Artigo de Alfredina Nery e Cecília Figueira
“(…) Uma flor nasceu na rua! (…) Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio” (Drummond em Antologia Poética. 12ª edição. RJ: J. Olympio, 1978, p.14 a 16 )
O impedimento da presidente eleita democraticamente, Dilma Rousseff, fez parte de um golpe em 2016, que vinha se desenhando, há mais tempo. O golpe resultou em perdas de conquistas trabalhistas fundamentais, em extinção de verbas para as políticas públicas, em desmandos autoritários que contou com a aliança entre executivo, legislativo, judiciário e mídia tradicional, enfim um verdadeiro desmonte do país.
Para o enfrentamento de tal situação, a despeito de alguns acreditarem que o “povo estava inerte”, pessoas, grupos, coletivos do campo progressista, muitos com histórias de militâncias variadas, criaram os mais diferentes espaços de luta e de resistência, pelo Brasil afora.
O “Flores pela Democracia” foi constituído neste contexto a partir de uma preocupação do grupo com a necessidade de uma mudança de ação política e de linguagem com a população. Para quê, o que e como falar com as pessoas que transitam pela cidade grande sobre o que está acontecendo no nosso país?
Nossa ação busca contatos com a população, em locais públicos de grande afluência de pessoas, como entradas e saídas de metrôs, praças e em atos e manifestações de movimentos sociais, partidos progressistas que denunciam e resistem contra o golpe.
A intencionalidade do ato se traduz num olho no olho, numa escuta interessada sobre o que as pessoas têm a dizer e nós também, tendo as flores com gravetos e papel crepom, vermelhas e brancas, preferencialmente, como panfletos de abordagem e da ideia de “se fazer junto”, no tempo curto dos passantes.
Alguns acabam por entrar no coletivo por se identificarem com a proposta, percebendo a diferença entre “fazer flor como artesanato” e “fazer flor como ato político” num contexto de luta pela democracia brasileira em que a resistência, tanto faz crítica como anuncia possibilidades necessárias da participação popular, para constituir um país democrático, de direitos para todos.
Assim, nos atos do “Flores pela Democracia”, panfletos em linguagem simples e explicativos da conjuntura que estamos vivendo e flores são distribuídas e confeccionadas, tanto pelas integrantes do coletivo, quanto pelos participantes que aceitam o convite e disponibilizam-se a aprender, a conversar sobre o papel da política na vida e na atualidade brasileira, especialmente. Um tema que está sempre presente nestas conversas e na panfletagem que diz respeito às diferenças entre o Brasil de antes e depois do golpe e como cada um de nós está vivendo. Um grande mote das conversas é a questão da prisão do ex-presidente Lula e da luta pela sua liberdade, por ser injusta e arbitrária, uma vez que seus governos foram os que mais trabalharam pela diminuição das desigualdades sociais, econômicas e educacionais no país, além de sua liderança política nacional e internacionalmente. LULA LIVRE!!!!!
Outra questão que tem sido abordada é a importância de não abrirmos mão de nossas conquistas e de nossa esperança! Especialmente nestes tempos que antecedem as eleições, a importância do voto consciente para cargos do executivo e do legislativo. Não votar em candidatos que defendem as reformas do Temer, ver de que lado estão, o que defendem. Defendem a democracia, os direitos e conquistas dos trabalhadores, um país digno e justo para todos e soberano?
Realizamos ações com coletivos Resistência na Cultura, Quarteirão da Saúde, Linhas de Sampa e outros. Em cada ato político novas adesões e simpatias. Novos ramos de “Flores pela Democracia e por Lula Livre” surgiram no Rio de Janeiro e em Brasília. Segundo uma nova participante “nossa ação política está sendo bem sucedida, pois é uma forma delicada e respeitosa de lutar pela democracia em contraposição à simples distribuição de panfletos e falas que, muitas vezes, podem ser invasivas e de mão única. A flor representa um gesto empático, um ponto positivo para o sucesso da nossa empreitada”.
Nossa ação desperta reações diversas: negação de conversa e de receber a flor, alguns expressam agressividade, muitos se sentem acolhidos e identificados em seu grito calado por tudo que estamos passando.
Sempre buscamos um jeito de “cavar” espaços. O coletivo “Flores pela Democracia” é uma das formas de sairmos do “Lamento para o Movimento”. A conjuntura exige acionarmos nossa criatividade, reacender nosso compromisso político de transformação do país, acionar o nosso motor da militância política indignada com todos os retrocessos e injustiças que estamos vivendo.