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  • Secretário de Cultura de Bolsonaro também usou fundo musical preferido de Hitler

    Secretário de Cultura de Bolsonaro também usou fundo musical preferido de Hitler

    Como se não bastasse copiar um texto do ministro da propaganda nazista, Joseph Goebbels, o secretário especial da cultura de Jair Bolsonaro escolheu com cuidado o fundo musical de seu discurso em vídeo, exibido para lançamento de uma nova premiação nacional. Roberto Alvim elegeu a ópera romântica Lohengrin, composta e escrita pelo alemão Richard Wagner (1813-1883), para noticiar seus planos de “avançar na construção de uma nova e pujante civilização brasileira”.

    É público e amplamente difundido: Wagner era o compositor preferido de Adolf Hitler, que elegeu as narrativas nórdicas do compositor como a trilha sonora da propaganda política de seu regime sanguinário. As óperas e canções de Wagner, com pompa heroica e harmonia elegante, foram usadas para sustentar a política de genocídio em massa nazista.

    Roberto Alvim usa, explicitamente, texto e trilha sonora da publicidade nazista em seu discurso (Foto: Reprodução Portal da Secretaria Especial da Cultura)

    Nada é gratuito nas Artes – e o ministro da cultura de Bolsonaro não pode se fingir de desentendido. Roberto Alvim está utilizando, sim, e explicitamente, as estratégias da publicidade do tenebroso Partido Nazista, de extrema-direita, para se comunicar com os brasileiros.

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    EXCLUSIVO: Secretário da cultura de Bolsonaro copia Goebbels em discurso

    Brazilian Secretary of Culture Quotes Goebbels in Official Statement

  • Brazilian Secretary of Culture Quotes Goebbels in Official Statement

    Brazilian Secretary of Culture Quotes Goebbels in Official Statement

    The Special Secretariat of Culture of Brazil has just released a video in which the Secretary of Culture Roberto Alvim announced a funding program for the arts. In a well centred frame and with a piece from Richard Wagner’s Lohengrin on the background – the same used in Charlie Chaplin’s The Great Dictator -, a well groomed and brilliantine haired Roberto Alvim, with a picture of president Bolsonaro above him, a Cross of Lorraine on his left and the brazilian flag on his right, describes the Bolsonaro’s government guidelines for the arts: patriotic, linked to family values, connected to god and virtues of faith.

    A few minutes into his speech, he delivers a pearl: an almost identical quote from the infamous Nazi Germany Minister of Propaganda Joseph Goebbels:

    “The Brazilian art of the next decade will be heroic and it will be national, it’ll be endowed with great capacity for emotional involvement and deeply committed to the urgent aspirations of our people, or it will be nothing.”

    The Goebbels quote, probably taken from his biography by Peter Longerich, which was published in Brazil in 2014, reads as follows:

    “The German art of the next decade will be heroic, it will be steely-romantic, it will be factual and completely free of sentimentality, it will be national with great Pathos and committed, or it will be nothing.”

    The resemblance is too clear to be an accident, or even a mere inspiration. It’s an explicit reference. What Mr. Roberto Alvim means by it, if it’s a tip on the path Brazilian government wants our culture to follow, or just a provocation meant to unsettle the left, it’s unclear. It is, though, undoubtedly, very unsettling.

    Watch the full video here: https://www.youtube.com/watch?v=YiO23U59CdU

    UPDATE: In his facebook account, Secretary Roberto Alvim has denied to have quoted Goebbels, stating it was a “rhetorical coincidence” and that, nevertheless, the sentence is perfect and there’s no problem with it, as it describes precisely what the government wants for Brazilian culture.

    UPDATE II: After a huge reaction from society, press and even the congress, Roberto Alvim was already removed from his position as head of the Special Secretariat of Culture.

  • EXCLUSIVO: Secretário da cultura de Bolsonaro copia Goebbels em discurso

    EXCLUSIVO: Secretário da cultura de Bolsonaro copia Goebbels em discurso

    Em vídeo que anuncia um programa de fomento às artes, nos moldes conservadores característicos do atual governo, o Secretário Especial de Cultura Roberto Alvim citou quase ipsis literis uma frase famosa de Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda da Alemanha Nazista.

    A citação está no texto do livro “Joseph Goebbels, Uma Biografia”, de Peter Longerich, publicado no Brasil pela editora Objetiva.

     

     

    “A arte brasileira da próxima década será heróica e será nacional, será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional, e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes do nosso povo – ou então não será nada.”

    (Roberto Alvim, Secretário Especial de Cultura do Governo Bolsonaro)

    “A arte alemã da próxima década será heróica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada.”

    (Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda de Hitler)

     

     

    VEJA O VÍDEO QUE DERRUBOU ROBERTO ALVIM:

     

     

     

  • CNN BRASIL, A TRAMOIA ANUNCIADA

    CNN BRASIL, A TRAMOIA ANUNCIADA

    Por Ricardo Melo, especial para os Jornalistas Livres

     

    Colunistas de mídia com pouco assunto, mas talvez muitos interesses, têm se esmerado em festejar a provável estreia da CNN Brasil nos próximos meses. Estreia adiada várias vezes, é bom lembrar.

    Ninguém nega. A marca internacional é uma grife, inaugurou um jeito novo de fazer TV, constituiu-se num marco ao transmitir notícias 24 horas com uma amplitude até então inédita. Um sucesso, descontados os limites do conteúdo de suas coberturas. Mas será isso suficiente para repetir o mesmo no Brasil?

    Vamos pelo início. Por aqui, a CNN tropical tem como seus manda-chuvas duas figuras singulares. O sócio “jornalístico” é Douglas Tavolaro. Quem vem a ser o cidadão? Durante anos e anos, foi braço direito de Edir Macedo, que dispensa maiores comentários.

    Ocioso também falar do “jornalismo” da TV Record nestes tempos da Igreja Universal, cuja independência e imparcialidade sempre foram medidas em dízimos e favores governamentais. Lulista e Dilmista até outro dia, hoje é porta-voz escancarado do neo-fascista Jair Bolsonaro.

    Douglas Bolsonaro andava por lá nessa época, sempre é bom lembrar. Sua “saída” da Record até hoje é um mistério –será que abandonou mesmo as bênçãos do padrinho Edir Macedo? Silêncio ensurdecedor.

    Já o “sócio-capitalista”, Rubens Menin, é o dono da construtora MRV. Para quem não sabe, Menin tornou-se bilionário com o programa Minha Casa, Minha Vida dos governos petistas. Quando o governo Dilma começou a adernar, Menin rapidamente mudou o curso em direção a Michel Temer e depois Jair Bolsonaro. Nesse intervalo, abriu um banco, o Inter, que hoje é um dos campeões de reclamações de clientes por mau atendimento.

    Para não deixar dúvidas sobre quais interesses impulsionam a nova empreitada “jornalística”, basta ver a foto que abre este texto…

    A foto diz tudo. Pelo menos na teoria (embora no Brasil ela não valha nada), o primeiro papel da imprensa deveria ser a independência diante dos governos. Aqui, como se vê é o contrário. O primeiro passo é ir ao Planalto beijar a mão do mandante de plantão, seja ele fascista no conteúdo, defensor da censura, liberticida e inimigo da informação desimpedida. Precisa desenhar o que acontecerá no noticiário?

    Descendo mais um pouco. A cada contratação da CNN Brasil há um foguetório dos colunistas sem assunto. Mas até agora observa-se apenas gente da série B ou C. Não há nenhum nome de peso, com trajetória jornalística de respeito, credibilidade, seriedade. Na cúpula, gente de segunda linha, arrivistas conhecidos, profissionais timoratos, desde expelidos da Record até rejeitados pela RedeTV! e Empresa Brasil de Comunicação.

    Reinaldo Gottino, um dos Datenas da Record, é tratado por essa mídia como se fosse um Peter Jennings, Dan Rather, Paulo Henrique Amorim, Ricardo Boechat. Que desgraça. Dejetos de Edir Macedo, personagens dispensados pela Globo —um deles agora garoto propaganda de uma empresa financeira caça-níqueis—, âncoras que infelizmente incineraram suas carreiras expondo opiniões neo-racistas, casais juvenis sem nenhuma expressão até para propaganda de shopping-centers e por aí afora são considerados medalhões.

    Detalhe: para todo jornalista que se depara com um mercado cada vez mais estreito, em tese é bom saudar novas oportunidades de emprego. Mas também é bom saber que oportunidades são essas. Já vimos aventuras como a do Jornal do Brasil na época de Nelson Tanure; da RedeTV! que até hoje esfola funcionários, mas é financiada pelo dinheiro público para bancar o enriquecimento e aventuras amorosas indecentes dos donos; e das demais “redes” da mídia oficial subservientes aos governos de plantão.

    A CNN Brasil tem o mesmo cheiro. E ele não é bom. Cabe a cada um escolher aquele que mais lhe agrada.

     

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    Balanço e perspectivas: 2019 foi ruim? Prepare-se para 2020

    LULA ESTÁ SOLTO, MAS AINDA NÃO LIVRE

  • 2019 desejante

    2019 desejante

    por Natasja Garonne

    *ilustrações por helio carlos mello – interversão e mixagem na obra de Caribé e Tom Zé.

     

     

     

    – É que faz oito dias que não durmo na minha casa, por isso eu achei que poderia estar exagerando nos dates. 8 noites, 6 camas diferentes. Passei a tarde em casa para lavar a roupa e tal. Mas logo estou de saída de novo.

    Era um dos meus amigos sendo super sincero. Será que estava exagerando? Será que estava tentando mascarar a fase ruim que vivemos em 2019, passando mais tempo dedicado à felicidade sexual das pessoas? Eu perguntei se ele achava que estava apenas consumindo sexo ou se estava realmente dando algo bom às companheiras. Ficou com a segunda resposta, cada uma com um jeito diferente de dar e receber prazer, boas conversas, pessoas que tem encontrado com frequência nesse último ano. Ótimo. Então, esqueça o socialmente estabelecido e distribua esse prazer, foi meu conselho.

    Por isso fiz um balanço do que aconteceu em 2019 na minha própria vidinha mais ou menos. Foi o segundo melhor ano da minha vida sexual, e faz trinta anos que tenho uma. Não foram só caras diferentes e interessantes que me deram o prazer de ter prazer comigo. Foram as experiências mais radicais de experimentação não convencional de práticas – eu nem posso dizer “na cama” porque realmente não foram.

    Será que estamos transando assim, como se não houvesse amanhã, para esquecer o bolsonarismo por algumas horas? Será que é assim que podemos suportar os dias em tudo está sendo destruído em termos de liberdades civis e direitos sociais? Será que é dando que a gente está conseguindo sobreviver à avalanche obscurantista de 2019?

    Olha, estou convencida do contrário. Acho até que o bolsonarismo é uma reação bizarra e patética a uma transformação que vem vindo no vento. Os discursos histriônicos pela família convencional, rosa e azul, homem que é homem, mulher recatada, masculinidade violenta é que parecem tentar responder a nossos avanços. A preocupação dos dirigentes do governo brasileiro hoje é que os jovens não “virem gays”. Para que teriam que defender o que está estabilizado? Por que ser arauto de uma verdade que ninguém questiona? Se eles investem tanto em reforçar esses padrões é porque já estão amplamente questionados.

    Enquanto uma parte da população mergulha num backlash obscurantista, repressor e numa caretice sem tamanho, o Brasil está aí fazendo golden shower, e isso o presidente percebeu como poucos. O presidente é o maior fiscal de cu da República no presente século. Mas o seu trabalho não está sendo tão fácil, ele revelou esses dias um enorme cansaço, porque eu acho que cu foi a palavra do ano.

    No meu animado ano, passei a receber pedidos de parceiros hétero para explorar eroticamente o lugar que nunca toma sol. Comecei meio tímida, mas quando me dei conta, tinha virado uma espécie de rainha do pegging. Para quem não sabe, pegging é quando a mina pega o cara por trás, também chamado na nossa língua de “inversão”. Penetração mesmo, do feminino no masculino, por aquele portal sensível erótica e politicamente. Vale de um tudo, a depender do desejo e do consentimento: um dedo, dois dedos, um plug, um brinquedo, maior, maior, maior ainda, vai que eu aguento, sou homem, pô. Até que alguém me pediu um fisting. Alguém não, vários alguns, mais um estava na minha frente, já posicionado. Eu pensei, gente, acho que não vai rolar, imagina, eu? Mas o brasileiro não desiste nunca, e coloquei a mão inteira.

    Sei que agora uma boa parte dos leitores teve uma reação corporal de defesa. Tipo oloko. E uma parte está procurando se tem meu email nos créditos.

    Mas eu queria tentar comunicar que sou totalmente normal vivendo diferente. Tenho profissão exigente, sou casada, faço almoço de domingo, limpo casa, me depilo, organizo ceia de Natal, uso até aliança (estou vendo aquele ali que já se perguntou se estava com ela ou sem no momento do fisting). Não tenho tatuagem e faço luzes no cabelo. Mas no ano passado abrimos o relacionamento. E foi então que, tendo passado um tempo fora do mercado, voltei e o pegging estava na moda. Não só o pegging, mas todo tipo de fetiche. O brasileiro do escritório, da faculdade, do carro engarrafado na marginal. Meus amigos de esquerda. Meus peguetes Faria Limers. Não vou dizer que gente que votou 17 também, mas não duvido, embora a esses eu peça gentilmente, no texto do aplicativo, que não falem comigo. A geral está experimentando com o rabo. Curiosos a respeito de troca de papeis, dominação feminina, mulheres no comando.

    Eu estou falando de gente careta, com identidade sexual hétero cis. Gente que tem filho, namorada. Gente que está nos aplicativos de encontro comuns, gente muito baunilha em quase tudo. Cada vez mais não monogâmicos, cada vez mais “mente aberta”, o que parece ser o código para a prática. Tem os que chegam com “Olha, eu não quero fazer isso todo dia, mas eu te achei uma pessoa bacana, eu queria experimentar”. Tem os “Já pedi para minha namorada, mas ela ficou muito tímida, eu queria experimentar direito. Você tem uma cinta?”. E tem os que já me chamam de Rainha.

    Você nem sabe, mas capaz que encontrou seu colega de escritório ou o pai do coleguinha da escola do seu filho usando um plug anal por aí, no banheiro da firma ou no supermercado, como parte de um jogo de erotização que não pertence mais só a um segmento muito escondido e a comunidades discriminadas.

    Também tenho visto os nossos filhos. Eu não tenho filhos, mas vocês têm. E eles estão na idade de descobrir, não é? Tentamos entender se nossos filhos são hétero ou LGBT, mas estamos levando um tempo enorme para entender. E a frase do ano, nesse sentido, eu ouvi de uma estudante da faculdade: “Briguei com a minha mãe porque ela quer que eu diga se eu sou lésbica ou não. Para que eu tenho que saber dizer isso?”

    O monitor de uma das minhas turmas na faculdade fez o inventário desejoso da sala. Pegava este, aquele e o outro, e esse aqui já mandou um inbox. Eu disse que era para parar com isso, monitor não pode ficar misturando as coisas. Ele ficou mal ao perceber que eu tinha razão. Aí, para dar uma descontraída, eu comentei “mesmo porque esse aqui eu acho que não é gay”. Ele me olhou com cara de quem está explicando para a tia avó como faz para usar os recursos do celular. “Não tem isso não, adoro pegar hétero”. Então, no mínimo uns dez anos defasada nas minhas concepções de sexualidade, eu estabeleci que só podia pegar depois que acabasse o semestre.

    Ainda nesse ano que termina, soube de alguns casais de amigos que abriram o relacionamento. Coisa que a gente não conta para todo mundo. Mais um campo de experiências intenso, prazeroso e dolorido. Aqueles amigos que fui à festa de casamento e dancei flashback, com óculos amarelo e boá de carnaval. Então, agora os dois filhos já cresceram um pouco e o cachorro está velhinho, estão tentando coisas novas. Descobri que tem grupos no facebook, aplicativos, redes abertas, redes fechadas. Gente indo junto aos encontros de swing, gente mantendo contas ativas nos aplicativos. Duas séries do Netflix fizeram sucesso na classe média branca que está tentando escapar daquela família que já não cola mais: Eu, Tu e Ela e Wanderlust. Foi por comentários meus sobre essas séries que alguns amigos vieram inbox dizer que também estavam nessa.

    Lembrei do livro do Zuenir Ventura sobre 1968, em que abre a narrativa contando de divórcios improváveis se sucedendo como dominó. Algo implodia nos valores repressores da vida privada em termos mundiais, às vésperas de tudo se tornar enormente repressivo na vida pública do país. Parece que as pessoas estavam reagindo a algo, de modo individual, porém simultâneo.

    E eu tive a impressão de ter vivido algo parecido em 2019. Cada um com seu cu, fazendo parte de um movimento de desconstrução mundial da interdição sobre a qual se assentou a masculinidade moderna: homem é o que penetra e nunca é penetrado.

    Eu sei que muita gente vai dizer que isso não significa nada, é só olhar a corte bon vivant de Maria Antonieta às vésperas da Revolução Francesa. O que faz revolução é fome, não é cu de homem. É, está certo. Mas a libertinagem, como valor da aristocracia, foi uma das principais correntes de crítica dos valores privados burgueses, elevados a política de Estado na época vitoriana.

    E a normalização do divórcio como uma prática aceitável foi um dos marcos mais importantes na luta pela conquista de direitos civis pelas mulheres no século XX. Se muita gente abre a relação ao mesmo tempo, estamos deslocando e ampliando o sentido de ser um casal e formar uma família, assim como a concepção de posse do corpo e do desejo do outro envolvida nos valores do casamento.

    Penso hoje que os reacionários também percebem o que estamos fazendo mais ou menos escondido, na esteira de um pequeno orifício aberto pelo feminismo e pela luta LBGT. Estão nervosos e agressivos. Percebem que as coisas estão mudando rápido no plano das relações entre os gêneros e com o gênero. Está mudando a experiência de muitos casais hétero. Enquanto os reacionários interditam, nós liberamos.

    Talvez, tão importante quanto multidões gritarem para Bolsonaro ir tomar lá como forma de expressar desaprovação à sua política repressiva e retrógrada, seja começar a destruir na prática os fundamentos dessa masculinidade agressiva fascista. De todo modo, transar diferente ou gritar na rua, sozinhos, não serão suficientes para sustentar as transformações que queremos no mundo. Vai ser preciso lutar em todas as frentes. E também atrás. Eu quis registrar que começamos de vários lados.

      

    Natasja Garonne, blogueira e Domme, escreve no blog Rapport de Dra. Natasja

     

     

  • Balanço e perspectivas: 2019 foi ruim? Prepare-se para 2020

    Balanço e perspectivas: 2019 foi ruim? Prepare-se para 2020

    Por Ricardo Melo, especial para os Jornalistas Livres

     

    Não cabe se alongar muito neste balanço. O Palácio do Planalto foi tomado de assalto por uma famiglia de criminosos. Os métodos são conhecidos pela maioria: um impeachment fraudulento, um processo ilegal contra o candidato favorito nas eleições, uma enxurrada eletrônica de mentiras financiada a peso de ouro daqui e lá de fora para turvar a vontade popular. Jair Bolsonaro é um presidente ilegítimo.
    Os fatos corroboram esta conclusão desde primeiro de janeiro de 2019. Nem é preciso relembrar a trajetória do capitão expulso do Exército acusado de tentar explodir quartéis e adutoras. Depois, a defesa da morte de “30 mil”, o ataque à comunidade LGBT, a apologia da tortura e do estupro.

    Jair Bolsonaro é o chefe de uma quadrilha de malfeitores que construiu sua “carreira” roubando dinheiro público mediante rachadinhas e um pomar de laranjais. É sabidamente muy amigo de milicianos acusados de crimes hediondos como o assassinato da vereadora Marielle e do motorista Anderson. Empregou em seu gabinete a filha do infame Fabricio Queiroz, a qual recebia em Brasília, mas entregava o ordenado aos chefes em Brasília apesar de despachar como personal trainer de celebridades no Rio de Janeiro.

    O resto do clã nada mais fez que seguir a trilha do pai. Flavio Bolsonaro é um mentiroso de ofício. Cínico. Com a ajuda do presidente do Supremo Tribunal Federal, José Toffoli, transformou chocolates em dinheiro vivo, e vice-versa. Eduardo Bolsonaro é um fanfarrão cujo intelecto (?) mal consegue fritar um hambúrguer ao ponto. Quanto a Carlos Bolsonaro, a parcimônia recomenda algum silêncio. Não passa de um meliante suspeito de manipular registros de condomínio para tentar salvar o pai da guilhotina, descontadas outras malfeitorias.
    Este é o Brasil de hoje. Como esperado, a quadrilha montou um ministério à sua imagem e semelhança. Um condenado no ½ ambiente, uma desmiolada como Damares, um pré-símio na Educação, um alucinado no Itamaraty, um garoto propaganda de travesseiros na área de Ciências.

    Na Cultura, então, nem se fale. O tal Roberto Alvim, para quem não o conhece, é um antigo adepto de drogas que hoje ele considera “indignas”. Enquanto tropeçava entre mesas de lugares badalados, professava ideias que ele imaginava de “esquerda”. Nesta época, sua presença em bares cariocas exibindo sua aversão à sobriedade era motivo de constrangimento mesmo para quem se achava progressista, para não dizer dos garçons. Mas nada que o dinheiro não compre, como se vê atualmente.

    E chegamos a Paulo Guedes. Um especulador barato, truculento, acusado de tramoias com fundos de pensão, incapaz de escrever um paper ou apostila citados por qualquer acadêmico. Sua fama, ou infâmia, vem do tempo em que se transformou em pinochetista de carteirinha. No Chile, deu no que deu. Agora, Guedes tenta transportar sua alquimia para o Brasil, após provocar suicídios em massa de idosos chilenos sem condições de viver com migalhas de aposentadoria “capitalizada”. Falando sério: o que pensar de alguém que propõe taxar desempregados para criar “empregos”? Nem o lixo merece isso.

    (Opa, ia esquecendo do Moro. Além de ignorante contumaz, o marreco de Maringá é um CRIMINOSO assumido. Grampeou um ex-presidente e uma presidenta sem ter autorização para isso. Convive com a corrupção como uma gazela inocente. Um bandido da pior espécie, que nem Al Capone aceitaria em suas fileiras tamanha sua capivara. Sustento isto em qualquer tribunal, inclusive na vara de Curitiba, valhacouto de delinquentes. Basta me chamar.)

    Mas é esse o país que nos espera em 2020. A permanecer como está, 2019 foi apenas um ensaio. Assassinatos de políticos; chacina em Paraisópolis; massacre de indígenas; perseguição nas universidades e escolas; violência contra os movimentos LGBT; faroeste nas ruas, no campo e nas estradas; truculência contra os movimentos por moradia; licença para policiais matarem inocentes como baratas; atentado fascista contra o grupo “Porta dos Fundos”.

    Na vida cotidiana de quem rala para ganhar a vida, a situação não é melhor, muito pelo contrário. Essa história de criação de empregos é MENTIRA. Qualquer um disposto a enxergar percebe, após as tais “reformas trabalhistas”, a multiplicação desenfreada de mendigos transformados em “empregados informais”. Arriscam a vida em bicicletas para entregar sanduíches, negociam panos alvejados como “microempreendedores”, vendem cafés e bolos de nada madrugada afora para pagar o aluguel em cortiços. Quando têm um pouquinho de reservas, alistam-se nos Uber da vida sem direitos ou garantias mínimas de sobreviver. Aposentadoria, nem pensar –para eles e para a massa de trabalhadores.

    Muito se apostou com a saída de Lula da cadeia. Não livre, apenas solto. Poucos se dão conta da campanha e das iniciativas dos poderosos para recolocarem-no de novo atrás das grades.

    É inegável que a liberdade, mesmo provisória, de Lula ofereceu um ânimo espetacular aos que pretendem liquidar esse período de trevas. Porém é injusto colocar sobre suas costas a responsabilidade de inverter tamanho desastre.

    Lula é a maior liderança popular que o país já produziu. Mas uma andorinha apenas não faz verão. O PT, maior e mais importante partido do Brasil, está sendo chamado a sair da toca e colocar em prática os discursos memoráveis do ex-presidente após sua libertação provisória.

    O fato é que o PT hoje está contaminado por uma aristocracia burocrática, que se digladia por cargos e disputa a condição de “quem é mais amigo de Lula”. Uma tragédia. A diferença, contudo, está em quem é mais amigo do povo, daqueles que, na chuva ou no sol, nunca deixaram de lutar pela liberdade incondicional do ex-presidente sobretudo pelo que ele representa na defesa dos pobres e desvalidos.

    Socialismo ou barbárie, esta é a opção. Por enquanto a barbárie está várias casas à frente. Inverter este jogo vai depender muito do próprio PT e, junto com ele, das forças democráticas sinceras. Não das que hoje posam de viúvas dos Bolsonaros que ajudaram a eleger.

     

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    Lula está solto, mas ainda não livre