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  • EXCLUSIVO – SKY PAGA SEUS FUNCIONÁRIOS PARA COMPARECER À MANIFESTAÇÃO PELA PRISÃO DE LULA

    EXCLUSIVO – SKY PAGA SEUS FUNCIONÁRIOS PARA COMPARECER À MANIFESTAÇÃO PELA PRISÃO DE LULA

    A Sky Brasil, empresa concessionária de serviços de telecomunicações brasileira, com 5.682.811  assinantes, ARRANCA A MÁSCARA E PAGA SALÁRIO PARA FUNCIONÁRIOS PARTICIPAREM DE ATO DO VEM PRA RUA, QUE ACONTECERÁ AMANHÃ EM VÁRIAS CAPITAIS, EXIGINDO A PRISÃO IMEDIATA DO EX-PRESIDENTE LUIZ INACIO LULA DA SILVA.

     

    Explica-se: o comunicado interno da Sky diz assim: “A Sky vai liberar os seus funcionários, amanhã, às 16h, para os que quiserem aderir ao movimento VEM PRA RUA. Não haverá descontos ou compensações necessárias.”

    Ou seja: como a empresa não descontará da folha de pagamento o período correspondente à saída dos funcionários em horário de trabalho para participar do ato contra Lula, ela está efetivamente remunerando a participação de seus funcionários no protesto.

    O chamamento à manifestação do VEM PRA RUA está no Facebook e leva o nome “Ou você vai, ou ele volta!” É descarado. Querem prender o Lula para evitar que ele volte, democraticamente eleito, pelos braços do povo. Os grupos fascistas e a direita em geral querem impedir o povo brasileiro de escolher livremente o novo presidente do Brasil, depois da tragédia chamada Michel Temer.

     

    A Sky usa o poder econômico, a força como uma das maiores empregadoras do Brasil, para dar o golpe dentro do golpe.

     

    Fundada por Roberto Irineu Marinho em 11 de novembro de 1996, a Sky atualmente tem suas ações divididas entre a DirecTV Latin America (93%) e o Grupo Globo (7%). O atual presidente da empresa é Luiz Eduardo Baptista P. da Rocha, alcunhado de Bap. Para que se tenha uma idéia do potencial mobilizador da empresa, basta dizer que tem faturamento anual de US$ 4 bilhões, aproximadamente 2.000 funcionários e mais de 55.000 colaboradores (dados do Meio&Mensagem 2016).

    Jornalistas Livres enviaram à RP1, assessoria de imprensa da Sky, o seguinte email:

     

     

    Também procuraram a assessoria de imprensa, pelos telefones da RP1. Não houve resposta até as 17h. Assim que a Sky se dispuser a fornecer sua explicação para o comunicado, publicaremos um adendo a esta reportagem.

     

    Não ao Golpe dentro do Golpe!

    Por eleições livres e democráticas!

    O povo deve escolher!

    PELA DEMOCRATIZAÇÃO DA MÍDIA!

     

     

     

     

     

     

     

  • Brutalidade à direita

    Quase dois anos depois da destituição de Dilma Rousseff, a grave instabilidade política favorece a disseminação de uma onda de intolerância e truculência pelo país. Por maiores que possam ser nossas diferenças ideológicas, a única postura digna é a de repúdio vigoroso à deslealdade com que forças reacionárias operam contra a democracia e a vontade popular.

    É alarmante que a caravana do ex-presidente Lula tenha sido alvo, nesta terça-feira, no Paraná, de balas letais por parte de grupos de extrema-direita. A escalada de ódio contra a comitiva do ex-presidente e seus apoiadores já vinha ganhando temperatura, sendo que no dia anterior um padre de 64 anos fora ferido com pedradas. Parece não haver limites para o ódio e a estupidez, em um cenário que caminha velozmente para a barbárie.

    Menos de uma semana antes do atentado a Lula no Sul, o Pastor Marco Feliciano estava na Rádio Jovem Pan disparando absurdos ao microfone. Difamou de maneira inaceitável a memória de Marielle Franco e, simbolicamente, incentivou o assassinato de militantes de esquerda. A audiência ouviu em um veículo de concessão pública um deputado abusar de sua prerrogativa parlamentar para desumanizar a vítima e aqueles que participam de suas lutas. Sua chacota infame sugeria que a bala na cabeça de um esquerdista levaria uma semana para encontrar o cérebro.

    A tragédia de Marielle Franco ganhou enorme visibilidade, mas representa também as muitas e os muitos lutadores sociais que foram silenciados ao longo dos anos. Se o Brasil sempre foi palco de conflitos, hoje vivemos um acirramento nos ânimos que perigosamente encoraja crimes políticos. Pessoas influentes como o Pastor Marcos Feliciano, que deve responder à representação do PSOL por apologia à violência, vêm propagando discursos de ódio com frequência. Também foram muito infelizes as declarações de Temer e Alckmin sobre o atentado contra Lula, em uma linha cínica de que o PT estaria “colhendo o que plantou”, como se Lula se valesse das mesmas armas que lhe apontam agora.

    O país se encontra brutalizado como resultado da tentativa de desumanização contra quem faz qualquer tipo de política social, em campanhas oficiais e extra-oficiais altamente agressivas e preconceituosas. Vemos com preocupação a truculência com que trabalham as forças reacionárias e reafirmamos a disposição do PSOL de combater com lealdade e de cabeça erguida, em direção a uma democracia mais justa, inclusiva e com verdadeira participação popular.

  • O que o assassinato de Marielle e o julgamento de Lula tem em comum? Tudo.

    Na última quinta-feira assistimos uma atrapalhada sessão do STF diante da pauta do acolhimento ou não do julgamento do Habeas Corpus de Lula solicitado por sua defesa.

    Houve momentos hilários em que Rosa Weber parecia votar no que não queria votar e não dar o seu voto ao que, na verdade, gostaria. Gilmar Mendes posando de paladino dos justos e, citando e assumindo o PT como inimigo, exortando a que aqueles que não concedem justiça ao inimigo não podem julgar. Marco Aurélio balançava uma passagem aérea impressa dizendo que teria de sair às pressas para um voo às 19:40, a fim de comparecer a uma homenagem no dia seguinte, e por isso não poderia estar presente até a conclusão dos trabalhos. Houve também os votos inequívocos e bastante claros e previsíveis da presidente do STF Cármen Lúcia, contra o acolhimento do Habeas Corpus e contra o encerramento da sessão e a liminar solicitada pela defesa do ex-presidente.

    Tudo somado se percebe um STF perdido, sem rumo incapaz de tomar decisões que se coadunariam com os egrégios valores da democracia e do republicanismo, mas muito mais vulneráveis às conjunturas, momentos políticos determinados, pressões políticas advindas de muitos lados- os recentes encontros de Cármen Lúcia com Temer em sua residência e com o movimento de ultradireita Vem prá Rua, um dia antes do julgamento estão totalmente conectados aos votos da ministra no último dia 22/03, e não deixam dúvidas sobre a possível eficácia de tais pressões.

    Contudo, mesmo os mais otimistas, consideravam a batalha e a causa do ex-presidente perdida. Muitos já aguardavam a prisão já no dia 26/03. E a reviravolta foi surpreendente: 7×4 ninguém esperava.

    Se olharmos os antecedentes houve mudanças significativas na estratégia de defesa incluindo dois pesos pesados como Sepúlveda Pertence e Roberto Batochio na linha de frente da defesa do ex-presidente. A caravana Lula também é fator importante, mas sozinhos não seriam capazes de gerar tamanha reviravolta e, agora, alguma esperança para o ex-presidente.

    Sim, porque houve o fator Marielle.

    As multidões que foram às ruas comovidas, indignadas, revoltadas com um assassinato cruel de uma representante legitimamente popular, com pautas claras e um protagonismo indiscutível se esparramaram por todas as capitais do país. Hoje tudo indica que a inscrição psíquica, social e política “Marielle” veio para ficar porque não é uma inscrição apenas na linguagem, no pensamento é, também e antes, no corpo. Todo militante, ativista, defensor dos direitos humanos do país sentiu resvalar em seu corpo, em sua própria pele algo desses nove tiros contra o corpo de Marielle. Muitos, constante e frequentemente ameaçados, achincalhados, assediados pela ultradireita nas redes sociais e nas ruas consideraram, intimamente, a possibilidade de sua própria execução física, de sua morte, de seu assassinato. Os assassinatos a líderes indígenas, a outras lideranças camponesas e populares, aos defensores de direitos humanos no Brasil afora de repente se condensam no corpo de Marielle. A morte de Marisa Letícia, então com 66 anos, é recordada. E o longo processo de cruelização judicial por qual passa Lula é retomado. Toda a maquinaria judicial, incapaz de repor a justiça, reproduz os anseios da extrema direita: queríamos assassinar Lula já, imediatamente – como foi feito com Marielle – mas não sendo possível podemos fazê-lo aos poucos. Como vem sendo feito com sua esposa, seus filhos, netos e sua família que também, a esta altura, deve se encontrar exausta e em frangalhos.

    Amigos meus, defensores dos direitos humanos confessavam, após a morte de Marielle, o recrudescimento desse medo e adotavam práticas pessoais de proteção.

    Os que acreditam e defenderam e defendem os direitos humanos e a justiça no país temem por sua vida mais hoje, do que ontem. Não cederão. O medo nunca foi o que os fez desistir. Mas o assassinato de Marielle remeteu a todos um sentido de urgência. Quem será o próximo após tantos outros? Lula? Jean Wyllys? Guilherme Boulos? Manuela D’Avila? Marcelo Freixo?

    A extrema direita quer cindir dois processos correlatos. As mídias rendem homenagens a Marielle, sempre alienando a imagem dela de suas próprias pautas (https://theintercept.com/2018/03/19/nao-deixe-que-a-politica-radical-de-marielle-seja-explorada-ou-apagada-como-o-fantastico-tentou-fazer-ontem-a-noite/) e, com isso quer romper elos que ainda existem entre os partidos de esquerda e gerar uma contenda entre o PT e os outros partidos numa estratégia clara de isolamento do Partido dos Trabalhadores.

    Repetem à exaustão: Marielle era gente boa, mas Lula é um ladrão mentiroso e corrupto. Vamos bater palmas para Marielle e vaiar ( matar?) Lula.

    Mas os ministros do STF sabem que não é bem assim. É bem provável que pressintam que uma prisão de Lula, imediatamente após o assassinato de Marielle, provocasse uma comoção ainda maior e uma condensada – e aguardada – união das esquerdas e da população que sofre com os golpes desferidos no seu corpo todos os dias, e sentem o ódio e o desejo por sua morte por setores significativos e organizados da população, mancomunados com prefeitos, governadores e com o presidente.

    Os ministros sabem que tem em suas mãos uma decisão que somará indignações passadas e seculares às do presente, só não sabem qual será o efeito de Marielle assassinada e Lula preso num país que que é um dos que mais mata ativistas que lutam pelos direitos humanos no mundo. Segundo relatório da anistia internacional de 2017, ocorre um assassinato a cada 5 dias.( https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/03/brasil-esta-entre-os-quatro-lideres-globais-em-homicidios-de-ativistas.shtml)

    Num país que destrói os direitos humanos e os que os defendem, ainda surpreende que sejam muitos a defendê-los. No Brasil somos encurralados pela ameaça: ou os Direitos Humanos ou a vida. Não é escolha é coação maquiada de opção. Isso porque sem direitos humanos não se alcançará o direito à vida e, sem a vida, para que serviriam os direitos humanos?

    Centenas de assassinatos a ativistas e líderes populares, à população pobre e negra indica, com clareza absoluta, que Marielle assassinada e Lula preso, para os perpetradores e o sistema que os protege, é só a continuação de um trabalho bem executado de crimes organizados, incentivados e impunes que envolvem diferentes atores e instituições no Brasil. Talvez, alguns ministros do STF estejam percebendo isso.

    Enquanto muitos pranteiam a morte de Marielle, outros tantos a celebram. Há os que lamentam a morte de Marisa Letícia e a possibilidade da prisão do ex-presidente e outros que a exultam.

    Os que estão de um lado ou de outro, nos dois casos, são os mesmos.

     

     

     

     

  • Qual é o limite entre a “arte” e a calúnia, a injúria e a difamação?

    “O cineasta José Patilha – apelido adquirido pelo formato de sua barba –, diretor de Tropa de Grafite, e a provedora de filmes Netsucks receberam milionário apoio financeiro da CIA (Central de Inteligência Artificial) e dos irmãos Koch, familiares do ex-tenista brasileiro, para produzir e divulgar seu novo trabalho: O Maquinismo. A série, nesse ano eleitoral, visa buscar apoio dos brasileiros a políticos que mantenham e ampliem a subordinação do Brasil aos interesses de Washington.”

    Essa afirmação, cunhada somente para exemplificar o método usado por Padilha, pode ser encarada como liberdade artística? Poética? Não há um propósito claro de criar suspeitas sobre a dupla cineasta e provedora de filmes?
    Ruffo e Verena, policiais, são adoráveis, meus heróis. O juiz é sóbrio, correto, firme e discreto. Como não se apaixonar? O Cláudio, procurador, faz jus à qualificação que Ruffo lhe carimba na testa, no final. Em meio a exemplos de virtude e de velhacaria, Padilha e Netflix enquadram Lula e Dilma no segundo time. A série, O Mecanismo, da dupla Padilha e Netflix seria uma boa diversão, se não fosse uma obra empreendida para apoiar o golpe, ao criticar genericamente a corrupção e atribuir atos não comprovados à Lula e ao PT.

     

    Chamar a Petrobras de Petrobrasil, Dilma de candidata Janete Ruscok, Lula de presidente, Temer de Thames, a JBS de “açougueiros de Goiânia”, entre outras charadas frívolas, dá, a Padilha e à Netflix, o direito de caluniar, injuriar e difamar?

    “Estancar a sangria”, frase proferida pelo senador Romero Jucá (MDB), aliado fiel de Temer, foi gravada pela Polícia Federal, vazada e amplamente divulgada pelos meios de comunicação e mídias sociais. Pois bem, a dupla Padilha Netflix coloca a frase na boca do presidente Lula. Além de mostrá-lo, no apartamento do Guarujá, tentando obstruir a Lava Jato.

    O filme mostra um ex-ministro da justiça, Mário Garcez Brito, tentando negociar o fim das investigações com um grande acordo entre os empreiteiros e o procurador-geral. Esse ex-ministro, chamado de “o mago” e na sequência “o bruxo”, esteve no governo de 2003 a 2007 e se apresenta, na série, com graves problemas pulmonares. Essa caracterização não é exatamente igual a dizer que se tratava de Márcio Thomaz Bastos, ministro da justiça entre 2003 e 2007, que morreu de câncer no pulmão em novembro de 2014?

    Estarão Padilha e Netflix, bem como seu panfleto, acima da lei?

    Dizer que é uma “ficção inspirada livremente em eventos reais” confere poderes à dupla Padilha Netflix de misturar fatos com invencionices politicamente dirigidas? Nos créditos finais informam, ainda, que “Os personagens e eventos representados neste programa são fictícios. Não há intenção de retratação de pessoa e/ou eventos reais.” A intenção de Padilha é evidente. É coerente com sua posição política amplamente conhecida.

    Padilha assegurou, em entrevista (2016) ao Instituto Millenium – que congrega expoentes da direita nacional – que a Lava Jato “não tem viés político nenhum”. Perguntado – no que a corrupção do governo petista se diferencia da que se via antes? – Padilha assegurou que:

    A política no Brasil – nas esferas municipal, estadual e federal – sempre funcionou assim: os partidos elegem seus representantes e indicam pessoas para cargos-chave com poder de contratar serviços públicos. Depois, superfaturam as obras e embolsam um pedaço do dinheiro, que vai para pessoas físicas e o financiamento de campanhas. O PT fez isso em volumes muito maiores – vide a compra da Refinaria de Pasadena. E o caso do PT também é pior porque o roubo sistêmico se soma a um enorme cinismo. Lula, antes, fazia o discurso da ética e da moralidade. Mas, quando chegou ao poder, não só montou seu esquema como levou ao limite da sustentabilidade o assalto a empresas estatais e órgãos públicos. Um político assim só poderia chamar para si mais ódio do que os outros, obviamente.

    Precisamos de mais alguma informação para saber de que lado Padilha está?
    A Lava Jato, há 4 anos, revira a vida de Lula e, para condená-lo, baseou-se em um apartamento que não está em seu nome, nunca foi de sua posse. A acusação não conseguiu demonstrar atos que liguem Lula, à Petrobras e à empreiteira. A Polícia Federal, o Ministério Publico e o Judiciário não conseguiram comprovar o que a dupla Padilha e Netflix afirma, sob uma cortina de fumaça que tentar nublar os fatos, com apelidos pueris na série o Mecanismo.

     

    Pode-se, através de pretenso trabalho artístico, acusar desse modo impunemente?

    Perversidade vergonhosa desse folhetim foi, também, usar o mestre Nélson Cavaquinho e a música Juízo Final. Ele, Nélson, não merecia essa afronta, Patilha.

    Do mal será queimada a semente
    O amor será eterno novamente

    A Lava Jato queimará a semente do mal? Sei…

  • Coragem para o diálogo

    Na manhã deste sábado (24), tive a oportunidade de presenciar um fato, no centro de Curitiba, que instigou minha reflexão. Um grupo de militantes petistas divulgava o comício de Lula na capital paranaense, onde o ex-presidente deve encerrar sua viagem pelos estados do sul do país na próxima quarta-feira, 28. Durante o tempo que lá estive, de um modo geral observei três tipos de reações. A dos envergonhados, que se esquivavam de pegar o panfleto, mas sem esboçar aprovação ou desaprovação; a dos generosos, que pegavam o panfleto independente de concordarem ou não; e a dos que vociferavam contra os militantes, preferindo, alguns deles, jogarem o panfleto no chão depois de pegá-lo. Desse último grupo, destaco três episódios. O primeiro foi o de um policial militar fardado que veio com ares de autoridade suprema exigir que a barraquinha do PT fosse desmontada sem qualquer fundamento legal. Questionado, preferiu se retirar sem não antes dizer que, caso não estivesse fardado, daria um tiro em alguém. Assim mesmo, audível para todos. O segundo episódio foi o de uma senhora que, aceitando o panfleto, deu um beijo no rosto da militante para, em seguida, amassar o papel e esbravejar: “Sua Judas!”. O terceiro foi outra senhora que, não satisfeita em negar o panfleto, segurou no braço de uma jovem militante para tentar convencê-la de que Lula era um criminoso e merecia a pena de morte. Somente depois a petista percebeu uma mancha em seu braço tamanha força com que seu braço foi apertado. Isto sem falar de uns e outros que se aproximavam com o puro intuito de provocação, dirigindo palavras de desaforo e condenação a Lula e ao PT. Tudo isso se passou no espaço de pouco mais de três horas. Nesse tempo, também aconteceram aproximações amigáveis e de apoio. Algo em torno de 1.500 panfletos foram distribuídos de mão em mão pelos militantes, que também investiam tempo em dialogar com as pessoas.

    Claro que Curitiba e a região Sul não representam necessariamente o Brasil, mas cabe a pergunta: como a liberdade de expressão pode ser tão ameaçada dessa maneira? Quando um bando de homens e mulheres querem impedir pela força que a caravana de Lula não ingresse em algumas cidades gaúchas, fechando estradas com suas caminhonetes possantes e seus tratores modernos, estamos falando de que tipo de gente? As cenas estão disponíveis nas redes sociais. Duas militantes foram hospitalizadas e um outro foi chicoteado como no tempo da escravidão. Bandoleiros mostraram suas armas na frente da Brigada Militar, que não esboçou reação. Será que esta forma de demonstrar descontentamento com um adversário político representa uma contribuição à democracia ou estamos falando de atitudes que a colocam em risco? O curioso é que muitos desses autodenominados ruralistas se beneficiaram dos incentivos dados pelos governos Lula e Dilma à agricultura. Certamente alguns aproveitaram o crédito a juros baixos para adquirir seus veículos e tratores. Quem sabe até alguns de seus filhos podem estar cadastrados nos programas FIES e ProUni. Ou, então, estudando em universidades públicas.

    Ruralista agride estudantes e jornalistas que acompanhavam a caravana de Lula no RS / Foto: Guilherme Santos/Sul21

    Mas, parece que a essas pessoas pouco lhes importa a análise objetiva da realidade. São torcedores de um time que joga contra o país e, o que é pior, contra a democracia. Não à toa, alguns deles empunhavam propaganda de apoio ao deputado Jair Bolsonaro e à intervenção militar. Afinal, o que pensam esses que se denominam patriotas? É uma questão difícil de responder porque existe uma contaminação generalizada de circunstâncias antecedentes. A estabilidade institucional não fica incólume quando uma presidente eleita é apeada do governo por um movimento alimentado por quem perdeu o jogo, o que inclui a mídia tradicional. Dilma foi derrubada sem crime de responsabilidade, como determinaria a lei. Isto diz muito do processo que ali brotava mais claramente desde junho de 2013. A partir desse primeiro momento, uma série de atos passam a acontecer para justificar o início e assim sucessivamente.

    Os estamentos estatais entram em cena com mais virulência porque se sentem liberados para fazê-lo desde as suas perspectivas morais e preferências políticas. A lei passa a ser interpretada na crueza do punitivismo exacerbado que a todos condena em nome de uma suposta salvação nacional. Sem estofo intelectual, representantes do Ministério Público Federal, da Polícia Federal e do Judiciário, categorizados simbolicamente pela imprensa como heróis, se sentem avalentonados em uma missão que só a eles interessa. Nas condenações, não sobrevive outra hipótese que não seja a de levar os réus à condição de indignidade pessoal e à excrescência pública. As delações são premiadas desde que alcancem o objetivo maior de denegrir a política e colocar o país em um sem saída institucional. As delações servem ainda para sangrar e fazer desaparecer grandes empresas nacionais como se houvesse a necessidade de encarcerar a estrutura como um todo, e não somente aqueles que eventualmente delito cometeram. Infelizmente, em processos com essa característica, todos são condenados antes de qualquer julgamento.

    Depois de todos esses sinais, reverberados incessantemente pelos meios de comunicação, não é de espantar que um simples soldado se sinta no direito de ameaçar a tiros um grupo de militantes que exercem o direito à manifestação. Ou que senhoras esbravejem quando abordadas por um petista. A hierarquia foi quebrada com o impeachment e, a partir disso, a conivência entre aqueles que advogam a força bruta como solução para o país está mais do que evidenciada. Corvos alimentam outros corvos e assemelhados para imputar a desestabilização a um suposto e falacioso “perigo vermelho”. Induzem ricos e pobres, gente de bem e gente do mal, a acreditar que os governos Lula e Dilma só fizeram estragos no Brasil. E, na cena mais recente, querem espalhar que a execução de Marielle Franco foi merecida e que não se dá o mesmo destaque para outras mortes de gente desconhecida. Os argumentos são pífios, embora sejam capazes de fazer estrago.

    Na manhã deste sábado, pude ver a coragem de quem não se entrega ao fascismo nem ao derrotismo. Afinal, a pior luta é aquela que se abandona. Esse pequeno grupo de militantes petistas não se envergonha do que pensa e deu uma aula de dignidade cívica ao não aceitar as provocações. Afinal, os cães ladram e a caravana passa.

  • #LulaLivre: O dia de hoje aumentou minha esperança

    Por Eduardo Campos***, especial para os Jornalistas Livres

     

    A votação do mérito do Habeas Corpus vai acontecer. Este é uma primeira e importante vitória. Os ministros que defendem a votação, a exemplo de Gilmar Mendes e Celso Mello, identificaram a recusa em votar a matéria com a ordem jurídica que vigia na ditadura. Restringir o seu uso como instrumento de defesa da liberdade seria inadmissível agora.

    O voto da Rosa Weber tende a ser mesmo decisivo na análise do mérito. Ela é contra a prisão antes do trânsito em julgado, mas tem votado, na grande maioria das vezes, contrariamente à sua convicção, para ser fiel à posição majoritária no plenário.

    Ocorre, contudo, que a discussão que acontece no momento é feita pelo plenário, o que significa que ela pode votar de acordo com sua convicção.

    A imprensa hoje chegou a dizer o contrário, que ela votaria contra o HC, até que o plenário vote a constitucionalidade da decisão em vigor.

    A conferir. O Marco Aurélio Mello, sem citar nome, elogiou a postura da Rosa Weber.

    O julgamento vai ser concluído no dia 4 de abril, mas o Supremo, acolhendo pedido da defesa, decidiu que Lula não pode ser preso até lá.

    A proposta foi encaminhada por Rosa Weber, que alegou o óbvio: não seria possível penalizar o impetrante pela incapacidade de o STF concluir a votação. Na prática, contudo, o Supremo suspendeu a possibilidade da prisão até lá, o que significa, ainda que temporariamente, que a jurisprudência em vigor foi contestada. .

    Enfim, sem ilusões, mas com esperança.

     

    ***Eduardo Campos é advogado e jornalista, atuando em Belo Horizonte.