Jornalistas Livres

Categoria: Tragédia

  • Sobrevivente desconfiou de vistorias de técnicos

    Sobrevivente desconfiou de vistorias de técnicos

    Em entrevista à TV Sete, de Brumadinho, Maria Aparecida diz que desconfiava da estranha movimentação de técnicos fazendo vistorias em torno da barragem da Mina do Feijão, da Vale, na vila de Córrego do Feijão, município de Brumadinho, na Grande Belo Horizonte. Ela mora a poucos quilômetros da empresa e trabalhava num sítio vizinho da Pousada Nova Estância, a menos de dois quilômetros da portaria da Vale. A pousada foi totalmente encoberta pela lama com cerca de 12 pessoas dentro.

    Uma troca de e-mails entre profissionais da Vale, da Tüv Süd e da Tec Wise, outra empresa contratada, revelou que a mineradora soube de problemas em sensores de Brumadinho dois dias antes do rompimento da barragem, conforme informa neste domingo, 10, o G1. As mensagens foram identificadas pela Polícia Federal, que colheu depoimentos de dois engenheiros da consultora alemã que eram responsáveis pelos laudos. Presos em 29 de janeiro, André Yassuda e Makoto Mamba deixaram o presídio nessa quinta-feira,7.

    Nesta entrevista, Maria Aparecida conta também os momentos aterrorizantes que passou e o esforço que fez para se salvar junto com a filha de nove anos. Segundo ela, esta foi uma tragédia era anunciada. Confira:

     

     

    https://www.facebook.com/tevesete/videos/631204060665400/?t=52

  • BOMBEIROS VERSUS A VALE

    BOMBEIROS VERSUS A VALE

    Por Nairo Alméri, jornalista, que tem casa em Córrego do Feijão, Brumadinho, onde encontra-se desde o dia do crime da Vale

     

    CÓRREGO DO FEIJÃO, Brumadinho (MG), 2/2/2019 – A noite traz o silêncio da dor, do luto. Tem sido assim, desde o 25 de janeiro, quando se romperam as duas barragens de rejeito de minério de ferro da Mina Córrego do Feijão, da VALE S/A, com rastro de enorme tragédia humana. Contudo, mesmo no castigo da noite, seguem as atividades no Centro de Comando das Operações das missões aéreas de resgate do Corpo de Bombeiros e no Centro Comunitario, que absorveu as ações de apoio em geral à comunidade. Nos locais (casas, igreja e o grupo escolar) improvisados  para alojar os bombeiros, o silêncio da caserna é britânico.

    Estou no Centro Comunitário, onde, permanentemente, é servida alimentação. São 20h de sexta-feira, 2. As tendas que abrigam do sol, da chuva e do sereno já não ficam tão lotadas, como nas  primeiras noites. Os colegas jornalistas de Minas e de fora retornaram para Belo Horizonte ou para os lugares próximos onde conseguiram hospedagem.

    De repente, dois oficiais do Corpo de Bombeiros de MG chegam e fixam, pelo lado de fora de uma janela, um mapa. As pessoas logo se aproximam. Parece que esperavam por alguém da corporação, que simboliza para todos alguma esperança. Há uma relação mútua de sinceridade entre moradores e esses incansáveis cumpridores de missões tão nobres. 

    O oficial superior, major Ivan Neto, carregando sotaque que identifica ter vindo de longe, cumprimenta a todos e apresenta o tenente Link. Este já familiarizado nestes oito dias de resgates de vítimas vivas e, agora, de corpos dos que não tiveram mesma sorte nessa catástrofe. O major explica que o tenente-coronel Passos, agora o comandante-geral das operações de resgate, esteve ali na noite anterior, ficou voltar nesta, mas teve de cumprir outra tarefa e, então, coube a ele comparecer.

    De forma pausada, como requer o momento, numa fala muito clara e objetiva, ele explica o mapa, concluído há pouco. Os pontos (números) aplicados sobre as áreas devastadas simbolizam os locais de onde foram retirados corpos inteiros e segmentos. Explica todas as formas de caracterização dos locais (escombros próximos, restos de mobiliário, veículos, utensílios etc.) que possam facilitar nos procedimentos subsequentes de identificação fora da “zona quente” até os procedimentos do  Instituto Médico Legal (IML) de identificação da vítima.

    “A gente olha de cima, é uma imensidão de lama. O bombeiro lá embaixo (dentro da área destruída, numa extensão de sete quilômetros, em curvas, e até 1km de largura) é um pontinho. A gente precisa cada vez mais de referenciais. Está hoje mais difícil (encontrar corpos, com o solo mais seco e ficando compactado). Antes (com lama mais molhada e água), encontrava na superfície. (Antes) Encontrava oito, dez corpos por dia. Hoje, encontra um”, lamenta o oficial dos bombeiros. Mas reafirma aos familiares e amigos das vítimas compromisso e esperança: “A gente tem fé e esperança de encontrar todos e entregar aos familiares para …” O militar, acostumado a agir em tragédias, faz pausa, dá espaço à emoção e não completa a frase. Todos compreenderam. Recuperada a voz, completou sua mensagem com paralelo aos resultados dos resgates em outra tragédia, também em mina da Samarco (da VALE e da BHP Billiton) em Mariana, distante cerca de 90 km, no distrito de Bento Rodrigues, outro rompimento de barragens. No outro município, entre os que morreram, um corpo não foi até hoje encontrado. “O que a gente quer é dar o direito a vocês de enterrar seus entes queridos”.

    Com poucas interrupções, falou por quase 40 minutos.

    “O Corpo de Bombeiros chegou para salvar vítimas. Só que não tem sido possível. A gente lamenta”, disse o oficial. Ele é lotado na Sétima Companhia Independente do Corpo de Bombeiros, em Pouso Alegre, no Sul de Minas, a quase 400 km daqui. “Eu me apresentei como voluntário. Disse: eu quero ir para Brumadinho”.

     

    HÁ PERIGO

     

    Falando comigo e o repórter da TV Record SP, Rodrigo Vianna, o oficial disse que ainda “há perigo de descer mais rejeito minério de uma das represas que se romperam. “Há minério remanescente da barragem B1”, afirmou. Ele não soube precisar o volume existente. Mostrou um vídeo (no celular) feito por ele em um dos sobrevoos. Pelas imagens, percebe-se, claramente, que ainda desce rejeito da barragem, não em volume e velocidade assustadores.

     

    A OPERAÇÃO

    O major Ivan dá detalhes das buscas: os bombeiros começam as missões por terra às 4h; às 6h, chegam os helicópteros à “base” (campo de futebol) e aguardam as ordens de voos; as buscas são encerradas, às vezes, por volta das 20h.

     

    A AÇÃO DAS EQUIPES

    Na “zona quente”, atuam 15 esquipes, formadas por oito a dez militares (bombeiros de MG, ES, RJ, BA, GO, SP, DF e SC). No momento em que um corpo e fragmentos são localizados, é comunicado (via rádio) ao comando de tráfego aéreo, transmitindo as coordenadas geográficas, marcação do ponto – cada um tem oito coordenadas. Cada aeronave se desloca com três bombeiros. Os corpos são, então, levados para a lateral da igreja (o interior é QG do Centro de Operações – planejamento, controle do tráfego aéreo das 20 a 25 aeronaves dos Bombeiros, PMs e Civis de todos estados presentes, PRF, PF, IEF-MG etc) e entregues à perícia da Polícia Civil/IML com todas as identificações do local e proximidades.

     

    NO MAPA

    “No mapa, cada ponto azul é uma pessoa. A gente não consegue falar que pessoa está no ponto e, às vezes, nem qual o número total de pessoas ali (é que, as buscas retornam e podem identificar mais pessoas no mesmo ponto)”, detalhou o major Ivan. Esclareceu que nem sem sempre encontram documentos ou algum papéis como informa das áreas de trabalho. “Pode haver erros (nas informações anexada nas frentes de buscas). Mas o IML tem outras formas de saber quem é a pessoa”, completou.

    CONTAGEM
    Há descompasso entre a estatística final apresentada em Brumadinho, no centro conjunto de coordenação para todas ações nessa tragédia, e os resultados das operações de resgates. “O boletim sai às 18h, mas as operações acabam às 20h”, justificou o major Ivan. Por isso, ocorrem diferenças de números, de até nove ou dez corpos resgatados.
    Até o balanço oficial do sábado, as estatísticas apresentavam 226 @desaparecidos e 121 corpos resgatados (99 identificados).
    CONTINGENTE

    Nas operações estão 251 pessoas de resgate, e, de acordo com o major Ivan, chegariam mais militares: São Paulo (45), Bahia (28), Brasília (22) e da Força Nacional (56). Eles contam com apoio de 20 cães farejadores de diversos de diversos estados.

    FALTA INFRAESTRUTURA

    O major relatou que há espaços para presença maior de bombeiros militares. “Nós temos feito tudo que a gente poderia. Por que não tem mais gente? Tem condições de colocar (mais gente na “zona quente”). Só que a gente não tem mais logística (de acomodação no Córrego do Córrego do Feijão”, esclareceu.

     

    APELO

    Ao final da sua explanação, ouvida atentamente e poucas vezes interrompida (e sem exaltação contra a VALE, pouco comum), o major Ivan, como tem sido a atitude de todos os militares dos Corpos de Bombeiros atuando aqui nestes oito dias, surpreende: “Fiquem à vontade, gente! Vamos lá, mais alguma pergunta que possa ajudar e colaborar?”. Depois de responder às perguntas, o oficial fez um apelo: “A gente pede a vocês que não entrem na área quente”. Esclareceu que até militares têm se acidentado nas áreas dos resgates.

  • “Não podemos falar em acidente, o que aconteceu em Brumadinho foi crime”, afirma o Promotor Público de Mariana

    “Não podemos falar em acidente, o que aconteceu em Brumadinho foi crime”, afirma o Promotor Público de Mariana

    Três anos após o crime cometido pela Samarco, Vale e BHP em Mariana, Dr. Guilherme de Sá Meneghin, Promotor de Justiça do Ministério Público do Estado de Minas Gerais da Comarca de Mariana, concede entrevista aos Jornalistas Livres e fala sobre o novo crime ambiental e humano cometido pela Vale e BHP Billiton.

    Na terça-feira (29), a justiça declarou a prisão de dois engenheiros terceirizados, André Yassuda e Makono Manba, presos em São Paulo, além de três funcionários da Vale, Cesar Augusto Paulino Grandchamp – Geólogo, Ricardo de Oliveira – gerente de Meio Ambiente Corredor Sudeste e Rodrigo Artur Gomes de Melo – gerente executivo do Complexo Paraopeba, presos em Minas Gerais.

    Os CEOs da Vale e da BHP Billiton continuam soltos.

  • Lama com rejeitos de minério da Vale e BHP Billiton segue caminho do Rio São Francisco

    Lama com rejeitos de minério da Vale e BHP Billiton segue caminho do Rio São Francisco

    A Agência Nacional de Águas emite nota de alerta para o caminho que a lama composta por rejeitos de minérios de ferro traçou. Os rejeitos já correm junto as águas do Rio Paraopeba que tem sua foz no Rio São Francisco

    O crime humano e ambiental cometido pela Vale e BHP Billiton podem atingir grandes proporções nos próximos dias. De acordo com nota divulgada pela Agência Nacional de Águas – ANA, a lama juntamente com todos os materiais que arrastou é esperada na Usina Hidrelétrica de Retiro Baixo e deve chegar por lá entre terça e quarta-feira.

    Esse será o primeiro ponto de contenção dos rejeitos e de todos os materiais arrastados pela onda composta por 12,7 milhões de metros cúbicos de lama. O percurso até a Usina Hidrelétrica de Retiro Baixo, são de 290 km de extensão. Estima-se que essa hidrelétrica será capaz de conter grande parte dos rejeitos, que continuaram a correr com as águas do Rio Paraopeba, em direção ao Rio São Francisco.

    Funcionários SPE – Sociedade de Propósito Específico, responsável pela UHE Retiro Baixo, já interromperam a operação da usina, realizaram testes de vertedouro e fecharam as tomadas de água para tentar preservar os equipamentos.

    O segundo ponto de contenção será a Represa Três Marias, a Agência Nacional de Águas – ANA, ainda não tem estimativa do tempo para o encontro da onda com a próxima represa, mas de acordo com Fabrício Coelho, diretor da Associação dos Bombeiros Voluntários de Três Marias, um alerta foi emitido pela Defesa Civil Estadual para que o monitoramento no local seja intensificado. O reservatório Três Marias fica no Rio São Francisco.

    As comunidades ribeirinhas do Rio Paraopeba podem sofrer falta de energia elétrica e corte da distribuição de água durante os próximos dias.

    Edição do Vídeo Joana Brasileiro