadores e só não participou da paralisação nacional porque estava se recuperando do acidente.

  • Estamos vivendo uma loucura social

    Estamos vivendo uma loucura social

    Começamos perdendo nossos direitos, duramente conquistados, levaram de nós a CLT, a previdência social, a educação, os investimentos em pesquisa, em ciência, mais de 10 mil médicos, nos tiraram a saúde, a segurança, até a água no Rio de Janeiro tiraram.

    Nos entregaram goela abaixo um presidente incapaz, que sempre pregou armas como solução, discriminação de todos os tipos, o prazer de cortar benefícios, mas apenas dos trabalhadores, os deles, jamais.

    Um governo com diversos envolvimentos que deixam evidentes a presença de milicianos, um presidente ridicularizado no mundo inteiro, que não perde a oportunidade de ficar com a boca calada.

    Estamos enclausurados há muito tempo. Hoje, da pior forma possível, está estampado em todos os rostos o medo de estar preso num emaranhado social e financeiro.

    Sinto informar que estamos presos num mundo cruel, que acredita em meritocracia, que funciona assim: quem tem dinheiro vive bem, quem não tem, come o pão que o diabo amassou e ele que lute!

    Mas, pelo destino e pela primeira vez, muitas pessoas estão sentindo o peso do ELE QUE LUTE!

    Hoje, uma parte significativa da população entendeu que o dinheiro compra quase tudo, menos a vida! A vida digna para todos, ninguém merece viver preso num sistema capitalista.

    O peso do amanhã financeiro está batendo à porta de muitos. Pela primeira vez, a palavra fome começa a passar na cabeça da classe média. A fome é foda. A morte é foda, tudo está batendo na porta.

    Foto de Carolina Rubinato – Criança em situação de vulnerabilidade social, no centro de São Paulo

    Espero que possamos renascer como seres humanos, que haja a morte desse sistema cruel que pode nos deixar de uma hora para outra sem teto, que possamos deixar morrer a normalização com que tratamos a falta de uma casa para grande parte da nossa população.

    Acredito que agora dá para entender, vamos morrer, agora ou depois. Que a humanidade aprenda a compartilhar, isso aqui vai durar no máximo 80 anos, não existe nenhuma estabilidade em viver!

    Em nosso rico país, passar fome não deveria existir. Estamos vendendo tudo, nossas empresas, a saúde, a educação, estamos vendendo a alma para ter cada vez mais, somos o consumo desenfreado.

     

    Em tempos de corona, de incertezas plantadas, de isolamentos sociais, de medos, que possamos entender que o capitalismo é um sistema falido.

    Todo mundo tem o direito e merece viver bem.

    PS: Deixo claro que se Jesus estivesse vivo entre nós, o Bolsonaro faria arminha para ele.

  • Fórum Social das Resistências 2020, desabafos, experiências e desafios

    Fórum Social das Resistências 2020, desabafos, experiências e desafios

    Luciana Fagundes, especial para os Jornalistas Livres, Foto: Alexandre Costa

    Movimentos Sociais e lideranças estiveram unidos mesmo sob chuva

    O Fórum Social das Resistências com o lema, “Democracia, Direitos dos Povos e do Planeta” aconteceu em Porto Alegre de 21 a 25 de janeiro e contou com mais de cinquenta atividades com o objetivo de articular ações e iniciativas de resistência no Rio Grande do Sul, no Brasil e na América Latina.

    O primeiro ano do governo Bolsonaro, os inúmeros retrocessos e os constantes ataques à democracia estiveram presentes nas pautas de praticamente todas as atividades, assim como a preocupação com o crescimento dos movimentos fascistas e o ambiente de crise econômica, social e ambiental.  De todos os cantos do Brasil e da América Latina chegaram relatos de preocupação e busca por alternativas coletivas de resistência.

    Com chuva e tudo!

    A XXII Marcha Pela Vida e Liberdade Religiosa, atividade destinada a marcar o início do Fórum Social das Resistências 2020, precisou enfrentar a chuva que veio para aliviar as altas temperaturas da capital gaúcha daqueles dias. Os povos de matriz africana comandaram um carro de som que percorreu as ruas do centro de Porto Alegre até o Largo Zumbi dos Palmares, na Cidade Baixa, chamando a atenção das pessoas para a necessidade de perceber os retrocessos que estão em curso, especialmente, com relação às liberdades individuais.

     

    Marcha no centro de Porto Alegre marca a abertura do FSR

    Os desafios da comunicação abriram os debates no CAMP

    A comunicação como ferramenta de resistência esteve no debate que abriu as atividades do CAMP (Centro de Assessoria Multiprofissional) no dia 22/1.

    A Roda de Conversa “Comunicação, as mídias livres e as lutas por democracia”, permitiu desabafos, relatos e provocações. A diversidade de sotaques presente nas falas dos participantes deixou evidente que a agonia é mais ampla do que pensamos ser, mas não há como negar a disposição de entender e aprender a lidar de forma eficiente com o “inimigo”.

    Os depoimentos reconhecem uma certa ingenuidade que se abateu na militância de esquerda brasileira durante os governos Lula e Dilma quando a grande mídia permitiu a presença de agentes dos governos Lula e Dilma na lista vip dos “banquetes” promovidos pela grande mídia. Carlos Tibúrcio, idealizador do programa Democracia no Ar, que nasceu com o objetivo de fortalecer a comunicação independente e alternativa, foi um dos mediadores da atividade provocando o debate. Algumas considerações estão no vídeo abaixo:

     

     

    MPF sediou atividades do Fórum pela primeira vez no RS

    Por iniciativa da Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão (PRDC) e do Comitê de Gênero e Raça, o Ministério Público Federal do RS recebeu, pela primeira vez, duas atividades do Fórum das Resistências: “Enfrentamento ao encarceramento em massa, ao genocídio das juventudes, à criminalização das lutas, movimentos sociais e dos Direitos humanos” e “Diversidade, Igualdade e Direitos Humanos”.

    Na segunda atividade, Alice Martins, coordenadora da Ocupação Baronesa, que está se reconstruindo após o ataque do poder público estadual. Alice foi um dos destaques do debate. Entenda:

     

    Os desafios da democracia hoje foi tema de debate promovido pelo grupo de referência do Fórum

    No dia 23/1, na sede da Fetrafi, a mesa 3 que debateu os desafios da democracia teve as presenças do ex-governador do RS, Olívio Dutra e da médica Kota Mulanji.

    Olívio Dutra era governador do RS em 2001 quando aconteceu o primeiro Fórum Social Mundial, evento que se transformou em referência para o mundo como ambiente de debate sobre as necessidades dos países oprimidos e em desenvolvimento fazendo o contraponto ao encontro de Davos. Desde então, Olívio tornou-se referência no RS, no Brasil e no Mundo. Abaixo, um trecho da sua fala no Fórum Social das Resistências 2020:

    Outra presença importante na mesma atividade foi a de Regina Nogueira, mais conhecida como Kota Mulangi – que quer dizer “combatente” – e é presidente do Fórum Nacional de Segurança Alimentar e Nuttricional dos Povos de Matriz Africana (FONSANPOTMA). Kota também colocou a necessidade de todos e todas se engajarem na defesa dos direitos retirados dos povos originários quando declara: “Vocês podem não acreditar em nada do que eu estou dizendo aqui, mas eu estou aqui, e o plano era que eu não estivesse.”

     

    Manifestantes caminharam do Centro Histórico até o Largo Zumbi dos Palmares

    Nesta atividade, duas ausências foram destacadas e lamentadas: Sônia Guajajara, da articulação dos Povos Indígenas do Brasil, por motivos de saúde, e Preta Ferreira, representante do Movimento de Luta pela Moradia de SP, que não foi autorizada pela Justiça para viajar e participar do Fórum Social das Resistências.

     

     

     

     

    Uma Ciranda ao som da música Coração Civil abriu a Assembleia dos Povos 

    A mística cultural preparada para a abertura da Assembleia dos Povos, momento onde os encaminhamentos de cada atividade foram apresentados, mostrou que as pessoas que participaram do evento precisavam aliviar as tensões provocadas pelo momento político e pelos intensos debates e reflexões que ocorreram no Fórum Social das Resistências. Confira no vídeo abaixo:

     

     

     

     

  • Feliz dia das Mulheres é o caralho!

    Feliz dia das Mulheres é o caralho!

    Hoje é dia de ouvir e ler dos machistas de plantão, Feliz dia das Mulheres, agradecendo a existência da mulher por lavar, passar, cozinhar, sustentá-los.

    Hoje é dia de ouvir machistas que chamam mulheres de loucas, desejando feliz dia das mulheres.

    Hoje é dia de ouvir dos homens que abandonam seus filhos, Feliz dia das mulheres.

    Feliz dia das mulheres é o caralho, morremos mais hoje do que ontem.

    Aumento de 12% no número de registros de feminicídios. Uma mulher é morta a cada duas horas no país.

    Em três meses foram computados 119 feminicídios e 60 tentativas de matar mulheres, feliz dia é o caralho.

    Hoje é dia de ouvir de quem votou no Bolsonaro, Feliz dia das Mulheres, hipocrisia a gente vê por aqui todos os dias.

    Ele diz feliz dia, mas acha que mulher que transa quando quer é Puta,

    Ele diz feliz dia, mas grita com a mulher e a faz de empregada doméstica,

    Ele diz feliz dia, mas não respeita as escolhas dela,

    Ele diz feliz dia, mas na primeira oportunidade chama ela de louca,

    Ele diz feliz dia, mas usa o dinheiro para mantê-la cárcere de um relacionamento abusivo,

    Ele diz feliz dia, mas sai para beber todo final de semana sozinho, enquanto ela fica em casa cuidando dos filhos,

    Ele diz feliz dia, mas abandonou os filhos da ex-mulher,

    Ele diz feliz dia, mas te traiu uma vida inteira,

    Ele diz feliz dia, mas a agride verbalmente,

    Ele diz feliz dia, mas a agride fisicamente,

    Ele diz feliz dia, mas controla o tipo de roupa que usa,

    Ele diz feliz dia, mas te afasta dos teus amigos,

    Ele diz feliz dia, mas diz que você não precisa estudar ou trabalhar,

    Ele diz feliz dia, mas você sofre violência psicológica, violência física, violência moral, violência sexual, violência patrimonial,

    Ele diz feliz dia, mas diz: “em briga de marido e mulher ninguém mete a colher”,

    Ele diz feliz dia, mas diz: “um tapinha não dói”,

    Ele diz feliz dia, mas diz: “apanha porque merece”,

    Ele diz feliz dia, mas diz: “ela sabe porque está apanhando”,

    Ele diz feliz dia, mas faz piada com mulher,

    Ele diz feliz dia, mas acha que lavar a louça é “ajudá-la” nos afazeres domésticos.

    Aos hipócritas de plantão, feliz dia é o caralho, nós queremos é revolução!

    Não venha dizer Feliz dia das Mulheres, pegue a bandeira do feminismo e se junte a nós de verdade!

    Ato hoje, às 16h no Masp, contra a opressão e o patriarcado!

  • Lideranças mundiais convocam as mulheres para construção de uma articulação Internacional Femininista

    Lideranças mundiais convocam as mulheres para construção de uma articulação Internacional Femininista

    Há um chamado internacional, assinado por lideranças feministas como Angela Davis, para que as mulheres se unam além de 8 de março. Estão sendo convocadas reuniões para atos e ações unificados em mais de nove países e foi lançado o Manifesto Feminista – PARA ALÉM DO 8 de Março: rumo a uma Internacional Feminista

    O movimento tem como principal objetivo fazer uma frente feminista contra o movimento opressor, autoritário, depreciador, racista e homofóbico da extrema direita no mundo.

     

    Trechos do Manifesto:

    “Estamos vivendo um momento de crise geral. Essa crise não é de forma alguma somente econômica; é também política e ecológica. O que está em jogo nessa crise são nossos futuros e nossas vidas. Forças políticas reacionárias estão crescendo e apresentando-se como uma solução a essa crise. Dos EUA à Argentina, do Brasil a Índia, Itália e Polônia, governos e partidos de extrema direita constroem muros e cercas, atacam os direitos e liberdades LGBTQ+, negam às mulheres a autonomia de seu próprio corpo e promovem a cultura do estupro, tudo em nome de um retorno aos “valores tradicionais” e da promessa de proteger os interesses das famílias de etnicidade majoritária. Suas respostas à crise neoliberal não é resolver a raiz dos problemas, mas atacar os mais oprimidos e explorados entre nós”.

    “Diante da crise global de dimensões históricas, mulheres e pessoas LGBTQ+ estão encarando o desafio e preparando uma resposta global. Depois do próximo 8 de março, chegou a hora de levar nosso movimento um passo adiante e convocar reuniões internacionais e assembleias dos movimentos: para tornar-se o freio de emergência capaz de deter o trem do capitalismo global, que descamba a toda velocidade em direção à barbárie, levando a bordo a humanidade e o planeta em que vivemos”.

    Para assinar o manifesto entre no site https://www.internacionalfeminista.org/

    Manifesto assinado por 24 lideranças, são elas:

    Amelinha Teles (União de Mulheres de São Paulo, Brazil)

    Andrea Medina Rosas (Lawyer and activist, Mexico)

    Angela Y. Davis (Founder of Critical Resistance, US)

    Antonia Pellegrino (Writer and activist, Brazil)

    Cinzia Arruzza (Co-author of Feminism for the 99%. A Manifesto)

    Enrica Rigo (Non Una di Meno, Italy)

    Julia Cámara (Coordinadora estatal del 8 de marzo, Spain)

    Jupiara Castro (Núcleo de Consciência Negra, Brazil)

    Justa Montero (Asamblea feminista de Madrid, Spain) Kavita Krishnan (All India Progressive Women’s Association)

    Lucia Cavallero (Ni Una Menos, Argentina)

    Luna Follegati (Philosopher and activist, Chile)

    Marta Dillon (Ni Una Menos, Argentina)

    Monica Benicio (Human rights activist and Marielle Franco’s widow, Brazil)

    Morgane Merteuil (feminist activist, France)

    Nancy Fraser (Co-author of Feminism for the 99%. A Manifesto)

    Nuria Alabao (Journalist and Writer, Spain)

    Paola Rudan (Non Una di Meno, Italy)

    Sonia Guajajara (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil)

    Tatiana Montella (Non Una di Meno, Italy)

    Tithi Bhattacharya (Co-author of Feminism for the 99%. A Manifesto)

    Veronica Cruz Sanchez (Human rights activist, Mexico)

    Verónica Gago (Ni Una Menos, Argentina)

    Zillah Eisenstein (International Women’s Strike, US)

     

  • I Encontro de Acolhimento, Cura e Empoderamento de Mulheres Indígenas no baixo Tapajós

    I Encontro de Acolhimento, Cura e Empoderamento de Mulheres Indígenas no baixo Tapajós

    Por Coletivo de Mulheres Indígenas Suraras do Tapajós

     

    Nos dias 02 a 04 de novembro aconteceu a Caravana das Encantadas, o I Encontro de Acolhimento, Cura e Empoderamento de Mulheres Indígenas no baixo Tapajós. Dois barcos, com cerca de 110 pessoas entre indígenas, não indígenas, homens, mulheres e crianças, saíram rumo ao Território Indígena Cobra Grande, pelas margens dos rios Tapajós e Arapiuns, região de Santarém. O intuito foi promover e fortalecer o protagonismo, a liderança e os direitos das mulheres indígenas, as estratégias de combate à violência e racismo e intensificar a luta indígena, que tem seus territórios ameaçados pelo modelo de desenvolvimento predador, que afeta principalmente as mulheres. A iniciativa e realização foi do coletivo de mulheres indígenas Suraras do Tapajós, com financiamento do Fundo ELAS e Instituto Avon pelo fim das violências contra as mulheres, parceria do Engajamundo, ICMBio, PSA e Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai).

    Com o tema “Mulheres indígenas transformando suas realidades!”, reuniu-se a plurietnicidade das mulheres indígenas, tanto da cidade como das aldeias do baixo Tapajós, entre lideranças, mães, militantes, cacicas, parteiras, pajés, benzedeiras e universitárias, que marcaram presença e vivenciaram três dias intensos juntamente aos parentes Tapajó que já estavam na espera da caravana, percorrendo nas areias da Ponta do Toronó, navegando sobre as águas cristalinas do Arapiuns e adentrando as belas praias do solo sagrado do T. I. Cobra Grande.

    Com o principal objetivo de desabrochar a própria mulher à sua autonomia perante a realidade vivida, foram apresentados meios para desenvolvimento de atividades direcionadas a esse público em situação de fragilidade e violência familiar. Foi um momento de abrir espaço para mais mulheres que desconhecem o tema e as formas de defesa e enfrentamento, especialmente em momentos de vulnerabilidade causados pela violência.

    Diante da realidade, onde as violências vividas são cometidas pelos próprios parceiros, pelo Estado e sociedade em geral, a maioria desses atos está relacionada à baixa auto estima, falta de consciência das violências a qual são submetidas e à falta de autonomia financeira. Ao longo de 2018, as mulheres do coletivo Suraras do Tapajós debateram e buscaram espaços para o enfrentamento ao racismo e combate às violências moral, psicológica, física e sexual, visando o fortalecimento psicológico e financeiro da mulher indígena. Assim, diferenciando e ressaltando que é importante haver respeito à cultura e hierarquia existente em alguns povos indígenas, mas sem perder o discernimento de distinguir o que é tradição e o que é cultura de violência e abuso.

    Acolher, combater a violência, curar e proporcionar autonomia e bem estar.

    Envolvendo trocas de experiências, café da manhã na praia, uma maravilhosa pirakaia ( peixe assado na praia), momentos de interação cultural, diálogos, possibilitando a construção de alternativas de combate às violências sofridas para além da área urbana. Como, por exemplo, com a finalização da formação de mulheres indígenas multiplicadoras na luta, prevenção, enfrentamento ao racismo e as violências, que habitam as aldeias mais distantes. Na parte de auto estima do corpo e saúde da mulher, tiveram espaços de embelezamento, maquiagem indígena, sobrancelhas, massagens, limpeza de pele, grafismo corporal. Da medicina natural, banhos com ervas de cura, garrafadas para saúde da mulher, pomadas e xaropes de remédios caseiros. Da valorização cultural indígena, oficinas de grafismo em cuias e cerâmica. Para o empoderamento financeiro das mulheres as oficinas de economia solidária e empreendedorismo. Com as crianças foram desenvolvidas atividades interativas e com temáticas de igualdade de genero e de combate a violencia contra mulher, além da doação do livro “Templo da Luz” – da trilogia Guerreiros da Amazônia (Ronaldo Barcelos).

    Tiveram presentes cerca de 300 participantes, grande atuação dos homens ajudando em toda logística e no preparo dos alimentos na cozinha.

     

    Pelo direito de viver!

    No final do dia todos participantes se juntaram na bela ponta de areia da Aldeia Lago da Praia em um lindo ato de resistência para defender os direitos dos povos e denunciar tudo que lhe afetam:

    AMAZÔNIA e sua diversidade de povos, seguem em RESISTÊNCIA!
    EM LUTA, nas margens dos Rios Tapajós e Arapiuns.

    O Brasil vive um dos momentos mais difíceis da sua história, com legitimação de discursos e atos violentos, de ameaças, tortura, discriminação, desmatamento e armas.

    Encontrar o amor, o acolhimento, a alegria e, sobretudo a força entre mulheres indígenas, é um fio de esperança em meio a esse caos.

    CONTINUEMOS EM UNIÃO COM A FORÇA DE NOSSOS ESPÍRITOS GUARDIÕES NA CORAGEM E PERSISTÊNCIA!

    EM LUTA
    Pela demarcação das terras indígenas;
    Pela equidade de gênero e igualdade de direitos entre homens e mulheres;
    Pelo Ministério do Meio Ambiente;
    Pela entrada e permanência dos povos indígenas nas universidades;
    Pelo atendimento gratuito a mulheres vítimas de violência;
    Pelo fortalecimento do Ibama, ICMBio, FUNAI;
    Pelos ativistas que NÃO SÃO CRIMINOSOS;
    Pela ampliação e manutenção dos direitos trabalhistas;
    Pela permanência do Brasil no acordo com Paris;
    Pela liberdade de expressão, etnocultural, religiosa, racial e de gênero;
    Pelo direito à vida;
    Pela educação livre;
    Pelo direito de AMAR a quem quiser;

    PELA AMAZÔNIA!!!

    Surara! Sawê!

    (Coletivo de Mulheres Indígenas Suraras do Tapajós)

    O coletivo Suraras do Tapajós é um coletivo de mulheres indígenas, sem fins lucrativos, que
    atua no baixo Tapajós com a missão de combater a violência e racismo, e no empoderamento econômico e político de mulheres indígenas desse território. Atualmente é formado por um grupo de aproximadamente 30 mulheres de diferentes povos, jovens, solteiras, curandeiras, estudantes, mães, militantes e ativistas, que carregam no sangue a forte plurietinicidade da região. São exímias artesãs, fabricam biojóias com penas, miçangas e sementes da região, grafismo corporal com genipapo e urucum e artesanatos (arco e flecha, cerâmicas, grafismo em cuias, maracás), doces, cantorias, rituais de purificação, garrafadas e banho de ervas (medicinais).
    “Estamos mais vivas do que nunca. Estamos mais fortes e mais unidas. Estamos em luta por todos os direitos de nosso povo e de todos aqueles que lutam conosco!” Maria Eulalia Borari, integrante do coletivo.