cinco minutos
sem respirar é tempo demais
meu amor todos os dias
anota uma por uma suas tarefas
a semana é sempre cheia
“logo logo melhora” promete
me ilude
e nada como um dia após
olha que irônico, este poema
escrevi em células
de um excel era o que tinha à mão
difícil voltar atrás
experimente observar
uma pessoa correndo
do ponto a ao ponto b
muito longe
também pode ser um carro
conversível cortando vales
você vê o começo exato
e o fim
mas não sente o vento no rosto
lenta velocidade
você interpreta a urgência
no seu próprio cronômetro
um processo histórico dura anos
nós o futuro saltamos
os anos
a título de exemplo:
do primeiro militar
ao quinto ato institucional
foram quatro anos de vida intensa
sarjetas, varais, cronogramas
paixões pelos becos
imagine não viver por alguns anos
isso não existe
observar o tempo, observar
o tempo
estar dentro dele
irônico, agora percebi
meu excel tem um nome
se chama controle
tudo ainda dentro dos prazos
não sei terminar esta nota ando inquieta
quero olhar o mundo saber vê-lo inteiro
e quando houver tiros na vigília
de uma prisão política
– a direita é uma avalanche
em câmera lenta
(é só o começo)
saber aprontar a matula
estar onde se deve estar
este exercício
é só o começo