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  • NOTA DE REPÚDIO À REMOÇÃO DOS QUILOMBOLAS DE ALCÂNTARA – MA

    NOTA DE REPÚDIO À REMOÇÃO DOS QUILOMBOLAS DE ALCÂNTARA – MA

    O Sindicato dos Trabalhadores Agricultores e Agricultoras Familiares de Alcântara (STTR), o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar do Município de Alcântara (SINTRAF), a Associação do Território Quilombola de Alcântara (ATEQUILA), o Movimento de Mulheres Trabalhadoras de Alcântara e o Movimento dos Atingidos pela Base Espacial (MABE) e as instituições abaixo subscritas, cientes da Resolução no 11 de 20 de março de 2020 do Gabinete de Segurança Institucional a Presidência da República, publicada no Diário Oficial da União em 27.03.2020, vêm a público repudiar veementemente o teor da referida Resolução, que busca estabelecer, ao arrepio de leis nacionais e internacionais, as diretrizes para a expulsão das comunidades quilombolas de Alcântara de seus territórios.

    Consideramos a medida arbitrária e totalmente ilegal, uma vez que afronta diversos dispositivos legais de proteção dos direitos das comunidades remanescentes de quilombo, bem como, tratados e convenções internacionais referidos aos direitos destas comunidades.

    Denunciamos ao povo brasileiro que o governo Bolsonaro, submisso aos interesses do governo dos Estados Unidos, além de entregar nossa base de lançamentos, medida que inviabiliza o desenvolvimento de nosso conhecimento e tecnologia aeroespacial, também entrega de bandeja o povo quilombola que vive em seus territórios a centenas de anos. Exigimos, em um só tempo, o respeito à soberania do povo quilombola sobre seus territórios e soberania do povo brasileiro sobre a base de Alcântara.

    Por fim, não admitimos quaisquer possibilidades de deslocamentos e reafirmamos nossa irrestrita e ampla defesa das comunidades quilombolas de Alcântara no direito de permanecer no seu território tradicional na sua inteireza e plenitude. Acionaremos todos os meios e medidas possíveis para resguardá-las.

    Os governos passam, mas o povo fica e será soberano sobre seu destino!

    Abaixo assinados::
    1 Sindicato dos Trabalhadores Agricultores e Agricultoras Familiares de Alcântara (STTR)
    2 Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar do Município de Alcântara (SINTRAF)
    3 Associação do Território Quilombola de Alcântara (ATEQUILA)
    4 Movimento de Mulheres Trabalhadoras de Alcântara
    5 Movimento dos Atingidos pela Base Espacial (MABE)
    6 ABRASCO
    7 Acampamento Terra livre
    8 Ação Educativa
    9 Afrobase – SP
    10 Agência Solano Trindade – SP
    11 Agência Tambor
    12 Agentes de Pastoral Negro do Maranhão
    13 Amigos da Terra Brasil
    14 Articulação para o Monitoramento dos Direitos Humanos no Brasil
    15 Associação Agroecológica Tijupá
    16 Associação Brasileira de Reforma Agrária – ABRA
    17 Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia (Anpege)
    18 Associação Protetora dos Desvalidos – BA
    19 Balaios Livraria
    20 Bijari – SP
    21 Brigada do Congresso do Povo – MA
    22 Casa Amarela de Cultura Coletiva – SP
    23 Casadalapa – SP
    24 CEBI BAHIA
    25 Central de Movimentos Populares
    26 Central Sindical e Popular CSP – CONLUTAS
    27 Centro de Assessoria e Apoio a Iniciativas Sociais – CAIS
    28 Centro de Ciências e Saberes Mãe Anica
    29 Centro de Cultura Negra do Maranhão
    30 Centro de Pesquisa e Extensão em Direito Socioambiental (CEPEDIS)
    31 Coalizão Negra por Direitos
    32 Coletivo Aparelhamento – SP
    33 Coletivo Imargem – SP
    34 Coletivo Madeirista – Porto Velho, RO
    35 Coletivo Ocupeacidade – SP
    36 Coletivo Política do impossível – SP
    37 Coletivo Tralha – SP
    38 Coletivo Transverso – DF / SP
    39 Comissão Brasileira Justiça e Paz da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CBJP/CNBB)
    40 Comissão de Direitos Humanos de Passo Fundo – CDHPF
    41 Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas e Povos e Comunidades Costeiras e Marinha – CONFREM Brasil
    42 Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas e Povos e Comunidades Costeiras e Marinha – CONFREM Maranhão
    43 Comitê da América Latina e do Caribe pela Defesa dos Direitos das Mulheres (CLADEM- Brasil)
    44 Condominio Cultural – SP
    45 Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil Regional NE 5 – Maranhão
    46 Conselho Nacional de Leigos do Brasil – Regional NE 5
    47 Conselho Estadual da Política de Igualdade Étnico-Racial – CEIRMA
    48 Conselho Pastoral dos Pescadores

    49 Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas – CONAQ
    50 Creative Commes – SP
    51 Diocese de Brejo
    52 Diocese de Pinheiro
    53 Ecossistema Tropical – BR
    54 Ecossistema Tropical – SP
    55 Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras do Estado do Maranhão – FETAEMA
    56 Feira Da Tralha – São Luís
    57 FIAN Brasil
    58 Fórum Carajás
    59 Frente 3 de fevereiro – SP
    60 Frente Campesina Americana
    61 Frente Parlamentar Ambientalista
    62 Frente Parlamentar Mista de Apoio aos Objetivos Desenvolvimentos Sustentável da ONU – ODS – coordenador: Nilo Tatto
    63 GECA – Grupo de Pesquisas em Geografia Agrária e Conservação da Biodiversidade do Pantanal da Universidade Federal do Mato Grosso – UFMT
    64 GEDITE – Grupo de Estudos em Dinâmicas Territoriais da Universidade Estadual 89 Marcha das Margaridas do Maranhão – UEMA
    65 Geledès – Instituto da Mulher Negra
    66 GEOAGRÁRIA – Laboratório de Geografia Agrária da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS
    67 GEOLUTAS – Laboratório de Geografia das Lutas no Campo e na Cidade da Universidade Estadual do Oeste do Paraná campus Marechal Candido Rondon – UNIOESTE
    68 GERES – Grupo de Estudos Regionais Socioespaciais da Universidade Federal de Alfenas
    69 Gráfica Fábrica – SP
    70 Grito dos Excluídos Brasil
    71 Grupo de Estudos Rurais e Urbanos (GERUR/UFMA)
    72 Grupo de Estudos, Pesquisa e Debates em Serviço Social (GSERMS) – UFMA
    73 Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente da Universidade Federal do Maranhão (GEDMMA/UFMA)

    74 Grupo de pesquisa Territorialidades e Imaginários na Amazônia-UNIR
    75 Horacio Antunes de Sant’Ana Júnior
    76 Instituto Maranhão Sustentável
    77 Instituto Pacs – Políticas Alternativas para o Cone Sul
    78 Instituto Polis
    79 Instituto Socioambiental – ISA
    80 Irmãs de Notre Dame de Namur
    81 Jornal Vias de Fato
    82 Jornalistas Livres
    83 Justiça Global – JG
    84 Justiça nos Trilhos
    85 Laboratório de Estudos e Pesquisa sobre Espaço Agrário e Campesinato (LEPEC/UFPE)
    86 LAGEA – Laboratório de Geografia Agrária da Universidade Federal de Uberlândia – UFU
    87 LERASSP – Laboratório de Estudos Regionais e Agrários no Sul e Sudeste do Pará da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará – UNIFESSPA
    88 MAM – Movimento Pela Soberania Popular na Mineração
    90 Marcha Mundial Das Mulheres

    91 Marcha Mundial das Mulheres – Maranhão
    92 Movimento Baia Viva do Rio de Janeiro
    93 Movimento de Defesa da Ilha – São Luís/MA
    94 Movimento dos Pequenos Agricultores
    95 Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terras do Maranhão – MST
    96 Movimento Mulheres em Luta – MML
    97 Movimento Nacional de Direitos Humanos – MNDH Brasil
    98 Movimento pela Saúde dos Povos – MSP Nacional
    99 MSTC – Movimento dos Sem Teto do Centro – SP
    100 NEADEC – Núcleo de Estudos e Pesquisas Agrárias sobre Desenvolvimento, Espaço e Conflitualidades da Universidade Federal do Pará – UFPA
    101 NERA – Núcleo de Estudos, Projetos e Pesquisas de Reforma Agrária da Universidade Estadual Paulista – UNESP, campus Presidente Prudente
    102 Observatório de Protocolos Comunitários de Consulta e Consentimento Livre, Prévio e Informado
    103 OCA Maranhão
    104 Ocupeacidade – SP
    105 Ong Arte-Mojó
    106 Parquinho Gráfico – SP
    107 Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado – PSTU
    108 Pastorais Sociais
    109 Pastoral Afro
    110 Pastoral Carcerária Regional
    111 Pastoral da Aids assina
    112 Pastoral da Criança Regional
    113 Pastoral da Juventude -PJ
    114 Paulestinos – SP
    115 Plataforma DHESCA
    116 Política do Impossível – SP
    117 Potira Floricultura – Florianópolis
    118 Programa de Pós Graduação em Cartografia Social e Política da Amazônia
    119 Publication Studio São Paulo
    120 Quilombo Raça e Classe
    121 Quilombo Urbano
    122 Rádio Camponesa – Crateús/CE

    123 RADIO CANAÃ FM – CE
    124 Rede de Médicos Populares
    125 Rede Jubileu Sul
    126 Rede Social de Justiça e Direitos Humanos
    127 Reocupa

    128 Residência Artística Jardim Aberto – JARA – Porto Alegre
    129 Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário Federal e MPU do Maranhão – Sintrajufe/MA
    130 Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-SN) 131 SINTES-MA Sindicato dos Trabalhadores em Entidades Sindicais, Órgãos Classistas, Entidades Não Governamentais e Partidos Políticos no Estado do Maranhão
    132 Sociedade Maranhense de Direitos Humanos – SMDH
    133 SP Terra Indígena
    134 Treme Terra – SP
    135 Uneafro Brasil
    136 União de Moradores do Taim
    137 União Estadual por Moradia
    138 Via Campesina

     

    Conheça um pouco do dia-a-dia da Comunidade Quilombola do Canelatiua – Alcântara:

  • Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência se diz contrária ao acordo para uso da Base de Alcântara (MA)

    Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência se diz contrária ao acordo para uso da Base de Alcântara (MA)

              Em carta enviada ao ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicação, a Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência (SBPC) criticou o Acordo de Salva-Guardas Tecnológicas assinada entre o governo Bolsonaro e os EUA, acordo este que viola frontalmente o direito à consulta prévia, livre e informada, assegurada na Convenção 169 (C169) da Organização Internacional do Trabalho (OIT), ratificada pelo Estado Brasileiro em 22 de julho de 2002 e incorporada ao ordenamento jurídico pelo Decreto n. 5.051 de 09 de abril de 2004.
    Leia na íntegra a carta da SBPC, enviada no dia 06 de setembro para o ministro.

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    Excelentíssimo Senhor
    Ministro MARCOS PONTES
    Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) Brasília, DF.

    Senhor Ministro,

    Encaminhamos, abaixo, cópia de Moção aprovada por unanimidade pela Assembleia Geral Ordinária de Sócios da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada em 25 de julho de 2019, na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), em Campo Grande, por ocasião da 71a Reunião Anual da SBPC.

    Se possível, gostaríamos de receber manifestação de Vossa Excelência sobre o assunto, para divulgação aos sócios da SBPC.

    Título: Moção em discordância com os termos do acordo de salvaguardas tecnológicas Brasil e Estados Unidos

    Texto da moção: A Assembleia Geral da SBPC manifesta sua discordância em relação aos termos doAcordo firmado entre os governos de Donald Trump e Jair Bolsonaro sobre “salvaguardas tecnológicas”, relacionadas aos Estados Unidos com lançamentos a partir do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), assinado em Washington, em 18 de março de 2019. Este Acordo, além de não transferir tecnologia e silenciar sobre o destino das comunidades quilombolas, viola os direitos territoriais ao preconizar a expansão do centro espacial, ameaçando de deslocamento compulsório centenas de famílias quilombolas.

    A titulação da terra das comunidades quilombolas é garantida na Constituição Brasileira de 1988, no artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT). A luta das comunidades quilombolas de Alcântara pela titulação de seu território já se estende por quase 40 anos. O CLA foi instalado em território quilombola pela ditadura militar na década de 80 do século passado. Se for ratificado pelo Congresso brasileiro, esse Acordo vai permitir aos Estados Unidos implantar instalações relacionadas ao lançamento de foguetes e ampliar a área do CLA, que não possui licenciamento ambiental, deslocando comunidades quilombolas. Este Acordo foi assinado à revelia dos procedimentos legais que preveem a consulta prévia, informada e de boa fé.

    Mediante essas ameaças de direitos, vimos manifestar nossa oposição a este Acordo e em solidariedade às comunidades quilombolas de Alcântara.

    Atenciosamente,

    ILDEU DE CASTRO MOREIRA Presidente da SBPC

  • Deputadas do PSOL lançam plataforma para garantir os direitos dos quilombolas de Alcântara (MA)

    Deputadas do PSOL lançam plataforma para garantir os direitos dos quilombolas de Alcântara (MA)

    Para pressionar o Congresso para que seja realizada consulta prévia junto às comunidades quilombolas sobre exploração comercial do Centro de Lançamentos de Alcântara (CLA), as deputadas federais Áurea Carolina (PSOL-MG) e Talíria Petrone (PSOL-RJ) lançaram a plataforma Consulta Quilombolas Já.

    A situação dos povos quilombolas em Alcântara, no Maranhão, é grave.

    Precisamos reagir!

    Assine o abaixo-assinado!

    A plataforma, além de conter informações detalhadas sobre o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas – em tramitação na Câmara dos Deputados, apresenta um abaixo assinado para pressionar os congressistas para que as comunidades sejam consultadas – antes da votação – sobre um empreendimento que afetará dramaticamente a vida de mais de 800 famílias.

    Entenda o caso: 

    Via https://www.consultaquilombolaja.com.br

    No litoral maranhense, no município de Alcântara e sob a Linha do Equador, o Brasil mantém uma base estratégica para lançar foguetes e satélites. É o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), construído no início da década de 1980 pelo regime militar.

    Para que o CLA fosse instalado, mais de 300 famílias quilombolas foram removidas de seus territórios ancestrais e realocadas em sete agrovilas afastadas do mar. Perderam, com isso, acesso direto à sua principal fonte de segurança alimentar e sustento econômico e tiveram seus modos de vida profundamente alterados. Essas comunidades aguardam até hoje a devida indenização e a titulação de suas terras.

    Essa história de violência pode estar prestes a se repetir caso o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST) entre Brasil e EUA para a exploração comercial do CLA, assinado em março deste ano, seja efetivado.

    A expansão do CLA para toda a costa de Alcântara, prevista pelo acordo, pode resultar na remoção de outras centenas de famílias. Para piorar, tudo tem acontecido sem qualquer diálogo com essas comunidades, desrespeitando a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Além disso, o Acordo pode comprometer a soberania brasileira

    Neste momento, o acordo tramita no Congresso Federal e os parlamentares podem evitar que esse histórico se repita.

    Não queremos mais violações aos direitos das comunidades quilombolas. Pressione os deputados a exigirem a realização de uma consulta às comunidades!

     

     

    De acordo com a Convenção 169 da ONU, da qual o Brasil é signatário e que tem força de lei no país, os povos e comunidades tradicionais devem ser consultados previamente sempre que qualquer decisão impactar seus territórios e modos de vida.

    No último dia 04/09 o plenário da Câmara aprovou o regime de urgência para tramitação do AST. Com isso, o texto fica pronto para ser discutido e votado pelos deputados.

    Até o momento, não há movimentação do governo Bolsonaro para cumprir a Convenção 169. Por outro lado, os quilombolas da região elaboram, por conta própria, um protocolo que permitirá referendar – ou não – a legitimidade da consulta promovida pelo poder público, caso ela ocorra.

     

    O VAI E VEM DO ACORDO:

    Achismos

    Até o momento, não foram apresentados estudos confiáveis sobre a rentabilidade do Acordo de Salvaguardas Tecnológicas e suas reais vantagens para o país. O que temos são apenas projeções vagas e sem qualquer fundamentação técnica.

    Desinformação

    O governo tem divulgado informações contraditórias sobre a expansão territorial da base – enquanto o Ministério da Ciência e Tecnologia garante que não haverá ampliação, o Ministério da Defesa afirma que isso deverá acontecer.

    Sem conversa

    A Convenção 169 da OIT – da qual o Brasil é signatário – determina que povos e comunidades tradicionais sejam consultados de forma prévia, livre e informada sobre projetos que afetem seus territórios e modos de vida. Não é o que vemos em Alcântara. Sem informações confiáveis sobre o que está por vir, os quilombolas de Alcântara estão temerosos sobre seu futuro.

    Auto-organização

    Enquanto o Estado brasileiro permanece omisso, os quilombolas de Alcântara estão elaborando, de forma autônoma, um protocolo para essa consulta. Isso permitirá a eles referendar – ou não – a legitimidade da consulta oficial do poder público. Os parlamentares são fundamentais para garantir que essa escuta aconteça!

    Marcas profundas

    As remoções da década de 1980 deixaram uma herança perversa para as comunidades. Adoecimento físico e mental, destruição de vínculos comunitários, migração de famílias para as periferias de São Luís, desemprego, escassez de alimentos, pobreza e proliferação da violência são apenas alguns dos problemas.

    Fracassos

    Não é a primeira vez que o CLA é objeto de acordos internacionais. Em 2000, o presidente FHC assinou com os EUA um acordo praticamente idêntico ao AST, rechaçado pelo parlamento sob a alegação de que ele feria a soberania nacional. Três anos depois, o presidente Lula firmou um acordo com a Ucrânia para o desenvolvimento aeroespacial do Cyclone-4 no CLA, encerrado em 2005 sem êxito financeiro ou operacional.

    Mais problemas

    Além dos impactos devastadores para as comunidades quilombolas, o acordo abre brechas para o uso bélico e militar do CLA pelos EUA. Também cria áreas restritas no interior da base que dependem da permissão do governo americano para ingresso. Tudo isso compromete aspectos de soberania do Estado brasileiro.
  • Comunidades quilombolas não foram consultadas sobre acordo para a base de Alcântara, no Maranhão

    Comunidades quilombolas não foram consultadas sobre acordo para a base de Alcântara, no Maranhão

    Em carta enviada ao Congresso em junho deste ano, o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Alcântara (STTR), o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar de Alcântara (SINTRAF), a Associação do Território Quilombola de Alcântara (ATEQUILA), o Movimento dos Atingidos pela Base Espacial (MABE), e o Movimento de Mulheres Trabalhadoras de Alcântara (MOMTRA) demonstram profunda preocupação com os impactos negativos que cerca de 800 famílias quilombolas sofrerão caso o “Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST) Brasil – Estados Unidos da América e Comunidades Quilombolas de Alcântara/MA” seja aprovado.

    Para o advogado e cientista político Jorgem Rubem Folena de Oliveira, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB), o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST) que trata do uso da base de Alcântara, assinado em março pelos presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump, dos Estados Unidos, é “completamente inconstitucional por atentar contra a soberania do Brasil”. No acordo assinado, não está previsto o repasse de tecnologia aeroespacial para o Brasil.

    A votação do requerimento de urgência do ATS está na pauta de amanhã da Câmara dos Deputados.

    “O governo também faz propaganda que “toda a região adjacente ao CLA será beneficiada pelo incremento imediato do desenvolvimento social e econômico refletido na geração de empregos, na criação de novas empresas e na ampliação do empreendedorismo e negócios de base local como restaurantes, hotéis, postos de gasolina, barbearias. Perguntamos: quantos e quais empregos serão gerados? Quantas novas empresas serão criadas? Quem financiará restaurantes e hotéis? Quais os serviços básicos de saúde, educação, saneamento e transporte que beneficiarão as comunidades quilombolas? Não há um estudo sequer, apresentando ou elaborado por especialistas independentes ou pelo governo que responda a estas questões. Ademais, como todas estas empresas e iniciativas serão instaladas na área sem o consentimento prévio das comunidades quilombolas de Alcântara, proprietárias do território?”

    Para os quilombolas, que não foram consultados como determina a Lei, o bem estar, a segurança alimentar e o direito de ir e vir estão ameaçados. Veja o documento na íntegra:

     

    Prezados Congressistas,

    O Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Alcântara (STTR), o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar de Alcântara (SINTRAF), a Associação do Território Quilombola de Alcântara (ATEQUILA), o Movimento dos Atingidos pela Base Espacial (MABE), e o Movimento de Mulheres Trabalhadoras de Alcântara (MOMTRA), em representação e atenção às comunidades quilombolas de Território Quilombola de Alcântara e as demais instituições subscritas vêm, pela presente, apresentar demandas e solicitar providências relativas à proteção de seus direitos territoriais e aos recursos naturais e contra deslocamentos forçados frente ao ACORDO DE SALVAGUARDAS TECNOLÓGICAS CELBRADO COM OS ESTADOS UNIDOS e consequente expansão do Centro de Lançamentos de Alcântara (CLA):

    1. Como é de conhecimento público, o Governo da República Federativa do Brasil assinou Acordo com o Governo dos Estados Unidos da América sobre Salvaguardas Tecnológicas Relacionadas à Participação dos Estados Unidos da América em Lançamentos a partir do Centro de Lançamento de Alcântara, em Washington, em 18 de março de 2019, pelo Ministro de Estado das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, pelo Ministro de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcos Pontes, pelo Ministro de Estado da Defesa, Fernando Azevedo, e pelo Secretário Assistente, Escritório de Segurança Internacional e Não Proliferação do Departamento de Estados dos Estados Unidos da América, Christopher A. Ford.

    2. O referido Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST) foi enviado aos membros do Congresso Nacional pelo governo federal em 23 de maio de 2019, para aprovação, por meio da Mensagem n. 208.

    3. Para a efetivação do AST será necessário expandir a atual área do CLA– de 08 mil para 20 mil hectares – e, consequentemente, deslocar aproximadamente 02 mil quilombolas.1 Nenhum/a destes integrantes das 219 comunidades quilombolas, que vivem no território de Alcântara há mais de 200 anos, ou suas entidades representativas, foram consultadas sobre a assinatura do referido acordo, cujo efeito impacta diretamente a vida destas comunidades. A assinatura do AST sem consulta às comunidades quilombolas viola frontalmente o direito à consulta prévia, livre e informada, assegurada na Convenção 169 (C169) da Organização Internacional do Trabalho (OIT), ratificada pelo Estado Brasileiro em 22 de julho de 2002 e incorporada ao ordenamento jurídico pelo Decreto n. 5.051 de 09 de abril de 2004.

    4. O governo faz propaganda de que os serviços de lançamentos a serem realizados desde o CLA, contratados com empresas, são muito lucrativos. Estima que em “20 anos, devido a não aprovação do AST [assinado pelo então presidente, Fernando Henrique Cardozo, em 2001 e não aprovado pelo Congresso Nacional], o Brasil perdeu aproximadamente U$ 3,9 bilhões em receitas de lançamentos não realizados, considerando apenas 5% dos lançamentos ocorridos no mundo neste período, além de não desenvolver opotencial tecnológico e de turismo regional”.2 Não há um estudo sequer, elaborado por especialistas independentes ou pelo governo que corrobore esta afirmação. No Acordo firmado entre Brasil e Ucrânia em 2003 houve prejuízo de R$ 500 milhões ao Brasil sem que nenhum foguete tenha sido lançado. O insucesso desta empreitada é atribuído à pressão dos Estados Unidos sobre a embaixada da Ucrânia no Brasil para não transferir tecnologia espacial ao nosso país; justamente o que aquele acordo propiciava e o que o presente, com os EUA, veta. Documentos secretos filtrados pela organização Wikileaksrevelam que o governo americano escreveu à embaixada da Ucrânia no Brasilinformando que eles “não apoiavam o programa nativo dos veículos de lançamento espacial do Brasil” e que “[…] os EUA não se opõem aoestabelecimento de uma plataforma em Alcântara, desde que a atividade não resulte na transferência de tecnologia de foguetes ao Brasil”.3 Ademais, o atual AST é mais restritivo quanto ao acesso às áreas restritas, controladas, ou seja, a movimentação de pessoal brasileiro nas áreas restritas da base só vai acontecer com permissão e comum acordo do governo dos Estados Unidos.

    5. O governo também faz propaganda que “toda a região adjacente ao CLA será beneficiada pelo incremento imediato do desenvolvimento social e econômico refletido na geração de empregos, na criação de novas empresas e na ampliação do empreendedorismo e negócios de base local como restaurantes, hotéis, postos de gasolina, barbearias. Perguntamos: quantos e quais empregos serão gerados? Quantas novas empresas serão criadas? Quem financiará restaurantes e hotéis? Quais os serviços básicos de saúde, educação, saneamento e transporte que beneficiarão as comunidades quilombolas? Não há um estudo sequer, apresentando ou elaborado por especialistas independentes ou pelo governo que responda a estas questões. Ademais, como todas estas empresas e iniciativas serão instaladas na área sem o consentimento prévio das comunidades quilombolas de Alcântara, proprietárias do território?

    O documento de Wikileaks está disponível em

    https://wikileaks.org/plusd/cables/09STATE3691_a.html

    6. Os direitos das comunidades quilombolas não se referem apenas às compensações financeiras para aquelas que foram forçadamente deslocadas para as agrovilas há 30 anos, como entende o governo. O direito das comunidades é presente e atual, se estende a todo território quilombola de Alcântara já identificado e demarcado pelo INCRA, bem como aos recursos naturais nele inseridos, além do acesso ao mar. A propriedade quilombola é, por sua vez, imprescritível, impenhorável e inalienável.

    7. A Constituição Federal reconhece às comunidades quilombolas como patrimônio cultural imaterial da sociedade brasileira (Art. 216, § 5o) e assegura a emissão de títulos de propriedade definitiva de suas terras pelo Estado (Art. 68 ADCT).

    8. Diferentemente do que o governo prega, o AST afeta as questões fundiárias. As comunidades quilombolas aguardam há mais de 10 anos, a titulação coletiva da propriedade do território étnico, determinada pela 5a Vara da Justiça Federal do Maranhão em 27 de setembro de 2006 e nunca concluída pelo INCRA. Em 04 novembro de 2008, o INCRA publicou o Relatório Técnico de Identificação e Demarcação (RTID) do Território Quilombola de Alcântara, identificando 78 mil hectares como terras pertencentes às comunidades quilombolas, excluindo a área atualmente ocupada pelo CLA. Desde a desapropriação da área de 62 mil hectares pelos Governo do Estado do Maranhão e Federal, em 1982, para instalação do Centro de Lançamentos de Alcântara (CLA), as comunidades quilombolas têm sido sujeitas a toda a forma de violação de direitos, individuais e coletivos, por ação ou omissão do governo e suas empresas ou instituições, e ainda aguardam reparações.

    9. A figura abaixo indica a área de 12 mil hectares pretendida pelo governo para expansão da área do CLA.

    10. Entretanto, em novembro de 2008 a 5a Vara da Justiça Federal do Maranhão homologou acordo entre o Ministério Público Federal, a União e a Agência Espacial Brasileira, em que estas se comprometeram em não expandir a atual área utilizada pelo CLA (8,713 mil hectares). De igual modo, compreende-se que o CLA não poderá ser expandido para a implantação do Acordo com os EUA, ainda mais sem consultar as comunidades quilombolas.

    11. O governo nunca atentou, ou reconheceu, ao fato de que há uma conexão intrínseca, documentada pela perícia antropológica realizada pelo Ministério Público Federal,4 entre terra, território, meio ambiente, vida, religião, identidade e cultura enraizada nas comunidades quilombolas de Alcântara. Essa conexão se expressa pela rede de todas as comunidades quilombolas que promovem um intercâmbio social, cultural e econômico permanentemente que consolida um sistema de intercâmbio e uso dos recursos naturais de forma equilibrada. Ainda que cada comunidade possua limites sociais e tradicionalmente identificados por marcos concretos, os limites físicos não restringem o acesso aos recursos naturais, como ocorre no caso da propriedade privada de imóveis rurais. O domínio exercido pelas comunidades no território propicia que, em contextos de escassez, uma comunidade suprasua necessidade mediante o uso dos recursos naturais das outras, e vice- versa. É extremamente difícil estabelecer os marcos físicos da área de influência de cada comunidade. Quando se trata de roças e plantações, os limites são mais fáceis de identificar porque são estabelecidos em comum acordo entre as comunidades. Mas quando se fala em relações sociais, intercâmbios matrimoniais, econômicos ou rituais, as fronteiras entre as comunidades se alargam.

    12. Isso significa que a expansão da área do CLA para os 12 mil hectares pretendidos pelo governo federal vai afetar o equilíbrio das relações econômicas, sociais e culturais entre as comunidades quilombolas. Ela limitará o livre e permanente acesso das comunidades às áreas do litoral de Alcântara frente à proposta de criação de corredores nas áreas de lançamento. A restrição de acesso a recursos naturais essenciais como o mar, nascentes de água potável, árvores frutíferas, babaçuais, cocais, dentre outros, presentes nos 12 mil hectares, afetará a conexão e os fluxos econômicos entre as comunidades e o desaparecimento das fronteiras que identificam as territorialidades atuais especificas constituídas historicamente pelos quilombolas. A intensidade deste impacto negativo sobre as comunidades quilombolas, entretanto, nunca foi objeto de estudo técnico pelo governo federal, o que também viola a C169. E o mais grave, se instalará em Alcântara uma situação de insegurança alimentar sem precedentes.

    13. Mesmo frente à magnitude do AST e da proposta de expansão do CLA, o único estudo técnico realizado até o momento se refere ao grau de interferência da presença das comunidades (nos 12 mil hectares) na segurança dos lançamentos de foguetes pretendidos. Este estudo demonstra que há incompatibilidade entre a permanência das comunidades no território, suas moradias e roças, com a expansão do CLA.

    14. É de se destacar ainda que o CLA funciona há quase 40 anos sem licenciamento ambiental. Inexiste EIA/RIMA do CLA. Não é admissível que as operações de lançamento de foguetes ocorram sem que a comunidade alcantarense e a sociedade brasileira possam mensurar ou dimensionar os possíveis e reais danos à saúde e ao meio ambiente, gerados a partir das atividades espaciais no CLA. Entendemos que não se pode avançar nas tratativas referidas ao AST sem que esta questão do CLA seja resolvida.

    15. Após a assinatura do AST com os EUA, muitas audiências públicas, reuniões e seminários têm sido realizados em Brasília e no Maranhão, sem a efetiva e plena participação das comunidades e suas organizações representativas. As comunidades reiteram que querem e devem ser consultadas e incluídas nos debates sobre a expansão e o uso comercial do CLA, posto que é seu direito à consulta prévia, livre, informada e de boa-fé sobre quaisquer obras, projetos ou programas que se objetive realizar em seus territórios, tal como determina a C169 da OIT.

    16. Na prática, privilegiar o debate com o foco apenas na ótica comercial e tecnológica, predominante hoje no debate travado sobre o AST, só corrobora para assolar o cenário de invisibilidade e insegurança jurídica a que as comunidades quilombolas de Alcântara estão expostas. Solicitamos que o Congresso Nacional não adote prática similar.

    17. Neste contexto as comunidades quilombolas têm resistido às tentativas do governo federal de expandir a atual área do CLA, considerando que o objetivo principal da expansão é a exploração comercial do território – que alegam ser ultra bem localizado para lançamentos de veículos espaciais com economia de combustível – cujo mercado será dominado pelos EUA, já que o Acordo não prevê a transferência de tecnologia de lançamentos para o Brasil. A defesa dos direitos das comunidades quilombolas tem encontrado apoio no Ministério Público Federal, na Defensoria Pública da União, na Justiça Federal, na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), na Organização Internacional do Trabalho (OIT) e em organizações da sociedade civil. Duas denúncias internacionais contra o Estado Brasileiro tramitam na CIDH e na OIT por violações à Convenção Americana de Direitos Humanos e a C169.

    18. Por fim, cumpre informar que as comunidades quilombolas de Alcântara encontram-se em processo de elaboração do seu Protocolo Comunitário sobre Consulta Prévia, Livre e Informada.

    As comunidades quilombolas de Alcântara e suas instituições representativas, e as organizações que subscrevem esta carta, solicitam ao Congresso Nacional:

    1. a)  Que se abstenha de votar o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas firmado entre o Brasil e os Estados Unidos da América até que seja concluída a titulação do Território Quilombola de Alcântara às comunidades quilombolas, nos termos do Relatório Técnico de Identificação e Demarcação publicado pelo INCRA em novembro de 2008;
    2. b)  Que se abstenha de votar o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas antes da realização, pelo Executivo Federal, do Estudo de Impacto Ambiental e o respectivo Relatório de Impacto Ambiental do CLA;
    3. c)  Que se abstenha de votar a aprovação do Acordo de Salvaguardas Tecnológicas firmado entre o Brasil e os Estados Unidos da América até que seja realizada consulta prévia, livre e informada, com base na C169, com base no protocolo de consulta elaborado pelas comunidades;
    4. d)  Que desautorize qualquer deslocamento forçado de quilombolas frente à decisão do governo federal de excluir 12 mil hectares da área a ser titulada como propriedade quilombola em benefício da expansão do CLA;
    5. e)  Que, após cumpridos os itens acima, realize no mínimo 03 audiências públicas no Senado e na Câmara Federal, com ampla e efetiva participação das comunidades quilombolas e suas entidades representativas, para discutir o AST.

    Pedem e esperam deferimento.

    ASSOCIAÇÃO DO TERRITÓRIO QUILOMBOLA DE ALCÂNTARA (ATEQUILA).

    MOVIMENTO DE MULHERES TRABALHADORAS DE ALCÂNTARA (MOMTRA).

    MOVIMENTO DOS ATINGIDOS PELA BASE ESPACIAL (MABE).

    SINDICATO DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS NA AGRICULTURA FAMILIAR DE ALCÂNTARA (SINTRAF).

    SINDICATO DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS RURAIS DE ALCÂNTARA (STTR).

    CENTRO DE CULTURA NEGRA DO MARANHÃO – CCN/MA.

    COORDENAÇÃO NACIONAL DE ARTICULAÇÃO DAS COMUNIDADES

    NEGRAS RURAIS QUILOMBOLAS (CONAQ).

    DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO/ DEFENSOR REGIONAL DE DIREITOS HUMANOS NO MARANHÃO (DPU/MA).

    FEDERAÇÃO DOS TRABALHADORES DA AGRICULTURA FAMILIAR DO MARANHÃO (FETRAF/MA).

    FEDERAÇÃO DOS TRABALHADORES RURAIS AGRICULTORES E AGRICULTORAS DO ESTADO DO MARANHÃO (FETAEMA).

    JUSTIÇA GLOBAL (JG).

    MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA/MA (MST/MA).

    REDE SOCIAL DE JUSTIÇA E DIREITOS HUMANOS.
    SOCIEDADE MARANHENSE DE DIREITOS HUMANOS.

  • Base de Alcântara e a violação de direitos dos povos quilombolas

    Base de Alcântara e a violação de direitos dos povos quilombolas

    Texto por Pedro Borges – Agência Alma Preta

     

    Comunidades quilombolas da região de Alcântara se colocam a favor do desenvolvimento espacial do país desde que tenham direitos garantidos; Bolsonaro firmou acordo com Trump para o governo americano usar a base e depende de aprovação do congresso nacional.

    “Não somos contra o desenvolvimento. O que não se admite é acabar com o direito quilombola à terra”, afirma Danilo Sérgio, quilombola de Alcântara, cientista político e crítico das violações de direitos humanos sofridas pelo grupo na região.

    O temor dos quilombolas com o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) cresceu depois da visita de Jair Bolsonaro (PSL) aos Estados Unidos para diálogo com Donald Trump. O presidente brasileiro formalizou, em 18 de março, o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST) para que os norte-americanos tenham o direito de utilizar o território para o lançamento de foguetes.

    O novo projeto de Jair Bolsonaro permite uma expansão da base, que ocuparia toda a costa de Alcântara, 12.645 hectares, o equivalente a 8.978 campos de futebol. O resultado provocaria a remoção de 792 famílias e restringiria o acesso ao mar aos habitantes locais. A proposta, que precisa ser votada pelo Congresso Nacional para que seja aprovada, impactaria mais de 150 comunidades de todo o território.

    A deputada federal Áurea Carolina (PSOL-MG) visitou a região para entender a realidade dos quilombolas. Diante dos relatos de violações de direitos, ela promete fazer oposição ao avanço da base sobre as áreas e os direitos dos povos locais.

    “É uma luta muito difícil e pesada, mas que aqui no Congresso a gente tem condição sim de fazer pressão, denunciar as partes complicadas desse acordo, garantir que haja um processo de consulta prévia, livre e formada para as comunidades quilombolas opinarem sobre o que elas querem”, afirmou.

    O governo brasileiro, como tem feito em outras pautas delicadas, caso da reforma da previdência, produziu 2.000 unidades de material publicitário intitulado “Conhecendo o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas Brasil e EUA”, sob o valor de 26 mil reais. O objetivo é o de convencer a sociedade e os demais deputados sobre os benefício do acordo.

    Imagem por Ana Mendes.

    Violações de direito

    A cidade de Alcântara convive desde o início dos anos 1980 com o CLA. O terreno, privilegiado para o lançamento de foguetes ao espaço por conta da proximidade da linha do Equador, pode economizar até 30% de combustível no envio de uma aeronave para fora da órbita terrestre. A proximidade com o mar também facilita a chegada de materiais e equipamentos.

    Esse cenário, favorável para o desenvolvimento de tecnologia espacial, convive com um histórico de violações de direitos humanos.

    Danilo Sérgio relata que o cerceamento de alguns direitos, como o acesso ao mar, fazem parte da rotina das comunidades e têm impacto negativo na economia local.

    “Em períodos de operações de lançamento de foguetes, entre 20 e 40 dias, as comunidades são proibidas de acessarem o mar, sob o argumento segurança. No entanto nenhuma medida compensatória é apresentada para suprir isso, haja vista que o mar é a principal fonte de renda e alimentação destas comunidades”, pontua.

    Parte dos quilombolas deslocados para a construção do CLA dependem de “corredores de pesca” para terem acesso ao mar. Com a aprovação do projeto, esse acesso será controlado por órgãos brasileiros e “empresas envolvidas no lançamento”, conforme explicaram os ministérios envolvidos em resposta ao requerimento apresentado pelo PSOL.

    “Com a remoção das famílias e os demais impactos, pode-se comprometer a soberania e a segurança alimentar dessas comunidades e os seus vínculos sagrados com seus territórios”, explica Áurea Carolina.

    Quando retiradas dos territórios, as famílias são assentadas nas chamadas agrovilas, locais descritos de maneira negativa pelos quilombolas. Os terrenos ficam a 10 quilômetros de distância do mar, em terras inférteis e insuficientes para o desenvolvimento das atividades econômicas. Alguns dos resultados desse deslocamento foram o agravamento da pobreza, a ruptura dos laços comunitários, e a fragilização das manifestações culturais da região.

    Imagem por Matt McClain

    Diante de todas essas restrições, Danilo Sérgio acredita ser fundamental que os quilombolas participem da gestão do espaço e sejam beneficiados com o CLA.

    “O atual modelo de gestão não inclui as comunidades como sujeitas dos benefícios gerados pelas atividades desenvolvidas pela base. É preciso que pensemos meios de compensar e de permitir que as comunidades participem, inclusive, dos lucros gerados pela Base Espacial”.

    Outro ponto tido como fundamental pelos quilombolas é a demarcação e titulação das terras. A justiça federal já determinou que o Estado brasileiro realize esse processo, o que ainda não ocorreu.

    “As terras até hoje não foram intituladas, como foi prometido pelo Estado brasileiro. As pessoas sofrem os prejuízos e danos desse processo etnocida, que continua em curso e só está sendo aprofundado”, critica a deputada federal.

    Os impactos ambientais da base também chamam atenção, apesar de ainda imensuráveis. Ao longo dos 39 anos de funcionamento do centro, não se produziu qualquer estudo de impacto ambiental.

    “A sociedade alcantarense não pode mensurar e dimensionar os danos gerados ao ambiente e às pessoas a cada operação de lançamento de foguetes. É grave que isso ocorra. Mais grave ainda é querer avançar em acordos com outros países sem que se resolva esta questão” aponta Danilo Sérgio.

     

    Centro da cidade de Alcântara, vista do Porto do Jacaré Sérvulo Borges, liderança quilombola. A rua que se vê é a ladeira do Jacaré, tem este nome porque no período escravocrata os escravos saiam dos barcos carregando latas de Querosene Jacaré. As pedras da rua, são conhecidas como ‘cabeça de negro’. – Maranhão.

    Ações internacionais

    Os quilombolas têm agido no âmbito internacional para denunciar as violações ocorridas em Alcântara.

    Em Maio, Membros da Associação de Estudos Latino Americana (LASA) emitiram nota de apoio. De acordo com o texto emitido, a ação se trata de uma ameaça aos “direitos territoriais e as vidas de muitas comunidade afro-brasileiras de quilombos da região”.

    Os quilombolas de Alcântara denunciaram os novos planos de expansão do governo brasileiro à Organização Internacional do Trabalho (OIT).

    De acordo com o texto, as ações estatais contradizem os Artigos 6 e 15 do Convenção nº 169 da OIT, onde está previsto que as comunidades quilombolas devem ser consultadas sobre projetos que podem afetar seus territórios e modos de vida.

    Os ministérios envolvidos afirmam que as comunidades não foram consultadas
    sobre o AST porque o projeto não trata sobre questões fundiárias e não afeta diretamente as comunidades locais.

    Para o órgão internacional, os quilombolas demandaram a finalização do processo de titulação do território e pediram que a OIT constranja o Estado Brasileiro a não realizar qualquer tipo de atividade de expansão da área do CLA antes que a titulação esteja concluída.

     

    imagem por Paulo Hebmüller

    História de violações

    O projeto apresentado por Jair Bolsonaro (PSL) não foi o primeiro a propor uma parceria entre o Brasil e outro país para a utilização do terreno.

    Em 2000, Fernando Henrique Cardoso, então presidente da República, fez um Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST) com os Estados Unidos (EUA), que permitiu a utilização do CLA. A Câmara dos Deputados, porém, entendeu que o combinado feria a soberania nacional e vetou o projeto.

    Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, também firmou um acordo com a Ucrânia para o desenvolvimento e operação do lançamento de foguetes no território. O projeto durou menos de dois anos e terminou sem êxito, por conta de problemas financeiro e operacional.