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  • Coronavirus Brasil. A tragédia anunciada em dados e números

    Coronavirus Brasil. A tragédia anunciada em dados e números

    Coronavirus Brasil é um programa de visualização de dados que, tem como objetivo visualizar a difusão da contaminação pelo Covid-19 no Brasil. Um geolocalizador dos dados com fase histórica que nos são apresentados em forma de tabela e, que por estar nesse suporte, não cria imagens na nossa mente e deixa essa questão extremamente abstrata e conceitual.

    Coronavirus Brasil

    A função dessas visualizações é responder à perguntas encontradas em uma base de dados gigantesca, especificando qual o tamanho de negócio, e onde ele se encontra, pra onde vai e até quando dura? Acompanho o desenvolvimento dessa crise de forma prática. No início o software levava menos de 30 segundos para ativar, agora leva uns 5 minutos para dar conta dos dados, e até o fim da pandemia vai aumentar.

    Importante deixar registrado que o resultado de hoje é uma viagem no tempo, as pessoas com sintomas hoje foram contaminadas pelo menos 14 dias atrás. O abril conturbado só piorou muito o que já era ruim. As curvas que eram interrompidas, mesmo que as amostragens diárias tenham um padrão de ruídos, mas apresentar um padrão randômico mostravam graves problemas na amostragem e diagnóstico. Problemas esses que se acumularam e atingiram a dramaticidade agora por total incompetência, se quisermos ser lenientes com esse desgoverno, ou projeto político dos nossos necrogovernantes.

    A leitura da fase histórica traz certos padrões no crescimento dos números:
    1. por questões culturais, os número caem todo final de semana, voltam a subir nas terças, e atingem novos patamares nas quintas-feiras.
    2. toda quinta-feira, nosso presidente cria um novo factóide. todas suas falas infelizes se deram nas quintas-feiras para desviar a atenção desse novo patamar. Foi gripezinha, cloroquina, falas contra a quarentena, crise com Mandetta, não sou coveiro, etc.
    3. 14 dias depois de cada fala há uma explosão de números, com novos patamares para novos casos e mortes.

    A tendência é atingirmos o patamar de tragédia com a aceleração da curva e os custos econômicos de não fechar a economia, para diminuir o tempo de duração da pandemia no nosso território. Há que prestar atenção que há uma semana o responsável pelos números da pandemia no MS foi trocado(3) e desde então o número de mortes por covil caíram milagrosamente, mas as mortes por SRAGs mais que decuplicaram comparadas a outros anos(4) segundo dados da Fiocruz. Esses dados também vem milagrosamente reduzindo há uma semana.

    Se tivéssemos feito o lockdown em março estaríamos saindo dessa enrascada por volta de 10/5, o provável agora é que saiamos dessa pandemia do coronavirus só em julho.

    RoadMap

    A primeira incursão nessa pesquisa do Coronavirus Brasil foi uma tentativa de criar um próprio mapa que tivesse a visualização global, como muitos outros que estão rodando a rede, para ilustrar a chamada para a nova edição da Na Borda, uma revista eletrônica de arte com o tema pandemia/virus. Essa visualização me trouxe a necessidade de criar uma versão local, em que tivéssemos tanto o país, quanto os estados brasileiros.

    A primeira questão na visualização de dados é encontrar os dados. Esse tipo de visualização precisa de uma fase histórica, isso é, uma planilha com dados diários acumulativos separados por Estados. Encontrei esses dados no GitHub(1) do Wesley Cota, doutorando em física pela UFV que se encontra na Espanha. wcota programou um bot que faz varreduras nos boletins das Secretarias estaduais e municipais, bem antes do Ministério da Saúde centralizar os boletins. A normativa do Secretaria de Saúde para a notificação e centralização dos dados aconteceu só em 31/3(2). O tempo tem mostrado ser mais acertada a busca pelos dados das Secretarias do que do Ministério.

    A primeira versão do Coronavirus Brasil surgiu no final de março, 26/3, que teve por objetivo criar a segurança dos dados. Isso é fazer a leitura da tabela de estados, criar a fase histórica de cada estado e plotar um gráfico com as curvas lineares com o total de contaminações e óbitos.

    Coronavirus Brasil
    Aquisição, análise sintática e distribuição dos dados

    Finalizada a fase de aquisição, análise sintática e distribuição dos dados com segurança, passamos para a segunda fase que é a fase de perguntas e respostas a esse dump de dados. As primeiras necessidades eram, visualizar o lugar no mapa, apresentar as totalizações do dia (total de casos, novos casos e mortes), junto a uma plotagem das duas curvas (tC e nC).

    Coronavirus Brasil
    Fase de perguntas e respostas a esse dump de dados

    O próximo passo era iniciar a visualização por cidades. A primeira visualização foi a plotagem das cidades no mapa nacional e a visualização dos dados de cada município. Menos abstrato mas ainda sem diferenciação.

    Coronavirus Brasil
    Visualização por cidades

    A segunda fase dessa visualização por municípios foi a criação de um mapa coreoplético, o que me obrigou a terminar um projeto abandonado de criar um mapa SVG com todos os municípios do brasil em vetor com seu código IBGE. Uma semana depois foi encerrada essa fase, com a visualização coreoplética nacional, estadual e das regiões metropolitanas.

    Coronavirus Brasil
    Mapa coreoplético

    Estamos na V7.a. do aplicativo. Falta arrumar a visualização dos mapas das cidades, para carregar mapas customizados de acordo com a programação visual do aplicativo e transportar tudo para a web.

    Histórico de Abril

    Antes de passarmos as leituras dos dados em si, temos no link abaixo uma visualização da fase histórica do Coronavirus Brasil no mês de Abril no Brasil e em todos os estados.

    Vemos em cada localidade/dia:
    Novos Casos (nC) em vermelho, Total de Casos(tC) em verde, Total de Mortes(tD) em cyan, Novas Mortes(d) em azul, População Estimada e Casos/100k habitantes em roxo, Mortalidade/Infectados e Mortalidade/População em cyan. Três curvas históricas. Dois gráficos “pizza” com tC e tD por estados, lista dos 25 municípios mais atingidos.
    Mapa coreoplético da infecção.

    No alto, à esquerda, temos alguns números de controle. O que interessa é o quinto número, que indica a quantidade de municípios atingidos no momento da leitura de dados. Cada dado aparece com um time stamp, que mostra o horário da leitura dos dados.

    Leitura de Dados e Interpretações

    Números importantes foram retirados da tabela de dados: casos/100k habitantes que revelam o grau de contaminação de determinada população, mortes/infectados que indicam o grau de letalidade da infecção em cada localidade, e a letalidade em relação a população total da localidade.

    A taxa de mortes/infectados locais é um indicador que pode nos dar uma idéia da subnotificação dos dados do coronavirus. A taxa global de mortalidade do vírus é 2% dos contaminados. As taxas de mortalidades brasileiras estão em média 7%, o que indica que temos 3.5 vezes mais gente contaminada há 14 dias do que os números apresentados na foto do dia. Se consideramos que em 14 dias todos os índices brutos cresceram 150% por quinzena desde o início da pandemia do coronavirus, podemos supor que hoje temos 12 vezes mais gente contaminada do que o dado do dia.

    Coronavirus Brasil
    Comprovação de provável subnotificação

    Rotas de Contaminação

    A pandemia entrou no Brasil pelos aeroportos, mas ela se difunde pelas rodovias, essa é a tese do Professor Edmur Pugliesi da UNESP de Presidente Prudente e vem se apresentando correta. Por terra temos como eixo condutores a diagonal no estado de São Paulo Anhanguera, Marechal Rondon, Washington Luis, Imigrantes, Dutra, no Brasil BR-386, BR-101 Curitiba-Porto Alegre e Salvador-Natal, BR-116 entre Feira de Santana e Fortaleza, BR-364 Cuiabá-Porto Velho.

    Coronavirus Brasil
    Pandemia difundida pelas rodovias

    Estados mais isolados economicamente apresentam menores taxas de contaminação. Os estados da monocultura agrícola para exportação, MT, MS, GO, TO apresentam as baixas taxas de contaminação e difusão do virus. Isso pode mudar na época de escoamento da safra, quando caminhoneiros do país inteiro se dirigirem para lá.

    No caso amazônico a contaminação se espalha pelas hidrovias. Na comparação entre as plotagens, vemos surgir o contorno dos Rios Amazonas, Madeira, Tocantins e Araguaia. Para adicionar insulto a injúria, a contaminação da amazônia seguida pelo colapso da saúde pública na região, vai dar mais uma ajuda ao nosso necrogoverno na sua política de extermínio indígena e destruição da amazônia.

    Coronavirus Brasil
    Amazônia. Difusão hidroviária

    Temos que as rotas comercias são as rotas de expansão do vírus. Não querer parar a economia na hora certa e minimizar o impacto foi um erro fatal. Estávamos diante de um problema de teoria dos jogos e coletivamente escolhemos a pior opção, a opção suicida. A opção em que aquela em que muitos poucos ganham muito e todos perdem muito. Somemos a isso a proposta genocida do nosso governo e temos a tempestade perfeita, depois da pandemia do coronavirus virão as dívidas. Dívidas e mais concentração de renda, mas isso eu deixo para os que entendem de economia.

    Próximos Passos

    Precisamos e muito que as prefeituras publiquem os microdados sobre o coronavirus seguindo protocolos mundiais. Vou falar do caso de São Paulo, que é onde estou. A Prefeitura jamais publicou os dados distribuídos por distritos, bem como a demografia dos atingidos (idade, gênero, raça), tanto por óbitos como por contaminação. O acesso a esses dados só será feito por requisição via Lei de Acesso a Informação.

    Verificamos uma anomalia em Minas Gerais. Pelo seu tamanho e relação com a economia, Minas Gerais se apresenta como anomalia nesse fenômeno. Com mais de 70 mil testes na fila, o segundo Estado mais populoso do país tem números muito baixos. Minas Gerais ou tem uma população muito saudável, ou não está tão inserido assim nas rotas econômicas nacionais. É algo a ser investigado.

    Aqui você pode entrar no playlist com as animações e acompanhar Estado por Estado:
    https://www.youtube.com/watch?v=ulj_Vm7gJH0&list=PLs7CxCa4HI9nHF7Gp4vd5Q9URXYeU9bLu&fbclid=IwAR2560VfExkMS1AvJwatQH5BMaY4vU6xniFP9GQKejg8ER6Z-p7Yvapi65k

    Para acompanhar os relatórios diários, entre nesse canal: https://www.facebook.com/eduzal

    Notas:
    Padrão noise e padrão randômico:
    Padrão noise é um padrão em que existem flutuações em torno e um patamar, isto é, se temos um patamar de 200, os números variam de 180 a 220, o que é uma dispersão normal.

    Coronavirus Brasil
    Padrão noise

    Padrão randômico é um padrão em que os números não fazem sentido, se temos um patamar de 200, um dia está em 400, outro 20, no seguinte 32, depois 312, assim por diante.

    Coronavirus Brasil
    Padrão randômico

    Links:

    1. wcota: https://github.com/wcota/covid19br
    2. Resolução SS-42 – Obrigatoriedade a todos os hospitais do Estado de São Paulo, de remessa diária dos dados
      https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/resolucao_SS_42_30_03_2020.pdf
    3. https://revistaforum.com.br/noticias/joao-gabbardo-responsavel-por-numeros-do-coronavirus-e-exonerado-general-assume/
    4. https://bigdata-covid19.icict.fiocruz.br/

    Pesquisa, conceito, programação, gráficos e texto: Eduzal

    Designer digital que trabalha com programação criativa

  • Coronavírus já atinge o mundo inteiro, mas médico explica que não há motivo para pânico

    Coronavírus já atinge o mundo inteiro, mas médico explica que não há motivo para pânico

    A Organização Mundial de Saúde (OMS) classificou nesta quarta-feira (11) a doença causada o novo coronavírus (Sars-Cov-2), a Covid-19, como uma pandemia. Trata-se de uma medida técnica, que não afeta as ações atuais. “A descrição da situação como uma pandemia não altera a avaliação da OMS da ameaça representada por esse vírus. Isso não muda o que a OMS está fazendo, nem o que os países devem fazer”, declarou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.

     

    Segundo o médico sanitarista Pedro Tourinho, pandemia nada mais é do que declarar que um vírus se espalhou e tem potencial de contaminar milhares de pessoas no mundo todo. Nesse sentido ele explica que a declaração da OMS tem um papel fundamental para fortalecer as ações governamentais na criação de medidas para conter a difusão do vírus.

     

    “Não há razão para pânico, mas temos que ter clareza de que o vírus vai se espalhar por todo o Brasil. Isso significa que vai morrer todo mundo? Não. A mortalidade do vírus é baixa. Mas é de suma importância criar políticas para proteger grupos específicos da contaminação, como pessoas idosas”, explicou Tourinho, que também é professor na faculdade de medicina da PUC-Campinas.

     

    Em coletiva de imprensa, o diretor-executivo do programa de emergências da OMS, Michael Ryan, pontuou que é preciso desenvolver políticas específicas para a situação em cada país. “A declaração de uma pandemia não é como a de uma emergência internacional – é uma caracterização ou descrição de uma situação, não é uma mudança na situação”.  Segundo ele, é hora dos países seguirem para além da mitigação, estratégia de saúde pública que busca sobretudo cuidar dos doentes e públicos prioritários.

     

    MORTALIDADE

     

    A mortalidade da gripe no Brasil é de 0,1%, ou seja, uma pessoa a cada mil, mas ninguém se preocupa em morrer de gripe, exemplificou Tourinho. A medida de contenção, como está ocorrendo na Itália, é importante para pessoas com mais de 80 anos, já que nesses casos a chance de morte chega a 14%, ou seja, 140 pessoas para cada 1.000 infectadas. O coronavírus mata oito vezes mais na Itália do que na Coreia do Sul porque 22% da população tem mais de 65 anos – o país tem a população mais velha da União Europeia. Quando contabilizamos também as pessoas com menos de 40 anos a mortalidade cai pra 2 mortes a cada mil infectados.

     

    COMO EVITAR A CONTAMINAÇÃO

    É importante manter a higiene respiratória. Evitar levar a mão ao rosto e lavar sempre as mãos com bastante água e sabão. É imprescindível o uso de máscaras para quem está tossindo. Mas no caso de não ter uma à disposição, é importante usar um lenço ou tossir próximo ao cotovelo – nunca usar as mãos. Evitar aglomerações também é recomendado, uma vez que nesses lugares a chance do vírus se proliferar é ainda mais alta.

     

    Cancelar eventos é uma medida prudente e não motivo de pânico, explica Tourinho. “Não quer dizer que é preciso deixar de trabalhar, mas esses lugares com muitas pessoas facilitam muito a disseminação do vírus”.

     

    Na primeira imagem abaixo vemos uma curva que representa “um pico” de contaminação, que resulta na sobrecarga no serviço de saúde. Já na segunda podemos ver que a contaminação aconteceu de forma mais gradual, fazendo, assim, com que o sistema de saúde consiga desafogar, então é possível mitigar a situação.

     

     

    O médico sanitarista afirma que não há razão para desespero, mas que também não dá pra tratar como “só uma doideira midiática”. “Não precisamos pensar em quarentena no Brasil, mas a expectativa é que exista um pico de contaminação do coronavírus dentro de 2 a 4 semanas. Tudo depende das políticas adotadas pelo governo”, explica.

     

    A IMPORTÂNCIA DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

     

    O desmonte do SUS iniciado no governo de Michel Temer, que assumiu a presidência depois de um golpe de estado, pode ser um fator importante na contaminação por coronavírus da população brasileira.

     

    “Essa situação do coronavírus é um momento muito importante pra gente compreender a importância do sistema de saúde estar funcionando bem e com um bom financiamento. Atualmente o sistema tá sendo estrangulado pela falta de recursos. Só no ano passado ele perdeu 20 bilhões de reais em termos orçamentários – em relação ao que seria a legislação de financiamento antes da Emenda Constitucional 95, de 2016, criada por Michel Temer, e esse ano vai perder mais 9 bilhões. Estamos vivendo um momento que é preciso uma revisão – e vários países do mundo vão fazer isso – das normas draconianas de austeridade impostas pelo sistema financeiro, pelas estruturas do capital internacional que, diariamente, estrangulam o sistema de proteção social. Então é uma oportunidade pra gente fazer essa reflexão e tomar medidas que revertam esse tipo de situação”, explicou o médico.

     

    Nesse sentido, o fortalecimento dos sistemas públicos de saúde, como é o caso do SUS brasileiro, é fundamental. Assim, diferente do que está sendo apresentado para votação urgente no Congresso, não é hora de ameaçar cortes nos salários e jornadas de funcionários públicos, como proposto pela PEC Emergencial, e muito menos de diminuição do piso de investimentos na saúde, como prevê a PEC do Pacto Federativo.

     

    MEDIDAS NO BRASIL

    Segundo o Ministério da Saúde até ontem 34 pessoas estavam infectadas pelo coronavírus no Brasil. Hoje, um estudante do Departamento de Geografia, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo – FFLCH USP, foi confirmado como portador do vírus. O Conselho Departamental da universidade decidiu suspender todas as atividades no dia de hoje, 11, e avisou aos estudantes por e-mail que novos encaminhamentos seriam enviados por este canal.

     

    E-mail enviado aos alunos sobre caso de coronavírus no Departamento de Geografia
    E-mail enviado aos alunos sobre caso de coronavírus no Departamento de Geografia
  • Petroquímica de Capuava contamina população com graves doenças

    Petroquímica de Capuava contamina população com graves doenças

    Maria Angela Zaccarelli Marino, médica endocrinologista,  professora da Faculdade de Medicina do ABC, estuda desde 1989 os casos de tireoidite crônica autoimune e hipotireoidismo primário nas Regiões de divisa dos Municípios de Santo André, Mauá e São Paulo.

    A pesquisadora reúne vários trabalhos desenvolvidos na região,  publicados em revistas médicas internacionais, onde escreve “a denominação de tireoidite química autoimune”.

     

     

    Um dos estudos indica que a ocorrência de tireoidite crônica autoimune na população que vive no entorno do Polo Petroquímico de Capuava é cinco vezes maior do que em regiões mais distantes.

    Após a constatação do aumento da incidência da tireoidite crônica autoimune em moradores próximos do Polo Petroquímico de Capuava, foi solicitado pelo Promotor de Justiça do Meio ambiente do município de Santo André, Ministério Público do estado de São Paulo, um trabalho da análise do impacto das emissões aéreas do Polo Petroquímico de Capuava. Este trabalho foi intitulado Mapeamento da Poluição Atmosférica no entorno do Polo Petroquímico de Capuava, para identificação de Áreas de risco potencial à saúde e foi realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo e Faculdade de Medicina do ABC, concluído no ano de 2017.

    Os resultados foram encaminhados para o promotor de justiça do meio ambiente de Santo André para o prosseguimento do inquérito Civil 20/02 -PJMASA), do Ministério Público do Estado de São Paulo.

    Dentre as principais conclusões foi possível determinar que as emissões atmosféricas do Polo Petroquímico de Capuava contém a presença de elementos e compostos químicos com potencial de promover graves danos à saúde humana.

    Entrevista Laura Capriglione e Lina Marinelli, edição Joana Brasileiro Jornalistas Livres

  • Jornada Rio Doce: A doença da Samarco em Barra Longa

    Jornada Rio Doce: A doença da Samarco em Barra Longa

    Exames detectaram contaminação por metal pesado na população de Barra Longa. Após o rompimento da Barragem de Fundão a lama química da Samarco atingiu o centro da cidade, e assim permaneceu por mais de seis meses.

    A contaminação ocorre após o prefeito retirar parte da lama com maquinários e caminhões, depositando-a no Parque de Exposições e outra parte utilizada para calçar a cidade com blocos sextavados. Atualmente o município respira a poeira contaminada por metais pesados que sai pela lateral dos blocos.

    Os estudos com a saúde da população começaram em 2017 por um grupo da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, especializados em análises toxicológicas, sob-responsabilidade da Dra. Evangelina Vormittag e assinados pelo Professor Dr. Fernando Barbosa Junior. Em 2016 eles selecionaram algumas pessoas e pediram para responderem um questionário para a autoavaliação do estado de saúde. Pelos sintomas relatados foram solicitados exames de laboratório para verificar se havia alguma contaminação do seu corpo por metais pesados. Para realizar esses exames foram coletados sangue e fios de cabelo das onze pessoas.

    Os exames foram realizados em Janeiro de 2018 no laboratório da faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto. Foram pesquisados 13 metais: Alumínio, Arsênio, Bário, Cádmio, Chumbo, Cobalto, Cobre, Ferro, Manganês, Níquel, Selênio, Urânio e Zinco.

    Em todos os exames foram detectados uma diminuição expressiva da quantidade de Zinco e um excesso de Níquel e Arsênio. Os exames foram realizados em dois equipamentos e laboratórios diferentes e os resultados confirmados.

    Ainda de acordo com a avaliação médica uma pessoa com deficiência de zinco pode ter lesões de pele, difícil cicatrização de feridas, perda de apetite, emagrecimento, queda de cabelo, diarreia, alterações no paladar e olfato, alterações de comportamento e dificuldades de aprendizado e de memória. Além disso, a deficiência de zinco pode ocasionar infertilidade nos homens e desenvolvimento anormal do bebê, retardo do crescimento do feto e má formação congênita do bebê durante a gravidez.

    Caso da pequena Sofya Silva Marques, de 03 anos, que veio recentemente a São Paulo para realizar novos exames. Sofya tinha um ano quando foi atingida e nos últimos dois anos apresentou diversos problemas de saúde, dentre eles coceiras e alergias de pele incuráveis, dificuldade para respirar e perda de apetite. Simone Maria Silva Marques, mãe da Sofya enfrenta uma batalha contra a Samarco e pelo direito a saúde da filha.

    Já o excesso e contaminação por níquel no organismo provocam dor de cabeça, enxaqueca, vertigens, náusea, vômitos, problemas renais e pneumonia seguida por fibrose pulmonar. Os sintomas incluem dor no peito, tosse, falta de ar, e piora dos sintomas da pneumonia, asma e dificuldade respiratória aguda. Os efeitos crônicos da exposição ao níquel por inalação incluem renite, sinusite, úlceras nasais, perfuração dos septos nasais e diminuição da função do olfato. O excesso de níquel pode causar efeitos tóxicos para o fígado e sistema reprodutivo, resultando na produção de espermatozoides deficientes e na gravidez também pode causar má formação congênita no bebê. Há a associação de níquel a casos de câncer no aparelho respiratório (laringe e pulmão) em trabalhadores que lidam com o níquel.

    Odete Cassiano mora com o filho, o pai e a mãe, ambos com mais de 90 anos. Sua família é uma das que tiveram sangue e fios de cabelos colhidos para exames toxicológicos realizados pela Dra. Evangelina Vormittag, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, em janeiro de 2018.

    Em entrevista ela conta que desde 2016 tem problemas de saúde relacionados à lama. Ela e o pai estão contaminados. “Já conversamos várias vezes com as autoridades de saúde de Barra Longa. Eles dizem que o município não tem como tratar o pessoal. Eles sempre dão desculpas para não participarem das nossas reuniões. Hoje gasto R$ 500 por mês em remédios”, diz Odete.

    Todos os resultados dos exames foram entregues para os pacientes, bem como a Secretaria Municipal de Saúde de Barra Longa. A equipe responsável pelo exame concluiu que chama a atenção à presença do mesmo resultado para todos os 11 participantes da coleta. Além disso, das 11 pessoas, três apresentaram aumento no arsênio no sangue e cinco estão com ele no limite superior da normalidade.

    Como há presença de arsênio na cidade, demonstradas em análises de água, sedimento e solo, bem como nos peixes, pode ser que as pessoas continuem sendo contaminadas. Por isso a equipe também ressaltou a importância de se realizar um estudo epidemiológico e de risco toxicológico com urgência nas cidades atingidas.

    A Dra. Evangelina Vormittag, pesquisadora responsável pelo estudo encaminhou um ofício a Secretaria Municipal de Saúde de Barra Longa e ao Ministério Público sobre os resultados da pesquisa para que estejam alertas para a possibilidade de intoxicação por metais pesados na região e, assim, salvaguardar a saúde da população atingida.

    Entenda o Crime da Samarco em Barra Longa

    Em Barra Longa praticamente a cidade inteira foi atingida pelo crime da Samarco. Quem não teve efetivamente a casa invadida por lama, recebeu a contaminação quando o prefeito resolveu calçar a cidade com a terra. Outra questão prejudicial foi à quantidade de caminhões e tratores da Samarco que invadiram as ruas para mudar a lama de um lugar para o outro, mexendo com a estrutura das casas, não preparadas para o alto tráfego de grandes veículos, muitas casas racharam.

    Foram mais de seis meses para que toda a lama fosse removida do centro da cidade e ainda hoje, se vê obras sendo realizadas, casas que ainda não foram recuperadas, causando outro grave problema, a depressão de uma comunidade que se viu obrigada a ficarem longos meses trancados em seus lares.

    Outro receio das mulheres, a quantidade de homens estranhos por lá. Muitos operários na cidade trabalhando na remoção da lama e nas obras, o local que não tinha gente estranha passou a ter e com isso aumentou o número de assédio as mulheres. Barra Longa tem em torno de 6.500 habitantes que, ainda hoje, convivem com máquinas, tratores e pessoas estranhas à comunidade. Uma cidade habitada por gente que só queria a calmaria das pequenas cidades.

    Antônio Luiz Gonçalves, mas conhecido como Riso, conta com tristeza que sua família, além de ser atingida, assinou na pressão a proposta de indenização da Samarco. “Quando os advogados da Samarco me disseram que aquela era a última proposta e que se não aceitasse que eu fosse procurar a justiça lenta do Brasil, fiquei com medo de morrer sem ter minha casa de volta. Assinei”, completa Gonçalves, um dos poucos que não quis entrar na ação coletiva dos atingidos em Barra Longa.

    A contratação de uma assessoria técnica

    Após o rompimento da barragem cada cidade atingida formou uma comissão dos atingidos e contrataram uma assessoria técnica para ajudá-los de forma coletiva, mas centrada ao município. Em Mariana que abrange os distritos de Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo, Paracatu de Cima, Ponte do Gama, Campinas, Pedras e Camargos a assessoria técnica escolhida pela comissão dos atingidos é a Cáritas, em Barra Longa é a Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social criada por Atingidos por Barragens – AEDAS.

    Alexandra Borba, coordenadora local da AEDAS, explica que a contratação de uma assessoria para auxiliar os atingidos é uma das ações implantadas com o dinheiro que a justiça bloqueou da Samarco e que também visa assegurar o protagonismo dos atingidos no processo de reparação dos direitos.

    População cria coletivo de saúde

    Mesmo atuando com uma assessoria técnica especializada nesse tipo de conflito, a população local montou um coletivo da saúde com o apoio do MAB – Movimentos dos Atingidos por Barragens.

    Sérgio Papagaio, também morador de Barra Longa, colunista do jornal A Sirene e parte do coletivo de saúde, fala que dentre as reivindicações já encaminhadas às empresas responsáveis pelo crime Samarco, Vale SA, BHP Billiton, VogBR, ao poder público e ao Ministério Público constam solicitações como a realização e a divulgação de estudos sobre a saúde das pessoas e dos alimentos que são produzidos e comercializados no local a curto, médio e longo prazo. “Também exigimos projetos sobre a melhor forma de diminuir a poeira que continua contaminando as pessoas pelas vias nasais, durante o simples ato de respirar – veneno, já que o prefeito utilizou a lama cheia de metais pesados para calçar as ruas da cidade com blocos sextavados. Entre diversos itens, a participação popular em todas as decisões também é parte das reivindicações. Nada pode ser decidido sem o aval dos atingidos”.

    Como dizem os atingidos, quem não pisou na lama tem que ceder a vez da fala.

    Campo de futebol e ruas calçadas com a lama química

    Rosana conta que a casa dela foi atingida, além da lama que ela inala todos os dias ao viver em Barra Longa, sua casa está toda trincada devido ao alto tráfego de caminhões e tratores em uma rua não apropriada para isso. “São dois anos com eles indo e vindo para deslocarem essa lama, rachou a casa toda. Eles vieram aqui e ofereceram pintar a fachada”, completa indignada a moradora, atingida por duas vezes pela Samarco e que hoje vive a base de remédio.

    Rosana mora com o marido e o filho. Essa é a segunda vez que é atingida pela Samarco. Em 2000 sua família foi desapropriada para a construção da hidrelétrica Risoleta Neves de propriedade da Vale S.A. e da Aliança Geração de Energia S.A. A família morava entre Santa Cruz do Escalvado e Rio Doce, e toda a população que morava nos limites desses municípios foram obrigados deslocarem. Rosana nada recebeu da desocupação causada pela Vale S.A na época da construção da usina e luta há dois anos para que a Samarco tenha responsabilidade por todos os crimes que cometeu.

    Maria das Dores de Oliveira, senhora de 92 anos, completa 93 no dia 28 de março, moradora da casa que fica em frente ao campo de futebol de lama química depositado pela prefeitura, conta que sempre morou lá e que mais nove famílias também moravam por ali. Todo mundo foi embora, menos ela.

    “Ninguém me tira daqui. Morei toda a vida aqui, tenho tudo plantado. Eu fiquei. Eles até tentaram me tirar, mas não saí, nem quando veio toda a lama. Peguei minha nossa senhora, levantei no alto, pedi e ela ajudou a lama a fazer a curva. Isso tudo é culpa do bicho-homem… o bicho-homem vai acabar com tudo”, diz Maria das Dores.