Um sentimento de triste indignação e revolta se espalha pela comunidade LGBT, com a confirmação de que o áudio gravado por Verônica Bolina, dizendo que não foi torturada, foi realmente instruído pela Coordenadora de Políticas para a Diversidade Sexual, Heloisa Alves, uma funcionária do governo Alckmin.
Em depoimento ontem (17/04) aos promotores do Ministério Público e à Defensoria Pública, Verônica não só confirmou a fraude processual como disse também que recebeu de Heloisa Alves uma oferta de redução de pena, caso concordasse em dar a declaração isentando de responsabilidade os policiais que a torturaram.
A pergunta que não quer calar é: Por que uma ativista tão querida e comprometida com as questões da Comunidade T, como Heloisa Alves, se envolveu em um ato tão sórdido na tentativa de escamotear informações fundamentais que pudessem apontar os culpados e esclarecer as condições que vitimaram nossa companheira?
Mas, aos poucos, a verdade está vindo à tona, com a grande repercussão nas redes sociais e na grande mídia, que não pode mais ignorar a gravidade da situação. Em nota na quarta-feira, dia 15/04, o Centro de Cidadania LGBT, vinculado à Prefeitura Municipal de São Paulo, divulgou que Verônica Bolina tinha sido vítima de agressão por parte de policiais militares e de agentes do GOE (Grupo de Operações Estratégicas), da Polícia Civil.
As agressões teriam ocorrido em três momentos: no ato da prisão, quando Verônica Bolina foi detida sob acusação de agredir uma senhora que vive no mesmo prédio que ela; na troca de cela, quando mordeu a orelha do carcereiro e, pasme, no Hospital Mandaqui, para onde foi levada pelos policiais do GOE.
O Estado e seus agentes, que deveriam cuidar da integridade física de alguém sob sua responsabilidade, foram seus algozes, e cometeram (ou deixaram cometer) atrocidades e violação de direitos fundamentais, espancando (ou deixando espancar) e expondo (ou deixando expor) um ser humano totalmente impotente.
Imagens de Verônica totalmente deformada depois dos espancamentos foram postadas em sites policiais e em seguida disseminadas pelas redes sociais, causando comoção não só na comunidade LGBT. Foi um escândalo!
Preocupados com a repercussão de suas atrocidades, os policiais resolveram promover outro show, pelo qual se tornariam “vítimas” de Verônica, e não seus algozes. E assim teria instrumentalizado Heloisa Alves para que convencesse Verônica a assumir toda a culpa por sua situação, em troca um “alívio” na acusação de tentativa de homicídio contra a idosa.
E Verônica apareceu em toda a mídia, dizendo o que segue:
“Todo mundo está achando que eu fui torturada pela polícia, mas eu não fui. Eu simplesmente agi de uma maneira que eu achava que estava possuída, agredi os policiais, eles só agiram com o trabalho deles. Não teve agressão de tortura. Cada ação tem uma reação, eu agredi e fui agredida. Eles tiveram que usar das leis deles para me conter, então não teve de nenhuma forma tortura. Eu só fui contida, não fui torturada”.
Inclementes, mais uma vez expuseram a vítima em praça pública.
O que se sabe é que Verônica foi colocada numa primeira cela com 15 homens. Depois, colocaram-na em outra com 10. Foi quando tentaram transferi-la para uma terceira cela que Verônica mordeu e arrancou parte da orelha de seu carcereiro.
Verônica é uma travesti muito bonita e tudo leva a crer que as sucessivas transferências de cela ocorreram para que ela fosse oferecida aos presos para ser violentada — jogada algemada na cova dos leões, sem dó nem piedade. Outra situação de flagrante ilegalidade foi o desrespeito ao seu nome social, com o delegado chamando Verônica pelo nome masculino. Em todo o inquérito, apenas o nome de registro dela é colocado.
A foto que consta no processo mostra Verônica de costas, para encobrir os sinais de espancamento. As imagens escancaram a forma com que a polícia brasileira trata pessoas socialmente vulneráveis e é impossível não se estarrecer ao ver tamanha brutalidade e desrespeito ao ser humano.
A fotografia em que se vê Verônica jogada de bruços no chão da delegacia, com as calças rasgadas, aparecendo uma nádega, com braços algemados e pés acorrentados, representa todas as pessoas vulneráveis que são presas, espancadas e muitas vezes mortas por uma polícia treinada para a guerra e para vencer e subjugar o “inimigo” (nós o povo brasileiro). Na mesma imagem, vê-se um policial apontando um fuzil para Verônica absolutamente imobilizada.
Não só a comunidade T mas todo o Brasil quer justiça e a responsabilização criminal dos culpados. #SomosTod@sVerônica.