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Tag: Brasil

  • Terá que mudar o nome para o Brasil?

    Terá que mudar o nome para o Brasil?

    por Manoel Moleiro – de Barcelona.

     

    Aquí te dejo otro detalle del mapa más hermoso de Brasil jamás pintado. Fue realizado por Pedro Reinel y su hijo Jorge Reinel, en 1519, en la ciudad de Lisboa.

     

    Terá que mudar o nome para o Brasil? O que você acha?

    Você acha que teria alguma utilidade inundar de mensagens as redes do Senhor Bolsonaro para que tomasse medidas de proteção com a Amazônia?

    O Pau Brasil aparece em todos os primeiros mapas do Brasil do século XVI. O Comércio da madeira desta árvore, tão cobiçada na Europa para tingir os tecidos de vermelho, foi tão importante que motivou a mudança de nome a este país passando de se chamar santa cruz a se chamar de Brasil.

    Em todos estes mapas há uma característica comum: O rio e as árvores. A água, os papagaios, os dragões, (certamente os jacarés,  o medo que causavam nos europeus, transformava-os, de repente, em dragões) eram  sinais de identidade deste grande país que está sumindo sob o ímpeto das chamas.

     

    Talvez o Senhor Bolsonaro esteja a pensar no fogo como novo sinal identificador desse fascinante país, de nome Brasil.

     

    Para o seu deleite deixo-vos um mapa, de 1565, realizado pelo mais prolífico dos cartógrafos portugueses, Diogo homem. O mapa faz parte do universal do Diogo homem que conserva, como o tesouro que é, a Biblioteca Nacional da Rússia em São Petersburgo.

     

     

    ¿Habrá que cambiarle el nombre a BRASIL? ¿Tú qué piensas?

    ¿Crees que tendría alguna utilidad inundar de mensajes las redes del señor Bolsonaro para que tomase medidas de protección con la AMAZONIA?

    El PAU BRASIL aparece en todos los primeros mapas de Brasil del siglo XVI. El comercio de la madera de este árbol, tan codiciado en Europa para teñir los tejidos de rojo, fue tan importante que motivó el cambio de nombre a este país pasando de llamarse SANTA CRUZ a llamarse Brasil.

    En todos estos mapas hay una característica común: el río #Amazonas y los árboles. El agua, los papagayos, los dragones, (seguramente los yacaré que el miedo que causaban a los europeos convertía de repente en dragones) era unos signos identificativos de este gran país que están desapareciendo bajo el ímpetu de las llamas.

    Quizás el señor Bolsonaro está pensando en el FUEGO como nuevo signo identificativo de ese fascinante país de nombre BRASIL.

    Para su deleite les dejo un mapa de 1565 realizado por el más prolífico de los cartógrafos portugueses, Diogo Homem. El mapa forma parte del #ATLAS UNIVERSAL DE DIOGO HOMEM que conserva, como el tesoro que es, la BIBLIOTECA NACIONAL DE RUSIA en San Petersburgo.

     

     

     

  • Mea culpa

    Mea culpa

    Fico em dúvida se uso imagem com a palavra ordem ou a palavra progresso. Tudo é um abafamento, a bandeira é a mesma, a temos todos metida na carne, nos ossos, pulsa.

    É fogo, impossível negar tais ventos e securas na alma. Uma vontade imensa de chorar. 

    Choro.

    Choro não é nuvem ou rio voador, apenas lamento que molha a cara, vergonha também chora.

     

    Letras nesse momento se mostram obsoletas, imagens dizem tudo, o celular e sua câmera esgota qualquer texto, desnecessário ousar dizer.

     

    Meu país guinchado; quanta descompostura.

     

    Mas fato curioso foi mesmo voltar do trabalho a pé, sem a carona do veículo removido, abrir a porta de casa e ver o livro, VENTO GERAL, caído no chão. Talvez um rato, talvez um vago terremoto, intenso, instantâneo entre as paredes expulsando o livro da estante, não sei.

     

    Mau presságio, a poesia que grita?

     

     

    Caiu aberto entre as faces das páginas 92 e 93, na edição de 1984. Lá, o poeta Thiago de Mello, homem de floresta e rios, dedica a Aurélio Buarque de Hollanda, seu sentimento:

     

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    imagens por Helio Carlos Mello© 

     

     

     

       

  • A nuvem escura que nos cobre a todos

    A nuvem escura que nos cobre a todos

    A névoa que cobre a Avenida Paulista e encobre a lua na foto, não é das queimadas em Mato Grosso, onde vivemos hoje, ou de outros estados da região amazônica. É do gás lacrimogêneo lançado às centenas de litros pela PM sobre estudantes que protestavam contra o aumento das passagens de ônibus e quem mais estivesse nas ruas, como por exemplo os jornalistas, no fatídico 13 de junho de 2013. De alguma forma, os dois eventos estão conectados.

    O excesso, pra dizer o mínimo, de violência policial sobre manifestantes foi exigido em editoriais pelos jornais e comentaristas de TV que reclamavam “o direito do cidadão de bem” de ir e vir numa das principais avenidas da cidade e contra “a balbúrdia” dos estudantes e ativistas, em sua maioria de esquerda. O evento mudou o padrão de aceitação da sociedade sobre as manifestações. A partir desse dia, se fosse uma manifestação “sem partido”, “contra tudo o que está aí”, com bandeiras do Brasil, teria cobertura no Jornal Nacional e direito a selfies com os policiais. Mas se fosse de “baderneiros”, contra o governo de direita do PSDB de São Paulo ou com bandeiras vermelhas, o tratamento seria como o de 13 de junho. As manifestações de direita, no final, derrubaram o governo. Tivemos Temer prometendo milhões de empregos com a reforma trabalhista, o que era mentira, enquanto recebia malas de dinheiro na garagem. Depois tivemos a prisão sem provas do principal candidato de esquerda ao governo federal e eleição de um fascista que chega nos dar saudade da velocidade com a qual Temer destruía a economia, os direitos, a educação e meio ambiente no Brasil.

    As nuvens de fumaça das queimadas que escondem agora o sol em quase metade do Brasil começaram ali. São mais escuras, espessas e duras, assim como as balas de borracha que cegavam os jornalistas são hoje as balas de fuzil que executam doentes mentais em surto na ponte Rio Niterói e centenas pobres e negros nas comunidades cariocas (e não só). A nuvem do fascismo, da opressão, da falta de perspectiva, já penetrou fundo nos cérebros mais frágeis. Dois adolescentes mataram oito colegas e professores numa escola em Suzano em março. Hoje, outro jovem feriu mais cinco numa escola no Rio Grande do Sul. Essas nuvens não vão se dissipar se não agirmos. Se não reagirmos. É passada a hora de quem ainda tem consciência nesse país se levantar e dar um BASTA !

    #MediaQuatro #ProtejaAmazônia #Fotojornalismo #JornadasDeJunho #FascistasNãoPassarão #ContraOsCortesNaEducação #EducaçãoPúblicaDeQualidade #NãoàViolênciaPolicial #LulaLivre #AnulaEleição2018

     

    Por: Vinicius Souza e Maria Eugênia Sá – www.mediaquatro.com – Especial para os Jornalistas Livres

  • Terras ocupadas? Territórios? Territorialidades?

    Terras ocupadas? Territórios? Territorialidades?

    Terras ocupadas? Territórios? Territorialidades? – Dominique Tilkin Gallois*- in TERRAS INDÍGENAS E UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA (ISA) 2004

     

    O CONTATO COLOCA UM GRUPO INDÍGENA DIANTE DE LÓGICAS ESPACIAIS DIFERENTES DA SUA E QUE PASSAM A SER EXPRESSAS TAMBÉM EM TERMOS TERRITORIAIS. AS DIVERSAS FORMAS DE REGULAMENTAR A QUESTÃO TERRITORIAL INDÍGENA PELOS ESTADOS NACIONAIS NÃO PODEM SER VISTAS APENAS DO ÂNGULO DO RECONHECIMENTO DO DIREITO À “TERRA”, MAS COMO TENTATIVA DE SOLUÇÃO DESSE CONFRONTO.

    Fragmento:

     

     

     

    Terra Indígena é o mesmo que território indígena? 

     

    São comuns idéias como “imemorialidade” da ocupação indígena em determinada região, assim como é corrente a caracterização do modo de vida indígena através de seus vínculos com a “natureza”, ou com algum “nicho ecológico” que acabaria configurando o que seria a “sua terra”. Aparentemente, provar a ocupação continuada de um grupo indígena numa área e, a partir dessa relação histórica, caracterizar um modo de vida indígena a partir de sua adaptação ao ambiente ocupado seria suficiente para configurar a relação que um grupo indígena mantém com esta “sua terra”. Mas não é tão simples. Primeiro, porque seria negar o tremendo impacto que a colonização teve sobre as populações indígenas, muitas delas rechaçadas e refugiadas em áreas que não correspondem à sua localização histórica, nem à extensão territorial ocupada antes da dizimação gerada pelo encontro com frentes de colonização. Mas, então, bastaria recuperar a documentação comprobatória e a memória do grupo acerca de seu território para apoiar as demandas de demarcação ou revisão de limites das Terras Indígenas? Nessa acepção, terra seria simplesmente uma parcela dentro de um território historicamente mais amplo. Como se sabe, praticamente todos os grupos indígenas perderam grandes porções de seus territórios, fragmentados em parcelas que são reivindicadas e demarcadas, num parcelamento que gera novas reivindicações, assentadas no direito constitucional que enfatiza os “direitos originários” dos índios sobre suas terras, independentemente da demarcação. 

    Tal equação não é suficiente. Território não é apenas anterior à terra e terra não é tão somente uma parte de um território. São duas noções absolutamente distintas. 

     

    Como expuseram vários estudos antropológicos, a diferença entre “terra” e “território” remete a distintas perspectivas e atores envolvidos no processo de reconhecimento e demarcação de uma Terra Indígena. A noção de “Terra Indígena” diz respeito ao processo político-jurídico conduzido sob a égide do Estado, enquanto a de “território” remete à construção e à vivência, culturalmente variável, da relação entre uma sociedade específica e sua base territorial.

     

    * Antropóloga, docente do Departamento de Antropologia Social da FFLCH-USP e coordenadora do NHII-USP (Núcleo de História Indígena e do Indigenismo).

     

    imagens por helio carlos mello©

     

    Leia o texto completo em:

    https://pib.socioambiental.org/files/file/PIB_institucional/dgallois-1.pdf

  • Missa da terra sem males

    Missa da terra sem males

    Recebo a notícia num vagão do metrô, num túnel escuro, a cidade sobre a cabeça. Coincidência ou não, ouvia um texto musicado a tocar na rádio, Missa da Terra Sem Males, na voz de Diana Pequeno: Eu sou América, sou o Povo da Terra, da Terra-sem-males, o Povo dos Andes, o Povo das Selvas, o Povo dos Pampas, o Povo do Mar… Do Colorado, de Tenochtitlan, do Machu-Pichu, da Patagônia, do Amazonas, dos Sete Povos do Rio Grande…

    Dom Pedro Casaldáliga e Pedro Tierra, na década de 80, já chorando nossos mortos, nossos índios. A arte e a fé sempre em protesto, forte como deve ser numa terra fraca de direitos.

    A mancha que há em nosso ser não cessa, cresce a cada ano no tecido que veste a nação há cinco séculos: o assassinato dos indígenas destrói toda fantasia de país.

     

    No final de semana, as cidades conviveram com a notícia de sangue da Amazônia distante, tão dentro de nós,  do assassinato de um cacique dos índios Wajãpi por garimpeiros. 

    Muitos artistas se manifestaram, imediatamente, quando a notícia rompeu o isolamento da floresta na terra livre da arte. Com perfurações matam o índio, homens em busca do ouro e pedras preciosas, que, um dia, embarcará pelos aeroportos do país, para terras mais distantes ainda. Nosso rio de ouro e diamantes a nutrir as veias de bancos e mercados do mundo. 

     

    Para nós, restará a terra devastada.

    Protesto dos povos indígenas diante do Congresso Nacional, durante o Acampamento Terra Livre, 2017.

    Um corpo caído no chão, seu espírito livre entre a mata, agora. Partiu e não voltará mais. 

     

    O índio Wajãpi sempre me lembrou beija flor, talvez aquele pano vermelho caído sobre a nudez, a linda coroa de finas plumas, a lembrar o martírio sutil de um povo, seus corpos pequenos, uma leveza no falar.

     

    A Amazônia insiste em nos mostrar seus mortos, que serão tantos. Um inferno verde virá a expor nossa cara, a conquista tardia do ocidente.

     

    imagens por Helio Carlos mello©

  • Na SBPC, lideranças indígenas gritam para não virar estátua e item de museu

    Na SBPC, lideranças indígenas gritam para não virar estátua e item de museu

    por Jones Mário 

    Demarcações de terras indígenas foi tema de mesa-redonda durante a 71ª Reunião Anual, na UFMS

     

    “Não quero ser estátua. Não quero ser peça de museu, como essas cabeças de animais que a gente vê”, falou hoje a guarani-kaiowá Clara Barbosa de Almeida, convidada para mesa-redonda sobre demarcações de terras indígenas na 71ª Reunião Anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência). O misto de protesto e lamento se deu após a liderança da Terra Indígena Laranjeira Nhanderu, em Rio Brilhante, caminhar pela Avenida da Ciência e se deparar com exposição de crânios de bichos já extintos.

    Clara Barbosa de Almeida, indígena guarani-kaiowá, durante mesa-redonda na Reunião Anual da SBPC (Foto: Kísie Ainoã)

    “Eu quero que meu povo guarani-kaiowá resista ainda por muitos e muitos anos”, continuou. Graduada em Ciências Sociais pela UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), Clara aponta para 78 áreas reivindicadas por povos indígenas em Rio Brilhante, hoje ocupadas por produtores. A tensão no local é preocupação constante da liderança e das pessoas que vivem na comunidade.

    “A morte ronda a gente 24 horas por dia. Eu não posso andar em Rio Brilhante como uma pessoa comum. Não atendo telefone de número desconhecido, porque sei que vem ameaça”, disse.

    A mesa-redonda debateu as consequências do chamado “marco temporal”, cuja tese prevê que os indígenas só teriam direito à demarcação das suas terras se estivessem presentes na região na data da promulgação da Constituição de 1988. A medida está presente no caso que discute a posse da Terra Indígena Xokleng-La Klãnõ, dos Xokleng, em Santa Catarina, que teve repercussão geral reconhecida pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Assim, a decisão no processo servirá de referência aos demais sobre o mesmo tema.

    “O marco temporal é uma bomba para nós. Seria um extermínio”, classificou Clara. Ela apontou que parte dos indígenas guarani-kaiowá foram expulsos de suas terras pelo extinto SPI (Serviço de Proteção ao Índio). “Quando voltamos tinham vários obstáculos. Fazendeiro da Alemanha, do Japão, que diziam ter comprado a terra, que a terra era deles, e que nós éramos os invasores”.

    Terena Lindomar Ferreira também participou de debate sobre demarcação de terras indígenas na UFMS (Foto: Kísie Ainoã)
    Terena Lindomar Ferreira também participou de debate sobre demarcação de terras indígenas na UFMS (Foto: Kísie Ainoã)

    O terena Lindomar Ferreira também participou das discussões. “As lideranças estão aqui para dizer que a luta vale à pena. Estamos aqui para dizer quem somos, de onde viemos, o que queremos e porque devemos lutar”, pontuou.

    A SBPC reservou um segmento de sua programação apenas para debates e encontros com temáticas afro e indígenas. As conferências protagonizadas por estes grupos continuam nesta sexta-feira (veja aqui os eventos).

    Maior evento científico da América Latina, a 71ª edição da Reunião Anual da SBPC é realizada pela primeira vez em Campo Grande, na UFMS, e segue com portões abertos até sábado (27). Serão pelo menos 250 conferências, palestras, rodas de conversa, oficinas e minicursos. As atrações são gratuitas.