Acontece hoje (11), durante o 28º Encontro Estadual do MST na Bahia , a 1º Roda de Conversa com os LGBTs Sem Terra com a participação de cerca de 50 gays, lésbicas, bissexuais, travestis, mulheres transexuais e homens trans militantes de todo o país. O tema do encontro é “Reforma agrária e relações de gênero: desafios para a construção de um projeto popular” que tem como objetivo levantar questões relacionadas a identidade de gênero, lutar contra a homotransfobia e promover o uso do nome social .A travesti Scarlet de Rui Barbosa (BA), declarou que existe muita homotransfobia em seu estado onde a cada 36 horas uma pessoas lgbt é morta: “As travestis são as que mais morrem, porque ficam mais expostas.”
De acordo com a página do MST, há 10 anos está sendo construído dentro do movimento um setorial de luta contra a homotransfobia e em defesa dos direitos das pessoas LGBTs, com seminários, grupos de estudos, encontros e manifestações. Entre os dias 7 e 9 de agosto, aconteceu, na Escola Nacional Florestan Fernandes em Guararema, São Paulo, o primeiro encontro LGBT do MST a nível nacional, dentro do seminário “MST e a Diversidade Sexual” com a participação de 40 pessoas de vários estados do país. Na Bahia foram realizados durante dois anos consecutivos várias manifestações e panfletagens contra a LGBTfobia nas marchas estaduais do MST.
Tiago Hungria, do coletivo de gênero do MST, disse que é preciso agregar tod@s @s trabalhador@s sem terra, independentemente de sua orientação sexual ou identidade de gênero, e que a inserção e o protagonismo de pessoas LGBTs só fortalece o movimento que luta por uma sociedade mais justa.
“Para isso é necessário pautar a participação, o protagonismo e construir de maneira auto-organizada espaços em que as opressões possam ser colocadas em xeque, para serem superadas”, destaca Hungria.
Dessa forma, o MST inaugura um momento histórico em sua trajetória, mostrando que a esquerda vai aos poucos se libertando da antiga postura ortodoxa que até meados dos anos 80 defendia a idéia de que pessoas LGBTs eram portadoras de “desvios burgueses”, além de quererem minar –com a sua militância– a luta maior, que é a luta de classes. Esse foi um grande equívoco que finalmente está sendo esclarecido. Se o MST luta contra a opressão e exploração do Estado capitalista moderno, deve incluir em sua bandeira a causa LGBT, na defesa de pessoas que não só são discriminadas, mas assassinadas cotidianamente pelo simples fato de não comungar com os modelos propostos pela cultura cisheteronormativa burguesa.
2015 foi o ano da criação dos Jornalistas Livres. Ano de luta e resistência, por certo. Mas também ano de reencontros, da descoberta de novos parceiros, grandes amigos, de lindos amores e excitantes paixões. Ano de luta pela Democracia, contra o racismo, pelos direitos dos trabalhadores, das mulheres, da juventude. Ano de começo da retomada da escola pública e gratuita. Ano de atualização das utopias e sonhos – porque sem isso a vida fica áspera demais. Neste momento de festa, Jornalistas Livres querem agradecer a todos os guerreiros e às entidades que, com seu exemplo de vida-obra, nos inspiraram a prosseguir. São as Carmens, os Adrianos, as Jomarinas, os Raimundos, os Chicos, os Heudes, as Laurinhas, as Dandaras, as Suelis, as Isabéis, os Beneditos, os Andersons, as Vilmas, os Guilhermes e tantos mais do solo do Brasil. A esperança está com vocês! E nós queremos estar juntos! Abaixo, algumas lembranças de momentos da luta dos Jornalistas Livres…
Foto: Vinicius Carvalho
Por Maria Carolina Trevisan
A rede Jornalistas Livres não nasceu de um plano. Surgiu do desejo de narrar as histórias desde outro ponto de vista: o olhar dos movimentos sociais, a defesa dos direitos humanos e sociais, o jornalismo democrático, a luta por um país mais justo. Não cabem o ódio e a intolerância no trabalho que fazemos. Jornalistas Livres germinou, cresceu e ganhou relevância porque encontrou um público sedento por um novo noticiário, que se mantém fiel e crescendo. Tive o privilégio de participar de reportagens sensíveis — e fortes, ao mesmo tempo — que trataram de temas como a redução da maioridade penal, o racismo, a violência contra jovens negros, a resistência das mulheres negras, a busca por moradia digna, o movimento dos estudantes secundaristas, a escalada do ódio e da intolerância e a resposta de quem não abre mão da democracia. Foram matérias que marcaram essas coberturas e, muitas vezes, acabaram por pautar a mídia corporativa. Por acreditar nos princípios do jornalismo como peça fundamental no xadrez que garante um Brasil livre é que seguimos dedicados a esse trabalho. Tem sido uma honra.
Moradores de Bento Rodrigues, subdistrito de Mariana, desesperam-se ao ver suas casas soterradas pela lama da Samarco. Foto: Gustavo Ferreira
Por Laura Capriglione
“E é um crime ainda terem se apoiado na imprensa imunda, terem se deixado defender por toda a canalha de Brasília, de modo que é essa canalha que triunfa insolentemente, diante da derrota do direito e da simples probidade. É um crime terem acusado de perturbar o Brasil aqueles que o querem generoso, na vanguarda das nações livres e justas… É um crime confundir a opinião pública, utilizar para uma sentença fatal essa opinião pública que foi corrompida até o delírio. É um crime envenenar os pequenos e humildes, exasperar as paixões de reação e de intolerância… É um crime explorar o patriotismo para as obras do ódio.”
O texto é de Émile Zola. Está no artigo “Eu Acuso!”, publicado no jornal “L’Aurore” do dia 13 de janeiro de 1898. Apenas troquei Paris (como estava no original) por Brasília; e a França pelo Brasil. Estranhamente atual neste 2015, não é? Pois os Jornalistas Livres nasceram inspirados nos ideais de uma outra imprensa, aquela mesma de Zola, que ousou unir a informação de qualidade à defesa apaixonada da democracia, da liberdade e dos direitos. Foi um remédio dos mais eficazes contra o cinismo e a acomodação. Garanto que nenhum Jornalista Livre sofreu de tédio neste ano. Que venha 2016!
Foto: Sérgio Silva
Por Larissa Gould
2015: o ano que não será esquecido
Daqui a alguns anos, quando os professores de história e geografia entrarem em suas salas e encontrarem adolescentes secundaristas, irão narrar lutas históricas dos abolicionistas, contarão da bravura de Zumbi, e dos valorosos militantes do período da ditadura; contarão da conquista da democracia, explicarão como um metalúrgico virou presidente e uma guerrilheira a primeira presidenta do Brasil.
Eles irão falar também das jornadas de junho de 2013, quando milhões tomaram as ruas e de 2015.
Muita coisa terá mudado. Espero que o sistema de ensino seja uma delas. Espero que o jornalismo seja uma delas.
2015: um ano que não falou oi, nem tchau.
Um ano que começou com a posse da presidenta Dilma Rousseff em Brasília, no dia 1º de janeiro. Que começou com muita esperança, para todos nós. Eu estava lá.
Um ano marcado pelo avanço conservador, pela ameaça constante de retrocesso. O ano no qual barramos o golpe.
Nos bares, nós já não tão jovens, lembraremos de um 2015 marcado por mobilizações. O povo nas ruas, às vezes diariamente, para defender os direitos populares conquistados a duras penas.
Lembraremos de um janeiro ao lado da juventude, nas ruas contra o aumento do transporte. Um fevereiro em que os sem teto tomaram as ruas em protesto pela falta de água, fruto da má gestão do governo tucano.
Falaremos de março, e quem sabe, falaremos de um grupo chamadoJornalistas Livres. Não sei se ele ainda existirá, se terá mudado o nome, o formato, as pessoas. Mas eu poderei contar com orgulho que estive lá, naquele 12 de março de 2015, quando algo em torno de 30 comunicadores se reuniram e decidiram montar uma rede de comunicação colaborativa.
Poderei contar então uma outra história, uma outra narrativa do Brasil. Uma diferente dos grandes veículos corporativos.
Contarei como a juventude protagonizou a luta contra a redução da maioridade penal. Contarei da greve dos 92 dias dos professores da rede estadual de São Paulo em defesa da educação. Lembraremos de um abril vermelho, quando a capital paulista acordou ocupada pelos movimentos de moradia. Das mobilizações dos indígenas em defesa do pouco que ainda possuem. Da organização dos trabalhadores contra o ajuste fiscal e a terceirização. Falarei dos petroleiros e da defesa da soberania nacional da principal empresa do país, a Petrobras. Lembrarei das mulheres, que durante todo ano tomaram redes e ruas contra o machismo. Poderei falar da luta dos estudantes secundaristas, contra a reorganização tucana do ensino.
Da reedição da marcha dos 100 mil em defesa da democracia. Poderemos até rir de um homenzinho que se achava rei, um tal de Cunha.
Daqui a alguns anos, muita coisa terá mudado. Espero que o sistema de ensino seja uma delas, fruto também da luta de professores e estudantes em 2015. Espero que o jornalismo seja uma delas, com uma pequena ajuda de uma rede chamada Jornalistas Livres.
Jornalistas Livres surgiram em resposta ao avanço conservador e como uma proposta de um novo jornalismo possível. 2015 será um ano marcante para todos, para mim será o ano que eu me tornei uma Jornalista Livre.
Foto: Ennio Brauns
Por Léo Moreira Sá
Tornei-me Jornalista Livre porque acredito que só uma mídia alternativa pode fazer o enfrentamento ao retrocesso democrático que se tenta impor ao Brasil, apoiado pela grande mídia dominada pelas máfias de direita.
Tornei-me Jornalista Livre para livremente poder expressar minha indignação com as injustiças sociais e meu total apoio à defesa dos Direitos Humanos.
Tornei-me Jornalista Livre para denunciar toda forma de violência baseada nos discursos de ódio, e também para poder trazer as narrativas e denúncias da comunidade LGBT , em especial da comunidade de travestis, mulheres transexuais e homens trans à qual pertenço.
Tornei-me Jornalista Livre para ser LIVRE !!! Destaco, dentre as matéria que assinei, a denúncia do espancamento e exposição da travesti Verônica Bolina por policiais militares nas dependências de uma delegacia do centro de SP, e a sórdida tentativa do governo Alckmin de isentar os policiais de seus crimes.
Nós, os Jornalistas Livres, estivemos entre os primeiros que denunciaram essa violência, e cobrimos outros crimes, como o assassinato de Laura Vermont. Mesmo com as represálias e os assédios morais por parte de pessoas poderosas ligadas ao governo de SP, continuarei nas denúncias de todos os crimes cometidos contra nossa comunidade no Brasil.
Infelizmente, este país a quem muitos julgam gentil e cordial, é o país que mais mata travestis e pessoas transexuais do mundo. Mas eu acredito que possamos mudar essa realidade se conseguirmos formar uma grande rede de todas as populações socialmente vulneráveis. Porque só a construção de uma luta coletiva pode desconstruir o estado opressor em que vivemos.
Considerado “herói” por manifestante de direita, Carlos Alberto Augusto, o “Vovô Metralha”, foi um dos executores do Massacre da Chácara São Bento, ocorrido em 1973 em Pernambuco, quando seis militantes da Vanguarda Popular Revolucionária foram executados por policiais comandados pelo delegado Fleury. Foto: Jornalistas Livres
Por Adriano Diogo
Foi um ano para os bravos. Para os de coração forte e alma guerreira. Logo para o dia 15 de março, um domingo, foi marcada uma manifestação contra a presidenta Dilma Rousseff, que acabara de ser reeleita e mal iniciara o seu segundo mandato. Rapidamente ficou claro o sentido dessa movimentação: uma tentativa de golpe contra a vontade popular, contra a nossa democracia.
Assim, sindicatos e militantes corajosos, apoiadores do governo ou não, marcaram para o dia 13 uma grande marcha em defesa dos resultados das eleições. A postura da mídia tradicional diante dos dois atos era descaradamente clara: o ato do dia 15 de março tinha de ser um sucesso, o do dia 13 de março tinha de ser escondido.
Aos poucos, quem achava que aquilo tudo era muito estranho foi se juntando para entender o que estava acontecendo. Éramos uns poucos jornalistas e militantes. Eu ainda estava zonzo com perda da minha a eleição para Deputado Federal e também com a força que os partidos de direita haviam conquistado no Congresso Nacional, onde o famigerado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) já ocupava a cadeira mais importante.
Para o dia 12 de março, véspera da manifestação da esquerda, a jornalista Laura Capriglione organizou uma grande reunião, juntando jovens e não tão jovens jornalistas e militantes que já previam uma cobertura tendenciosamente golpista nos dias seguintes. Os convidados foram convidando mais e mais jornalistas independentes, e a sala, numa casa charmosa no Bixiga, lotou.
De cara, foi apresentada a proposta: realizar, com a força de uma série de coletivos de jornalistas e ativistas e de sites independentes uma cobertura livre da pressão da grande mídia. Uma cobertura que se aproveitasse da velocidade e da capilaridade das coberturas ao vivo de junho de 2013, da capacidade de análise de sites já estabelecidos, da experiência de jornalistas que, com passado na grande mídia, podiam organizar a potência que vinha de jovens estudantes, que sabem tudo de mídia digital e de compartilhamentos em redes sociais.
Houve uma rápida discussão sobre o nome que a rede teria. Alguém falou em Jornalistas Pela Democracia, mas era um nome muito grande. As sugestões foram pululando, até que um nome se estabeleceu: Jornalistas Livres. Uma síntese do que deveria ser a cobertura, livre e jornalística. Parece redundante, mas é justamente o que estava faltando na grande mídia, em que o cerceamento ao trabalho dos jornalistas independentes é cada vez maior.
Começou então a organização das coberturas. Grupos se dividiram e se integraram: reportar, dividir tarefas e estabelecer meios de comunicação com os outros grupos, difundir uma narrativa independente. Era preciso defender a verdade e os direitos humanos, a vontade do povo, a democracia. Só jornalistas realmente livres poderiam fazer uma cobertura real dos acontecimentos, sem preconceitos, sem ideias reacionárias. Uma outra narrativa.
A cobertura do dia 13 foi excelente. Evitou que a mídia escondesse a presença de pelo menos 50 mil pessoas nas ruas. Mas ela foi apenas um aquecimento.
Dia 15 de março, os Jornalistas Livres simplesmente arrasaram: mostraram a fragilidade dos argumentos contra Dilma, as ligações perigosas dos jovens golpistas com os criminosos da ditadura militar — um deles, Carlinhos Metralha, apareceu na Paulista usando um chapeuzinho ridículo dos paulistas de 1932 e gravata borboleta, a mesma indumentária com que se apresentou em dezembro de 2014 no lançamento do livro “A casa da vovó”, de Marcelo Godoy, na Assembleia Legislativa, durante uma sessão que eu presidia da Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva.
Eduardo Nunomura fez uma foto emblemática: um casal que foi protestar com a babá, que cuidava do filho, expondo o caráter classista e patriarcal do protesto da direita. Além disso, falou com diversos manifestantes, e demonstrou todo o seu incômodo com a desenfreada vontade de todos os entrevistados de enganar o jornalista.
Mas esse foi só um caso. Os JLs, dezenas nas ruas naquele dia, deram a tônica e frearam o golpe contra a democracia no dia 15. De lá para cá, o movimento não parou. Tivemos reuniões em quase todas as semanas, discutindo e organizando coberturas de movimentos populares e estudantis, defesa de direitos humanos — e, claro, protestos e manifestações da direita antipopular e da esquerda democrática.
Para mim também foi uma libertação participar dos encontros e reuniões dos Jornalistas Livres. Aos poucos, e ao longo do ano, eu, que sou geólogo de formação, também me senti no direito de me chamar de Jornalista Livre. Pude contribuir com minha experiência e minha luta contra a ditadura militar, escrevi textos, discuti organização, o papel da mídia corporativa, o papel dessa imprensa alternativa que se tornou tão importante nos dias de hoje quanto foi nos anos de chumbo. Fui ficando animado e lutando novamente.
Nesse ano difícil, os Jornalistas Livres e a mídia independente cumpriram um papel essencial em defesa da nossa democracia.
Foto: Ana Carolina Barros
Por Ana Carolina Barros
No começo de 2015 fui para Angola pela segunda vez. Convivi muito proximamente com as comunidades periféricas, pessoas que lutam diariamente para sobreviver aos extremos da pobreza e da opressão. Décadas de guerra pela independência seguida pelas guerras civis foram fatais para o povo angolano: devastação e sofrimento por todos os cantos do país. Mesmo assim, tive a oportunidade de conhecer pessoas que encontraram formas de transmitir esperança, de acreditar que uma transformação é possível e de lutar por um futuro menos desigual, mais democrático e livre. Esses olhos cheios de luz e determinação me marcaram profundamente.
Retornei ao Brasil convicta de que minha militância política precisava ser ainda mais incidente, que embora em fase turbulenta da minha vida acadêmica, eu gozava de uma situação privilegiada e que podia, desde esta posição, fazer alguma diferença. Aos poucos fui percebendo que a distância entre Angola e Brasil é grande apenas no mapa. Me envolvi, por ter aprendido com os angolanos a utopia, de uma forma irreversível nos movimentos populares (Levante Popular da Juventude e Marcha Mundial das Mulheres).
Sendo psicóloga (psicanalista, comunista e feminista) meu consultório também se transformou em símbolo de militância e resistência, assim como o trabalho com crianças em clínica institucional e o tema do doutorado (dificuldades no processo de alfabetização de crianças angolanas) se tornaram causas a serem defendidas. Me encontrei com os Jornalistas Livres neste processo, durante a IV Ação Internacional da Marcha Mundial das Mulheres, no Rio de Janeiro.
Fui convidada a escrever e não parei mais. Me tornei Jornalista Livre em 2015 porque acredito na relevância de defender a democracia e os direitos humanos. Porque acredito na transformação social e na revolução que pode acontecer dentro de cada ser humano. E porque tudo isso nunca foi e nem nunca será transmitido pela grande mídia no Brasil, enquanto vivermos sob um sistema onde o capital vale mais do que a liberdade.
Foto: Sato do Brasil
Por Sato do Brasil
Cena 1. O suor estava molhando meus olhos. Mas sabia que em um click, a porra toda ia cair. Não dava tempo pra enxugar, passar o braço, tirar o óculos. Não deu outra. O portão se abriu. A linha de frente cumpriu. Sem titubear, peguei a Tati, gritei pro Pedro e pro William e entramos.
Cena 2. Abrimos o tecido. Qual a frase? Decidido. A redução é roubada. Branco sobre retalhos. Tudo seco. Levantamos, subimos a escada, paramos no meio do viaduto. Cada um em um ponto, preparamos. Sinal dado, uma bandeira tremulando sobre o vale.
Cena 3. Levaram ela. Segui os caras, me juntei a uns 5, 6 fotógrafos. Viatura parada, porta aberta. Espaço pequeno. Dei a volta. Tava sozinho. Grudei na janela. Ela foi jogada pra dentro, olhou pra fora. Pedi um sinal. Ela abriu o peito. Luta.
A nossa vida é cheia de sonho e fúria. Nada menos que tudo. O copo sempre cheio. Oxigênio. Transborda.
Populações atingidas pela lama da Samarco, e que vivem ao longo do rio Doce. pedem socorro e água. Foto: Eviton Araújo
Por Egle Bartoli
Quando recebi o convite para participar da reunião dos Jornalistas Livresconfesso que não fiquei muito empolgada, afinal de contas, após anos trabalhando na mídia tradicional, conservadora e hierarquizada, não acreditava mais que fosse possível fazer um jornalismo de qualidade e comprometido com a realidade deste país. Mas como a curiosidade faz parte da minha natureza lá fui eu e para minha surpresa encontrei pessoas, das áreas mais diversas, empunhando a bandeira dos Direitos Humanos, dando voz aos movimentos sociais, condenado toda forma de preconceito e racismo, valores que defendo.
Jornalistas, fotógrafos, palhaços, atores e outros tantos profissionais que fazem jornalismo de rua, apuram os fatos, denunciam, que levantam bandeiras, sim levantam bandeiras porque a imparcialidade é para os falsos. Este grupo renovou em mim a esperança de que é possível fazer um jornalismo sincero, transformador e de qualidade. Hoje sou Jornalista Livrede carterinha e coração porque acredito que um mundo melhor é possível e os JL lutam neste sentido, em busca de transformações. Também sou porque, afinal de contas, caminhar junto é sempre melhor que caminhar sozinha.
Manifestantes exigem a punição dos culpados pela chacina de Osasco, que ocorreu em agosto de 2015. Foto: Adolfo Garroux.
Por Adolfo Garroux
Estava indo para a Paulista filmar mais uma manifestação daqueles que usam o brasão da CBF no peito e gritam contra a corrupção, daqueles que cantam o hino nacional e pedem a volta da ditadura militar quando trombei com um amigo de longa data, Alex Veja, que me convidou ali, no meio da Brigadeiro Luis Antônio para somar na cobertura através de um coletivo,Jornalistas Livres.
Topei sem saber do que se tratava, mas confiando no meu parceiro. Ao final da cobertura fomos para a base descarregar e entregar para edição o material da filmagem. Lá encontrei um grupo de cerca de 30 pessoas, entre jornalistas, artistas, fotógrafos, cineastas, ativistas. Sem saber estava entrando numa das experiências de comunicação mais interessantes e inovadoras de 2015.
Não sabia naquele momento quem eram os Jornalistas Livres, fui descobrir aos poucos, depois, participando das reuniões, mas o que soube desde o primeiro momento era de qual lado estavam. Do lado dos sem voz, da juventude negra, pobre e periférica, do lado dos que lutam por moradia digna, do lado dos que lutam contra a exploração sexual, o machismo e a homofobia, do lado dos que lutam por um Brasil mais justo e democrático.
Ser Jornalista Livre é lutar por tudo isso. 2015 foi um ano de luta contra o retrocesso na política e Jornalistas Livres tiveram um papel importante nessa batalha — sinto muito orgulho de ter participado disso.
E que venha 2016, a luta continua!
Foto: Hélio Carlos Mello
Por Hélio Carlos Mello
Era 2014 e o ano acabava, bem como água também anunciava seu fim. Sentíamos que nosso copo estaria vazio em 2015 e a sede ameaçava a todos. Alguns amigos me convidaram para conversarmos sobre a crise da água que se anunciava para 2015 e entendermos essa conta, a conta d’água. Fora do eixo tudo parecia ser mentira na grande imprensa, era necessário falar o que acontecia na Cantareira e em nossos mananciais. De repente o jornalismo independente aflorou, como chuva boa e pura, e muitos e muitos estavam indo para a rua, e a grande mídia não tornaria a verdade pública.
Estávamos consternados com o que víamos publicado na mídia e o que sabíamos que eram os fatos, e em grande número nos reunimos certa noite na rua Conselheiro Ramalho e deu-se o Jornalistas Livres contra o susto e a vergonha que se mostrava na rua, no levante da direita.
Ser livre. Ser cidadão. Ser jornalista. Fotógrafo, artista, ativista era necessário. Nossa preocupação, que era a água em pauta, agora inundava a avenida, a terra, os edifícios, os índios, os negros, os transexuais e tudo o mais. Tudo seria nossa pauta a partir de março, e o pequeno grupo agora se fazia uma grande família espalhada por todas as regiões, Jornalistas Livres, nosso manifesto, nossa atitude com a verdade e a democracia.
2015 foi um parto. O que era olho d’água, mina fresca, hoje é mar, oceanos. Não passarão navios negreiros ou lama vermelha em metais pesados em nossa dignidade de manancial. Sou Jornalista Livre porque sou brasileiro, e isso me basta. Avante.
Foto: Bruna Duarte
Por Bruna Duarte
Todos sabem que 2015 foi um ano meio maluco. Ainda assim, foi um ano em que muitas coisas incríveis aconteceram justamente pelas surpresas e situações inesperadas que ele trouxe, e entrar nos Jornalistas Livres para mim se encaixa no rol dessas surpresas agradáveis.
No decorrer do ano vinha acompanhando as diversas coberturas que traziam um ar diferente da grande mídia, um ar muito necessário e quando começou o movimento dos estudantes secundaristas em São Paulo comecei a acompanhar as ocupações e os atos ajudando como podia.
Nesse envolvimento conheci alguns Jornalistas Livres que, como dizem, “me sequestraram do ato pra reunião”. Decidi me tornar uma Jornalista Livre por enxergar esse trabalho como algo que possui uma importância fundamental em dar voz às pessoas e causas que geralmente não tem voz, e em dar uma outra perspectiva mais humana e realista às narrativas.
Obrigada pelo sequestro e obrigada por me permitir ajudar a cobrir esse movimento que provavelmente mudará os rumos de muita coisa.
Festa do Dia das Crianças no Edifício Cambridge, ocupação vitoriosa feita pelo MSTC (Movimento Sem Teto do Centro). Foto: Lina Marinelli
Por Lina Marinelli
Por que me tornei — e serei pra sempre — Jornalista Livre
Porque, no Brasil, quem ainda decide o que as pessoas vão ou não saber são os ricos. Porque quem ouve rádio, assiste TV, lê jornal, e sabe um pouco das coisas, vê que não está tudo ali e que o que interessa aos ricos é contado de forma alterada e mentirosa. Porque, na grande imprensa, os Movimentos Sociais são criminalizados e a propriedade privada é mais importante do que o ser humano. Porque a grande imprensa não respeita a Democracia. Porque, em 15 de Março, a TV Globo suspendeu toda a programação de um domingo para “mostrar a manifestação do povo indignado ”, e a gente viu que o representante do povo indignado que estava nas ruas era branco, e rico, e agressivo com os pobres, e ainda havia defensores da ditadura.
Porque não foi a Globo quem mostrou isso, foram os poucos jornalistas honestos de alguns veículos que estavam lá, foram alguns blogueiros, e foram os Jornalistas Livres — trabalhamos sem parar, sem hora para comer, sem hora para ir embora, até de madrugada, com a única missão de desmascarar a narrativa da Globo e do resto da imprensa de que ali estaria o “pacífico povo brasileiro”.
A grande imprensa continua sua narrativa mentirosa, continua atacando a Democracia. Nós seguimos trabalhando duro, ainda sem hora para comer, sem hora para dormir, lutando muito para chegar o mais perto possível da verdade. Sou Jornalista Livre por que é um dever.
Foto: Hélio Beltrânio
Por Kátia Passos
Um Jornalista Livre não se cria, não se forma. Já nasci Jornalista Livre.
Todos os dias acordo (quando durmo, rs), pensando na primeira pauta, no primeiro furo e como a narrativa vai entrar e transformar a vida das pessoas.
Ser dos JL’s não é tarefa fácil, é como se um sangue mais pulsante que o comum corresse em nossas veias. É a busca pelo justo, pela informação legítima, pelo desejo de ser real, democrático e sobretudo, de assumir o verdadeiro papel que todos os jornalistas deveriam ter.
Ser dos JL’s não é tarefa fácil, mas é sem dúvida, uma condição da qual muito me orgulho e que fará parte da minha vida para sempre.
Especialmente, neste ano, fiz muitas outras descobertas no Jornalismo. Destaco a cobertura das Escolas em Luta, em SP, pois foi quando, realmente eu tive que me dividir no papel importante de jornalista e mãe, tudo ao mesmo tempo, no mesmo local.
Não foi fácil presenciar a repressão da polícia militar contra os alunos na Ocupação da EE Maria José, onde minha filha estuda. Mas ali, realmente fui testada na racionalidade e na emoção.
Amanhecer na Escola João Kopke, ocupada pelo movimento contra a “reorganização” escolar. Foto: Henrique Cartaxo
Por Henrique Cartaxo
Percebia já há um tempo que a mídia é um dos terrenos fundamentais na luta pela nossa democracia. Quando os Jornalistas Livres começaram, fiquei admirando de longe: um megafone, um farol. Chegou em Outubro a oportunidade de ir a uma das reuniões abertas. Me apresentei como editor de vídeos e no outro dia já publiquei meu primeiro. Na semana seguinte mais um, na terceira foram dois, e aí começou a a luta das escolas públicas de São Paulo. Atos, passeatas, ocupações. Fiquei amigo de um monte de adolescentes que eu jamais conheceria na vida, virei videorrepórter, passei noite na ocupação, virei noite em casa editando vídeo… Já tinha militado como universitário e sempre achei importantes as lutas da educação, da moradia, da terra, mas acho que nunca na vida tinha me dedicado tanto a algo de uma realidade tão distante da minha própria.
A idéia de liberdade combina bem com o que temos feito e pra mim vai muito além da liberdade editorial. Combina com uma definição de Tarkovski, meu cineasta favorito, que eu sempre releio de vez em quando: “… liberdade significa aprender a exigir apenas de si mesmo, não da vida ou dos outros, e saber como doar: significa sacrifício em nome do amor.”
Pois pra mim, me tornar um Jornalista Livre foi o aprendizado de uma nova forma de amar.
E para 2016 estamos aqui, de coração.
Foto: Sato do Brasil
Por Jeniffer Mendonça
Dizem que o segundo ano de faculdade é decisivo para x estudante de Jornalismo: ou elx permanece no curso ou o abandona por não ter se identificado, de fato, com a escolha. Conheci os Jornalistas Livres em meio a essa crise interna, de universitária, e externa quanto ao mundo cujo levante conservador se tornava mais visível. Desde a primeira reunião, no dia 31 de julho, passei, aos poucos, a me identificar com o coletivo, sem saber ao certo o que me movia. Essa identificação se intensificou com o movimento dos secundaristas contra a “reorganização” do ensino, imposta pelo Governo Estadual paulista.
A primeira cobertura que fiz, me autodenominando Jornalista Livre, foi em outubro, período em que os atos das escolas começavam a ascender. De lá para cá, a relação com as pautas em prol da democracia e dos direitos humanos se tornou não apenas uma bandeira que passei a levantar, mas um sentido que pulsava, que transbordava. Foi nesse pouco (e difícil) tempo que descobri a responsabilidade social e a importância que a profissão e o coletivo carregam. Ser Jornalista Livre foi e está sendo um aprendizado infinito e agradeço eternamente a cada pessoa que contribuiu e contribui para o que sou e o que somos hoje — e seremos em 2016.
Ato da primavera das mulheres em São Paulo. Foto: Giovanna Consentini
Por Giovanna Consentini
15 de março de 2015, acordei sozinha em casa com o hino nacional tocando a cada cinco minutos. A Globo já tinha tornado a Av. Paulista “o grande palco da democracia” e a vizinhança toda compareceu. Tudo mais parecia uma bad trip de 2013 que bateu atrasada. O mundo lá fora simplesmente não fazia sentido.
Mas, como dizia Chico, amanhã há de ser outro dia, e foi. Nas primeiras
horas do dia minha timeline já havia sido invadida pelos compartilhamentos
de uma página, os Jornalistas Livres. Dentro do mar de dúvidas que vivi
desde que me formei de jornalismo, tive uma certeza: eu preciso conhecer
esse pessoal. Da primeira reunião de pauta até hoje, o ritmo acompanhou a
loucura de 2015.
Não foi nada fácil. Entre outras mil coisas, ocupamos com os movimentos de moradia, vimos a juventude barrar a redução da maioridade penal, defendemos a democracia acima de tudo, lutamos pela vida das mulheres, marchamos juntos das mulheres negras, choramos com a dor de Mariana, revelamos a guerra do Alckmin contra os estudantes, respiramos muito gás lacrimogêneo usado contra quem exigia seus direitos, ouvimos pedidos de volta ditadura em pleno aniversário do AI-5, até fomos presos por exercer nossa profissão, mas continuamos: Jornalistas Livres.
Na capital paranaense, a PM de Beto Richa (PSDB) massacra professores em luta no dia 29 de abril. Foto: Leandro Taques
Por Eduardo Nascimento
Me tornei Jornalista Livre porque depois de 6 anos na graduação na USP eu não tinha a menor vontade de exercer a profissão, pelo menos não nos lugares que via como possíveis. Nos JLs, desde a primeira reunião de pauta, senti que o grupo buscava o mesmo que eu queria no jornalismo: contar as histórias que não estão sendo ouvidas.
Não acredito em imparcialidade em nenhuma produção humana, seja artística, jornalística etc. A parcialidade do jornalismo mainstream é defender um projeto de sociedade elitista e antidemocrático; com o JL eu sei que minha parcialidade é dar voz aos grupos oprimidos, e a democracia só acontece de fato se todos tiverem voz.
Foto: Allan Ferreira
Por Allan Ferreira
Após alguns anos trabalhando como consultor e professor na área de inteligência de negócios, constatei que o discurso do meio corporativo, de modo geral, não corresponde às suas práticas. Cursar Ciências Sociais da Universidade de São Paulo era uma vontade antiga e só foi possível depois de deixar de lado o trabalho de consultor. Nas duas situações há o trato com dados, proposições, informações que serão utilizadas em algum grau em processos de tomada de decisão. Bem, e o que isso tem a ver com jornalismo?
O jornalismo é das faces ao mesmo tempo mais evidentes e mais naturalizadas do trato com a informação. Do mesmo modo que um dirigente pode tomar decisões catastróficas quando se baseia em informações distorcidas, um cientista pode também colocar a perder anos de trabalho quando se baseia em premissas erradas. O que ocorre quando boa parte da sociedade toma suas decisões diárias com base em jornalismo tendencioso que não hesita em distorcer fatos em favor de interesses inconfessáveis?
Os Jornalistas Livres representam uma renovação de forças que tem ajudado a apontar alguns dos principais problemas do jornalismo tradicional, que omite e distorce. Sou Jornalista Livre, pois acredito que é possível transformar a sociedade ao levar para as pessoas informações mais precisas e relevantes.
Grupo de artistas que integram os Jornalistas Livres presenteia o pessoal de direita, vestido de verde e amarelo, com corações vermelhos e prova que esta é a cor da emoção. Foto: Márcia Zoet
Por Maira Natassia
Num mundo onde me sentia sozinha, dentro de uma sociedade que me reprimia por eu não aceitar as suas próprias ações repressoras, eu encontrei a esperança. Num gesto de entregar um coração, forma de expor a face ridícula dos atos fascistas, ou por poder compartilhar a vontade de mostrar a verdade do que realmente acontece no Brasil. O aprendizado é todo dia, a luta é constante e não pode parar. Por aqueles que são esquecidos, pela verdade que não é mostrada, pela consciência de classes que cada vez deve ser mais presente. Hoje eu sou completa, sei que não estou sozinha e sei o quanto juntos podemos mudar. Por isso, para sempre, sou Jornalista Livre.
Foto: Bruno Miranda
Por Bruno Miranda
Pela necessidade de construir uma contra narrativa ao que vejo estampado nos meios de comunicação tradicional.
Por acreditar que qualquer um com um celular e uma motivação honesta pode ser mais jornalista (porque descreve a verdade) do que qualquer medalhão global.
Por acreditar que a única forma de mudança real vem com a participação popular, e a internet é o único canal para a democratização dos meios de comunicação, uma vez que mesmo com um governo dito de esquerda não conseguimos uma revisão da nossa lei de meios.
Depois deste ano de experiência em mídia colaborativa adquiri a certeza que a mudança não vai vir de fora para dentro, como eu antes acreditava. Os estudantes provaram isso.
Foto: Ana Trevisan
Por Ana Trevisan
Meu primeiro contato com os Jornalistas Livres foi durante a cobertura das ocupações das escolas pelos estudantes secundaristas — assunto de extrema importância para a sociedade e para os próprios jovens e pais, bombardeados por informações distorcidas e pela degradação da imagem dos colegas que corajosamente defendiam os seus direitos.
Há muito cansada de apenas me indignar com a grande mídia, sinto que é urgente e essencial colaborar com pessoas engajadas em informar a sociedade sobre a realidade dos fatos, agindo com total independência do sórdido financiamento privado. Cuidar para que cada texto seja bem revisado e resulte em matéria clara, inteligível e agradável para o leitor é uma grande satisfação! Estar no meio dos fatos, estar do lado de dentro dos acontecimentos e sentir a confiança das pessoas pelo trabalho dessa rede, sem dúvida, nos enche de esperança na força de uma nova mídia, com o real propósito de informar, educar e libertar quem antes não tinha acesso à verdade.
Sou Jornalista Livre porque quero que todos sejam livres para estar do lado da verdade.
Ocupação do MTST em Mauá, na Grande São Paulo; o terreno, no Jardim Oratório, tinha 300 mil metros quadrados de área improdutiva. Foto: Sato do Brasil
Por Oscar Neto
Eu nunca fui militante, nunca fui ativista, nunca estive literalmente nos braços do povo. Minha admiração pelos movimentos e reivindicações populares sempre foi pela internet, pelos livros e artigos. Por qualquer motivo, não frequentava o C.A. da faculdade de jornalismo, não participava das manifestações de rua, não colava tanto com a galera que curtia discutir política e questões sociais a fundo. Mas tudo isso sempre esteve dentro de mim e, de repente — graças as redes sociais -, recebi um comunicado de uns tais Jornalistas Livres que iam cobrir no dia seguinte uma manifestação pró-impeachment da presidente Dilma com uma linha editorial diferente do que costumamos ver pela grande imprensa. Ali, finalmente, eu entrava para o mundo do jornalismo real, na rua, e ancorado nas premissas da democracia, dos direitos humanos e dos movimentos sociais. Basicamente tudo o que eu esperava poder fazer com o poder da voz que têm os comunicadores.
De lá pra cá, já virei a noite em ocupações de terrenos abandonados, conheci por dentro a realidade dos refugiados que vivem nos movimentos de moradia de São Paulo, subi o morro pra ver como a galera da periferia via a questão da redução da maioridade penal, e até encenei ter tomado um tiro durante um grande ato de rua, em referência à grande chacina ocorrida dias antes em Osasco que matou injustificadamente dezenas de pobres — e até hoje permanece à sombra de um esclarecimento.
Isso pra mim foi o máximo que já vivi como jornalista e a prova de que o trabalho dos Jornalistas Livres é uma ruptura na forma de retratar e participar do dia a dia do povo brasileiro. Nada do que você já viu na TV se compara a essa experiência e nenhuma leitura feita pela mídia tradicional te trará elementos tão reais e humanos dos acontecimentos do mundo.
Jornalistas Livres é a forma mais autêntica de mostrar a realidade como ela é, sem vícios. Nosso único interesse é contextualizar os fatos com a dura realidade das pessoas que têm seus direitos básicos sequestrados todos os dias. E essa leitura só pode ser feita de dentro para fora. Jornalistas Livresfaz e fará parte da minha vida para sempre.
Foto: Ennio Brauns
Por Ennio Brauns
Ser jornalista é mesmo uma função fundamental quando se pensa que o mundo precisa saber, cada vez mais, de suas potencialidade para melhorar o conhecimento e o bem estar.
Aos vinte anos entrei numa Escola Superior de Teatro, no Rio de Janeiro, achando que estava entrando numa Escola de Artes. Passei lá dentro quatro anos tentando entender como a “direção teatral” cabia na minha vida. Virei fotógrafo logo nos primeiros anos. Fotografava as peças e exercícios que fizemos lá dentro. Acho que isso foi o mais importante que aprendi ali. Fotografar a cena teatral é quase como documentar o sentimento de quem exerce a vida na plenitude do outro.
Em 1977 saí de lá e, apesar de já fotografar, fui escrever no 2º Caderno de “O Globo”. Poucos meses depois começava em São Paulo o jornal “Em Tempo”. Foi aí que o Marcelo Beraba, que era editor do 2º Caderno, me perguntou se eu gostaria de colaborar com o Jornal. Eu vim.
Mas o que essa história tem a ver com o Jornalistas Livres?
Por incrível que pareça tem sim. O “Em Tempo” era, em 1978, mais ou menos (bem mais do que menos) uma experiência muito parecida com osJLs de 2015.
A intransigente luta contra o arbítrio, a defesa exigente dos direitos humanos, a indeclinável certeza de que precisamos dar voz aos excluídos pelo sistema. Ditatorial, como na época, ou em fase de consolidação democrática, como agora.
Ao longo dos últimos quase 20 anos tomei consciência do crescimento e da importância que o assunto GÊNERO tem numa sociedade que acredito ser a mais justa, e também, a mais necessária.
Essa foi a pedra de toque que me fez aceitar imediatamente a sugestão da Marlene para ser parceiro do Leo Moreira Sá nas coberturas sobre os movimentos de emancipação e por direitos das comunidades LGBT.
Foi a certeza de que poderia estar dentro de uma luta em que, na verdade, sempre estive.
Por isso, a LUTA CONTINUA e nos Jornalistas Livres também.
Cada vez mais, ao longo desse infindável 2015, (vai acabar daqui a pouco, mas tá renitente), o JORNALISMO se mostrou fundamental e a LIBERDADE, ah!, essa sempre foi.
Evoé, essa mistura de gerações fundamental ao avanço dos direitos e da democracia!
Mais uma vez, a narrativa que foi estampada nas capas dos jornais não condiz com o que foi a manifestação dos meninos
Texto e fotos de Bruno Miranda, especial para os Jornalistas Livres
O ato do dia 9/12, quarta-feira, que começou às 17h, foi em sua maior parte, um ato de paz, com cânticos e uma energia que só os adolescentes têm. Parecia um daqueles domingos em que todos querem aproveitar ao máximo o dia de descanso sagrado. É uma pena que o que mais vemos reproduzido hoje são os últimos 30 minutos de caos, protagonizados por uma porcentagem pífia dos que estavam lá, e que em nenhum momento participaram das ocupações e de tudo que esses meninos fizeram. Segue um pouco do melhor do que rolou ontem, e do triste fim de mais uma batalha dessa luta, que está longe de acabar.
Estudantes de todas as idades reunidos no começo do ato na Avenida Paulista
Pais e filhos na mesma luta, para que a escola de amanhã seja mais democrática do que a de hoje.
Como índios, alunos se pintam para a luta
Alunos ocupam a avenida Nove de Julho
Algumas das diversas demonstrações de amor durante a marcha
Exibicionismo: black bloc posa para a “foto oficial”, reproduzida na maior parte da grande mídia: os últimos 15 minutos do ato tiveram mais repercussão do que as 4 horas de marcha pacífica
Assim acabou o ato, sob o efeito de bombas de gás manifestantes se dispersam na avenida da Consolação