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  • OCUPAÇÃO LIDERADA POR MULHERES ESTÁ AMEAÇADA DE REINTEGRAÇÃO

    OCUPAÇÃO LIDERADA POR MULHERES ESTÁ AMEAÇADA DE REINTEGRAÇÃO

    Por Martha Raquel e Guilherme Imbassahy para os Jornalistas Livres

    Um espaço ocupado por mulheres para trazer qualidade de vida para seus filhos, a Ocupação Independente Aqualtune, batizada em homenagem a avó materna de Zumbi dos Palmares, abriga 30 famílias sendo 35 crianças e 5 portadoras de necessidades especiais. O prédio localizado em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, estava abandonado desde que o colégio Butantã foi fechado em 2008. Há um ano e oito meses, um grupo de famílias sem-teto ocupa o local.

    Inajara Trindade é uma das moradoras da ocupação. Ela é cabeleireira e mãe de 4 filhos, sendo um deles autista. Ela não recebe nenhum tipo de auxilio do governo e preferiu morar na ocupação para poder cuidar das crianças. “Desde que eu descobri a deficiencia do meu filho eu me vi obrigada a parar de trabalhar, e eu não tendo trabalho eu não tenho como pagar aluguel e nem alimentar minhas crianças”, desabafa Inajara.

    A ordem de reintegração de posse foi concedida no dia 25 de setembro e pode ser executada a qualquer momento. Além de moradia, a ocupação também oferece aos moradores diversas atividades educativas e culturais.

    EU NÃO CONSEGUI ESTUDAR

    Crianças que moram em ocupações por moradia ou nas ruas têm, além do direito à moradia, o direito à educação retirado. Brenda Aline Soares Romão, uma jovem de 20 anos, foi morar em ocupações aos sete anos. Na primeira ocupação conseguiu permanecer por dois anos e, pulando de ocupação em ocupação cursou até a 5ª série do ensino fundamental. Os despejos retiram dela não apenas o teto, mas também todos os laços criados com a região. Escolas, pontos de cultura, amigos, tudo sempre foi deixado pra trás. Brenda passou por outras 11 ocupações até chegar à Ocupação Independente Aqualtune, onde tem esperança de se estabilizar.

    “Eu quero ter uma casa, eu quero ter pelo menos um lugar pra eu poder ter algum outro sonho. Enquanto eu não tiver um lugar pra ficar eu não posso desejar mais nada porque isso sempre fica me barrando. Cada despejo é um pesadelo, é uma humilhação. As pessoas tiram fotos, é humilhante”, diz a jovem.

    Por ter ficado fora da escola por não ter um lugar fixo para morar, ela se preocupa com a educação dos irmãos mais novos “É difícil pra mim ver meus irmãos chorando na hora de ir embora do prédio, isso parte meu coração. Eu gostaria que eles pudessem ter o que eu não tive”.

    LUTA PELA PERMANÊNCIA

    As trinta famílias que ocupam o antigo colégio seguem resistindo na ocupação. Além de moradia, a ocupação oferece aos moradores diversas atividades educativas e culturais como aulas de reforço para as crianças, oficina audiovisual, teatro para adolescentes, coral para todas as idades e aulas de esperanto e inglês. Na última semana foi realizada uma virada cultural contra a ameaça de despejo. As crianças e adolescente já criaram um vínculo com a região e estão matriculadas em escolas próximas.

     

     

     

  • Bancos ditam mudanças promovidas por Temer para facilitar retomada de imóvel

    Bancos ditam mudanças promovidas por Temer para facilitar retomada de imóvel

    Projeto de lei aprovado no Congresso traz 16 cláusulas criadas por instituições financeiras que alteram regras de retomada do imóvel. “Taxa de aluguel” contra o devedor já está em vigor     

    Por Thais Haliski e Vinícius Segalla, dos Jornalistas Livres

    O governo Michel Temer acatou um conjunto de mudanças sugeridas pelos bancos na lei que rege o financiamento imobiliário para facilitar a retomada do imóvel pela instituição financeira em caso de atraso nas parcelas. A nova norma obriga o mutuário devedor a pagar uma espécie de aluguel para o banco até que seu imóvel seja vendido em leilão, impede que ele questione o contrato na Justiça caso se sinta injustamente penalizado e permite que ele seja intimado sobre a retomada do imóvel por parentes, vizinhos ou ainda funcionários de condomínios residenciais ou comerciais.

    No último dia 11 de julho, entrou em vigor a  Lei 13.465/17, advinda de uma medida provisória (759/16) e proposta pelo Poder Executivo. A norma inclui ou altera 16 cláusulas da Lei 9.514 de 1997, que estrutura a política de financiamento habitacional no Brasil.

    A Abecip (Associação Brasileira das Empresas de Crédito e Poupança), entidade representativa dos maiores bancos do país, enviou ao governo federal, em janeiro deste ano, um anteprojeto de lei para alterar as regras dos chamados contratos de alienação fiduciária, que é quando o próprio imóvel serve como garantia de pagamento do crédito imobiliário. O objetivo declarado era acelerar a retomada do imóvel do mutuário devedor por meio de pressão financeira e redução das vias de contestação judicial. 

    Os Jornalistas Livres tiveram acesso a este documento (veja arquivo anexo ao final da reportagem). Ele contém 16 sugestões de alteração na Lei. Todas foram atendidas pelo governo federal, conforme se nota ao confrontar este documento com a lei que foi aprovada no Congresso. Instituições que representam a indústria da construção civil, associações de mutuários ou qualquer outro agente civil não foram ouvidas pelo governo para alterar a lei, muito menos esboçaram qualquer anteprojeto normativo que tenha sido levado em conta pelo Planalto.

    Em que pese ser de domínio público o fato de a Abecip ter entregue ao Ministério do Planejamento o anteprojeto de lei, a pasta federal, procurada pelos Jornalistas Livres, recusou-se a comentar o assunto, orientando a reportagem a procurar explicações junto ao Ministério da Fazenda. A assessoria de imprensa deste órgão, porém, também se esquivou de conceder qualquer explicação, limitando-se a dizer “que não recebeu qualquer documento da Abecip”.

    Já o site da entidade bancária noticiou em fevereiro deste ano que o “Governo vai facilitar retomada de bens em caso de calote”. “O governo vai facilitar o procedimento para que bancos retomem bens financiados em caso de calote.  O ministro Henrique Meirelles disse que uma dessas medidas é o aperfeiçoamento da alienação fiduciária”, descreve o documento da entidade.

    Veja, abaixo, quais foram os principais pontos que os bancos conseguiram transformar em lei e que agora regem os contratos de financiamento imobiliário no Brasil:

     

    • Mutuário tem que pagar “aluguel” mais prestações até leilão do imóvel

    Desde o dia 11 de julho, o mutuário que sofre a retomada extrajudicial de seu imóvel deve devolvê-lo ao banco imediatamente, ou terá que pagar uma “taxa mensal de ocupação” fixada em 1% do valor total do imóvel.

    Antes da nova regra criada pelos bancos ter sido acatada pelo governo, o mutuário só tinha que pagar esta taxa depois que o imóvel fosse vendido em leilão. O Artigo 37 da lei 9.514/97 determinava:

    O fiduciante (mutuário) pagará ao fiduciário (banco), ou a quem vier a sucedê-lo, a título de taxa de ocupação do imóvel, por mês ou fração, valor correspondente a um por cento do valor do imóvel, computado e exigível desde a data da alienação em leilão até a data em que o fiduciário, ou seus sucessores, vier a ser imitido na posse do imóvel.

    Agora, ficou assim:

    O devedor fiduciante pagará ao credor fiduciário, ou a quem vier a sucedê-lo, a título de taxa de ocupação do imóvel, por mês ou fração, valor correspondente a 1% (um por cento) do valor do imóvel, computado e exigível desde a data da consolidação da propriedade fiduciária no patrimônio do credor fiduciante até a data em que este, ou seus sucessores, vier a ser imitido na posse do imóvel.

    Ou seja, agora, durante o período em que o imóvel é retomado e até ele ser vendido pelo banco, ou o mutuário desocupa imediatamente o bem ou vê sua dívida aumentar diariamente até que o banco o venda em leilão, o que costuma demorar alguns meses.

    Havia uma lógica para a lei ser como era. Quando um imóvel é retomado pelo banco, as parcelas e os encargos da dívida que o mutuário deveria pagar seguem sendo contabilizados, e são descontados do valor que o mutuário deveria receber de volta após a venda em leilão, caso o montante atingido seja superior ao que faltava para o banco receber.

    Assim explica a situação o advogado especialista em Direito imobiliário Mauro Antônio Rocha,  da Comissão de Direito Notarial e Registros Públicos da OAB/SP: “Os responsáveis pela redação e pela aprovação dessa alteração legal parecem não ter o conhecimento pleno dos procedimentos de execução extrajudicial na alienação fiduciária de bem imóvel. Ocorre que, no procedimento desse instituto, a partir da consolidação da propriedade há uma inversão de posições entre as partes, isto é, o credor fiduciário passa a ser devedor das obrigações de levar o bem a leilão e prestar contas do valor apurado na venda, enquanto o devedor fiduciante passa a ser credor das mesmas obrigações.”

    Conforme afirma o especialista, é ao credor fiduciário que a lei confere a obrigação de organizar o primeiro leilão em até 30 dias, mais 15 dias para o segundo e cinco dias para a prestação de contas ao devedor fiduciante, de forma que só caberia a cobrança de taxa de ocupação após a venda em leilão e prestação de contas.

    “Até porque”, explica o advogado, “não é incomum a situação em que o imóvel é levado a leilão em condição de que parte substancial do valor apurado seja destinada ao devedor fiduciante. Pagar taxa de ocupação integral de um bem do qual o devedor detém parcela substancial de direitos parece-nos quase uma expropriação.”

    O advogado assim conclui: “Essa cobrança agora permitida pela lei proporciona ao credor meio de enriquecimento sem causa, uma vez que o débito a ser liquidado com a venda do imóvel em leilão continua evoluindo nesse período, de acordo com as cláusulas de juros e atualização monetária contratuais, até a data da venda efetiva em leilão, o que já corresponde à remuneração do credor fiduciário. A cobrança de taxa de ocupação no mesmo período é impor dupla penalidade ao devedor fiduciante.”

    Já para Vinícius Costa, presidente da Associação Brasileiras dos Mutuários da Habitação – que não foi chamado para debater as alterações na lei – a nova norma caracteriza “a imposição de uma taxa que se assemelha mais a uma punição ao mutuário, com intuito de forçar a desocupação do imóvel sem a necessidade de um processo.”

    Aos Jornalistas Livres, a Caixa Econômica Federal afirmou que “não cabe à CAIXA posicionar-se acerca da legislação, mas tão somente cumpri-la dentro do mais estrito respeito à lei.” Já a Presidência da República, o Ministério do Planejamento e o da Fazenda foram procurados pela reportagem para comentar o assunto, mas não responderam.

     

    • Dívida pode ser cobrada com familiares, vizinhos e porteiros

    Conforme determinava a lei antes de ser alterada segundo os interesses dos bancos, para que a instituição financeira desse início aos procedimentos de retomada do imóvel, era preciso notificar extrajudicialmente o devedor. Assim dizia o texto legal:

    A intimação far-se-á pessoalmente ao fiduciante, ou ao seu representante legal ou ao procurador regularmente constituído.

    Agora, se o oficial de registro de imóveis não encontrar o mutuário em seu endereço por duas vezes, poderá passar a intimação para quem estiver a seu alcance, graças a dois dispositivos que foram incluídos na lei a pedido dos bancos. São eles:

    “ARTIGO 26

    3o-A. Quando, por duas vezes, o oficial de registro de imóveis ou de registro de títulos e documentos ou o serventuário por eles credenciado houver procurado o intimando em seu domicílio ou residência sem o encontrar, deverá, havendo suspeita motivada de ocultação, intimar qualquer pessoa da família ou, em sua falta, qualquer vizinho de que, no dia útil imediato, retornará ao imóvel, a fim de efetuar a intimação.

    3o-B. Nos condomínios edilícios ou outras espécies de conjuntos imobiliários com controle de acesso, a intimação de que trata o § 3o-A poderá ser feita ao funcionário da portaria responsável pelo recebimento de correspondência.”

    Vinícius Costa, da ABMH, explica o que a mudança representa: “O mutuário não tem a garantia de que será comunicado pela pessoa que receber o oficial cartorário, muito menos possui mecanismos de acompanhar a fase que esse procedimento se encontra para poder exercer seus direitos.”

    Ele explica que a nova norma fere um princípio constitucional, o da pessoalidade, que determina que nenhum ato jurídico pode ser feito por meio de uma terceira pessoa que não aquela diretamente afetada por ele. “Com a recente alteração, passou-se a aceitar que terceiros recebam em favor do devedor principal uma notificação que é de extrema importância.”

    • Mutuários perdem direito de ir à Justiça para contestar contrato

    Sempre visando retomar o imóvel da forma mais rápida possível, a nova lei apresentada pelo governo Temer impede que o mutuário vá à Justiça para contestar a retomada de seu imóvel caso entenda que está sendo punido injustamente. É o que diz um novo parágrafo único incluído no Artigo 30 da lei:

    “Uma vez averbada a consolidação da propriedade fiduciária, as ações judiciais que tenham por objeto controvérsias sobre as estipulações contratuais ou os requisitos procedimentais de cobrança e leilão, excetuada a exigência de notificação do devedor fiduciante, serão resolvidas em perdas e danos e não obstarão a reintegração de posse de que trata este artigo.”

    Ou seja, caso o mutuário se sinta lesado em seus direitos pela retomada de seu imóvel pelo banco, ele não pode mais entrar com uma ação judicial para tentar frear a suposta retomada ilegal do bem. Agora, o máximo que ele pode fazer é abrir um novo processo por perdas e danos, na Justiça comum. A partir daí, ele enfrentará uma batalha judicial de anos com a instituição financeira que, por sua vez, poderá tomar o imóvel de pronto, por meio de um procedimento extrajudicial que não pode ser contestado juridicamente e tem duração de poucos meses.

    Assim, as alterações prometem rapidez e redução de ajuizamento dos processos de retomada de imóveis, como querem os bancos, mas vão de encontro com princípios básicos do direito, como o da legalidade e livre acesso à Justiça. Segundo Mauro Antônio Rocha, os artigos são passíveis de contestação judicial. O especialista vê com preocupação as mudanças, pois as alterações vieram para evitar a judicialização e tornar o processo totalmente extrajudicial, mas podem gerar demandas sobre a validade de seus dispositivos em questões basilares do ordenamento jurídico brasileiro, alongando o procedimento.

    Dos últimos anos para cá, a realidade do mercado e dos mutuários mudou diante da crise econômica e, consequentemente, a taxa de inadimplência para financiamentos imobiliários aumentou. A Caixa Econômica Federal, porém, sequer divulga qual o percentual de mutuários em atraso com suas parcelas, apenas números de imóveis recuperados. De acordo com a CEF, banco que detém quase 70% do mercado de financiamento imobiliário do país, esse número passou de 13.137 unidades em 2015, para 15.881 em 2016.

    • Todas as mudanças valem também para o Programa Minha Casa Minha Vida

    Os novos procedimentos aprovados a pedido dos bancos recaem também sobre a Lei 11.977, de 7 de julho de 2009, a norma que instituiu no país o programa Minha Casa Minha Vida, voltado à população de baixa renda.

    Por seu caráter social, o programa tinha regras específicas, visando proteger o mutuário que eventualmente venha a enfrentar dificuldades financeiras. Agora, com a nova lei de Temer, o mutuário do MCMV passa a ser tratado como um financiado comum, sendo submetido às mesmas regras de aceleração da retomada extrajudicial de seu imóvel quando se tornar inadimplente.

     

  • Ocupação de Moradia em Salvador

    Ocupação de Moradia em Salvador

    Entre dois dos maiores conjuntos do Minha Casa Minha Vida em Salvador, o Bosque das Bromélias e o Jardim das Margaridas – este praticamente pronto mas ainda não entregue – cerca de 65 famílias de sem tetos passaram a ocupar um terreno que há mais de cinco anos encontrava-se abandonado e sem cumprir nenhum fim social, como preconiza a Constituição brasileira.

    O sonho da casa própria passou a ganhar vida para estas pessoas no fim de novembro de 2016 quando, organizadas num núcleo do Movimento Sem Teto da Bahia (MSTB), decidiram realizar a ocupação do espaço até então neglicenciado nas margens da rodovia CIA|Aeroporto – uma região na periferia de Salvador praticamente esquecida pelo poder público e que sofre com escassez de serviços e infraestrutura públicos. Faltam posto de saúde, escola, serviços de comércio e o transporte é precário.

    Conjunto Bosque das Bromélias, com 2.400 unidades o segundo maior condomínio do Minha Casa Minha Vida em Salvador. Na ausência de planejamento para áreas de serviços, improviso no uso do espaço

    Vínhamos nos organizando há mais de dois anos. Observando a necessidade de muitas pessoas. Muita gente morando de aluguel ou de favor no próprio condomínio do Bosque das Bromélias. Começamos a pesquisar e procurar um terreno. Foi quando observamos melhor este que estava ocioso há vários anos”, diz Maria Lobato, coordenadora estadual e municipal do MSTB, mais conhecida como Lôra.

    A hostilidade quanto à ocupação não tardou. No dia seguinte dois policiais não identificados, que acompanhavam uma pessoa que se apresentou como proprietária da área, tentaram provocar com ofensas os ocupantes. Como não obtiveram sucesso, estes policiais voltaram sozinhos à noite quando então destruíram as marcações que haviam sido feitas no terreno e passaram a disparar tiros durante um longo período, segundo relatos dos ocupantes. “Eles simulavam participar de um tiroteio. Era só teatro para nos intimidar”, afirma Lôra.

    Especulação Macabra

    Num terreno baldio com grande densidade vegetal e vizinho ao terreno ocupado, duas semanas depois, em meados de dezembro, a Polícia Civil descobriu dois corpos em estado avançado de desintegração e ainda se cogita que pode haver mais cadáveres enterrados na área.

    A menos de 1 km do Bosque das Bromélias, o conjunto Jardim das Margaridas com 1.880 unidades planejadas, com obras em acabamento e próximo de ser entregue

    Na ocasião o MSTB lançou um nota sobre o episódio – “Onde há gente morando não há cemitérios clandestinos” – assinalando que a própria dinâmica de segregação produzida pela especulação imobiliária acaba se manifestando na violência contra os marginalizados.

    A descoberta dos corpos em um terreno baldio evidencia uma face macabra da especulação imobiliária que tem se intensificado na cidade de Salvador. (…) Estas áreas ociosas, mantidas como reserva de capital pela iniciativa privada, acabam sistematicamente transformadas em cenário ou depositário da violência contra a população mais fragilizada da nossa cidade. Fazem parte de um sistema brutal que impunemente assassina e desaparece com os corpos negros e pobres das periferias, e cristaliza a desigualdade social” , diz a nota.

    Recomeço

    Ocupação MSTB Núcleo Força e Luta Salvador - Júlio Fisherman | Jornalistas Livres

    Para muitos dos que estão na ocupação do núcleo Força e Luta, a oportunidade de conseguir um lugar seu não apenas é a chance de encontrar uma solução para a questão da moradia, como também iniciar uma nova fase de suas vidas.

    É o caso do jovem Adriano Paz, 18 anos, ex-morador de rua. “Ou morava na rua ou morava de favor na casa de alguém, quando acabava sofrendo humilhação. Na rua morei por três anos no bairro da Pituba e era rotina sofrer agressão policial sem ter feito nada. Sentia ainda que as pessoas tinham muito medo de mim. Aqui eu tenho encontrado pessoas que me ajudam e com quem posso contar e conversar espero começar a minha vida. Botei na cabeça e vou construir aqui uma casa”, diz.

    Outra ex-moradora de rua é Valdileide Santos, 24 anos, que participa de sua segunda ocupação. “Acabei deixando a outra Ocupação MSTB Núcleo Força e Luta Salvador - Júlio Fisherman | Jornalistas Livresocupação que participei, em Plataforma (subúrbio de Salvador), mas desta vez vou dar mais valor a todo esforço que estou fazendo para conseguir construir aqui minha casa. Meu barraco no momento é de lona, mas quando morei na rua, nem lona tinha. Eu quero mudar de vida, não quero mais esta vida para mim. Muitos que eu vejo morar na rua, inclusive um irmão meu, acabam se entregando a droga. Mas eu escapei disso, embora fosse parada e agredida por seguranças de lojas e policiais muitas vezes” declara num tom entusiasmado.

    Já numa curva da vida mais adiante, há também Hugo Santana, 66 anos, que procura o sossego de ter uma casa sua. “Trabalhava como caminhoneiro numa empresa, mas fui demitido em fevereiro de 2016. O dinheiro da indenização empreguei numa pequena fábrica de sandálias que montei, mas o negócio não deu resultado e estou vendendo tudo que comprei. Até o desemprego morava numa casa alugada, depois fui morar de favor na casa de um sobrinho. Nunca tive casa própria. Agora é construir primeiro o barracão e depois uma casinha para mim”, diz com ar melancólico, mas altivo.

    A ocupação foi judicializada com pedido de reintegração de posse. Requerendo a expulsão imediata e sem consideração aos ocupantes, um pedido em caráter liminar foi negado pelo Tribunal de Justiça. “A gente sempre passa por isso, mas não me assusta, a gente vence. Estou preocupada no momento na construção dos barracos e na melhora da estrutura aqui. Estamos interessados em corrigir o erro de outras ocupações. De todo modo, nós vamos estar organizados”, diz Lôra, com confiança.

  • “Moradia se tornou sinônimo de mercadoria”, diz a ex-relatora da ONU Raquel Rolnik

    “Moradia se tornou sinônimo de mercadoria”, diz a ex-relatora da ONU Raquel Rolnik

    Em entrevista, a arquiteta fala sobre financeirização das políticas habitacionais em diversas partes do mundo

    “A mudança de paradigma é que a moradia se transformou em um setor econômico, mais do que numa política social. Passa-se a enxergar o setor da produção residencial como uma das novas fronteiras de expansão do capital financeiro”, explica a arquiteta e ex-relatora da ONU para o Direito à Moradia Adequada, Raquel Rolnik.

    Raquel Rolnik é professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAO-USP). Foi relatora especial do Conselho de Direitos Humanos da ONU para o Direito à Moradia Adequada, por dois mandatos (2008–2011, 2011–2014). Também atuou como diretora de Planejamento da Cidade de São Paulo, coordenadora de Urbanismo do Instituto Pólis e secretária nacional de Programas Urbanos do Ministério das Cidades.

    Em entrevista aos Jornalistas Livres e ao Brasil de Fato, durante sua participação no Circo da Democracia, Rolnik fala sobre a financeirização a partir das transformações nas políticas habitacionais em diversas partes do mundo, tema de seu novo livro “Guerra dos Lugares”, recém-lançado em Curitiba. “A mudança de paradigma é que a moradia se transformou em um setor econômico, mais do que numa política social. Passa-se a enxergar o setor da produção residencial como uma das novas fronteiras de expansão do capital financeiro”, explica a arquiteta.

    No Brasil, segundo a ex-relatora da ONU, essa mudança de paradigma acontece com forte liderança e subsídio do Estado, inclusive avançando sobre os fundos públicos dos trabalhadores para o financiamento de grandes obras, como é o caso do Porto Maravilha, no Rio de Janeiro, que teve maciça injeção de recursos do FGTS.

    O elemento fundamental desse processo, de acordo com ela, é a oferta de acesso de compra via crédito para a casa própria aos mais pobres. “Há um paradoxo na ‘era Lula’. Ao mesmo tempo em que se ensaia talvez pela primeira vez a implantação de um Estado de bem-estar social com a expansão das políticas públicas e de uma rede de proteção social, ela se dá através de um modelo que traz consigo toda a lógica da financeirização”, lamenta Rolnik, sinalizando também as ameaças e perigos da atual conjuntura para a o direito à moradia e à cidade.

    Confira a entrevista.

    Jornalistas Livres/Brasil de Fato  — Seu livro mais recente, “Guerra dos Lugares” fala sobre o impacto da financeirização nas políticas públicas de vários países pelos quais você passou durante dois mandatos consecutivos como relatora especial da ONU. Em primeiro lugar, o que devemos entender por financeirização, neste contexto?

    Raquel Rolnik  — Meu mandato na ONU começou em 2008 e, imediatamente, estourou a crise financeira e hipotecária nos Estados Unidos, que gerou um efeito dominó em vários países. E os primeiros relatos que chegaram até mim, com denuncias de violações de direitos, eram sobre os atingidos por esta crise. Eu precisei começar a entender o que estava se passando no mundo, para além de verificar a situação das famílias e a vulnerabilidade em que se encontravam. Precisei compreender a conexão entre o que essas famílias estavam vivendo e a crise financeira.

    O que aconteceu nos EUA também aconteceu na Espanha, na Irlanda e no Casaquistão, por exemplo. Quando cheguei no Casaquistão, me deparei com uma greve de fome de pessoas sem casa, que não tinham nada. Começamos a entender que isso não aconteceu só nos Estados Unidos, mas fazia parte de um processo global. A entrada da minha pesquisa sobre a financeirização foi por aí, via o processo de transformação das políticas habitacionais no planeta, que possui diferentes versões.

    A mudança de paradigma é que a moradia se transformou em um setor econômico. Passa-se a enxergar a produção residencial como uma das novas fronteiras de expansão do capital financeiro, com um papel de destaque para o crédito hipotecário. Mas eu diria que entre o crédito hipotecário dos EUA e dos países europeus e o microcrédto da favela, que é outro extremo, nos deparamos com uma enorme variação de formas e modelos.

    O elemento fundamental, porém, o acesso à habitação via crédito para a casa própria — isso já acontece pelo menos desde os anos 30 nos EUA -, mas que esse mercado se expanda na direção dos mais pobres. A moradia se transforma em sinônimo de mercadoria e de ativo financeiro, deixando de ser algo historicamente definido como política social, numa perspectiva de universalização, assim com ocorre com a educação e com a saúde.

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    JL/BDF — Mas então, em que essa fase do capitalismo se difere das anteriores?

    RR  — Essa é a fase da hegemonia da lógica financeira na definição do destino das cidades: do que, de onde e de como será produzido, única e exclusivamente pautando-se na lógica do fluxo de rentabilidade futura. Ela é muito diferente do fordismo e da era industrial, em que as perguntas eram ‘como expandir mercado?’, ‘como produzir mais’? e ‘como vender mais?’. A pergunta fundamental agora é onde posso investir capital excedente global, que é fruto da mais valia global e que fica pairando sobre o planeta, procurando permanentemente oportunidades que permitam que ele seja remunerado através dos juros. Por isso se fala em ‘Wall of Money’.

    Para dar um exemplo, o fundo de investimento da Apple — o que a Apple precisava investir para gerar juros — é maior do que a reserva do Banco Central da Alemanha. Isso acaba sendo o determinante das políticas em geral das grandes empresas. Aquilo que a Apple vai usar do seu fundo de investimento para reinvestir em tecnologia ou produção é um percentual ínfimo, e o resto fica pairando por aí como uma nuvem procurando ativos.

    A questão — e aí é que está o link entre finaceirização e transformação urbanística, na qual a moradia é um elemento importante — é que o espaço urbano é um campo particularmente interessante e adequado para o circuito financeiro. Ao contrário do jogo especulativo de ações que podem virar pó do dia para a noite, o espaço construído pode perder ou ganhar valor, mas não some. Em segundo lugar, ele é tipicamente algo que pode acolher investimento de longo prazo, mesmo em um espaço mal construído. Finalmente, a terra e o espaço podem funcionar como garantia de empréstimos. Então, são ativos para alavancar mais dinheiro.

    JL/BDF  — Muitos avaliam que estamos experimentando, no Brasil, um momento de neodesenvolvimentismo e não propriamente de financeirização no modelo dos Estados Unidos e de países europeus. Como você enxerga isso?

    RR  — De fato é muito diferente. E de fato há uma controvérsia sobre o quanto se pode falar em financeirização da moradia no Brasil. Primeiro, porque o controle da produção de espaço pelas finanças é um processo que está em curso, mas começa no país já no final dos anos 1990. Ou seja, com um timing diferente dos Estados Unidos e dos países centrais europeus. E outra característica especifica é que hoje ele se dá, aqui, muito mais na construção do espaço comercial do que no espaço residencial. A produção residencial no Brasil é muito pouco financeirizada.

    Um dos elemento fundamentais que gerou a crise financeira e hipotecária nos Estados unidos, na Espanha e em alguns outros países é a chamada securitização. Isso significa que a pessoa pega um empréstimo para comprar uma casa ou apartamento e essa casa ou apartamento ficam como garantia. O banco que gera o empréstimo não fica com essa hipoteca, mas vende a expectativa das prestações futuras que essa pessoa irá pagar para um outro investidor. E este outro investidor irá empacotar esses créditos com a expectativa futura de valorização de outras commodities — e irá vender para terceiros, de modo que a relação que se estabelecia entre a pessoa e o lugar começa a circular como um ‘paper’ em um circuito completamente abstrato. Assim, vinculou-se muito mais a relação das famílias com o seu lugar de moradia ao circuito financeiro global. No Brasil, quase não se tem esta securitização do crédito.

    Destruição das políticas sociais

    A partir de 2005 e 2006, vivemos uma expansão do crédito para consumo que se transformou numa grande expansão do crédito para a moradia, através do programa ‘Minha Casa, Minha Vida’, que subsidia segmentos com menor renda. Isso significa também uma ampliação das fronteiras do capital financeirizado na direção dos mais pobres.

    Embora a hipoteca fique circulando, as pessoas é que estão endividadas. Isso é uma característica do processo de financeirização, que no Brasil ainda não se completou, mas está em curso. Enquanto os imóveis estavam valorizando, como no caso dos EUA e de outros países da Europa, as pessoas até hipotecavam duplamente ou triplamente a casa para pagar a universidade do filho ou para comprar um carro.

    O mercado financeiro é um jogo, tem seus riscos, ele sobe e desce. Na hora que desceu e o castelo de cartas começou a desabar, foram as pessoas endividadas que foram atingidas, porque não podiam pagar prestações, perderam sua moradia. Aquele sistema de proteção social que existia antes para atender às necessidades dos mais pobres havia sido completamente desmontado. Muitos foram para as ruas.

    É muito importante entender que estamos falando da construção de uma política [de mercado], mas, sobretudo, da destruição de outras [sociais]. E estamos vivendo isso de modo muito forte no Brasil hoje. Não é só a política que foi destruída, mas todo o imaginário social vinculado à ideia desta política. Aqui no Brasil nunca houve Estado de bem-estar social, mas a gente viveu uma expectativa consagrada na Constituinte de 1988 da construção desse Estado de bem-estar social. Portanto, a destruição desse imaginário é muito radical. E isso também é desmontado em nome de uma sociedade 100% estruturada através da lógica do mercado, da rentabilidade e do investimento.

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    JL/BDF  — Na atual conjuntura política, com o afastamento da presidenta Dilma Rousseff, já existem medidas que aprofundam esse processo de financeirização ou que ameaçam o direito à moradia?

    RR  — Primeiro, é importante dizer que houve um paradoxo durante a era Lula. Não gosto de chamar o momento que vivemos no Brasil de ‘neodesenvolvimentismo’, porque ao mesmo tempo em que se ensaia talvez pela primeira vez a implantação de um Estado de bem-estar social através do aumento de uma intervenção forte do Estado na disponibilização de políticas sociais ou de uma rede de proteção social, ele se dá através de um modelo que traz consigo toda a lógica da financeirização.

    Isso não aconteceu apenas na política de moradia, mas na política de educação também. Houve uma inclusão educacional, com expansão das vagas das universidades públicas, o que foi extremamente importante. Mas o grande movimento de inclusão foi através do Prouni, que é o subsídio para a aquisição de um produto educacional fornecido não por instituições educacionais mas por um fundo de investimento global, porque o setor educacional privado é um dos mais financeirizados do Brasil. Assim como a saúde, com os hospitais.

    Esse processo de transformação do paradigma das políticas públicas — ao contrário do que alegam os propagandeadores do neoliberalismo, ao defenderem um Estado fraco e a entrada irrestrita do mercado — tem a participação ativa, a liderança, a condução e o financiamento por parte do Estado. No Brasil, mais ainda do que nos Estados Unidos e na Europa. Acredito que o exemplo mais eloquente seja o do Porto Maravilha, no Rio de Janeiro. É o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, o FGTS, dos trabalhadores, que financiou uma operação urbana de ampliação da fronteira do complexo imobiliário-financeiro no Rio de Janeiro. Essa é a contradição. Minha leitura é que chegou uma hora em que não se precisava mais do pedaço “redistribuição”, porque o marco regulatório da financeirização já está todo armado.

    Olhando na perspectiva internacional, é possível entender o caminho que o Brasil foi construindo nessa direção, embora ele, contraditoriamente, apostasse na outra. Mas isso era insustentável e uma hora iria explodir. E explodiu da pior maneira, através de um golpe de Estado. Jamais as elites brasileiras e os pontas de lança do neoliberalismo iriam ganhar as eleições. Apesar disso, não podemos deixar de apontar todos os passos que foram dados durante a era Lula na direção de abrir espaço para a penetração do capital financeiro global.

    JL/BDF  — Em seu livro, você descreve situações delicadas pelas quais passou como relatora da ONU, como quando autoridades britânicas questionaram sua atuação por ser ‘uma mulher e de um país do sul’. O que significou essa experiência na sua trajetória?

    RR  — Vou fazer um depoimento muito pessoal. Eu nunca havia tido, até a relatoria, qualquer tipo de militância feminista. E aqui há uma questão de classe, porque tive que enfrentar talvez poucas barreiras na vida em relação à maior parte das mulheres.

    Além disso, pela minha origem de imigrante polonesa- criada em ambiente multicultural, multilinguístico e cosmopolita-, me via como uma cidadã do mundo. Era difícil me enxergar como brasileira, antes de mais nada.

    Para mim foi um enorme choque quando cheguei na Inglaterra. Em todos os países adotei esta postura: examinei, visitei os governos, conversei com comunidades, realizei audiência públicas e, no final, de forma muito independente, me manifestei sobre as situações de violação de direito à moradia que estavam ocorrendo.

    Mas o Reino Unido foi o único lugar em que o governo não gostou do que falei e que a reação do partido foi de questionamento. Como era possível- e foi nesses termos- uma mulher brasileira, de um país marcado pela presença de favelas e pela falta de saneamento, ousar emitir qualquer opinião crítica sobre a política habitacional britânica? Afinal de contas, o que se pensa é que o papel dos países do sul, na sua condição de subalternidade no cenário internacional, é almejar implantar as políticas dos países europeus.

    Naquele momento me caiu uma ficha sobre a própria posição de subalternidade em que nos colocamos como pensadores e militantes, como se fosse impossível sairmos dessa posição.

    Foi importante para pensamos, inclusive, nos próprios modelos e nos caminhos que a gente tem que seguir. E senti o estigma de ser mulher. Evidentemente, eu sei que aquela foi a velha estratégia do “shoot de mesanger”: quando não se gosta da notícia que o mensageiro traz, você desconstitui o mensageiro. Entramos em conexão com pessoas que estavam sendo extremamente violadas e cujas vozes estavam sendo reprimidas. A presença da relatoria da ONU confirmando essas violações gerou grande repercussão na política interna.

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    Fotos: Leandro Taques/Jornalistas Livres
    • Thiago Hoshino é doutorando em direito na UFPR e pesquisador do INCT Observatório das Metrópoles.
  • Último acampamento do MTST em Brasília resiste a ação de desocupação

    Último acampamento do MTST em Brasília resiste a ação de desocupação

    As famílias do acampamento Maria da Penha do MTST, em Planaltina-DF resistem. A polícia militar se encontra no local para começar um processo de reintegração de posse do acampamento.

    A assessoria jurídica do movimento afirma que não há comprovação do dono do terreno e denuncia várias ilegalidades no processo.

    Reclamam também que a presença do Estado ocorra não somente com mecanismos de repressão, mas também com os de proteção à população, como o Conselho Tutelar (várias crianças moram no local), o corpo de bombeiros e ambulâncias.
    487 famílias vivem no acampamento, que começou há cerca de 9 meses. Nesse tempo, foram construídas, por exemplo, escola e horta pelas famílias. As famílias do acampamento Maria da Penha Resiste, o MTST e todos aliados dizem que irão resistir à ação. Este é o último acampamento do MTST existente no Distrito Federal.

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    Veja nota do MTST divulgada hoje cedo sobre esta ocupação:

    O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto – MTST vem a público denunciar o processo de reintegração de posse previsto para o dia 4 de maio às 8hs, do acampamento Maria da Penha Resiste, em Planaltina/DF
    Denunciamos o descaso do GDF em não efetivar a política pública e romper diversos acordos com o MTST até o momento, fazendo com que o déficit habitacional cresça.
    Denunciamos também o senhor Juracy da tesoura de ouro, pré candidato a vereador em águas lindas de Goiás, que entrou com o pedido de reintegração de posse mesmo sem comprovar que é o dono da área que estava há mais de 10 anos sem utilidade.

    Denunciamos o judiciário que mal analisou documentos e não exigiu efetiva comprovação de posse da área.
    Nestes 9 meses o MTST criou escola, ciranda para criancas, hortas e um novo sentido de vida para mais de 400 famílias.

    Agora, o descaso do GDF, a ganância do Juracy da tesoura de ouro e a insensibilidade da justiça querem destruir tudo isto.
    As famílias do acampamento Maria da Penha Resiste, o MTST e todos aliados informam que irão resistir a esta ação e que continuarão lutando pela justiça social e pelo direito a moradia.
    Enquanto morar for um privilégio, ocupar será um direito

  • Teto da Dignidade

    Teto da Dignidade

    Pedaço de papelão. Cobertor de doação. Tijolo aparente. Teto sem ventre. O alicerce da dignidade se sobrepõe ao da indigência. Não passar fome para não retroceder na vida.

    A condição humana por um fio. Por não ter onde repousar o direito ao sonho, com o básico conforto que nossa espécie demanda para progredir. Aqui, na rua Conselheiro Furtado, 648, para sobreviver.

    Para não se converter em sacos de lixos verticais horizontalizados nas calçadas da penumbra, que emoldura a contradição de canalizar uma copa do mundo, mas não o saneamento básico.

    Sonhos de emigrantes e imigrantes se mesclam para edificar suas vidas no vazio concreto da cidade. Que seca.

    Com teto.



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