Jornalistas Livres

Categoria: LGBT

  • Isso não é um convite

    Isso não é um convite

     

    Centenas de mulheres enfrentaram o frio de Curitiba e tiraram as camisas, casacos e cachecóis para lutar por respeito


    Em Curitiba, no último sábado (4), centenas de mulheres foram às ruas para protestar por seus direitos e ecoar suas vozes que, mesmo muitas vezes silenciadas, continuam pedindo justiça. A concentração teve início às 10h30 na Praça 19 de Dezembro — intitulada também como Praça da Mulher Nua — e percorreu as principais ruas do centro da cidade.

    Foto: Amanda Souza

    Em frente à Catedral Basílica de Curitiba, cantavam: “se o Papa fosse mulher o aborto seria legal, seria legal e seguro, se o Papa fosse mulher”, questionando a “laicidade dos ventres” e reivindicando o direito de decisão sobre seus próprios corpos.


    No Brasil, o aborto é o quinto maior causador de mortes maternas. A estimativa é que entre 7,5 milhões e 9,3 milhões de brasileiras tenham interrompido a gravidez entre 2004 e 2013.

    Foto: Gabriel Dietrich

    O ato ainda deu voz a luta contra a LGBTfobia e contra o racismo. Segundo dados divulgados pela Associação Internacional de Gays e Lésbicas em 2014, o Brasil é o líder do ranking em mortes decorrentes da LGBTfobia, com 325 assassinatos registrados entre 2008 e 2011.

    O ato teve fim na Boca Maldita, espaço localizado entre a Praça Osório e Rua das Flores, essencialmente uma confraria de homens, os “Cavaleiros da Boca Maldita”, que se reuniam para discutir as manchetes dos jornais — “y otras cositas más” — em uma espécie de tribuna livre dos pensamentos e opiniões. E foi lá que um beijo gay ao lado do pastor que, aos berros, jurava que todos ali seriam convertidos — mesmo que não quisessem -, selou a Marcha das Vadias de 2015. A marcha teve fim, a luta não.

    “Eu não posso salvar todas..”

    A cada hora o Sistema Único de Saúde (SUS) recebe em suas unidades de atendimento uma média de duas mulheres com sinais de violência sexual, de acordo com dados divulgados pelo Ministério da Saúde em 2013. Uma outra pesquisa, realizada em 56 países e publicada pela revista The Lancet, mostrou que 1 em cada 14 mulheres já sofreu, ao menos uma vez na vida, abuso sexual por alguém que não era seu parceiro. Mas, quando se analisa a porcentagem de mulheres no mundo que já sofreu violência, não apenas a sexual, o número chega a 70%, segundo dados divulgados pela Organização das Nações Unidas (ONU).

    Fotos: Rafael de Andrade

    Contudo, a própria The Lancet reconhece que o número de registros de abuso e o próprio atendimento às vítimas são prejudicados pelo medo que assombra as mulheres. O medo de não receber apoio, de que não acreditem nelas, o medo de sofrer represálias. “A violência contra as mulheres não está confinada a uma cultura, uma região ou um país específicos, nem a grupos de mulheres em particular dentro de uma sociedade. As raízes da violência contra as mulheres decorrem da discriminação persistente contra as mulheres”, afirma a ONU.

    Um estudo divulgado em 2013 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) afirma que, entre 2009 e 2011, quase 17 mil mulheres foram assassinadas no Brasil por conflito de gênero, chamado de feminicídio — casos nos quais a vítima morre apenas por ser mulher. Uma segunda pesquisa, realizada também pelo Ipea, mas divulgada em 2014, mostra que 26% dos brasileiros, mesmo concordando com as punições aplicadas aos agressores, acredita que as mulheres são culpadas pelas agressões sofridas por causa de suas roupas e de seu comportamento.

    Foto: Amanda Souza

    O Paraná, por sua vez, foi considerado o terceiro estado com o maior número de casos de violência contra a mulher. Os dados fazem parte do Mapa da Violência produzido pelo Instituto Sangari, divulgado em 2012, e mostram ainda que o estado possui cinco municípios com mais de 26 mil habitantes entre os 50 com mais casos de assassinatos de mulheres, sendo que Piraquara, região metropolitana da capital paranaense, ocupa o segundo lugar.

  • Diversidade presente nas ocupações

    Diversidade presente nas ocupações

     

    Sexta-feira, 22 de maio: uma vez mais, acompanhamos o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) em uma ocupação de terra, desta vez em Mauá, cidade região do ABC, na Grande São Paulo. Eram aproximadamente 350 pessoas em busca de seu sonho da casa própria. Cinco ônibus e 12 carros, em comboio, seguiram em direção a um terreno de 300 mil metros quadrados localizado no Jardim Oratório.

    Foto: Mídia NINJA

    No local, a sensação era de alegria e satisfação, ao vermos tantas pessoas lutando por uma moradia digna — mesmo que para isso precisassem dormir dentro de um barraco feito de lona e bambu. Ao andar pelas barracas, encontramos um grupo de LGBT, tod@s felizes às 4 horas da manhã e sob um frio de congelar ossos.

    Rakelin Delivery, uma mulher cativante de sorriso aberto, conta que conheceu o movimento no coletivo Dandara, de Hortolândia (SP), cidade próxima a Campinas. Naquele momento, resolveu lutar pela casa própria. Já conseguiu o auxílio aluguel no Pinheirinho do ABC, em Santo André, mas estava acordada naquela madrugada para apoiar seus companheiros em luta.

    Foto: Felipe Paiva / R.U.A Foto Coletivo

    Ela conta que veio da Bahia, morou na casa de amigos, sentia-se reprimida, mas, através do MTST, agora se sente feliz e integrada à sociedade. “Quando você mora de favor, você dorme a hora que o dono da casa quer, come o que querem que você coma. Hoje na minha ocupação tenho minha casinha”, diz, quando perguntamos como é ser trans dentro da ocupação?

    São cerca de quinze pessoas as assumidas LGBT na ocupação. Elas se colocam como base. Estão lá para ajudar @s companheir@s que lutam por suas casas, para que el@s não desistam. Estão lá para ajudar as meninas a se arrumarem.

    Raquilane Rios, cabeleireira, 27 anos, avalia que dentro do movimento não existe nenhum preconceito contra elas. “O movimento abre um leque muito grande de oportunidade de sermos gente”.

    Nas ocupações do MTST participam muitos travestis, homossexuais, lésbicas e gays “que, por não ter uma moradia digna, precisam morar nas casas de pessoas de favor, precisam pagar cafetinas e diárias, mas o MTST em si têm nos dado essa oportunidade de termos uma moradia digna, uma moradia própria”, avalia Raquilane.

    Foto: Mídia NINJA

    Ela explica que as travestis passam por uma espécie de “preconceito de moradia”. Para alugar uma casa, a dificuldade é enorme: “O dono quer saber da sua vida inteira, da sua ficha de nascimento até morrer. Mas o MTST, não! Nós chegamos eles nos dão nosso espaço, dizem para montarmos o nosso barraco, nos dão um apoio legal, nos ajudam, nos incentivam a ser gente, a entrar na sociedade. Hoje eu sou gente de verdade como qualquer outra pessoa”.

    A alegria entre tod@s ali é contagiante. Daniela é drag queen, trabalha como cabeleireira, cresceu dentro da ocupação. Diz que nunca sentiu nenhum tipo de preconceito dentro do movimento e que já teve oportunidade de fazer um evento de drags dentro da ocupação. Mostra fotos suas como mulher. Digo a ela que preciso aprender a me maquiar, afinal sou uma negação.

    Nisso chega Ana Caroline, 24 anos, sua esposa. “Dentro do acampamento é mais fácil do que na sociedade, eles me aceitam como eu sou, no MTST não tem preconceito nenhum”, diz. Ana faz parte do movimento há mais de 3 anos e já conseguiu sua moradia. Nessa noite, estava acompanhando a família e apoiando os companheiros.

    Junt@s estavam construindo um barraco que iria abrigar a tod@s. El@s conversam conosco felizes, posam para nossas fotos entusiasmad@s. É lindo quando nos falam que estão à disposição do movimento, estão lá para lutar, que podem chegar a algum lugar, pois o MTST não @s deixa de lado, e que a sociedade pode não aceitar a sua orientação sexual, mas que precisam aceitá-l@s como gente.

    Fiquei mais apaixonada pela luta do MTST, pelo comprometimento com a sociedade. A luta é por uma moradia digna para tod@s, sejam homens, mulheres, lésbicas, homossexuais, trans, crianças, idosos. A diversidade está presente e é aceita nas ocupações como teria de ser em qualquer lugar.

     

  • O “democrático” Arouche e o brega de raiz

    O “democrático” Arouche e o brega de raiz

    A cada ano em que a programação da Virada Cultural é divulgada, pelo menos um palco já tem o seu espaço garantido pela curadoria e nos corações e mentes do público: o do Largo do Arouche. Se a Virada Cultural reivindica um discurso de diversidade cultural, contemplando diversos gêneros musicais, o palco do Arouche, destinado ao “brega”, seria o espaço da diversidade dentro da diversidade, não à toa localizado em um ponto da cidade historicamente associado à diversidade sexual.

    Afinal, o que têm em comum a cantora Ludmilla(foto acima), que se apresentou no domingo 21, às 09h, nesse palco, e o cantor Agnaldo Rayol, que a sucedeu? Esta salada aparentemente democrática reflete a própria falta de precisão do que se convencionou chamar de “brega”. Mais do que um gênero musical homogêneo com algumas variações, o “brega” é fruto de lutas simbólicas que definem, por meio de complexos processos de legitimação, o que é de bom gosto e o que é de mau gosto.

    Bastante associado ao romantismo exacerbado, o “brega” encontra guarida em gêneros como o bolero, o sertanejo, o pagode, entre outros. Mas não se pode dizer que todas as atrações do Palco Arouche sejam propriamente românticas.

    O Palco Arouche seria visto, assim, muito mais como um não-palco, como um lugar de liberdade que acolheria shows que não se enquadram em outros palcos, por isso tamanha diversidade. Mais do que isso, é um palco visto muitas vezes na ótica do deboche, do humor. Seria o gueto onde as pessoas poderiam não se levar tão a sério e curtir aquela música que muitos têm vergonha de admitir que curtem.

    De certa forma, o show de Fábio Jr. no Palco Júlio Prestes representou uma invasão territorial do Arouche ao palco consagrado tradicionalmente aos grandes medalhões da MPB ou a jovens — e não tão jovens — cantores politizados. Curiosamente, a cantora Perla, após desabafar que não queria apenas cantar “sobras”, ou seja, versões de músicas estrangeiras, tidas essencialmente como bregas, interpretou magistralmente a canção ”Sonhos” (1977), de Peninha, o mesmo compositor de “Alma Gêmea” (1994), cantada por Fábio Jr. no Palco Júlio Prestes, e de “Sozinho”, lançado em 1997 em versões de Tim Maia e de Sandra de Sá (como “Sozinha”) e transformado em sucesso nacional no ano seguinte pelo medalhão Caetano Veloso.

    Foto: Pedro Alexandre Sanches

    Perla traz um pouco do Brasil paraguaio à Virada (foto Eduardo Nunomura)

    Mas estaria a cota da música mais popular sendo contemplada com a programação do Arouche?

    Fazendo um retrospecto da programação desse palco, verifica-se que as atrações mais populares que nele cantaram ao longo das edições da Virada firmaram suas carreiras nas décadas de 1970 e 1980: é o caso de Reginaldo Rossi, Wando, Katia, Bartô Galeno, Márcio Greyck, Rosana, Sidney Magal, Elymar Santos, entre outros. No entanto, caminhando pelas ruas do centro na madrugada de sábado para domingo, os artistas que mais se escutam no circuito off-Virada, saindo de caixas de som de botecos e de sistemas de som de carros, são cantores sertanejos como Eduardo Costa, bandas de forró eletrônico como Aviões do Forró e Calcinha Preta, o arrocha e a sofrência de Pablo. Se o funk já foi contemplado na Virada Cultura — e o pagode dos anos 90, em doses homeopáticas –, o mesmo não se pode dizer destes artistas.

    O forró que se toca no palco oficial da Virada é o considerado “tradicional”, “pé de serra”, “raiz”, “autêntico”, aquilo que um pensamento de origem romântica, folclorista e nacional-desenvolvimentista entende como “legitimamente popular”, em contraposição à cultura de massa, “contaminada” pela indústria cultural e alienante. Da mesma forma, no arraial da Inezita Barroso, na praça da República, para fazer jus à ideologia da homenageada, o “sertanejo raiz” imperou, até mesmo no discurso de Pedro Bento e Zé da Estrada, dupla acusada de desvirtuar as raízes da música caipira ao incorporar influências das músicas mexicana e paraguaia.

    Foto: Pedro Alexandre Sanches

    Até Cezar & Paulinho, da única dupla de sertanejo moderno programada, afirmaram o discurso do sertanejo de raiz, raiz temporalmente manipulada. Emblemático é o fato de que Inezita Barroso (1925–2015) foi homenageada, com todos os méritos, mas José Rico (1946–2015), da dupla com Milionário, foi sumariamente ignorado.

    Seriam os cachês de todas as bandas de forró eletrônico, cantores de arrocha e sertanejo impagáveis ou muito superiores aos pagos para os artistas contratados pela Virada? Esses artistas, ouvidos inclusive nas caixas de som de uma ocupação do movimento de moradia durante a madrugada da Virada, seriam alienantes? Ou seriam vistos como artistas que já encontram seu espaço no mercado e não precisariam ou mereceriam ser reconhecidos pelo Poder Público? O critério se aplica aos outros artistas contemplados na programação? Por que programar os shows dos poucos artistas mais populares da atualidade longe do centro?

    Se artistas da chamada nova MPB como Céu e Tulipa Ruiz convivem com os da geração da década de 1970 na Virada, o mesmo não se pode dizer em relação aos considerados “bregas”. Alguns artistas parecem, assim, marginais entre marginais, ao ponto de não encontrarem espaço nem no democrático Palco Arouche. Talvez porque o brega do Arouche já não seja tão ameaçador disputando espaço com a legítima MPB e já tenha virado cult, “de raiz”. Os fãs de Joelma e Chimbinha podem ficar tranquilos. A participação dos artistas na Virada Cultural está garantida. Em 2035.

    (Danilo Cymrot é pesquisador cultural, Mestre e Doutor em Direito pela USP, onde defendeu dissertação sobre a criminalização do funk. Com o nome artístico Danilo Dunas, é cantor, poeta, compositor e sanfoneiro.)


    Conheça os Jornalistas Livres, financie a mídia independente: www.catarse.me/jornalistaslivres

  • Parada do orgulho LGBT de Guarulhos proibida

    Parada do orgulho LGBT de Guarulhos proibida

     

    Foi aprovada na quarta (11/06) na Câmara de Guarulhos com nove votos a favor, oito contrários e uma abstenção, a apreciação do Projeto de Lei da vereadora Dona Maria (PT), que proíbe a realização da Parada do orgulho LGBT “em vias e logradouros públicos” da cidade. A proibição estende-se a eventos similares que utilizem“carros de som, trios elétricos e artistas da noite que promulgam e defendam o comportamento homossexual” . A possível vitória dessa PL, quando voltar para votação do plenário, vai dar a Guarulhos o sórdido título de primeira cidade a institucionalizar a homo-lesbo-bi-transfobia no Brasil.

    O setorial LGBT do PT se apressou em pedir a cassação da vereadora Dona Maria que, em sua fanpage, se apresenta como “uma mulher de DEUS a serviço dos cidadãos e cidadãs abençoados”. Em nota ao partido e aos parlamentares petistas de Guarulhos, o setorial escreveu que “Não há espaço no PT para militantes que incitem a intolerância e que afrontem os direitos humanos. O Setorial LGBT do PT exige a retirada imediata do projeto e defende que vereadora seja submetida ao Conselho de Ética, recomendando sua expulsão.”

    Viviany Beleboni, a modelo e atriz transexual que realizou a performance desfilando crucificada na 19° Parada do Orgulho LGBT não poderia imaginar a repercussão e a reação imediata das bancadas católica e evangélica contra aquilo que classificaram como “Cristofobia”.


    “Cristofobia? Medo de Cristo? Isso não existe. Deus ama a todos, a todos… eu estava interpretando eu mesma e representando os GLBT que são vítimas de preconceito. É chocante porque a realidade que vivemos é chocante” diz Viviany.

     


    A explosão religiosa em “defesa de Cristo” constitui-se em mais um fato em uma sequência de ataques que tem como objetivo minar direitos, anular conquistas e impedir novos avanços na luta pelos direitos civis de populações socialmente vulneráveis. E a justificativa é sempre a mesma: defender uma “família” que elegeram como a natural e cristã — descendentes de Adão e Eva, imagem fiel do modelo Maria, José e Jesus Cristo. É o que o Projeto de Lei 6583/13, o chamado Estatuto da Família quer definir.

    Em 26 de março a frente parlamentar formada por católicos, evangélicos e bancada da bala, com apoio de aproximadamente 80 deputados apresentou um projeto de decreto legislativo com o objetivo de derrubar uma resolução do Conselho Nacional de Combate à Discriminação de LGBT que prevê a adoção do chamado “nome social” em escolas e em concursos públicos.

    Dia 11, sob pressão dos fundamentalistas católicos e evangélicos, o projeto original do Plano Municipal de Educação de São Paulo, que previa o combate à discriminação por identidade de gênero e orientação sexual, foi derrotado e um outro, aprovado, de onde foram excluídas todas as referências a gênero e orientação, com a exclusão também de expressões como ‘diversidade’, ‘transexual’ e ‘travesti’

    Além da PL de Dona Maria, outros projetos já foram apresentados nos dias subsequentes da parada.

    O líder do PSD na Câmara Federal, o evangélico Rogério Rosso, apresentou em 08/06 um PL que quer tornar crime hediondo o ‘ultraje ao culto’ com pena de até oito anos de prisão para quem praticá-lo: “A intenção desse projeto de lei é proteger a crença e objetos de culto religiosos dos cidadãos brasileiros, pois o que vem ocorrendo nos últimos anos em manifestações, principalmente LGBTs, é o que podemos chamar de “Cristofobia”, com a prática de atos obscenos e degradantes que externam preconceito contra os católicos e evangélicos”, escreveu o deputado no projeto de lei.

    O presidente da Câmara dos deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), prometeu colocar em regime de urgência a votação do PL da “Cristofobia”. Cunha é um dos 40 acusados de envolvimento na operação Lava Jato e também autor do vergonhoso projeto para a instituição do “Dia do Orgulho Heterossexual” no Brasil.

    Outro PL foi apresentado no dia 10 pela vereadora Pastora Luciana da bancada evangélica do Partido Progressista de Manaus, que propõe que “atitudes discriminatórias contra a religião cristã” sejam punidas na capital amazonense.

    Também no dia 10, parlamentares católicos e evangélicos protestaram não só contra a Parada do Orgulho LGBT, mas também contra a Marchas das Vadias e Marcha da Maconha. Gritando com cartazes com supostas cenas desses eventos, rodearam o evangélico-mór Eduado Cunha, e de mãos dadas rezaram o Pai Nosso, ofendendo o laico das instituições republicanas brasileiras.

    Em nota, o Cardeal Arcebispo Dom Odilo Scherer se uniu aos evangélicos contra a tal “Cristofobia”:

    “Nós, Bispos Católicos das Dioceses do Estado de São Paulo, reunidos na 78ª Assembleia do Regional Sul I da CNBB, diante dos acontecimentos da recente “parada gay 2015”, ocorrida na cidade de São Paulo, com claras manifestações de desrespeito à consciência religiosa de nosso povo e ao símbolo maior da fé cristã, Jesus crucificado”

    As bancadas católica e evangélica são compostas por 78 representantes e superam bancadas importantes da Câmara como a sindical ou a feminina, com 51 integrantes cada uma. Com o Congresso mais conservador desde 1964, o PL da “Cristofobia” tem grandes chances de ser aprovado.

    ‘Cristofobia’ assim como ‘Ideologia de Gênero’ são expressões usadas por fundamentalistas religiosos para desqualificar manifestações e lutas por direitos civis. É uma cruel ironia que não contém aquilo que eles dizem defender: o amor cristão.

    O futuro da democracia no Brasil está ameaçado. O Estado laico está sob ataque furioso de uma nova ofensiva conservadora de viés neo-fascista que se torna perigosa quando os protagonistas são políticos teocráticos.

    É hora de unirmos forças!

  • Cadê o T da parada LGBT?

    LGBT-02
    Fotos Ennio Brauns

    Lésbicas, bissexuais, transexuais e travestis ficam sem espaço na maior parada LGBT do mundo, programada e dirigida ao público gay masculino.

    A maior parada LGBT do mundo há tempos vem sofrendo de uma aparentemente insolúvel crise de identidade, com a fragmentação de suas bases e a evasão das letrinhas L, B e T, que, não se sentindo representadas, realizam suas próprias marchas em contraponto ao megaevento popularmente chamado de Parada Gay. A sabedoria popular acerta em cheio no título de um evento que se pretende inclusivo, mas que na prática é pensado, programado e dirigido exclusivamente ao público gay.

    Lésbicas e bissexuais há 11 anos já realizam suas próprias marchas, sem muitos patrocínios, o que faz com que a ausência de trios e cenários mirabolantes coloque todo mundo no chão da rua, no mesmo nível e na mesma sintonia. Neste ano, as mulheres feministas da marcha convidaram oficialmente travestis e mulheres transexuais lésbicas não só para a caminhada como também para a construção do evento. A voz das mulheres ecoou firme no espaço publico das ruas onde os direitos civis devem ser conquistados.

    LGBT-03
    Manifestantes trans na Parada LGBT de 2003

    A APOLGBT (Associação da Parada do Orgulho LGBT) funciona o ano inteiro enquanto entidade e só faz um evento anual, com debates, premiações e apresentações culturais alguns dias antes da manifestação de rua. Se isolou do processo político de suas bases, principalmente com relação à evolução do movimento organizado de travestis e transexuais. “É bem capaz de eles nem saberem que existe um movimento organizado de homens trans”, diz a antropóloga Regina Faccini que esteve à frente da APOLGBT junto com Alexandre Peixe, homem trans conhecido como Xandi. Segundo Regina, “a primeira (e única) parada que pautou a visibilidade de travestis e transexuais foi a de 2003, a Parada do 1 milhão de participantes, que paradoxalmente se chamou ‘Construindo políticas homossexuais ’”.

    Regina prossegue: “Naquele momento, as pessoas à frente da entidade pareciam querer contribuir e respeitar as travestis e transexuais que ali militavam, mas não havia ainda acúmulo de reflexão que indicasse que ‘políticas homossexuais’ talvez não contemplassem as pessoas agrupadas sob o T. Na verdade, é como se as coisas tivessem mudado rápido demais e estivessem mudando numa velocidade gigantesca nos últimos anos, especialmente no que diz respeito às pessoas travestis e transexuais nos. Estou falando de algo que aconteceu há 12 anos”.

    LGBT-04

    De fato, homossexualidade diz respeito à orientação sexual, expressa nas letras L (lésbicas), G (gays) e B (bissexuais). É diferente de identidade de gênero, que diz respeito às demandas pertinentes aos segmentos de travestis, mulheres transexuais e homens trans. Essa disparidade de demandas sempre se refletiu no esvaziamento da representatividade da parada com relação à comunidade T, que no final do ano passado realizou, no dia 16 de dezembro, a I Marcha pela Cidadania T, por ocasião da abertura do IX Encontro Regional Sudeste de Travestis e Transexuais.

    LGBT-05

    O próprio tema escolhido pela organização como bandeira de luta, “Eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim, respeitem-me!”, embora tente trazer uma resposta à chamada “cura gay” e reforçar que a homossexualidade não é “opção sexual”, remete a uma explicação genética que é questionável e não representa a comunidade T.

    LGBT-06“A gente não nasce de forma alguma (com personalidade definida), a gente simplesmente nasce”, declara Luciano Palhano, do Ibrat (Instituto Brasileiro de Transmasculinidade), “e vai ao longo do tempo se socializando, se adaptando ou não às normas de gênero hegemônicas na sociedade. Pessoas Ts, ao se descobrirem inadaptados ao seu corpo e ao gênero designado quando nasceram, vão ao longo da vida reconstruindo sua identidade corpórea e de gênero. Simone de Beauvoir crava uma verdade inabalável: não se nasce mulher (ou homem), torna-se”.

    E lá vai a carreata com seus corpos coloridos e sexualizados: drags, transexuais e travestis são mer@s corpos-objetos de enfeite, chamarizes exóticos para uma manifestação que perdeu representatividade e legitimidade perante sua própria comunidade. Sem fazer qualquer juízo de valor à caracteristica carnavalesca da Parada do Orgulho lGbt, porque celebrar e assumir publicamente o desejo é um ato político, e não podemos esquecer que não é só de pão e circo que vive uma pessoa LGBT.

    A cantora transexual Renata Peron, alguns dias antes da parada, soltou uma nota pública denunciando a organização por recusar o seu tradicional número de cantar o Hino Nacional no início do evento. Liberaram depois que a nota pública repercutiu nas redes sociais.

    Neste ano, o Fórum de Travestis e Transexuais conseguiu com muito custo um carro — que funcionou, pois no ano passado o que foi disponibilizado teve problemas mecânicos e não saíu do lugar. Também em 2014, pela primeira vez, foi incluído no tema da Parada a palavra transfobia: “País vencedor é país sem homo-lesbo-transfobia”. Aconteceu depois que a transfeminista Daniela Andrade, criou uma peticão on-line que obteve 6.500 assinaturas pedindo que o tema incluísse demandas da comunidade T.

    Kaká di Poly
    Kaká di Poly

    Assim que cheguei na paulista, a primeira pessoa que vi foi a Drag Kaká di Polly, figura emblemática que esteve presente em todas as paradas desde 1997. Ela contou como fez para que a 1° Parada do Orgulho LGBT de São Paulo acontecesse: “Eu deitei no chão pra parar o trânsito, porque a polícia nao queria liberar, justificando que tinha muita gente… Naquele tempo, sendo a primeira, era mesmo muita gente, umas mil pessoas”.

    Neste ano, ela reclama: “Virou um grande negócio, né? Olha eu aqui, com o pé quebrado… Mas não reclamo de estar no chão. Quem pode pagar 1.500 reais por uma camiseta que dá acesso aos trios? A cidadania não está lá, está aqui, dançando na rua”.

    LGBT-08

    Resolvo seguir o conselho de Kaká e permanecer no chão, embora o crachá de imprensa dê acesso a todos os carros. Vamos nos misturando à multidão, eu e o meu velho parceiro Ennio Brauns, espremidos nas calçadas pelos cordões de segurança, que preservavam um espaço interno grande e vazio ao redor dos carros, diminuindo excessivamente os espaços laterais por onde passavam os pedestres. Há uma multidão diversa de pessoas de todas as etnias, estilos, faixas etárias, mas predominantemente de periferia, que ocupavam o coração financeiro de São Paulo naquela manhã de sol de inverno, comemorando (ou não) o dia do Orgulho LGBT.

    LGBT-09

    Chegamos enfim ao carro 6, do Fórum Municipal de Travestis e Transexuais, e fiquei emocionado ao ver que uma foto minha ajudava compor uma linda e necessária homenagem à travesti Verônica Bolina, trazendo para a avenida a urgência do tema da transfobia de que foi vítima nossa companheira, torturada e espancada dentro das dependências de uma delegacia pelos próprios agentes que deveriam, por lei, preservar a integridade física dela.

    LGBT-10A propósito, a tradicional entrevista coletiva de imprensa, que acontece horas antes da Parada e reúne entre outras autoridades o governador, o prefeito e representantes da APOLGBT, foi marcada por um ato político. O repórter Victor Amatuci, do blog Imprença e dos Jornalistas Livres, exibiu o áudio de um depoimento no qual Verônica Bolina afirmava que não havia sido torturada e entregou um dossiê sobre o caso, exigindo do governador Geraldo Alckmin (PSDB) providências imediatas na apuração dos culpados.

    Subimos no carro das mulheres transexuais e travestis, que pela primeira vez podem exibir seus corpos e cidadania reconstruídos. De lá, vi uma pequena ilha de homens trans, perdidos num mar de gente… São eles, meus pares políticos. A última fronteira de resistência. Existimos.

    LGBT-11

    Exibimos também nossos corpos transformados: tórax formatados, enfaixados, envelopados… Cicatrizes ostentadas com orgulho. Pequenos peitos redondos enfeitam o tórax de Heitor Marconato, provando que não é necessário submeter o corpo a nenhuma cirurgia para ser quem se é. Cada ser transexual adapta seu corpo conforme sua necessidade. Somos dissidentes e não vamos ceder às normas.

    Luciano Palhano, o coordenador do Ibrat, exibe seu corpo negro e generoso. Xandi, que um dia foi o presidente da APOLGBT, continua firme na sua militância e marcha orgulhoso. Outr@s companheir@s carregam faixas e cartazes numa microparada de orgulho T.

    Desço imediatamente e vou ao encontro d@s brav@s guerreiros do asfalto. Encontro surpreso um garoto que há alguns dias não queria assumir sua transexualidade, mas que desta vez exibe com orgulho seu peito enfaixado, carregando nas costas o filho, ao lado da esposa sorridente. Vamos juntos arrancar das mãos do Estado patriarcal nosso direito a existir. Somos poucos e frágeis, mas juntos somos fortes. Encontrei enfim o minúsculo t dessa sopa de letrinhas.

  • População na Irlanda aprova casamento igualitário e coloca em xeque o poder da Igreja

    População na Irlanda aprova casamento igualitário e coloca em xeque o poder da Igreja

     

    Foto: Pedro Machado

    62% dos irlandeses disseram sim em uma decisão inédita tomada por decisão popular

    Quem andou pelas ruas da Irlanda nos últimos meses se deparou com uma disputa de espaço entre placas de Sim e Não. Isso porque o dia 22 de maio de 2015 já entrou para a história do país. Um referendo inédito no mundo colocou nas mãos da população o poder de decidir pela aprovação, ou não, do casamento civil igualitário, o famoso casamento gay.

    Foto: Caio Bibiano

    Com 62%, a vitória do Sim foi chamada de “esmagadora” por jornais irlandeses e também em um comunicado do tradicional partido de esquerda, o Sinn Féin.

    A Irlanda, que até 1993 criminalizava a homossexualidade, acaba de entrar para o grupo de apenas 20 países, que desde 2010 inclui o Brasil, onde pessoas do mesmo sexo estão asseguradas perante a lei para se casar.

    Na Irlanda, o voto não é obrigatório. Mesmo assim, mais de 3,2 milhões de eleitores foram às urnas no país, e em somente uma região, entre as 43 áreas de votação, o Sim perdeu. A adesão da juventude foi massiva e importante para a campanha chamada Yes Equality. A mais famosa drag queen da Irlanda, Panti Bliss, codinome para o ativista irlandês Rory O’Neill, 47, lembra que os últimos meses foram difíceis para gays, lésbicas e transexuais irlandeses. “Quando andávamos pelas ruas e víamos as placas de Não, parecia algo pessoal, pois as pessoas estavam falando sobre você e muitas vezes te desvalorizando”.

    A campanha pela igualdade ganhou ainda mais visibilidade quando, no começo deste ano, o atual ministro da saúde, Leo Varadkar, assumiu publicamente sua homossexualidade. Pelas ruas, voluntários se empenharam em pedidos de voto, reuniões, comícios e, inclusive, batendo de porta em porta. Panti conta que foi encorajador ver a comunidade gay se unindo e recebendo apoio de mães, estudantes e heterossexuais.

    União Civil versus Casamento Igualitário

    Na Irlanda, desde 2010, gays e lésbicas já podem praticar a união civil, porém, há diferenças entre união civil e casamento como a proteção do segundo pela Constituição e a adoção de crianças, o que levantou grande parte da polêmica entre Sim e Não.

    Foto: Caio Bibiano

    Com a vitória do Sim, anunciada em clima de festa no Dublin Castle, região central de Dublin, capital do país, na tarde do último sábado, 23, o passo seguinte será a alteração do artigo 41 da Constituição. A partir de então, haverá uma especificação, na qual o casamento se dará, de acordo com a lei, entre duas pessoas sem distinção de sexo. O governo estima que entre todos os trâmites, a atualização deve entrar em vigor em cerca de três meses.

    Na Irlanda, toda emenda constitucional é colocada em votação pública. Também na última sexta-feira, 22, irlandeses decidiram por manter a idade mínima de 35 anos para ser presidente do país, indo contra a proposta de redução para 21 anos de idade.

    Pesos e Medidas

    De um lado, a campanha em prol do casamento igualitário pedia igualdade de direitos, ressaltando que se trata de um casamento civil e, portanto, não afetaria matrimônios religiosos. Do outro, a campanha pelo Não reivindicava o direito de uma criança ter um pai e uma mãe, entre outros argumentos.

    O período de campanha foi marcado por polêmicas de diversas naturezas. Em placas espalhadas pelo país, uma imagem sem autorização foi associada ao Não. No entanto, pai e mãe que aparecem na fotografia se manifestaram em um comunicado oficial, esclarecendo que além de não terem permitido o uso da imagem, apoiam o casamento igualitário.

    Entre os argumentos do Não, insinuaram, por exemplo, que a aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo poderia abrir uma brecha e que, no futuro, poderia ser aprovada uma lei para barriga de aluguel, o que criaria um tipo de mercado para “encomenda de crianças”.

    Tradição Religiosa

    Com a vitória do Sim, há preocupação por parte da Igreja Católica, que já esboça uma reação à resposta do plebiscito irlandês considerando fazer “uma revisão da realidade”, de acordo com entrevistas concedidas pelo bispo Diarmuid Martin. Posicionamentos de católicos como o do auditor fiscal Rob Hanlon, 26, é um exemplo. Para Hanlon, “a orientação sexual de uma pessoa não pode defini-la aos olhos da lei. Não há motivos para eu poder casar e alguns dos meus amigos não”, diz.

    A juventude questionou paradigmas de tradição na hora de votar. Andrew Keneddy, professor, 26, diz, “eu não considero opiniões religiosas em questões sobre igualdade”, afirmou.

    “A sua religião não deve afetar a felicidade dos outros. Se eu tiver filhos homossexuais quero que eles possam se casar com quem amam e sejam vistos como um casal perante a Constituição”.

    Hillary Fagan, jornalista e membro do grupo religioso Mothers and Fathers Matter, diz que na própria Constituição consta que “nenhuma autoridade é maior que a da família”, e o casamento seria o início da criação de uma família. “É a união entre um homem e uma mulher com o objetivo de procriar. Não queremos que isso seja alterado”.

    Para a enfermeira e eleitora do Não, Lucy McDonald, 57, a preocupação em “proteger as crianças” a motivou a votar contra o casamento igualitário. Mesmo motivo de sua colega de profissão, Karen Ludden, 24. “Não sou contra gays, mas devemos preservar o direito natural de crianças terem um pai e uma mãe”, diz.

    Foto: Acássia Deliê

    A influência do cristianismo na Irlanda é confirmada por números. No último censo, de2011, 90% da população se declarou cristã, sendo 84% da Igreja Católica Apostólica Romana. O cristianismo está enraizado na cultura irlandesa de modo que a festa mais conhecida do país é a comemoração do Dia de São Patrício, santo católico e padroeiro da Irlanda. Além disso, a maior parte das escolas públicas é administrada por membros da Igreja.

    Uma vez que a Igreja Cristã considera a homossexualidade pecado, organizações religiosas envolveram-se diretamente na campanha em prol do Não, entre outros motivos, baseadas nas suas convicções de fé. O pastor Samuel Mawhinney, da Igreja Presbiteriana, diz que a definição de casamento dada por Deus, no livro Gênesis, da Bíblia, corresponde a uma união entre um homem e uma mulher. “Jesus reforçou isso nos evangelhos e o apóstolo Paulo usou o casamento entre homem e mulher para representar a relação entre Jesus Cristo, o noivo, e a Igreja, a noiva. Para mim, isso é casamento”.

    Mawhinney não hesita em justificar sua campanha em crença religiosa. Porém, rebate o argumento de que a Igreja não deve se envolver em uma questão sobre direitos civis. Para ele, uma vez inserida na sociedade, a Igreja também deve participar do debate. “Mesmo entre cristãos, muitos acreditam que Estado e Igreja devem ser totalmente separados. Eu acredito que Deus está na sociedade, mesmo que a sociedade ignore o que Ele diz.”

    “A Irlanda não é governada pela Igreja Católica”, Panti Bliss

    Em um texto para o jornal irlandês The Independent, Panti defendeu que a Irlanda não é um país governado pela Igreja Católica. E depois de visitar o Dublin Castle, onde o anúncio oficial do governo irlandês foi feito em uma tarde de sol com direito a arco-íris no céu, a drag queen foi recebida com salvas de palmas e clima de festa em seu pub, Pantibar, na região central da cidade. Uma multidão se aglomerava no cruzamento aos gritos de “Queen of Ireland” (Rainha da Irlanda), que também escreveu, “essa é uma luta de mais de 40 anos, e eu sinto como se tivesse pedido a Irlanda em casamento, e todos me disseram sim!”.

    Colaboraram: Fernanda Machado e Mariana Gasparetti

    Foto: Pedro Machado