Jornalistas Livres

Categoria: LGBT

  • Leo Nardi, 16 anos, estudante, homem trans e uma história de resistência

    Leo Nardi, 16 anos, estudante, homem trans e uma história de resistência

    Leo Nardi, homem Trans de 16 anos, foi ameaçado de expulsão pela diretora do colégio Fernão Dias Paes onde estuda, depois que tirou a camiseta numa festa da turma do terceiro ano – era o conhecido “trote da troca”.

    Na opinião de Leo, a E.E. Fernão Dias Paes, em São Paulo, parece não estar preparada para receber estudantes trans.

    Dias antes, Leo e um grupo de alunos explicaram para a diretora e alunos da escola que tratava-se de um evento preconceituoso que fariam  piadas lgbtfóbicas. Mas a conversa de nada adiantou e a festa aconteceu.

    No dia da festa, Leo subiu no palco e fez um protesto tirando a camiseta e exibindo o corpo com a frase: “Minha disforia não é piada.” A diretora ligou para a mãe de Leo dizendo que ele seria expulso porque “tirou a roupa e invadiu uma festa do 3° ano”. Vale lembrar que se ele fosse um homem cisgênero isso seria considerado normal.

    Leo conseguiu ha poucos meses, depois de muita luta, incluir seu nome social na lista de chamada, mas disse que todos os dias acontece um novo episódio de transfobia, porque alguns professores não respeitam o nome social das pessoas trans. ‘O professor de matemática Diego disse que nós éramos meninas que queríamos ser ‘machões’ que isso não estava certo porque não temos idade para sabermos o que queremos da vida.”

    Os problemas familiares começaram quando a mãe descobriu que Leo se atraia por mulheres. Com 13 anos ele passou por um quadro de depressão  profunda…”eu ficava trancado no quarto o dia todo “.

    Desde criança Leo nunca se sentiu como uma mulher, mas não sabia nomear o que sentia. Depois das ocupações das escolas, durante a tentativa do governo de implantar o projeto de reorganização escolar, Leo começou a pesquisar sobre sua condição, a partir daí, descobriu e assumiu sua transexualidade. O mais triste é que sem apoio familiar Leo pretende largar os estudos: “Eu não sei se vou continuar na escola acho que eu pretendo sair porque vou ter que me manter sozinho agora vai ser difícil manter essa relação escola x trabalho”.

    Em 2015, o homem trans Samuel Silva foi expulso da faculdade Cásper Libero acusado de agressão a um coordenador de classe que o tratou no feminino. Também no ano passado fundamentalistas religiosos aliados a políticos conservadores conseguiram retirar dispositivos do Plano Municipal de Educação, que eles nomeiam como “ideologia de gênero”, que tinham como objetivo combater a Lgbtfobia nas escolas.

    O estudante Leo Nardi e o repórter Léo Moreira Sá, ambos homens trans, na E.E Fernão Dias Paes.
    O estudante Leo Nardi e o repórter Léo Moreira Sá, ambos homens trans, na E.E Fernão Dias Paes.

    Isso tende a piorar o quadro de precariedades que afetam a comunidade de travestis, mulheres transexuais e homens trans negando a essa população o direito à educação e a cidadania plena. Muitas pessoas trans não suportam a pressão da transfobia institucionalizada nos ambientes educacionais e acabam saindo da escola. O resultado é evidente: uma imensa maioria só consegue espaço profissional no mercado informal sobrevivendo de subempregos ou da prostituição.
    “Essa escola e muitas outras não são ambientes para pessoas que estão dispostas a uma democracia com liberdade. É um meio excludente.” concluiu Leo Nardi.

    Texto: Leo Moreira Sá/Jornalistas Livres

    Vídeo: Katia Passos/Jornalistas Livres

     

  • Primeiro ‘DebateBoca’ entre candidat@s transexuais faz história     

    Primeiro ‘DebateBoca’ entre candidat@s transexuais faz história     

    Por Leo Moreira Sá e fotos de Lina Marinelli, especial para os Jornalistas Livres

    O DebateBoca fez história ao realizar o primeiro debate entre candidat@s trans a vereador@s de São Paulo. Produzido pela Rede Jornalistas Livres e mediado pela jornalista Larissa Gould, o encontro aconteceu no dia 03 de agosto no teatro Heleny Guariba, reunindo fortes candidat@s de linhas políticas antagônicas: a professora de filosofia Luiza Coppieters (Psol) e o ator Thammy Miranda do Partido Progressista (PP). Num momento em que fundamentalistas religiosos e políticos ultraconservadores trabalham para minar direitos adquiridos e barrar o avanço dos movimentos sociais, o protagonismo de travestis e transexuais na arena política se mostra extremamente importante.

    “O papel de uma vereadora que tem um gabinete na Câmara Municipal, que tem quase o mesmo poder de um deputado federal, é se colocar como interface das pessoas, de movimentos sociais, que tem demandas políticas, demandas no campo do trabalho, saúde, educação e da renda, para que aí sim a gente se fortaleça. “disse em seu discurso de apresentação a professora de filosofia Luiza Coppieters. Muito bem articulada, defendeu com maestria sua posição política baseada na ideia de que uma candidatura para ser legítima deve ser reconhecida pela comunidade para a qual se deseja fazer representar.

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    Ativista transfeminista lésbica, Luiza mantém um diálogo intenso não só com a comunidade de travestis, mulheres transexuais e homens trans mas também com a comunidade de mulheres lésbicas e bissexuais . Seu partido abriga Jean Wyllys, o único deputado federal assumidamente gay do Brasil e atualmente conta com cerca de 9 candidat@s e pré-candidat@s travestis e transexuais a vereador@s em todo país.

    Em contraposição, o PP abriga figuras deploráveis do cenário político brasileiro, como Paulo Maluf, e já foi ninho de Jair Bolsonaro, agora membro do PSC, o pior inimigo da comunidade LGBT. O PP também foi parte da base de apoio à ditadura militar, quando se chamava ARENA.

    “Não sou político e nunca fui, e se eu entrar (como vereador) também não serei. Deixei de fazer uma novela, para fazer algo pelo povo.”
    Com essas palavras, apoiado em seu capital de celebridade midiática, o ator carioca Thammy se lança candidato a vereador de São Paulo depois de recusar um papel oferecido pela dramaturga Glória Perez em sua nova novela que será lançada em 2017. Ele justificou sua decisão dizendo que se fizesse a novela estaria beneficiando a si próprio e se lançando candidato teria a possibilidade de “fazer algo pelo povo”.

    Indagado pela candidata do Psol sobre como ele faria para construir suas plataformas dentro de um partido que tem uma posição de direita conservadora, com um histórico de alianças com fundamentalistas religiosos e políticos interessados em barrar o avanço das conquistas de direitos humanos das ‘minorias’ em especial da comunidade LGBT, ele respondeu que “pra mim não tem partido, tem o que eu penso.”

    Alexandre Peixe, membro do IBRAT – Instituto Brasileiro de Transmasculinidade e da ANTRA – Associação Nacional de Travestis e Transexuais, disse que nenhuma das entidades que representam a comunidade T foi procurada pelo candidato do Partido Progressista.

    “Pra mim pessoalmente e como membro do IBRAT ele não representa os homens trans. Ele não está preparado e não sabe nem o que está fazendo aí. Ele não sabe o que é ser político, porque não dá para dizer que você vai entrar na política sem ser político. Ele será engolido e será massa de manobra do partido para conseguir votos para a legenda”,  declarou Alexandre Peixe

    Captura de Tela 2016-08-11 às 13.02.57Érick, um dos gêmeos criadores da página “Moça, você é machista”, compartilha da mesma opinião:

    “Eu acredito que o Thammy Gretchen não representa os homens trans porque ele não entende a demanda, não dialoga com a militância. Ele tem uma outra visão de vida porque ele veio de uma outra realidade. Achei que ele foi péssimo (no debate) e a priori me parece uma pessoa muito despolitizada”

    Em seu discurso politicamente bastante limitado, Thammy Miranda utiliza sempre o “eu” e em nenhum momento fala em “nós”: “eu não vou mudar meu jeito pra agradar ninguém, meu jeito é assim mesmo”. Quando fala da comunidade que deseja representar ele diz “os transexuais”, “os homens trans”. Quer impor uma candidatura que não se legitimou porque não se aproximou do movimento social e não ouviu seus pares políticos. Está num partido que tem um histórico ultraconservador e que tem se aliado aos fundamentalistas religiosos em várias situações. Se vale de uma espécie de “culto à personalidade” – dispositivo bastante usado em ações políticas autoritárias, e infelizmente tem grande possibilidade de arrecadar muitos votos para o seu partido.

    O coordenador nacional do IBRAT, Lam Matos também se mostrou muito preocupado depois do debate. Disse que o Thammy está despreparado, que não tentou se atualizar com o movimento social e apenas ouviu alguns homens trans que não são da militância. Pontuou que é uma pena ele não não ter se aproximado para ouvir a comunidade trans porque com sua visibilidade e espaço na mídia ele poderia ajudar muito.

    “Ele está na beira de causar um desastre com isso tudo. Ele não representa os homens trans, ele não tem uma articulação com a gente e é muito inexperiente, Essa inexperiência pode atrapalhar muito o movimento de homens trans nacional e dentro de São Paulo. Eu estou muito preocupado com o que pode acontecer depois desse debate.” desabafou Lam Matos.

     

     

  • Lugar de travesti e transexual é na política!

    Lugar de travesti e transexual é na política!

    Nesta quarta-feira, (03) às 20h, será realizado o DebateBoca, a primeiro encontro público promovida pela Rede Jornalistas Livres entre candidat@s trans a vereador@s de São Paulo, que tratará sobre Políticas Públicas para a população LGBT. O debate será entre a professora de filosofia e ativista feminista Luiza Coppieters pré-candidata do Partido Socialista (Psol) e o ator e empresário Thammy Miranda, candidato pelo Partido Progressista (PP). No mesmo local acontecerá no próximo dia 10 o debate entre candidat@s negr@s e no dia 17 entre candidat@s mulheres.

    T4“A gente precisa se unir. Temos uma série de demandas e bandeiras em comum. A gente tem que sair às ruas, se organizar, construir um discurso e ter a força para lutar contra esse poder conservador que está tomando conta de todas as instituições políticas. Nós como uma minoria atacada cotidianamente e vamos acabar perdendo os direitos que já adquirimos. Temos que nos unir para juntos sermos a resistência contra o governo golpista (do presidente interino Michel Temer)”

    Essas são as palavras da mulher transexual lésbica Luiza Coppieters, professora de ensino médio do Colégio Anglo por 6 anos, que foi demitida no ano passado após assumir sua transexualidade. Ela conta que após a transição ocorrida em 2014, a escola foi fechando seu espaço, cortando aulas e diminuindo seu salário, como forma de pressão para que ela se demitisse. Este clima de opressão gerou um forte desequilíbrio emocional em Luiza que precisou se afastar do trabalho no começo deste ano para se submeter a um tratamento psíquico com diagnóstico de “síndrome do pânico”. Quando se preparava para retomar as atividades, Luiza recebeu a rescisão de contrato. Hoje filiada ao Psol, se prepara, se for eleita, para representar a comunidade LGBT, em especial a comunidade de travestis, mulheres transexuais e homens trans na Câmara Municipal de São Paulo.

    T5Para o ator homem trans Thammy, a prioridade ” é a viabilização para que trans façam a mudança de nome. É importante também reorganizar a fila de cirurgia da mastectomia (retirada das glândulas mamárias). Ter estrutura para os psicólogos no SUS. Segurança para essas pessoas. Muitas coisas importantes”.

    Thammy, no início desse ano, recusou um papel na nova novela da Glória Perez, que entre outros temas irá abordar a transexualidade, para ser o coordenador do núcleo da diversidade do PP, e sair candidato a vereador de São Paulo pelo partido, o mesmo do Jair Bolsonaro – o arquiinimigo da causa lgbt. A pergunta que fica é: como lutar por direitos para a comunidade LGBT, quando o partido abriga homotransfóbicos e tem uma agenda que exclui a luta por direitos humanos? Thammy terá que responder essa e outras perguntas referentes à sua atual posição política.

    T2Valeryah Rodrigues de 36 anos, que acaba de se tornar a primeira mulher transexual a conseguir oficializar a candidatar dentro dos 30% da cota destinada a identidades femininas, também é candidata a vereadora pelo PCdoB pela cidade São Paulo.

    “O que me levou a sair pré-candidata é a “necessidade de ter uma mulher T na Câmara para mudar a história e mostrar que nosso lugar é onde nós quisermos, para que mais e mais travestis e transexuais sintam-se empoderados”, declarou Valeryah pontuando que se sentiu abraçada e apoiada pel@s colegas do partido que a receberam muito bem, e disse que irá lutar por políticas públicas e pela criação de leis que realmente assistam à população trans.  Valeryah foi bolsista do programa Transcidadania, que oferece uma bolsa para travestis e transexuais voltarem a estudar, e, é coordenadora do instituto Nice de apoio a mulheres transexuais e mulheres travestis. Ela tem em seu histórico a violência transfóbica dentro de sua própria casa quando foi casada com um homem violento que a agredia com socos e pontapés. “A violência que eu nunca sofri na rua, eu sofri com o meu marido.”

    T3O homem trans Régis Vascon sairá candidato também pelo PCdoB na cidade de Campinas. Formado em Ciências Jurídicas é ativista há 16 anos, ele relata que teve muitos problemas ao assumir sua transmasculinidade quando fazia parte do corpo de guardas municipais de Campinas: “A transfobia que enfrentei e ainda enfrento foi a ponto de sofrer seis processos administrativos”.  E ele acredita que também por transfobia tenha sido exonerado do cargo de assessor jurídico do Centro de Referência LGBT de sua cidade onde trabalhou por 3 anos. Régis se lança candidato levantando a bandeira contra a transfobia e para fazer frente à “bancada religiosa e reacionária que cada vez mais aprovará leis contrárias a nós”. Seus principais objetivos é a criação de um Ambulatório de Saúde integral para travestis e transexuais, e a “criação de uma casa de passagem e abrigo para travestis e transexuais na melhor idade pois existem pessoas trans vivendo em situação de rua ou que quando conseguem chegar aos 60 anos não tem com quem viver.”

    T1Outra candidata a vereadora pelo Psol na cidade de Campinas é a travesti e profissional do sexo Amara Moira, doutoranda em literatura pela Unicamp e autora do livro : “Se eu fosse puta” que acaba de ser lançado pela editora Hoo.

    “Sair pré-candidata é trazer luz para as nossas pautas, trazê-las para o centro da disputa política, mostrar que política é também espaço de LGBTs, pessoas negras e mulheres, pois se não estivermos presentes nesses espaços, dificilmente a luta contra as opressões que nos estraçalham dia após dia será colocada com a urgência e ênfase necessárias.”

    Segundo Amara houve um grande avanço na militância de travestis e transexuais que antes eram “reféns” das pautas relacionadas à saúde em consequência de que “única maneira como a sociedade conseguir nos ver era como vetores de DSTs”. Ela lembra também o fato da comunidade estar ocupando espaços importantes como as universidades, produtoras e difusoras de conhecimento, e se fazendo presentes em outros movimentos além do LGBT, como o feminista, negr@s, de prostitut@s e antiproibicionista. A principal demanda que Amara irá abraçar é a retificação do pré nome nos documentos por ela entender que “essa seja uma das formas mais eficazes de pessoas trans conseguirem acesso à cidadania. Não é com certeza pelas urnas que vamos transformar o mundo, mas conseguir um mandato e poder encher a câmara de travestis talvez seja uma maneira de apressar o mundo nessa direção. Lugar de travesti é na câmara!”

    Num cenário político marcado pelo golpe institucional que afastou a presidenta legitimamente eleita Dilma Rousseff, pelo levante dos fundamentalistas religiosos e políticos conservadores interessados em barrar as conquistas em direitos humanos, mais de vinte travestis, mulheres transexuais e homens trans serão candidat@s a vereador@s no Brasil. Esse acontecimento inédito em nosso pais aponta para o embate necessário e urgente onde só uma grande aliança entre as populações socialmente vulneráveis, em especial o movimento organizado de mulheres, negr@s e LGBTs, pode impedir a perda dos direitos adquiridos e avançar na conquista de uma cidadania plena.

     

    DEBATE BOCA

    Quarta-feira, 03 de agosto, às 20h

    Teatro Heleny Guariba – praça Franklin Rossevelt 184.

    50 lugares – O teatro abre às 19h e os lugares serão preenchidos de acordo com a ordem de chegada.

    Transmissão ao vivo: facebook/jornalistaslivres

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  • “DEMOCRACIA É RESPEITAR IDENTIDADE DE GÊNERO: não nos apaguem com a política”

    “DEMOCRACIA É RESPEITAR IDENTIDADE DE GÊNERO: não nos apaguem com a política”

    Fotografia por Caio Santos
    Foto: Caio Santos/ Jornalistas Livres

    Nas ruas, povo liberto, sem medo de amar. Beijos, carinhos e afetos ocuparam a Praça da Estação para reivindicar o direito de ser LGBT e não sofrer nenhum ataque por isso.

    O tema da Parada LGBT deste ano veio pautar o respeito à identidade de gênero, e a bandeira trans foi aberta pela primeira vez na multidão que, com orgulho, ajudou a levá-la pela cidade, junto com a clássica bandeira do arco-íris, símbolo da luta LGBT.

    Pessoas trans e travestis sofrem violências, silenciamentos e exclusões todos os dias, e o cenário político da indícios de retrocessos ainda maiores. Por isso, na linha de frente da Parada, o carro do CELLOS-MG (Centro de Luta pela Livre Orientação Sexual) trazia importantes figuras da luta trans, como a militante Anyky Lima, vice-presidente do CELLOS-MG e Carlos Magno, atual presidente da ABGLT.

    As militantes da APROSMIG (Associação das Prostitutas de Minas Gerais) também estiveram presentes pedindo pelo fim da putafobia, e estão na luta pelos direitos das profissionais do sexo, que sofrem discriminação e violência na sociedade e no meio LGBT.

    Fotoografia por Caio Santos
    Foto: Caio Santos/ Jornalistas Livres 

     

    Desde 1998 nas ruas de Belo Horizonte, a Parada é a maior do estado e uma das mais antigas do país. Este ano, o Fora Temer esteve presente em placas e adesivos e o ato sócio-político-cultural mostrou seu poder de mobilização. Durante todo o trajeto, que passou pela Avenida dos Andradas, Rua da Bahia, Avenida Amazonas e terminou na Avenida Olegário Maciel, mais de 65 mil pessoas estiveram presentes na Parada.

    Fotografia por Agatha Azevedo
    Foto: Agatha Azevedo/ Jornalistas Livres e Mídia NINJA

  • Intervenção Artística reflete sobre mortes por LGBTfobia

    Intervenção Artística reflete sobre mortes por LGBTfobia

    Em 2015, 319 pessoas foram mortas fruto de homotransfobia no Brasil. Isto significa uma morte cada 26 horas, segundo os dados do Grupo Gay da Bahia. Proporcionalmente, os alvos principais destes crimes são as travestis e transsexuais: o risco de uma “trans” ser assassinada é 14 vezes maior que um gay. Apesar da lgbtfobia existir em todo o mundo, a situação brasileira é particularmente alarmante. O último relatório da agência internacional Transgender Europe mostra que 40% dos homicídios a pessoas trans ocorrem no Brasil.

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    Apesar dos números serem praticamente inquestionáveis, ainda há quem não reconheça a gravidade da conjuntura. Respondendo a esta atenção, o grupo paulistano Coletive Friccional pensou na intervenção Contar os Corpos e Sorrir?, já performada em diferentes cidades do Brasil, como São Paulo e Belo Horizonte. Neste sábado, 16 de Julho, foi a vez da capital mineira, na véspera de sua Parada LGBT. “O objetivo da ação é tentar fazer que essa informação (mortes por lgbtfobia) deixe de ser estatística, é dar materialidade a esses corpos” explica Kako Arancibia, idealizador da performance. “Mostramos esses corpos no chão, no meio da praça pública, para que esses dados atinjam as pessoas de forma mais efetiva e concreta, para não deixar que os assassinatos sejam apenas mais um número.”

    Homens de capuz preto, que se aproximam de passantes na rua e os põe dentro de um saco plástico. Cada pessoa ensacada é carregada e enfileirada na calçada. Ao fundo, é reproduzida uma gravação com discursos e falas que incentivam ou perpetuam a lgbtfobia já presente em nossa cultura. No domingo passado, 10 de Julho, a ação foi feita na Avenida Paulista, especificamente em homenagem a um mês do Massacre  de Orlando, nos Estados Unidos (EUA).

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    Hoje, o ato foi produzido do Grupo Teatral Leela e faz parte de uma série de eventos que antecedem a Parada LGBT de Belo Horizonte. A capital mineira fará amanhã, 17 de Julho, a sua décima nona parada, considerada a segunda maior do Brasil. Os organizadores preveem que 50 mil pessoas vão participar. A aglomeração está marcada a partir do meio-dia, na Praça da Estação, no centro da cidade. A marcha deve sair por volta das 16hrs e vários artistas irão se apresentar  durante o evento.

    _MG_0498LGBTFOBIA NO MUNDO

    Na madrugada de 12 de Junho de 2106, Omar Mateen, segurança nascido e criado nos EUA, atacou a boate LGBT Pulse, em Orlando, Flórida, resultando em 49 mortos e 53 feridos, o pior massacre na história do país.

    Um profundo impacto contra a comunidade LGBT internacional, o maior crime homofóbico ocorreu menos de um ano depois de todos os cidadãos estadounidenses conquistarem o direito ao casamento, indepedente de serem hetero ou homossexuais. A tragédia serviu como uma lembrança amarga que o ódio ao amor ainda reina no mundo, apesar de avanços recentes.

    No ano 2016, 73 países no mundo ainda criminalizam a homossexualidade; destes, 13 recebem pena capital.

  • Em memória de Danyelly Barby

    Em memória de Danyelly Barby

    Ato contra a violência em memória de Danyelly Barby reuniu dezenas de pessoas no centro de Mogi das Cruzes, e pede a apuração, identificação e prisão de seus assassinos, além de cobrar políticas públicas para a população LGBT na cidade de Mogi das Cruzes.

    A associação Fórum Mogiano LGBT organizou um ato público na noite de sexta feira, dia 1º. O encontro serviu para pedir a apuração e a identificação dos responsáveis pelo assassinato de Danyelly Barby (23), além de cobrar políticas públicas que contemplem a população LGBT. Cerca de 70 pessoas, entre integrantes da comunidade, políticos, militantes e simpatizantes estiveram presente no largo do Rosário, no centro da cidade.
    “Por mais que se tente justificar, não dá para fazer juízo. Essa execução é um ato de transfobia.” disse Roberto Fukumaro, presidente do fórum Mogiano LGBT, em sua fala durante o ato. “Se vc entrar na rede social e verificar as postagem vcs vão ver que existe crime de ódio sim sustentado por uma massa que não consegue entender o que é o alheio, não consegue ter empatia, não consegue sentir o que é essa fraternidade”.

    Vando Luiz da Silva era tio da vítima, e esteve presente no ato, representando os familiares. “Não tem nada que faça reparar a dor de ter perdido a Dany. É clamar por justiça.”


    O caso de Danyelly não é isolado no município. Vários crimes contra a população LGBT são cometidos diariamente, muitas vezes não são caracterizados como LGBTfobia. “Os dados não são precisos, pois muitas vítimas não fazem B.O. E as que fazem não querem que divulgue”, disse Regina Tavares, secretária da associação. Outra cobrança do grupo é pela implantação, por parte da prefeitura, do conselho LGBT no município, que discutiria políticas públicas específicas na cidade de Mogi das Cruzes.
    “O que não existe ainda na cidade são políticas públicas. Já estamos há dois anos discutindo a implantação do conselho e até o momento nada” disse Regina.
    Os manifestantes saíram em passeata pelas ruas do centro com cartazes de apoio à causa e camisetas estampadas com o rosto de Danyelly, e se dirigiram até o local da execução, onde foram depositado flores e velas em memória da vítima.

    Transfobia
    Na madrugada de sábado (25/06), Danyelly foi assassinada com um tiro, na esquina das ruas Coronel Souza Franco e Princesa Isabel de Bragança, na região central de Mogi das Cruzes. Segundo a polícia, o crime teria como principal suspeito seu acompanhante, que foi visto por câmeras de segurança entrado junto com a vítima em um hotel localizado na mesma região. O caso foi registrado no 1º Distrito Policial da cidade, e encaminhado para a Delegacia de Homicídios. Ninguém foi preso ou sequer identificado até o momento.