Jornalistas Livres

Categoria: Internacional

  • “Oposição terrorista faz plebiscito para impulsionar luta contra Maduro”

    “Oposição terrorista faz plebiscito para impulsionar luta contra Maduro”

    De Caracas, para os Jornalistas Livres

    Desde abril deste ano, a oposição venezuelana tem promovido protestos diários nas principais cidades do país, que invariavelmente terminam em violência e depredação. Já se conta em mais de uma centena os mortos em episódios de barbárie que incluem dois queimados vivos, um linchamento, um degolado, oito eletrocutados em saques, além de seis soldados e policiais das forças de segurança assassinados.

    Mas não há mal que não possa piorar. O presidente Nicolás Maduro Moros, chefe do governo da Venezuela, enfrentará neste domingo (16/julho) mais um difícil desafio, colocado pela oposição organizada na Mesa Unida Democrática, o MUD. Trata-se de plebiscito organizado de modo a recolher um rotundo “Não” ao herdeiro político de Hugo Chávez e à sua proposta de realização, no próximo dia 30 de julho, de eleições para a nova Assembleia Constituinte da Venezuela.

    Esta será uma consulta popular que o partido chavista não reconhece e da qual não participa, já que organizada, gerida e fiscalizada por um consórcio de cinco reitores universitários de oposição, em detrimento do CNE (Conselho Nacional Eleitoral), o Tribunal Superior Eleitoral venezuelano.

    O governo acredita que o plebiscito deste domingo, por não ter garantia alguma contra fraudes, seja o espaço mais propício para a fabricação de uma impostura eleitoral amplamente desfavorável a Maduro e à continuidade do governo bolivariano. De posse dos “resultados” do plebiscito, a direita tentará deslegitimar o processo Constituinte convocado pelo presidente, ao mesmo tempo em que deverá fazer recrudescer a violência.

    No Brasil, previsivelmente, os órgãos de imprensa tradicionais satanizam a Revolução Bolivariana, acusando-a de violência desproporcional, de ser uma Ditadura de tipo castrista, de ser responsável por uma guerra civil nos moldes da que toca a Síria sob o regime de Bashar Al Assad.

    Raríssimas são as chances de escutar os argumentos chavistas –trata-se do velho recurso da invisibilização, sempre usado pela mídia convencional contra seus adversários políticos.

    Neste encontro com o chavista Jesús Silva, 37 anos, advogado constitucionalista e professor da Universidade Central de Venezuela (UCV), os leitores brasileiros terão a possibilidade de conhecer a forma com que o governo bolivariano pretende aprofundar a Democracia Socialista do país e entender por que o chavismo chama de “terroristas” os movimentos encabeçados pela Direita.

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    POR QUE O SENHOR CHAMA A OPOSIÇÃO DE “TERRORISTA”?

    Não há um consenso entre especialistas para definir o que é terrorismo, mas eu me atrevo a propor um conceito breve. E me apoio na legislação venezuelana para isso. Trata-se basicamente do uso de violência com fins políticos. Isto é o que ocorre quando uma pessoa ou um grupo de pessoas comete atos violentos —que podem incluir o assassinato— com o objetivo de forçar o governo/Estado a fazer ou deixar de fazer determinados atos.

    Aqui na Venezuela, os dirigentes oposicionistas convocam “manifestações pacíficas” entre aspas, já que sempre terminam com mortos e feridos, além da destruição. O objetivo é o de forçar o governo a aceitar suas exigências, entre as quais se contam a antecipação das eleições presidenciais e a renúncia do presidente [Nicolás Maduro], ainda que a ele reste mais de um ano de mandato… Ora, isto é terrorismo: uma violência letal, com a finalidade de submeter o Estado. Nossa Constituição, em sintonia com tratados internacionais, diz que a manifestação é um direito humano, que é um direito civil e político. Mas, evidentemente, essa manifestação deve ser sem violência e sem armas.

    Nos últimos seis meses, todas as manifestações da oposição –que não são nem espontâneas, nem livres, ao contrário do que apregoa a mídia burguesa–, foram convocadas por uma unidade política, a Mesa de Unidade Democrática (MUD). Também ao contrário do que diz a grande mídia, essas manifestações não são “pacíficas” já que todas incluem violência e armas nas mãos dos manifestantes. Pois bem, na medida em que essas manifestações que se dizem “pacíficas”, mas encobrem terroristas, perdem o apoio popular, o núcleo terrorista, aquele composto por indivíduos mascarados e armados, se faz mais violento.

    Recentemente vimos imagens que mostram essas pessoas usando explosivos contra sete guardas nacionais, que ficaram queimados. Então, não estamos em presença de manifestações pacíficas… não estamos em presença de um rio humano que é produto de uma grave crise econômica e social, que sai às ruas por fome, a reclamar que o governo tome providências. Não! Trata-se de uma estrutura complexa, que inclui uma unidade de mando, a Mesa de Unidade Democrática, que convoca, promove e faz a agenda. É a cabeça.

    Conjuntamente com essa cabeça, há massas de pessoas, uma quantidade não desprezível —temos de reconhecer–, que são os verdadeiros manifestantes. É gente que odeia o chavismo, que odeia o governo, mas que não está armada.

    Por fim, rodeados por esses manifestantes, estão os bandos armados. São pessoas que têm armas de fogo ou artesanais, são os que usam máscaras ou capuzes e são as pessoas que atacam nossos soldados, guardas nacionais e policiais. Também atacam manifestantes chavistas ou simples pedestres que eles identifiquem como um chavista ou partidário do governo. Geralmente são pessoas pobres, afrodescendentes, gente com camisas vermelhas. Os tais bandos armados atacam como terroristas, queimam, torturam, assassinam.

    Esta é a estrutura do terrorismo na Venezuela. Um terrorismo de novo tipo, porque se fundamenta em uma aparência de “manifestação pacífica”, mas que termina com indivíduos fortemente armados atacando gente inocente e os efetivos de segurança.

    Poder-se-ia argumentar que essas pessoas só estão se defendendo de uma repressão brutal de um suposto Estado Malfeitor Bolivariano. Mas, se assim fosse, estes senhores fortemente armados não atacariam as forças de segurança antes que se produzisse qualquer ato de contenção.

    E aqui é necessário fazer uma diferenciação. Uma coisa é a contenção, que é fazer frente a uma violência aberta por manifestantes. Outra coisa é a repressão, que é quando um Estado Malfeitor e inimigo dos Direitos Humanos agride aqueles que não estão cometendo nenhum ato de violência.

    Insisto nesta questão da violência, porque creio que a situação midiática internacional nos é negativa. Creio inclusive que em países que são nossos amigos há a crença de que o Estado venezuelano está se excedendo no uso da força para reprimir manifestações pacíficas. Morderam o anzol.

     

    https://www.youtube.com/watch?v=TTqhdt0zzpU

    Recentemente tivemos um helicóptero que disparou 15 vezes contra nosso Supremo Tribunal de Justiça. E isso não mereceu destaque e nem a condenação internacional. Mas um grupo de indivíduos não-identificados entra no Parlamento, enfrenta os deputados da oposição e, em menos de 20 minutos, a CNN em inglês apresenta o fato como uma grande notícia contra o governo bolivariano. A verdade é que eles têm aparatos de informações, têm redes que funcionam com maior velocidade do que as nossas –se é que nós temos essas redes.

    O insignificante, nas mãos deles, torna-se grandioso. Já o ataque que sofremos, um ato claramente terrorista cometido por pessoa identificada e notório inimigo do governo, passa despercebido.

     

    QUAL A POSSIBILIDADE DE SE RECUPERAR O DEBATE POLÍTICO NA VENEZUELA?

    Perdemos o espaço do debate político na Venezuela, como produto da ação do inimigo. Estamos no plano do tudo ou nada. Estamos no plano das reações, das agressões. Não estamos no plano da discussão de ideias. Porque o inimigo político de nosso governo, de nosso povo e do socialismo quer uma discussão primitiva. Quer a polarização, a naturalização da violência como forma de fazer política.

    As redes sociais, o Twitter, o Facebook, o Instagram, o Whatsapp etc. mostram que chegamos a uma etapa de naturalização da violência. Que é o ambiente mais cômodo para o terrorismo. Aqui se mata um guarda nacional e temos milhares e milhares de venezuelanos que celebram este ato. Por quê?

    Porque a cúpula da oposição instalou suas idéias, seus sofismas, sua falsa racionalidade para induzir ao erro. Por exemplo: se um guarda é assassinado, está-se matando um esbirro, uma pessoa que se dedica profissionalmente a executar ordens violentas de uma autoridade, um agente a serviço do regime castro-comunista. Portanto, esse homicídio transforma-se em um ato de justiça do povo. Tinha de matar! Foi merecido!

    Esta é a mensagem que os grandes meios repetem todos os dias: Sempre a violência do lado opositor é justa. Enquanto isso, a que é cometida pelos efetivos militares em legítima defesa será injusta.

     

     

     

     

    Orlando Figuera, 22, foi queimado vivo durante ato da oposição. Com 80% do corpo atingido pelas chamas, o jovem morreu em 4/6

    Eles mandam kamikazes para atacar as bases militares, provocam com violência os soldados, lançam bombas incendiárias para queimar os edifícios públicos… E, quando o efetivos militares respondem, bem, aí os grande meios dizem que ocorre um crime de Estado. Mas o que há é o legítimo direito de defesa! Em nenhum tratado internacional se estabelece que os soldados de qualquer parte do mundo devem se deixar assassinar por terroristas. O que se exige, na legítima defesa, é o uso proporcional da força, de acordo com o ataque que se recebe. Se você me ataca com um pau, eu não posso me defender com uma granada. Mas, se você me ataca com qualquer coisa que possa me matar, eu posso, seja militar ou civil, responder em legítima defesa.

    Em 1989, houve manifestações na Venezuela [contra o governo de Carlos Andrés Perez], por causa de um pacote de medidas neoliberais que liberava os preços e promovia privatizações maciças. O povo saiu às ruas. Em aproximadamente três dias, a repressão aplicada pelo governo de então matou 3.000 pessoas, grande parte assassinada pelas costas. Eu acho que qualquer morte é lamentável; não há um número bom e um número mau. Mas precisamos ter as proporções exatas do que está ocorrendo. Estamos há 100 dias com confrontos diários por causa das provocações dos terroristas e temos 100 mortos.

    O QUE É A ASSEMBLEIA CONSTITUINTE CONVOCADA POR NICOLÁS MADURO?

    Nove setores terão representação especial

    A Assembléia Nacional Constituinte deve ser um grande fórum político em que participem setores da sociedade venezuelana de diversos âmbitos. Não é casualidade que o método eleitoral para escolher os membros da Constituinte inclua precisamente o que, no Direito Constitucional Espanhol, se conhece por “discriminação positiva”. Trata-se, por um lado de reconhecer que os grupos socialmente vulneráveis não têm igual possibilidade de participar de entidades políticas. De outro lado, trata-se de criar os mecanismos para que as diferentes classes e setores sociais possam ser representadas. Quer dizer, quanto mais desvantagem sofre um setor social, mais necessária é a discriminação positiva, dando-lhe mecanismos para ele se iguale.

    É preciso reconhecer que é ficcional a igualdade em uma sociedade que é profundamente desigual. Não têm a mesma possibilidade de ser membro da Constituinte (caso ela seja eleita pelo voto universal, burguês, classicamente conhecido) o operário e o patrão; o dono dos meios de comunicação e o trabalhador da fábrica, por exemplo.

    A direita venezuelana diz que a Assembleia Nacional Constituinte convocada pelo presidente Nicolás Maduro tem um método eleitoral desigual, que está a serviço do partido do governo, que seria uma afronta ao voto universal, direto e secreto. Mas eu reivindico essa metodologia porque, no passado, nosso parlamento, nossa assembleia nacional, nosso congresso, foram claramente órgãos políticos com uma hegemonia de empresários, de donos de meios de comunicação, de proprietários dos meios de produção e obviamente esses parlamentos do passado (me refiro ao período que antecedeu à chegada de Hugo Chávez ao poder) foram parlamentos a serviço do capitalismo, da privatização, do neoliberalismo.

    Esta metodologia proposta por Maduro tem embasamento jurídico na Carta Magna vigente, já que aprofunda a possibilidade de participação dos setores excluídos – operários, indígenas, camponeses, pescadores, estudantes, pessoas com deficiências, aposentados e membros de conselhos comunais, que são formas de organização popular para uma democracia direta.

    Trata-se claramente de uma igualdade por diferenciação. Dará a possibilidade de disputar uma vaga na Constituinte aos setores que historicamente foram preteridos por sua condição sócio-econômica. Este é o enfoque favorável ao proletariado, favorável à classe social do trabalho, frente ao enfoque clássico, liberal e burguês de que todos pode se eleger e todos têm uma igualdade automática para concorrer nas eleições.

    Sabemos que todas as democracias classicamente conhecidas são plutocráticas, já que sempre favoráveis a quem tem mais dinheiro para fazer mais propaganda. Já se sabe que quem é mais pobre perde a possibilidade de fazer mais propaganda e, portanto, de alcançar votos.

    A assembleia constituinte com esta ampla oportunidade de participação conferida a todos os setores da sociedade venezuelana servirá para esse grande reencontro nacional dos 30 milhões de venezuelanos e não apenas aqueles que serão eleitos em diferentes setores sociais. Uma vez instalada a Constituinte, é preciso que se estabeleça um regime de trabalho de modo a que diferentes grupos e movimentos sociais participem, proponham, discutam, critiquem e reclamem. E que, nestes seis ou 12 meses que dure essa Constituinte, haja um grande encontro nacional. Isso não pode ser feito por um partido, mas sim por uma constituinte que seja a máxima representação do povo.

    E, se a cúpula da oposição quer se auto-excluir, bem, que se auto-exclua. O importante é que fique isolada. Sem povo que a siga. Porque, quando os terroristas têm um povo que os segue, temos um problema político. Quando os terroristas ficam sem o povo, então o problema se converte em um problema policial, militar. São coisas diferentes.

    A Constituinte não pode funcionar como o escritório do partido, senão como órgão que convoca todas as pessoas a participar, inclusive a oposição. E que isso apareça em cadeia nacional. Que critiquem, que opinem , e que se oponham, que exijam. que proponham suas idéias, que se mostrem. E que o povo julgue.

    COMO O SR. AVALIA O PLEBISCITO DE DOMINGO (16/07)?

    Se fosse simplesmente uma pesquisa da oposição, estaria tudo ok, seria o exercício de um direito. Mas, no contexto de 100 dias de mortes violentas, é evidente que ante a perda de respaldo popular a toda esta violência, a oposição quer um ato pseudo-jurídico que justifique um reimpulso de sua violência.

    Explico: eles celebrarão seu plebiscito ou sua suposta consulta popular sem a fiscalização da autoridade eleitoral. O resultado será que, dos 20 milhões de inscritos para votar na Venezuela, 19,999 milhões “vão querer”, entre aspas, que o governo caia. Isso é o que vão declarar. Os votos serão eles que contarão, dando um amplo espaço para a fraude. O suposto resultado do plebiscito vai ser a exigência de que não se faça uma Assembléia Nacional Constituinte. Que se desaplique nossa Constituição. Então, trata-se de um ato privado, de agentes privados, para exigir dos agentes públicos que deixem de aplicar a nossa constituição e apliquem a lei desses grupos. Obviamente, o Estado legitimamente constituído dirá que não. E a palavra de ordem para os seguidores da oposição será “Saiam às ruas, porque o tirano faz ouvidos moucos para o que está sendo exigido por 20 milhões de venezuelanos”. Não é uma consulta popular. É um episódio que servirá para justificar mais terrorismo, mais marchas, mais ações violentas com pessoas armadas.

    Deram-nos golpes muito sérios. Em 2014 nos mataram 43 pessoas, com essa modalidade de terrorismo oculto sob a falsa máscara das “manifestações pacíficas”. Hoje, nos matam 100 pessoas e podem ser muito mais, já que acredito que o conflito está longe de acabar. Não se pode usar a Democracia para delinquir e nem para burlar a legalidade revolucionária. O Estado não pode ser ingênuo e tem de estabelecer um marco de tolerância zero contra o terrorismo.

     

  • Statement from Luiz Inácio Lula da Silva’s lawyers

    Statement from Luiz Inácio Lula da Silva’s lawyers

    Cristiano Zanin Martins and Valeska Teixeira Zanin Martins of Teixeira Martins Advogados (Lula’s lawyers) said:

     

    “President Lula is innocent. For over three years, Lula has been subject to a politically motivated investigation. No credible evidence of guilt has been produced, and overwhelming proof of his innocence blatantly ignored. This politically motivated judgement attacks Brazil’s rule of law, democracy and Lula’s basic human rights. It is of immense concern to the Brazilian people and to the international community.

     

    Judge Moro made his bias and political motivation clear from the beginning to the end of the process. His judgement has shamed Brazil by ignoring overwhelming evidence of innocence and succumbing to political bias whilst overseeing continual breaches of basic human rights and the legal process. The judgement proves what we have argued all along – that Judge Moro and the Car Wash prosecution have been driven by politics rather than law.

     

    President Lula has been subject to lawfare, the use of law for political aims, famously used to brutal effect in dictatorships throughout history. This politically motivated and biased judgement illustrates how President Lula’s domestic legal remedies have been exhausted and why it has been necessary to refer this case to the United Nations Human Rights Committee in Geneva.

     

    No one is above the law, but no one is beneath the law either. President Lula has always fully cooperated with the investigation whilst making clear to Judge Moro and the investigation that the place to exercise political differences is at ballot box and not in the court room. The investigation has had a huge impact on Lula’s family, not least Lula’s much loved late wife Marisa, who tragically died earlier this year.

     

    The hearing has been a huge waste of tax payer’s money and has shamed Brazil internationally. It is time now to rebuild trust in the Brazilian rule of law and Judge Moro should step aside from all of his duties.

     

    We will prove Lula’s innocence in all unbiased courts including the United Nations.”

     

    ENDS

  • Jornalistas Livres: e os jornalistas presos?

    Jornalistas Livres: e os jornalistas presos?

    Neste domingo, 25 de junho, o pôr do sol foi o sinal para que mais de um bilhão de pessoas do mundo pudessem comer. Sentados em mesas redondas com amigos e familiares, os muçulmanos que celebram o Ramadã, mês sagrado, desfrutam do Iftar, o jantar de desejum. Para 234 jornalistas presos na Turquia, nada disso existiu.

    Na Turquia de Recep Erdogan, a liberdade de expressão está cada vez mais próxima de ser extinta. Hoje o país é o que mais tem jornalistas presos, perdendo apenas para China, Egito, Etritreia e Etiópia. O disparate está nos números: a China tem 38 jornalistas privados da liberdade.

    O atual governo turco não considera que a prisão é o lugar de repórteres e editores que questionam suas ações tanto que colunistas como o cantor Atilla Tas, que, além de ser considerado um pop star na Turquia, trabalhava como colunista no jornal Meydan. Detido desde o ano passado, ele é uma das 2 mil pessoas processadas por “insultar o presidente”. Até o momento, suas chances de sair da cadeia são nulas pois foi condenado à prisão perpétua.

    A eternidade entre barras de ferro é uma perspectiva triste e real para Ayşenur Parıldak. Aos 26 anos, ela trabalhou por apenas dois anos no jornal Zaman e uma de suas mensagens recebidas por amigos foi buscar o suicídio “já que tenho medo de ser esquecida aqui”. Seu colega de redação, o colunista Hilmi Yavuz defendeu-se da seguinte forma ao juiz: ‘Tenho 80 anos e todos conhecem o que eu escrevo. Passei a minha vida ensinando e escrevendo meus pensamentos. Já escrevi vários artigos condenando o golpe e deixei muito claro que sou contra ele. Estou pronto com minha mala e meus remédios para a vida na cadeia.”

     

    A prisão não é o destino apenas para quem se opõe a Erdogan. Şahin Alpay, 72 anos, do jornal Yarına Bakış apoiou o presidente turco até 2011. “Falhei em não enxergar o lado escuro deles”, escreveu aos seus leitores.

    Para o relator especial da ONU sobre Tortura, Nils Melzer, está claro que há tortura na Turquia. Um relatório preliminar da investigação que realizou na Turquia entre 27 de novembro e 2 de dezembro de 2016 pontua ainda que aos jornalistas está vedado o direito à defesa.

    Os números atuais e oficiais que o Centro Cultural Brasil Turquia informou aos Jornalistas Livres e que fazem parte da exposição sobre o tema na sede social em São Paulo não são definitivos. Estima-se que 100 jornalistas possam ser presos até julho: em maio, a justiça turca expediu 42 mandados de prisão para jornalistas.

    Kamil Ergin, jornalista turco radicado em São Paulo, explica que a perseguição não se dá apenas na Turquia pois também aqui é impedido de entrar no consulado turco no país e participar de coletivas de entrevista. “Me acusam de terrorista”, afirma ele, que também é editor do site Voz da Turquia.

    Kamil aponta que os mais perseguidos são jornalistas de jornais (40%), seguidos de rádio e TV (24%), agências de notícias (16%), jornais locais (7%), revistas (6%). 2% são mídias sociais e outros.

    Correspondentes internacionais também podem ser presos. O correspondente alemão do Die Welt, Denis Yücel está preso desde fevereiro. “A Turquia ocupa o primeiro lugar no inglório pódio de jornalistas presos”, disse  John Dalhuisen, da Anistia Internacional. A campanha da entidade,“Jornalismo Não é Crime”, aponta que um terço dos jornalistas presos no mundo estão na Turquia.

  • Incêndio fatal em Londres revela negligência com os pobres

    Incêndio fatal em Londres revela negligência com os pobres

    Foto: Jason Hawkes, via Jacobinmag.com

    Com o crescente número de mortos do incêndio horrível e “sem precedentes”, que engoliu a Grenfell Tower de Londres na quarta-feira (14/05), razões institucionais e econômicas por trás da devastação vêm sendo destacadas, em meio a preocupações de que frequentes avisos de segurança foram ignorados pelo governo britânico.

    O foco centrou-se, particularmente, em Gavin Barwell, que serviu como ministro da habitação antes de se tornar o chefe de gabinete da primeira-ministra Theresa May.

    “Barwell comprometeu-se, no ano passado, a revisar a parte B do Regulamento de Construção de 2010, que diz respeito à segurança contra incêndio, mas a revisão foi adiada, de acordo com o jornal técnico Fire Risk Management”, informou Thomas Colson, do Business Insider.

    Colson continuou:

    “Um porta-voz garantiu que uma revisão teria lugar “no devido tempo”,

    mas não se materializou.

    Especialistas advertiram repetidamente que os atrasos do governo punham em perigo

    os edifícios em todo o Reino Unido, após um incêndio de 2009 na Lakanal House,

    uma torre no sul de Londres, que reivindicou a vida de seis pessoas.”

    Os incêndios anteriores, apontou o deputado trabalhista Jim Fitzpatrick em uma entrevista de rádio, deveriam ter sido um “despertador”, mas nenhuma ação foi tomada.

    O líder trabalhista Jeremy Corbyn, que visitou o local do incêndio na quinta-feira, disse que no final das contas “verdade tem que aparecer” sobre o que levou ao incêndio.

    Em uma entrevista na quarta-feira, Corbyn sugeriu que cortes severos do orçamento podem ter contribuído para a gravidade do incêndio, observando: “Quando você reduz as despesas das autoridades locais, de alguma forma paga-se o preço”.

    “Eu acredito que precisamos fazer perguntas sobre os equipamentos e recursos que foram dados às autoridades locais que possuem torres na área e, francamente, a maioria tem”, acrescentou. “Precisamos lidar com isso: precisamos que as pessoas vivam em segurança nos altos edifícios”.

    Embora os comentários de Corbyn tenham sido atacados pelos tabloides britânicos de direita, ele está longe de ser o único que apontou para o vínculo entre cortes severos no orçamento e riscos à segurança pública. Como relatou The Guardian, os bombeiros argumentaram que “os cortes no orçamento do corpo de bombeiros cobraram um sério tributo nas operações”.

    “Veja desta maneira”, disse um bombeiro, “você está preparado para trabalhar em um incêndio por um período máximo de quatro horas, estamos aqui há 12.”

    George Eaton, escrevendo para The New Statesman, observou que “os números do Ministério do Interior mostram que há quase 7.000 bombeiros a menos na Inglaterra do que há cinco anos, o que leva tempos de resposta mais longos e uma queda de 25 por cento no número de visitas de prevenção de incêndio. Embora o número de mortes relacionadas a incêndios tenha caído de 750 por ano, no início dos anos 80, para 264 em 2015, no ano passado aumentou para 303. “

    Alguns, além de chamar a atenção para a austeridade, ligaram o incêndio à crescente desigualdade de renda na Grã-Bretanha, observando que são os pobres e os desfavorecidos que mais sofrem de cortes nos gastos públicos.

    “O incêndio de hoje em Grenfell Tower não está fora da política”,

    escreveu a jornalista Dawn Foster em Jacobin na quarta-feira,

    “é um símbolo da profunda desigualdade do Reino Unido”.

    Qualificando de “nojentas” as disparidades de riqueza e renda, Danny Vance, pastor associado da Igreja Comunitária de Notting Hill, argumentou na sequência do incêndio mortal de Grenfell que as preocupações de segurança não teriam sido negligenciadas se fossem provenientes daqueles que viviam nos “apartamentos de 2 milhões a 5 milhões de libras ao virar a esquina.”

    “Isso não é uma surpresa para mim.

    Para qualquer um que tenha trabalhado em qualquer lugar no centro da cidade

    – isso não é uma surpresa.

    Os pobres são constantemente negligenciados.”

    E concluiu:

    “Coisas como esta vão continuar acontecendo se os pobres forem ignorados nesta cidade.”

     

    Nota

    Tradução, por César Locatelli e Ricardo Gozzi, do artigo Deadly London Fire Shows How Concerns of Poor ‘Constantly Neglected’, publicada em CommonDreams, em 15 de junho de 2017, em: https://www.commondreams.org/news/2017/06/15/deadly-london-fire-shows-how-concerns-poor-constantly-neglected

  • Trump toma a decisão “mais estúpida dos EUA desde a guerra ao Iraque”

    Trump toma a decisão “mais estúpida dos EUA desde a guerra ao Iraque”

    “Os americanos das gerações futuras vão olhar para a decisão de Donald Trump, de abandonar o Acordo de Paris, como uma das ações mais ignorantes e perigosas já tomadas por qualquer presidente”

    O presidente Donald Trump tomou uma decisão que os críticos estão qualificando como “uma das ações mais ignorantes e perigosas já tomadas por qualquer presidente”: retirou os Estados Unidos do acordo climático de Paris, na tarde de quinta-feira

    “Uma abdicação da liderança americana e uma desgraça internacional”, desse modo o senador Bernie Sanders descreveu a decisão de Trump, anunciada no Jardim das Rosas da Casa Branca.

    Com pouquíssimas menções à palavra “clima”, Trump fundamentou sua decisão no interesse dos “homens e mulheres esquecidos” da América, que prometeu proteger contra a “exploração” das nações estrangeiras, colocando “a América em primeiro lugar.” Os argumentos, há muito desmascarados, da indústria de combustíveis fósseis, sobre perdas e sofrimento econômico, pontuavam seu discurso, considerado “literalmente errado em cada um de seus aspectos”.

    O magnata imobiliário disse que “estamos saindo” do acordo não vinculativo, mas disse que negociaria novamente o acordo atual ou forjaria “um contrato inteiramente novo, em termos justos para os Estados Unidos, seus negócios, seus trabalhadores, suas pessoas, seus contribuintes […] e veremos se podemos fazer um acordo justo. E se pudermos, será ótimo e, se não pudermos, está tudo bem”.

    Ele terminou o pronunciamento dizendo que é hora de colocar as cidades americanas como “Youngstown, Detroit e Pittsburgh … antes de Paris, França”.

    Os ativistas do clima e outros defensores de um esforço global

    para combater o aquecimento global

    condenaram imediatamente a mudança.

    “Os americanos das gerações futuras vão olhar para a decisão de Donald Trump, de abandonar o Acordo de Paris, como uma das ações mais ignorantes e perigosas já tomadas por qualquer presidente”, declarou o diretor executivo da Sierra Club, Michael Brune. “A decisão de Trump de ignorar a grande maioria do público americano e a comunidade científica prejudicará nosso país, nos custando vidas, empregos e nosso papel como líder mundial. Trump isolou nosso país no cenário mundial, cedendo nossa posição de liderança e nossa vantagem econômica sobre energia limpa para a Índia e a China, com um justificativa a altura de um slogan de chapéu de basebol “.

    “É uma decisão estúpida e imprudente”, declarou o cofundador de 350.org, Bill McKibben, na quinta-feira, ao New York Times.

    “O ato mais estúpido de nossa nação desde o lançamento da guerra no Iraque.

    Mas, não é estúpido e imprudente de modo normal.

    Ao contrário, seu ato equivale a um repúdio completo de

    duas das forças civilizadoras em nosso planeta:

    diplomacia e ciência”.

    Trip Van Noppen, presidente da Earthjustice, disse de forma semelhante: “Longe de colocar a América em primeiro lugar, a retirada de Trump do Acordo de Paris é um favorecimento míope ao lobby dos combustíveis fósseis. É um profundo fracasso da liderança global americana. Ele ignora deliberadamente a crise do clima. Isso custará aos trabalhadores dos EUA empregos em energia limpa. A história julgará a retirada do Acordo de Paris como um grande erro “.

    “Trump tomou sua decisão e estamos tomando a nossa”, disse o diretor executivo de 350.org, May Boeve. “Não seremos arrastados por um fantoche míope e destrutivo da indústria de combustíveis fósseis na Casa Branca”.

    “Vamos transformar a indignação pública em uma ação local significativa”, continuou Boeve. “Ao trabalhar a nível local e regional, as comunidades podem organizar mudanças poderosas e duradouras, forçando os funcionários eleitos pelo povo a escolher um lado: o do Trump e seu gabinete bilionário do combustível fóssil, ou o da gente que luta por um clima estável e uma economia que funcione para todos “.

    Kierán Suckling, diretor executivo do Centro para a Diversidade Biológica, lamentou, “com o nosso mundo indo rapidamente para uma catástrofe climática, Trump apenas pisou no acelerador”.

    Mas, continuou Suckling, “o resto da América continuará lutando contra o aquecimento global e este presidente imprudente. Vamos combater a sua perigosa agenda nos tribunais, nas ruas e no nível estadual e local em todo o país. Não vamos deixar o poder corporativo e esta administração corrupta condenar nosso planeta ao desastre “.

    Tradução do artigo ‘Destructive Fossil Fuel Puppet’ Trump Ditches Climate Deal with Fact-Free Speech, por Lauren McCauley, autora em CommonDreams, publicado em 01/06/2017, em https://www.commondreams.org/news/2017/06/01/destructive-fossil-fuel-puppet-trump-ditches-climate-deal-fact-free-speech

  • Mobilização na embaixada do Brasil em Washington DC

    Mobilização na embaixada do Brasil em Washington DC

    Houve ontem, 01/06, uma mobilização na embaixada do Brasil, em Washington DC, para denunciar a criminalização dos movimentos sociais no Brasil, em especial, os ataques às comunidades indígenas, a repressão à manifestações pacíficas e os assassinatos de trabalhadores rurais e ativistas do MST. Além da demonstração em frente à embaixada, também foi entregue uma carta ao diplomata William Santos, denunciando essas violações e o governo ilegítimo de Michel Temer. A carta foi entregue por Medea Benjamin, co-fundadora do CODEPINK, uma das ativistas mais importantes aqui dos EUA. Segue a carta.

    PAREM A CRIMINALIZAÇÃO DE MOVIMENTOS SOCIAIS NO BRASIL

    Nós, ativistas, professores, estudantes, representantes da sociedade civil organizada, sindicatos, movimentos sociais, coletivos internacionais, bem como profissionais de diferentes áreas e experiências, denunciamos o atual governo do Brasil e o golpe parlamentar que levou Michel Temer à presidência.

    Nós denunciamos as reformas laborais regressivas impostas ao país pelo governo não-eleito de Michel Temer. Nós também denunciamos a violenta repressão de civis, trabalhadores e estudantes que estavam protestando contra o governo nas ruas de Brasília em 24 de maio. Naquela ocasião, o não-eleito Temer promulgou um Decreto presidencial invocando as Forças Armadas a usar medidas repressivas contra os 200.000 manifestantes.

    As forças de segurança atacaram civis que protestavam pacificamente com gás lacrimogêneo, bombas de efeito moral e armas de fogo. Nós condenamos os atos de Temer e declaramos que o chamado das Forças Armadas e os ataques violentos contra os manifestantes é inadmissível e repugnante. Ademais, nós defendemos fortemente os direitos civis de liberdade de expressão, integridade física, dignidade e segurança pessoal.

    O governo ilegítimo também aumentou a repressão a movimentos sociais e de trabalhadores. Nós condenamos a criminalização de movimentos sociais no país, e os assassinatos de trabalhadores rurais lutando por seu direito constitucional à posse da terra. Nós também denunciamos o aumento da violência estatal e os abusos contra os direitos humanos das populações vulneráveis. Entre muitos outros, nós nos referimos ao ataque no estado do Maranhão, que deixou 16 indígenas feridos, incluindo 3 que tiveram suas mãos mutiladas.

    A violência contra movimentos populares no Brasil vem evoluindo em velocidade sem precedentes. Levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT) informa que, em 2015, 50 trabalhadores rurais foram assassinados em conflitos relacionados à Reforma Agrária. Em 2016, 61 ativistas foram assassinados devido à conflitos no campo e somente nos cinco primeiros meses de 2017, 36 pessoas já foram assassinadas.

    Em 24 de maio, forças de segurança atacaram um grupo de trabalhadores rurais, matando 10 pessoas. Os sobreviventes testemunharam que os trabalhadores rurais foram torturados antes de serem assassinados. Esse é o segundo ataque mais sangrento da história do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra do Brasil (MST). O primeiro, conhecido como “Massacre de Eldorado dos Carajás”, aconteceu em 1996 e deixou 17 ativistas mortos e muitos outros feridos. A mídia tradicional brasileira está flagrantemente ignorando esses massacres.  

    O encarceramento injustificado e a perseguição de manifestantes, membros do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra do Brasil (MST) e outros ativistas sociais reflete a clara intenção das forças de segurança do Estado de criminalizar movimentos de justiça social no Brasil, no contexto do ressurgimento das forças conservadoras durante o processo de impeachment contra Dilma Rousseff.

    O que nós vemos hoje no Brasil é uma clara expressão da luta de classes no país, profundamente enraizada em seu passado colonial. Nós nos solidarizamos com o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra do Brasil (MST) e com o povo brasileiro. Nós demandamos a volta da democracia no Brasil e o direito a eleições diretas já.

    Assinam: CODEPINK for Peace, Friends of MST, Brazilian Expats for Democracy and Social Justice, LACAN (Latin America and Caribbean Action Network) and the ANSWER Coalition.