Jornalistas Livres

Categoria: Marielle Franco

  • “ESTOU FUGINDO DOS ASSASSINOS DE MARIELLE. O ESTADO CORTOU MEU SALÁRIO EM VEZ DE ME DAR PROTEÇÃO”

    “ESTOU FUGINDO DOS ASSASSINOS DE MARIELLE. O ESTADO CORTOU MEU SALÁRIO EM VEZ DE ME DAR PROTEÇÃO”

    Via The Intercept Brasil.

     

    Professor, militante de causas ligadas à educação, Pedro Mara nunca denunciou policiais, milicianos ou políticos. No entanto, soube pela mídia que seu nome estava na lista de pesquisados pelo assassino de Marielle Franco, o miliciano Ronnie Lessa, vizinho de Jair Bolsonaro.

    Leia, a seguir,  trechos do relato de Pedro ao The Intercept Brasil.

    “E eu não faço ideia da razão de aparecer nessa lista do Lessa, mas o relatório da Polícia Civil é muito claro. Quando faz a referência a mim, fala: “O professor Pedro Mara, diretor do CIEP 210, em Belford Roxo, que teve atrito, na época, com o deputado estadual Flávio Bolsonaro”. Isso é o que está escrito no inquérito. Se foi o Flávio que mandou, se não foi o Flávio que mandou, não sei”.

     

    “ESTOU FUGINDO DOS ASSASSINOS DE MARIELLE. O ESTADO CORTOU MEU SALÁRIO EM VEZ DE ME DAR PROTEÇÃO”.

    “EM 14 DE MARÇO, quando se completou um ano do assassinato da Marielle, eu fui informado pela mídia que o meu nome estava na lista dos pesquisados por Ronnie Lessa, o assassino da vereadora. Enquanto todo o mundo se perguntava quem mandou matar Marielle, eu me fazia a pergunta “por que meu nome está nessa lista?”

    “E eu não faço ideia da razão de aparecer nessa lista do Lessa, mas o relatório da Polícia Civil é muito claro. Quando faz a referência a mim, fala: “O professor Pedro Mara, diretor do CIEP 210, em Belford Roxo, que teve atrito, na época, com o deputado estadual Flávio Bolsonaro”. Isso é o que está escrito no inquérito. Se foi o Flávio que mandou, se não foi o Flávio que mandou, não sei”.

    “Tenho uma história imensa de luta na educação do Rio de Janeiro. Eu fiz parte do movimento estudantil, sou professor, fui comandante de greve, fui de sindicato. Só que a minha militância inteira foi no campo da educação. E só no campo da educação. Nunca militei em nada que não fosse isso. Nunca mexi com interesses econômicos de milicianos, nunca denunciei excesso das polícias na comunidade. Eu nunca fui líder comunitário.”

    “Desde o dia que descobri, naquela quinta-feira, fiquei em casa até o domingo, e apenas na segunda tomamos providências administrativas. Após fazer reuniões, criamos um protocolo de segurança, feito pela OAB, a Comissão de Direitos Humanos da Alerj e o Sepe-RJ. Nesse protocolo, eu teria que me afastar do Rio de Janeiro. Tive que ir para outro lugar, longe das pessoas que eu gosto, totalmente desamparado”.

    “O secretário de educação do estado do Rio, Pedro Fernandes, foi comunicado pelo presidente da Comissão de Educação, Flávio Serafini, da necessidade do meu afastamento, e foi pedido um prazo de afastamento de duas semanas para tomarmos medidas avaliativas. Mas, surpreendentemente, apesar de ter ciência do que estava acontecendo, o secretário optou por aceitar um processo de exoneração e deu início a ele em tempo recorde.”

  • Ato em Campinas  marca uma ano do assassinato da vereadora  Marielle Franco (PSOL) e seu motorista Anderson Gomes

    Ato em Campinas  marca uma ano do assassinato da vereadora  Marielle Franco (PSOL) e seu motorista Anderson Gomes

    MariellePresente
    Quem matou Marielle?
    Largo do Rosario 2019
    Campinas – SP
    Foto: Fabiana Ribeiro

    “Quem mandou matar?” essa era a pergunta que se repetia durante todo as manifestações na cidade de Campinas (SP).  O ato em  homenagem a vereadora Marielle Franco – assassinada  juntamente com  Anderson Gomes, seu motorista – teve várias atividades o Largo do Rosário com celebração inter-religiosa, roda de samba com o grupo Mana Dinga, formado por mulheres.

    Uma ação que contou com a presença da vereadora Mariana Conti  e dos  vereadores Gustavo Petta (PC do B), Pedro Tourinho (PT) e Carlão do PT  renomeou  a Praça Largo do Rosário para Praça Largo do Rosário Marielle Franco .

    O projeto de mudança do nome da praça é uma proposta coletiva da  vereadora Mariana Conti  e dos  vereadores Gustavo Petta (PC do B), Pedro Tourinho (PT) e Carlão do PT.  Na proposta coletiva, o local passará a ser denominado Praça Largo do Rosário Marielle Franco ,  oficialmente  é denominado como  Praça Visconde de Indaiatuba.

    MariellePresente
    Quem matou Marielle?
    Largo do Rosario 2019
    Campinas – SP
    Foto: Fabiana Ribeiro

    A manifestação que contou com centenas de pessoas, providas de cartazes, blusas, adesivos  com a frase “Quem matou Marielle?” e flores seguiu até a Praça Bento Quirino, durante  o cortejo  falas  reafirmavam as lutas da vereadora que representava a luta de negros, mulheres, populações periféricas e LGBTs,    e palavras de ordem cobrando das autoridades  a solução para o crime brutal contra a vereadora e seu motorista.

    Na Praça Bento Quirino houve uma intervenção  em homenagem à vereadora e as vitimas de feminicídio em 2018, as mulheres foram lembradas e homenageadas com flores.

    Durante todo o ato houve inúmeras  críticas ao presidente Jair Bolsonaro (PSL) e as as suas relações com as milícias cariocas que foram apontadas como  executoras do assassinato da vereadora carioca.

     

  • “Trabalhar com Jean Wyllys era viver na mira do tiro”, diz ex-assessor

    “Trabalhar com Jean Wyllys era viver na mira do tiro”, diz ex-assessor

    O ex-assessor de imprensa do deputado federal Jean Wyllys escreveu com exclusividade para os

    Jornalistas Livres e deu detalhes da rotina do parlamentar ameaçado de morte,

    que vivia sob escolta armada 24 horas. Os bastidores da atuação parlamentar de Wyllys,

    muitas vezes guardados a sete chaves pela sua assessoria

    agora são revistos em detalhes no relato a seguir:

     

    Quando as ameaças se intensificaram e a segurança armada começou a fazer a escolta do Jean, nossa vida também mudou. Os assessores precisaram cumprir um protocolo de segurança e, por muitas vezes, tínhamos que cancelar agendas, por causa das ameaças presentes.

    Dois carros blindados e três seguranças acompanhavam o deputado. Se ele quisesse ir à padaria comprar um pão, não poderia ir sozinho. Não podia ir à praia, à casa de amigos e nem andar a pé nas ruas.

    Certa vez, Jean se atreveu a sair de casa a pé para ir até a orla de Copacabana acompanhar um ato por liberdade religiosa. Resultado: foi agredido e insultado durante três quadras no percurso até o destino final. Em cada esquina, se ouvia uma barbaridade diferente.

    No Parlamento, a situação também não era diferente. Eu tinha a tarefa de assessor de imprensa. Deveria atender, da melhor forma possível, os colegas jornalistas que buscavam diariamente informações sobre a atuação parlamentar de Jean e notícias sobre seus posicionamentos políticos.

    Outros assessores sempre o acompanhavam nos corredores da Câmara até o plenário e relatavam que era comum outros deputados xingarem-no de “queima-rosca”, “viadinho”, “bicha louca” e uma lista de insultos, em sua maioria, homofóbicos.

    Segundo colegas de gabinete, Jean deixou de usar o banheiro compartilhado entre os deputados para evitar aborrecimentos. Era só ele entrar que começavam as piadas entre os “machões”. As mesmas que eu e ele ouvimos na quinta série no colégio. O mesmo bullying homofóbico. Os babacas não amadureceram, só viraram deputados.

    Entrar naquele carro gigante e blindado para cumprir agenda com Jean, era como viver na mira do tiro.

    Ele estava na mira, nós sempre soubemos.

    Nós, ao lado de Jean, estávamos em situação similar à do motorista Anderson Gomes e da assessora de imprensa, Viviane, que sempre acompanhavam a vereadora Marielle Franco.

    Depois que Marielle e Anderson foram assassinados no Rio, as ameaças contra Jean se intensificaram. A decisão dele tem um significado: ele não quer o mesmo fim.

    Lembro que chegaram a colar um adesivo na porta do gabinete em Brasília com os dizeres: “Bolsonaro vive”…

    Sete dias após a execução de Marielle, durante uma homenagem na Cinelândia, soubemos que nossas redes receberam notificações com ameaças e indicações exatas sobre os locais por onde passávamos.

    Jean fez a coisa certa.

    Respeitamos a decisão. Ele precisa se fortalecer e cuidar de sua vida. Viver na mira do tiro é uma maldição que eu não desejaria para ninguém. Em 8 anos de atuação parlamentar, ele melhorou a vida de muita gente. Revolucionou a minha. Me fez entender que somos milhões e que a luta mundial pela garantia de direitos da população LGBT é irreversível.

    Seguiremos!

  • Deputado que quebrou placa de Marielle ameaça diretora de escola

    Deputado que quebrou placa de Marielle ameaça diretora de escola

    Por Viviane Ávila

    O deputado federal pelo PSL-RJ, Daniel Silveira, aquele que quebrou a placa com nome de Marielle Franco colocada na Cinelândia, no Rio de Janeiro, gravou um vídeo no último sábado, dia 24, ameaçando Andrea Nunes Constâncio, a diretora do Colégio Pedro II, localizado em Petrópolis (RJ), de fiscalizar e entrar na escola sob sua gestão sem autorização, assim como, segundo o deputado, ele pode fazer em qualquer outro estabelecimento.

    “Diretora, eu sou um deputado federal, e o meu caráter é fiscalizador. Eu posso entrar em qualquer estabelecimento sem permissão. Entenda isso. Que isso fique muito claro. Não é você que pode me proibir. Logo você, que há dois anos entregou as chaves da escola Pedro II para vagabundos da esquerda invadirem a escola e atrapalharem as aulas”, disse Silveira, se referindo ao período de ocupações das escolas feitas pelos secundaristas entre 2015 e 2016.

    Na época, os estudantes reivindicavam uma Educação Pública com mais qualidade, mais inclusiva e humana, já que o projeto de reorganização escolar previa fechamento de escolas, separação de ensinos, migração escolar de estudante sem consulta aos pais, ensino à distância, demissão e perda de direitos de professores, entre outras questões. Ou seja, um processo de precarização escolar para futuramente entrar em processo de privatização.

    Ainda em vídeo, o deputado continuou sua ameaça à diretora, em tom sarcástico e palavras inclusive de baixo calão. “Se você tem todo esse medo, que um deputado federal esteja na sua escola, ainda mais com a minha vertente conservadora que combate a ideologia socialista comunista, isso me cheira a merda. E, se me cheira a merda, eu vou fazer um favor para você. A sua escola será a primeira a ser auditada. Eu vou solicitar uma auditoria desde o princípio da sua gestão, e ver se está tudo certinho, e se você realmente detém a moralidade como diz que detém.”

    Silveira também manda um recado a toda a classe trabalhadora da Educação, frisando a diferença de tratamento a professores conforme suas vertentes políticas, criminalizando a esquerda, como se fosse proibido ter ideologia. “Professores tem o meu respeito. Professores de esquerda tem o meu desprezo. Eu quero deixar isso muito claro”.

    No final do vídeo, ele pede para que compartilhem a ameaça até chegar à diretora e manda um último recado. “Eu quero que esse vídeo chegue muito claro pra que você entenda, diretora, que o marxismo cultural não será implantado, e não existirá mais escola com partido. Iremos criminalizar”. 

    A Federação dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino no Estado do Rio de Janeiro (Feteerj) e os Sindicatos Filiados emitiram uma nota em defesa e apoio à diretora do CENIP, Andrea Nunes, no site da Feteerj.

    “A Federação dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino no Estado do Rio de Janeiro (Feteerj) e os Sindicatos filiados repudiam a virulenta e absurda declaração feita pelo recém-eleito deputado federal Daniel Silveira (PSL) contra a professora Andrea Nunes Constâncio, diretora do Colégio Estadual Dom Pedro II em Petrópolis, o CENIP.

    A declaração mostra o total despreparo do recém-eleito parlamentar que, não contente em desqualificar os profissionais de educação, ainda faz ameaças à diretora. O CENIP é um colégio tradicional de Petrópolis, cujos servidores há décadas batalham contra a falta de investimentos e os baixos salários.

    Na verdade, a professora Andrea pode ter certeza de que o ataque e ameaças que sofreu serão respondidos por todas as professoras e professores de nosso estado.

    A Feteerj e os Sindicatos Filiados à Federação desde já se colocam à disposição da professora Andrea para ajudar nas medidas políticas e jurídicas cabíveis que o caso vai requerer.

    Feteerj e Sindicatos Filiados”

  • Sua tia não é fascista, ela está sendo manipulada

    Sua tia não é fascista, ela está sendo manipulada

     

    Rafael Azzi, filósofo carioca radicado em Ouro Preto, MG, com ilustração de Duke

     

    Você se pergunta como um candidato com tão poucas qualidades e com tantos defeitos pode conseguir o apoio quase que incondicional de grande parte da população?

    Você já tentou argumentar racionalmente com os eleitores deles, mas parece que eles estão absolutamente decididos e te tratam imediatamente como inimigo no mais leve aceno de contrariedade?

    Até sua tia, que sempre gostou de você, agora ataca seus posts sobre política no Facebook?

    Pois bem, vou contar uma história.

    O principal nome dessa história é um sujeito chamado Steve Bannon. Bannon tinha uma visão de extrema direita nacionalista. Ele tinha um site no qual expressava seus pontos de vista que flertavam com o machismo, com a homofobia, com a xenofobia etc. Porém, o site tinha pouca visibilidade e seu sonho era que suas ideias se espalhassem com mais força no mundo.

    Para isso, Bannon contratou uma empresa chamada Cambridge Analytica. Essa empresa conseguiu dados do Facebook de milhões de contas de perfis por todo mundo. Todo tipo de dado acumulado pelo Facebook: curtidas, comentários, mensagens privadas. De posse desses dados e utilizando algoritmos, essa empresa poderia traçar perfis psicológicos detalhados dos indivíduos.

    Tais perfis seriam, então, utilizados para verificar quais indivíduos estariam mais predispostos a receber as mensagens: aqueles com disposição de acreditar em teorias conspiratórias sobre o governo, por exemplo, ou que apresentavam algum sentimento de contrariedade difuso ao cenário político atual.

    A estratégia seria fazer com que esse indivíduo suscetível a essas mensagens mudasse seu comportamento, se radicalizasse. Como as pessoas passaram a receber as notícias e a perceber o mundo principalmente através das redes sociais, não é difícil manipular essas informações. Se você pode controlar as informações a que uma pessoa tem acesso, você pode controlar a maneira com que ela percebe o mundo e, com isso, pode influenciar a maneira como se comporta e age.

    Posts no Facebook podem te fazer mais feliz ou triste, com raiva ou com medo. E os algoritmos sabem identificar as mudanças no seu comportamento pela análise dos padrões das suas postagens, curtidas, comentários.

    Assim, indivíduos com perfis de direita e seu tradicional discurso “não gosto de impostos” foram radicalizados para perfis paranóicos em relação ao governo e a determinados grupos sociais. A manipulação poderia ser feita, por exemplo, através do medo: “O governo quer tirar suas armas”. Esse tipo de mensagem estimula um sentimento de impotência e de não ser capaz de se defender. Estimula também um sentimento de “somos nós contra eles”, o que fecha a pessoa para argumentos racionais.

    Sites e blogs foram fabricados com notícias falsas para bombardear diretamente as pessoas influenciáveis a esse tipo de mensagem. Além disso, foi explorado também um sentimento anti-establishment, anti-mídia tradicional e anti “tudo isso que está aí”. Quando as pessoas recebiam várias notícias de forma direta, e não viam essas notícias repercutirem na grande mídia, chegavam à conclusão de que a grande mídia mente e esconde a verdade que eles tem.

    Se antes a mídia tradicional podia manipular a população, a manipulação teria que ser feita abertamente, aos olhos de todos. Agora, todos temos telas privadas que nos mandam mensagens diretamente. Ninguém sabe que tipo de informação a pessoa do lado está recebendo ou quais mensagens estão construindo sua percepção de realidade.

    Com esse poder nas mãos, Bannon conseguiu popularizar a alt right (movimento de extrema-direita americana) entre os jovens, que resultou nos protestos “unite de right” no ano passado em Charlottesville, Virgínia, que tiveram a participação de supremacistas brancos. Bannon trabalhou na campanha presidencial de Donald Trump e foi estrategista de seu governo. A Cambridge Analytica trabalhou também no referendo do Brexit, que foi vencido principalmente por argumentos originados de fake news.

    Quando a manipulação veio à tona, Mark Zuckerberg foi chamado ao Senado americano para depor. Pra quem entendeu o que houve, ficou claro que a democracia da nação mais importante do mundo havia sido hackeada. Mas os congressistas pouco entendimento tinham de mídia social; e quem estaria disposto a admitir que a democracia pode ser hackeada através da manipulação dos indivíduos?

    Zuckerberg estava apenas pensando em estabelecer um modelo de negócios lucrativo com a venda de anúncios direcionados. A coleta de dados e a avaliação de perfil psicológico das pessoas tinham a intenção “inocente” de fazer as pessoas clicarem em anúncios pagos. Era apenas um modelo de negócios. Mas esse mesmo instrumento pode ser usado com finalidade política.

    Ele se deu conta disso e sabia que as eleições brasileiras podiam estar em risco também. Somos uma das maiores democracias do mundo. O Facebook tomou medidas ativas para evitar que as campanhas de desinformação e manipulações ocorressem em sua rede social. Muitas contas fake e páginas que compartilhavam informações falsas foram retiradas do Facebook no período que antecede as eleições.

    Mas não contavam com a capilarização e a popularização dos grupos de WhatsApp. WhatsApp é um aplicativo de mensagens diretas entre indivíduos; por isso, não pode ser monitorado externamente. Não há como regular as fake news, portanto. Fazer um perfil fake no WhatsApp também é bem mais fácil que em outras redes sociais e mais difícil de ser detectado.

    Lembram do Steve Bannon, que sonhou com o retorno de uma extrema direita nacionalista forte mundialmente? Que tinha ideias que são classificadas como anti-minorias, racistas e homofóbicas? E que usou um sentimento difuso anti “tudo que está aí”, e um medo de os homens se sentirem indefesos para conquistar adeptos?

    Pois bem, ele se encontrou em agosto com Eduardo Bolsonaro. Bolsonaro disse que o Bannon apoiaria a campanha do seu pai com suporte e “dicas de internet”, essas coisas. Bannon é agora um “consultor eventual” da campanha. Era o candidato ideal pra ele, porque compartilhava suas ideias, no cenário ideal: um país passando por uma grave crise econômica com a população desiludida com a sua classe política.

    Logo depois de manifestações de mulheres nas ruas de todo o Brasil e do mundo contra Bolsonaro, o apoio do candidato subiu, entre o público feminino, de 18 para 24 por cento. Um aumento de 6 pontos depois de grande parte das mulheres se unir para demonstrar sua insatisfação com o candidato.

    Isso acontece porque, de um lado, a grande mídia simplesmente ignorou as manifestações e, por outro, houve um ataque preciso às manifestações através dos grupos de WhatsApp pró-Bolsonaro. Vídeos foram editados com cenas de outras manifestações, com mulheres mostrando os seios ou quebrando imagens sacras, mas utilizadas dessa vez para desmoralizar o movimento #Elenão entre as mais conservadoras.

    Além disso, Eduardo Bolsonaro veio a público logo após a manifestação e declarou: “As mulheres de direita são mais bonitas que as de esquerda. Elas não mostram os peitos e nem defecam nas ruas. As mulheres de direita têm mais higiene.” Essa declaração pode parece pueril ou simplesmente estúpida mas é feita sob medida para estimular um sentimento de repulsa para com o “outro lado”.

    Isso não é nenhuma novidade. A máquina de propaganda do nazismo alemão associava os judeus a ratos. O discurso era que os judeus estavam infestando as cidades alemãs como os ratos. Esse é um discurso que associa o sentimento de repulsa e nojo a uma determinada população, o que faz com que o indivíduo queira se identificar com o lado “limpo” da história. Daí os 6 por cento das mulheres que passaram a se identificar com o Bolsonaro.

    Agora é possível compreender por que é tão difícil usar argumentos racionais para dialogar com um eleitor do Bolsonaro? Agora você se dá conta do nível de manipulação emocional a que seus amigos e familiares estão expostos? Então a pergunta é: “O que fazer?”

    Não adiante confrontá-los e acusá-los de massa de manobra. Isso só vai fazer com que eles se fechem e classifiquem você como um inimigo “do outro lado”. Ser chamado de manipulado pode ser interpretado como ser chamado de burro, o que só vai gerar uma troca de insultos improdutiva.

    Tenha empatia. Essas pessoas não são tolas ou malvadas, elas estão tendo suas emoções manipuladas e estão submetidas a uma percepção da realidade bastante diferente da sua.

    Tente trazê-las aos poucos para a razão. Não ofereça seus argumentos racionais logo de cara, eles não vão funcionar com essas pessoas. A única maneira de mudar seu pensamento é fazer com que tais pessoas percebam sozinhas que não há argumentos que fundamentem suas crenças e as notícias veiculadas de maneira falsa.

    Isso só pode ser feito com uma grande dose de paciência e de escuta. Peça para que a pessoa defenda racionalmente suas decisões políticas. Esteja aberto para ouvi-la, mas continue sempre perguntando mais e mais, até ela perceber que chegou num ponto em que não tem argumentos para responder.

    Pergunte, por exemplo: “Por que você decidiu por esse candidato? Por que você acha que ele vai mudar as coisas? Você acha que ele está preparado? Você conhece as propostas dele? Conhece o histórico dele como político? Quais realizações ele fez antes que você o aprovasse?”

    Em muitos casos, a pessoa tentará mudar o discurso para falar mal de um outro partido ou do movimento feminista. Tal estratégia é esperada porque eles foram programados para achar que isso representa “o outro lado”, os inimigos a combater.

    Nesse caso, o caminho continua o mesmo: tentar trazer a pessoa para sua própria razão: “Por que você acha que esse partido é tão ruim assim? Sua vida melhorou ou piorou quando esse partido estava no poder? Como você conhece o movimento feminista? Você já participou de alguma reunião feminista ou conhece alguém envolvido nessa luta?”

    Se perceber que a pessoa não está pronta para debater, simplesmente retire-se da discussão. Não agrida ou nem ofenda, comportamento que radicalizaria o pensamento de “somos nós contra eles”. Tenha em mente que os discursos que essa pessoa acredita foram incutidos nela de maneira que houvesse uma verdadeira identificação emocional, se tornando uma espécie de segunda identidade. Não é de uma hora pra outra que se muda algo assim.

    Duas das mais importantes democracias do mundo já foram hackeadas utilizando tais técnicas de manipulação. O alvo atual é o nosso país, com uma das mais importantes democracias do mundo. Não vamos deixar que essas forças nos joguem uns contra os outros, rasgando nosso tecido social de uma maneira irrecuperável.

    P.S.: Por favor, pesquise extensamente sobre todo e qualquer assunto que expus aqui, e sobre o qual você esteja em dúvida. Não sou de nenhum partido. Sou filósofo e, como filósofo, me interesso pela verdade, pela ética e pelo verdadeiro debate de ideias. Sua tia não é fascista, ela está sendo manipulada.

    Rafael Azzi, filósofo

     

     

     

  • Wilson Witzel, que festeja com Bolsonaro e fascistas, tem um filho transexual. Como pode?

    Wilson Witzel, que festeja com Bolsonaro e fascistas, tem um filho transexual. Como pode?

     

    Wilson Witzel (do PSC), que teve maior número de votos para o governo do Rio de Janeiro, cresceu eleitoralmente na reta final do primeiro turno graças a suas declarações de apoio a Jair Bolsonaro. No vídeo que se vê neste post, ele aparece no palanque de campanha, em Petrópolis, estusiasmado, em companhia dos então candidatos a deputado federal Daniel Silveira e deputado estadual Rodrigo Amorim.

     

    Os dois fortões ficaram tristemente famosos depois que arrancaram e destruíram uma placa em homenagem à vereadora assassinada Marielle Franco. No vídeo, a platéia fascista urra e vaia Marielle, gritando “Mito, Mito, Mito”. Amorim, de camiseta escura, promete “sentar o dedo [atirar] nesses vagabundos”, referindo-se à esquerda e ao PSOL, o partido de Marielle.

    Witzel, que quer governar o Rio, tripudia sobre o corpo sem vida de Marielle Franco, mulher negra, lésbica, favelada. Ele alinha-se com Bolsonaro, que é um defensor de que os pais espanquem filhos gays, para “corrigi-los”.

    Mas Witzel precisa explicar para todo o povo do Rio de Janeiro e do Brasil como é que ele consegue posar festivamente com os homens que pisoteiam a memória de Marielle Franco e depois olhar no olhos de seu filho Erick Witzel, um menino transexual de 24 anos, chef de cozinha, vegano e empreendedor.

    Como é que ele não percebe que o fascismo de Bolsonaro e suas hienas violentas odeia o menino Witzel, a quem se refere como “degenerado”, “deformado moral” ou “aberração”? Ou ele percebe?

    Como é, juiz Wilson Witzel, que é possível amar o filho e confraternizar com quem o odeia?

    Em tempo:

    1. Daniel Silveira e Rodrigo Amorim foram eleitos neste domingo.
    2. Marielle vive para sempre em nossos corações e na nossa luta!

    Mais informações sobre Erick Witzel aqui: https://extra.globo.com/famosos/filho-de-witzel-candidato-ao-governo-do-rio-lamenta-resultado-das-eleicoes-dia-triste-23141004.html