Gays espancados até a morte no Brasil: até quando?

Igreja em frente onde o jovem trabalhava em São João del-Rei. Foto: Aline Frazão/Jornalistas Livres
Igreja em frente onde o jovem trabalhava em São João del-Rei. Foto: Aline Frazão/Jornalistas Livres

A sexta-feira estava atípica no Largo do São Francisco, no centro histórico de São João Del Rei. Nenhum dos bares por ali, em frente à Igreja São Francisco de Assis, um dos cartões postais mais bonitos e importantes da cidade, estava aberto.

As pessoas também não circulavam, alegres e em bando, como de costume. De fato, muito atípico.  O motivo, soube-se depois, era o luto por um assassinato cruel ocorrido naquela madrugada do dia 11 de março. Um garçom de um dos bares havia sido espancado até a morte a caminho de casa, depois do trabalho. Ninguém viu ou ouviu nada. O corpo dele foi encontrado por uma moradora que voltou mais tarde ainda do trabalho naquele dia.

O jovem morto, Adílio Silva, era pobre, negro e homossexual. Três características que suscitam o ódio de pessoas que se preocupam tanto com o desejo alheio que não sabem o que fazer com o próprio desejo, e o pior, se sentem no direito de tirar a vida de alguém que acredita não ser merecedor da vida.  Atitude estúpida, mesquinha, egoísta, e que deixa transparecer o pior dos sentimentos: ódio, muito ódio.

Há alguns anos, o ex-namorado de Adílio também teve o mesmo fim, com diferente meio: ao invés de espancamento, ele foi queimado vivo. Adílio, contam, era uma pessoa de bom coração, um rapaz alegre e extrovertido que sempre atendia muito bem os clientes. O que explica o luto (no sábado apenas um bar estava aberto e não havia ainda a animação de costume) e a manifestação contra o crime, marcada por moradores e amigos para o próximo sábado (19) na cidade.

Como também não é de costume – sempre volto feliz das viagens até São João Del Rei, a volta da cidade histórica dessa vez foi triste, pesada. Chorei alguns momentos, imaginando cada soco e chute contra o indefeso que o levaria sangrar até a morte. Até quando teremos de ver esse tipo de coisa? Até quando teremos de ver políticos que deveriam nos representar incitando o ódio e perseguição aos homossexuais? Até quando essas pessoas, falsos de uma boa moral, vão falar que ser homossexual é comportamento e até doença? Até quando Brasil?

 

COMENTÁRIOS

2 respostas

  1. A morte de alguém sempre é algo triste.
    Mas, desculpem-me, há provas da motivação do assassinato?
    A matéria fala como se ele tivesse morrido por ser ou pobre, ou negro ou gay, mas não há base nenhuma para isso.

    OBS: sou negro e classe média (baixa)

  2. Lamentável a morte de todo e qualquer ser humano, é lamentável a banalização da vida humana.
    Porém dizer que ele morreu por ser negro, pobre e gay já é demais, pois eu poderia dizer que é
    Muita sorte viver 48 anos sendo pobre e negro, em uma região colonizada por sulistas; será que não me viram p me matarem?

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