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Categoria: crônica

  • FLIP começa hoje com mais mulheres e negros, mas com menos estrutura e vagas para o público

    FLIP começa hoje com mais mulheres e negros, mas com menos estrutura e vagas para o público

    Sob o emblema da insubordinação negra do escritor brasileiro Lima Barreto e a presença massiva de autoras mulheres, a Feira Internacional de Literatura de Paraty (FLIP) inicia oficialmente nesta quarta-feira (26/7), às 19 horas, agarrando a tarefa que costuma engajar a escritura em tempos de exceção: a da resistência. Além de vir a ser um território para a literatura das minorias políticas, que derrubaram seus muros para a entrada de negros, mulheres e autores ligados a grupos e etnias não referenciados pelo mercado editorial, o maior evento de literatura do Brasil terá que lutar por sua própria sobrevivência. Os reflexos na redução de 30% do seu orçamento, determinada pelos cortes dos recursos do Governo Federal, principalmente, já são evidentes para o público que começou a chegar em Paraty já no final de semana. Eles vão encontrar uma FLIP mais heterogênea e inclusiva, porém, contraditoriamente encolhida, para não dizer desprestigiada pelo Governo Temer.

    Uma programação bem mais enxuta do que as anteriores já denuncia por si só os efeitos do menor orçamento desde que a FLIP iniciou em 2010 e se tornou um evento de fama internacional. Em vez da grande tenda para 800 pessoas, a Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Remédios abrigará metade desse público, restrito a convidados e pagantes dos ingressos, vendidos a R$ 55,00, e esgotados logo na abertura das vendas, em 13 de junho.  Além da transferência para a igreja, diversas oficinas e programas educacionais que ocorriam paralelamente à programação oficial foram suspensos pela Associação Casa Azul, responsável pela organização da Festa, para que os cortes não inviabilizassem sua realização, conforme o diretor-presidente, o arquiteto e urbanista Mauro Munhoz.

    Em abril, o  diretor anunciou à mídia que a restrição de lugares para as palestras dos autores seria compensada pela ampliação do número de lugares na tenda de projeção, os quais passariam de 200 para 700. A poucas horas antes da abertura oficial, contudo, ninguém viu essa possibilidade se concretizar no espaço montado ao lado da Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Remédios, onde permanece a mesma estrutura. “Estou impressionada de ver como a programação e os ingressos foram reduzidos”, lamenta Ângela Palomo, produtora de cinema, que mora entre a capital do Rio de Janeiro e Paraty. “É duro pensar que não teremos mais a grande tenda ao ar livre, um acontecimento único e marcante no Brasil”, acrescenta ela, que acompanha a feira desde sua primeira edição. Ninguém com quem se fale transitando pelas ruas de Paraty conseguiu ingressos, nem mesmo muitos jornalistas credenciados.

    Nas vésperas do grande evento, o público de jovens, artistas, intelectuais e ativistas sociais atraídos pela diversidade política dos autores parecia estar disposto a fomentar a vocação de resistência da literatura. No dia Internacional da Mulher Negra, grupos de músicos se alternavam no esquenta da FLIP, na Praça da Matriz, sacudindo o público com melodias e letras alusivas à luta contra o racismo e ao orgulho negro. Depois dos protestos da edição passada pela baixa representatividade de mulheres e negros, a atual curadora, a jornalista e biografista Josélia Aguiar, defendeu o fim da supremacia branca e masculina. Josélia configurou as 22 mesas de palestras e debates com a participação de 24 mulheres e 22 homens.

    A aliança entre povos subjugados não podia ter atravessado a literatura em hora mais necessária. Lima Barreto, que era um feminista de vanguarda no Brasil imperial e uma pena insubmissa contra o racismo e toda sorte de discriminação social, opera como uma espécie de guerreiro póstumo no front de batalha dessa minoridade política que rasga seu território na FLIP.  A lista de estrelas negras contempla Scholastique Mukasonga, da etnia tutsi, de Ruanda, Marlon James, da Jamaica, os brasileiros Conceição Evaristo e Lázaro Ramos, que na abertura fará uma dramatização especial da obra de Lima Barreto, criada por Lilia Schwarcz, com direção de cena de Felipe Hirsch.

    O feminismo será tratado pela angolana Djaimilia Pereira de Almeida e pela autora Deborah Levy, Beatriz Resende, Carol Rodriguez, Natalia Borges Polesso, Noemi Jaffe, Scholastique e Conceição Evaristo, que ao lado de Ana Maria Gonçalves fará uma homenagem às escritoras africanas. Em casa, nas artes, na política ou nas fábricas, a mulher sempre deu duro, como escreveu o próprio Lima Barreto: “Então a mulher só veio a trabalhar porque forçou as portas das repartições públicas? Ela sempre trabalhou, aqui e em toda a parte, desde que o mundo é mundo; e até, nas civilizações primitivas, ela trabalhava mais do que o homem”.

  • Cidinha da Silva: A cadeira de Miss Davis

    Cidinha da Silva: A cadeira de Miss Davis

    Eu sou uma mulher de sorte. Esta afirmação tem a força de atrair cada vez mais os bons augúrios e afastar a desinsorte, já que aquele nomezinho de quatro letras nem pronuncio.

    Acontece que fui a Cachoeira turistar com familiares e à noite resolvi tietar amigas que participavam de um curso sobre feminismo negro decolonial nas Américas, promovido pelo Coletivo Ângela Davis. Encontros daqui e dali, papos rápidos, beijos e abraços e um restaurante escolhido para jantar. De repente as vozes sussurradas e emocionadas dão conta de uma presença em movimento: “Olha ela, é Ângela. É Ângela. Ela saiu de casa. Ela está vindo.”

    E quem é que vem para a mesma calçada onde estou e senta-se à mesma mesa, a três cadeiras de distância da locutora que vos fala? Ela, a Pantera, como o pessoal a estava chamando por lá. A que chamaram de Ângela, sem sobrenome, porque passou a ser da família. Tá bom, tá bom. Era a mesa da diretoria e da amada, por isso ela se sentou na “minha mesa”. Não tem problema, pessoal, isso não embaralha minha sorte.

    Conversa vai, conversa vem, uma filha do Rei de Oyó postada à cabeceira da mesa iniciou, com Ângela, um papo sobre política brasileira. Eu me mordi de vontade de participar com meu inglesinho de boa base gramatical e pronúncia imperfeita, só que não fui mencionada, convidada, e me resignei ao silêncio observador. Cada qual reinando no seu reino.

    Alguém, creio que a própria Ângela, resolveu rearranjar os lugares da mesa para que os casais separados ficassem próximos. Uma vizinha de cadeira moveu-se para o lugar de Ângela Davis, a primeira a se levantar. E ela, a Pantera, sentou-se onde? Adivinhem. Quem responder “ao lado de Cidinha da Silva”, ganha um doce.

    A primeira sensação quando isso acontece, vou contar para você que nunca se sentou ao lado de um ícone, é: O que posso falar que não vá incomodá-la? A pessoa está ali no bar para relaxar. As anfitriãs já haviam montado um forte esquema espacial para blindá-la das cansativas selfies, não queria ser eu a incomodá-la. Optei por ficar calada e, se surgisse alguma oportunidade falaria algo.

    Angela Davis no Brasil. foto: Forum Anarquista Especifista em: https://www.facebook.com/faebahia/photos/a.684794088222670.1073741828.684778788224200/1393549037347168/?type=3

    Ângela sorriu para mim e me cumprimentou, perguntou como estava? Respondi ao cumprimento e aproveitando a deixa disse-lhe que diria minha frase clichê desde 1997, quando a encontrei em sua primeira vinda ao Brasil: “A primeira vez que te vi foi em Atlanta, em 1994, e você tinha longuíssimos dreadlocks”. Muito simpática, ela disse que se lembrava, que meu rosto lhe era familiar nessas duas décadas que vinha ao Brasil. Calma, gente! É óbvio que ela não se lembrou de mim, principalmente no evento em Atlanta, onde havia centenas de mulheres negras. Talvez se lembrasse que tinha mesmo dreads àquela época, e a lembrança de dreads cortados sempre traz uma nostalgia, ou talvez (sou otimista) se lembrasse da minha frazezinha-clichê, que, vamos combinar, já era a terceira-vez que eu dizia a ela.

    Ainda na linha simpatia total, ela me perguntou o que havia sido o evento de Atlanta e o que eu fazia por lá. Respondi que se tratava de uma edição da Black Women’s Health Conference, e eu, que estudava e morava em Illinois à época, havia ido lá encontrar uma companheira de Geledés, participante do encontro. Depois ela me perguntou como se dizia ketchup em português. Respondi que era daquele jeito mesmo e que a gente só acentuava a letra u. Rimos. Pedimos ketchup ao garçom que nunca o trouxe e como as batatas fritas de Ângela já estavam pela metade, fui ao balcão buscar o molho vermelho. Conversamos ainda sobre a tradição africana de deixar o sal em cima da mesa, ao invés de entregá-lo a alguém que o solicita. Sobre banhos de sal grosso e sobre jogar sal para trás como táticas de proteção espiritual e ainda, sobre não entregar uma faca com a ponta voltada para a pessoa que a recebe.

    Bem, essa prosopopéia toda foi para justificar porque sou uma mulher se sorte, uma legítima filha do Rei. Mas, o mais importante da noite ainda não contei. É que ao mudar-se de lugar, Ângela Davis que é muito alta, sentou-se numa cadeira maior do que as outras ou que estava num ponto mais alto da calçada. Fato é que a junção das duas coisas deixou-a em destaque na mesa. Ninguém reparou porque ela já era a grande estrela e era natural que a víssemos como a maior de todas. Mas ela, muito incomodada, falava como que para si mesma, que estava mais alta do que todo mundo e olhava para o chão e para os lados, buscando solução para o problema. Eu, pensando se tratar da própria altura dela, disse que ela era mesmo a mais alta da mesa e ela respondeu: “Eu sei, mas tem alguma coisa errada aqui”.

    Então, mais uma vez, Ângela se levantou e trocou de lugar, sentando-se na cadeira ao lado, mais baixa ou que não estava num ponto alto da calçada, ficando assim na mesma altura das demais pessoas. E disse aliviada: “Agora, sim! Agora eu estou confortável!”

  • Elisa Lucinda: “Equívocos de uma exclusão” ou “Os componentes da guerra”

    Elisa Lucinda: “Equívocos de uma exclusão” ou “Os componentes da guerra”

    Estou ensaiando em Brasília L, o musical, uma peça cuja história é absolutamente lésbica e cujas personagens gravitam à volta do tema do amor entre mulheres. Peço então agora, meus senhores e senhoras, a atenção ao tema. Vamos olhar para este assunto com o que meu amigo querido, “filósofo” pop, pensador, produtor e agitador cultural Diogo Rodrigues, chama de “comunicação compreensiva”, a prática da anti-intolerância.
     
    Então, vamos lá: Quando Sérgio Maggio, jornalista, escritor, dramaturgo e diretor, me convidou para tanto, o primeiro espanto foi concluir que, em trinta anos de carreira, é a primeira vez que me convidam para interpretar uma mulher que gosta de namorar outra mulher. Que absurdo! Então a ficção está atrasada assim em relação à realidade? Então a ficção ainda está tímida para contar as inúmeras histórias de amor e os dramas que envolvem romances homoafetivos? Então a ficção está desatualizada, é discriminadora, fixando o seu protagonismo somente no amor heterossexual? Então essas histórias não merecem ser tratadas na arte? Ó, ficção, estás desatualizada, sim!
     
    Para viver a minha Ester, a primeira coisa que tomei emprestada é a sensação de opressão que eu sinto por ser negra. As opressões se igualam quando são eficazes e provocam mal-estar, inibição, exclusão. Conheço isso. Conhecemos. Tanto eu, quanto minha assistente, Taís Espírito Santo, quanto minha empregada doméstica, Valéria Falcão, quanto Lázaro Ramos, quanto Flávia Oliveira, quanto Mariana Nunes, quanto Djamila Ribeiro. Todos negros. Todos os negros. Numa sociedade com forte fundamento escravocrata conhece-se logo cedo as crueldades desse delírio de superioridade branca que se incrustou numa banda do mundo e nela ainda manda e desmanda.
     
    A grande lição da vida tribal ou em cooperação coletiva é a da compaixão, o colocar-se no lugar do outro. Sem altruísmo, sem alteridade, sem brincar de ser o outro (tal qual os atores fazem profissionalmente), não há possibilidade de uma sociedade harmônica e justa.
     
    Então, eu peço a você que odeia viado, que não perdoa a diferença, você que “aceita”, você que acha que a pessoa lésbica tem algum problema, algum defeito de fábrica, você que acreditou quando afirmaram que isso é coisa do diabo; eu peço a você, que reconsidere a questão e se coloque no lugar desse outro. De verdade. Você aguentaria a chacota?
    Ninguém é gay ou lésbica contra ninguém não. Não é crime. Não é fácil ser condenado pela sua natureza. Senão, vejamos: como deve ser difícil ser um homem com real atração por outro homem sendo obrigado a esconder isso em todos os lugares… Nos colégios, no trabalho, festinhas e bares. Como deve ser opressor ser casado com uma mulher sendo em verdade no fundo uma bicha presa no armário. E uma bicha preta? Com quantos estereótipos tem que brigar para ainda ouvir: “Que desperdício um negão desse!?”
     
    Parto desse lugar para, usando o nome do livro do meu querido Lázaro Ramos, sugerir que “Na minha pele” para ler essa realidade. Ou seja a pele da personagem que representarei no teatro, a pele do seu vizinho, sua colega de sala, sua aluna, seu chefe, que você nunca engoliu por causa “disso”.
     
    É tão maluco o preconceito que chegou a cobrir de cegueiras o olhar preconceituoso, deturpou e trouxe para tais grupos excluídos uma pecha, uma marca, uma alcunha permanente de mau-caratismo. E é isso o tempo inteiro o que se faz; comete -se diariamente injustiças. O cara fez alguma coisa errada, bateu, roubou, atentou contra o coletivo, alguém sempre acrescenta: “também, viado, né?” Como se houvesse uma lógica. Como se isso quisesse dizer que ser gay é uma coisa relacionada ao caráter. E pejorativamente, sempre. Isso é muito cruel, extremamente cruel, mau, porque gostar de homem ou de mulher não dá a ninguém nem ao heterossexual, nem ao homossexual, nenhuma atribuição do ponto de vista do caráter.
     
    Pode se pressupor que sejam pessoas mais livres, mas nem sempre essa recíproca é verdadeira, nem sempre escapa-se dos “ismos” ou seja, os machismos, dos racismos, dos sistemas de opressão que estão incrustados nas relações de trabalho, nas relações sociais.
     
    Inclusive entre gays e lésbicas.
    Me dei conta de que em minha vida, das coisas mais maravilhosas que eu tenho, muito dessas coisas maravilhosas, eu devo ao meu encontro com os gays na dramaturgia da minha vida, no novelo do meu destino, no enredo existencial que eu compus até agora, que nós compusemos até agora: Minha arte, a possibilidade de exercê-la. A possibilidade de vivê-la em outra cidade. Stravinsky, Grotowski, Ravel, Villa-Lobos, Bidu Sayão, Jorge Mautner, Itamar Assumpção, Carmina Burana, foram palavras que ouvi primeiro da boca dos gays. Meu filho amado, muitas associações de trabalho, muitos afetos indescritíveis nos cânones dos afetos, todo este tesouro eu vivi e tenho por causa do meu encontro com o mundo gay e lésbico.
     
    Esse é o meu Grito. Estamos sendo injustos. E estamos iludidos. Nossos médicos, grandes médicos, pessoas que fizeram arte e ciência no mundo, enfim nossos dentistas, nossos advogados… Há milhares deles que gays espalhados neste mundão. Tem muita sapatice entre jornalistas, atrizes , cantoras que amamos; muitas mulheres que namoram mulheres e que são extremamente brilhantes no trabalho; que sem elas o mundo seria muito pobre. Como se ama e se admira essas pessoas e, muitas vezes sem saber ou sem perceber sua preferência de objeto de desejo erótico, fica tudo certo.Mas há aqueles que quando esta verdade é revelada se sentem traídos. Como no caso de Daniela Mercury que recebeu graves violências, fruto da mente fechada de alguns fãs, ou que se diziam fãs.
     
    Então, é muito ridículo que sigamos nessa ignorância burra, de excluir o que julgamos desconhecer e o que julgamos errado só porque não é como a gente.
     
    Pude ouvir, ao longo da minha vida até aqui, grandes depoimentos comoventes, sabe? De amigos que me contaram o quanto sofreram. Crianças aterrorizadas com a própria verdade. É só um tipo de gente, gente! Uma variedade. Há aqueles que foram criados na igreja católica, por exemplo, que tinham que confessar os seus pecados. E como confessar que desejavam o coleguinha, a coleguinha? Nossa, são gerações que sofreram muito, meu Deus! Demais, demais, demais. Não é exagero reiterar. Mulheres que casaram com homens sem gostar e que sofriam muito na hora da relação, porque transar com quem a gente não sente atração… É um martírio. Deve ser. Eu acho. Trata-se de uma experiência contra a própria natureza da experiência sexual.
    Talvez tenhamos em nossas famílias histórias ocultas. Aquele tio que ninguém comenta ou que todos comentam. Aquela tia que nunca se casou. Só sofreu o olhar cruel e o dedo apontado. Por quê? Qual é o delito?
     
    Me valho de todas as histórias que eu ouvi. Me valho das convivências com essa tribo multifacetada que enriquece o mundo, o nosso mundo, para fazer L’, o musical, para viver a minha Ester, para exibir nossa viagem. (Somos seis atrizes, cinco são héteros), pela experiência da vida desse outro, dessa outra cidadã que merece e exige respeito. Estou adorando.
     
    O teatro possibilita o exercício de nossas variações. E de nossa imensa pluralidade. Mas não restringe aos atores a possibilidade de compreensão da história do outro, se colocando em seu lugar, o mais profundo e honesto que se conseguir. Não é exercício fácil. Há fantasmas do superego de plantão. Mas vale a pena.
     
    No caminho da reflexão para escrever essas linhas juntei vantagens incríveis da presença das relações homoafetivas no mundo, e que melhor este mesmo mundo.
     
    Afinal o que é a luta anti-homofobia senão um pedido desesperado de paz? Nenhum cidadão ou cidadã pode ser agredida por causa de sua vida amorosa, e muito menos ser duplamente vitimizado ou vitimizada quando cria coragem pra denunciar a barbárie.
     
    O espirituoso Roberto Samico costumava dizer para as pessoas heteros: “Ah, lá na sua família ninguém é gay, trans ou lésbica? Que pena, né, não tiveram essa sorte!”
     
    Faz sentido. Sem esses e essas, muitas mentes morreriam sem se abrir. Quantos entendimentos da vida a presença destas pessoas não provocou? Duas amigas minhas, são um casal aqui em Brasília, acabaram de adotar dois meninos, um de 15, outro de onze anos. Irmãos. Os meninos estão felizes, com aparelhos nos dentes, escola boa e duas mães. Qual o absurdo? Nenhum. Conheço gente com duas mães. Dois pais. O que sei é que, esses e essas que amam pessoas do mesmo sexo formam casais que despontam cada vez mais na pratica da adoção de crianças, e são também campeões na preferência pelos maiores. Estes, coitados, costumam ser abandonados por todos os lados e mofam até os dezoito anos no abrigo onde cresceram na ilusão desta esperada hora.
     
    Se fossemos revirar o mundo concluiríamos que vemos disparates criados por nossa ignorância no lugar de enxergarmos imensas belezas.
     
    É sério. Tenho passado a semana toda em Brasília mergulhada no tema. Tentando encontrar em mim a lésbica que eu seria, se fosse. Estou aqui sendo estudante do outro, da outra, de mim e da vida. Não é ruim não. Nos enriquece. Amplia. A prática da discriminação provoca cortes, desentendimentos, rupturas… A prática da exclusão gera equívocos, distorções da realidade, produz intolerâncias, radicalismos, mortes inexplicáveis, torpes, indefensáveis. Que, não por acaso, são os componentes da guerra.
     
    Elisa lucinda, inverno. 2017.
  • Elisa Lucinda: Amor, o antibélico

    Elisa Lucinda: Amor, o antibélico

     Passou a data comemorativa do Dia dos Namorados e ainda bem que os amantes persistem, resistem, insistem. Num mundo onde o amor e seus princípios são afrontados diuturnamente, urge espalhar suas mudas por aí. Não fosse a imperiosa, a colossal, a poderosa, a animal, a orgânica vontade de fuder, de transar, fazer amor, trepar, ter relações ou qualquer nome que se dê, viveríamos trancafiados , nestes tempos individuais, dentro de nossos corpos, de nossas casas, de nossas telas, nossos canais a rabo. É tempo de salvar o amor. O medo ganhou espaço. Precisamos nutrir a terra de amor. Parece piegas dizê-lo, mas não por isso me calarei: precisamos salvar o amor para que ele nos salve. Os amantes têm sido uns verdadeiros sobreviventes!

    Reclama-se da dificuldade em se dar, em amar na contemporaneidade.Talvez a gente devesse desmembrar de uma vez o amor do império normativo moralista que o cerca, e muitos casais têm buscado tal proeza. Na verdade, ser humano é ser mistério. A subjetividade, acostumada a caminhar sobre ilusões, impressões, a caminhar sobre versões da realidade, versões estas apoiadas em cada cultura, alicerçadas em cada criação, varia muito e há uma diversidade imensa entre os seres.Porém,na mesma proporção há muita ignorância sobre o território emocional do outro. O que sabemos dos amores trans, lésbicos, gays? O que sabemos do que acontece realmente entre um casal hétero no escuro de um quarto, nos puteiros, nos palácios, nas praias desertas, nos becos?

    A única coisa que sei é que afetos aprisionados se distanciam de sua gênese. E sei também que pode não ser boa ideia aquele ideal em que os dois amantes se vejam como um só ser. Se misturam de tal forma que o amor perde a saúde e a individualidade de cada um. São duas pessoas.São dois. Se eu começo a ser você e você a ser eu, os objetos se perdem e podemos não ter mais a quem amar ali,naquela casa daquele laço.

    É muito interessante e necessário refletir sobre o amor como uma política de existência.Pessoas passam a vida em sua busca,desde a infância muitas vezes. Pela falta do amor, pela desimportância que a ele se oferece, esculachamos a Terra, sacaneamos o planeta, poluímos os ares, não nos reconhecemos como parte da natureza que destruímos, e por isso a destruímos.

     Quando criamos nossos filhos longe do sentimento coletivo, longe da convivência colaborativa,quando os criamos chafurdados na viagem egóica e capitalista de que estão se preparando para “vencer” o outro, para destruí-lo se preciso for, nós estamos dificultando o caminho afetivo daqueles pequenos cidadãos,e complicando sua vida adulta. E consequentemente a vida do mundo. Estamos assim adubando uma terra de dor,e preparando uma lavoura de guerra para todos.

    Há muitas maneiras de se exercitar diariamente a nutrição ou a destruição dos focos de amor. É bom queestejamos atentos. Paulo Freire ensina que quando uma criança termina de fazer um desenho, e principalmente quando, depois de muito praticar a imaginação, ela é alfabetizada, se coloca imediatamente no lugar de sujeito criador, capaz de traduzir-se em narrativas. E a criação é uma experiência amorosa, é um jorro que faz da obra criatura, e do pequeno aprendiz um criador. Por isso a educação faz diferença no projeto de desenvolvimento de uma nação. A educação referencia no tempo e na história o cidadão. É igualmente importante que a experiência da criação,já desde a infância, tenha preço que não seja valorável necessariamente pelo que a sociedade entende como única forma de riqueza o dinheiro.Ou seja, um monte de gravetos dispostos diante de uma cavidade feita na areia, que forme um portão de um castelo pode significar verdadeiras e duradouras fortunas para aquele ser, a nível desinapses. Igualmente bem-vindos neste bojo são as folhas, as flores,os insetos,os animais,um beijo, uma canção, um papel desenhado, uma pedrinha.

    Por mais que eu caminhe neste mundo cão, não conseguirei me afastar do tema amor.  Está espalhado em pequenos gestos e me é muito triste ver crianças que crescem exiladas dele, alijadas dos profundos efeitos de seu poder.Pobres criaturinhas que não interagem com nenhuma natureza, que se sentem interiormente travados para correr sobre uma duna livremente. São impedidos por dentro. Não se sentem confortáveis sem que não seja quando agarrados às telas dos tablets, e alguns já o fazem desde quando babavam. É muito triste ver um telefone celular substituindo o balanço, a árvore, a conversa, a historinha contada pelo pai ou pela mãe, o castelo de areia feito na praia. Será que não se vê que o castelo de areia é um palco perfeito para fabricações dos sonhos em liberdade?

    Existe muita coisa fora dos joguinhos de ferir e matar. Existe um outro modo de se relacionar sem ser via competições e desavenças. Está por fora criar os meninos para a guerra, para ofender as meninas, para dar porrada no amiguinho. São incalculáveis os danos. Estão por fora aqueles filmes pornôs construídos sobre a dominação, influenciando negativamente a cabeça glande do jovem punheteiro iniciante na vida sexual. Um prazer escroto, feito de poderes e submissões como o único modo de acessar o gozo. Aquela mulher gritando fuck me, parece, inúmeras vezes, que não está gostando. Eu vejo. Parece um help me, às vezes. A coisa ganha mais entendimento quando percebemos que os roteiristas de tais filmes são, em sua maioria avassaladora, homens, e homens machistas. Há, por exemplo, nestas produções, uma diferença enorme entre o sexo oral feito no homem por uma mulher do que ao contrário. O que o homem faz ali é mais demonstrativo e rápido, do que exatamente prazeroso para a parceira. Da mesma maneira, nesses filmes, o sexo entre as meninas é mais para excitar os homens, é fake.

    Mas catzo, o que é que tudo isso tem a ver com o Dia dos Namorados?! Tem que, na véspera deste dia, a Helem Moreira, importantíssima jovem voz negra nos movimentos sociais e anti racistas, em plena ascensão profissional, foi brutalmente assassinada pelo marido ciumento. E a cada minuto uma mulher é violentada e assassinada no Brasil. Tem que muitas mulheres ainda têm medo de perderem seus homens se não fizerem suas vontades, se usarem aquele short curtinho que elas adoram, ou forem para um barzinho com as amigas curtir. Tem que muitas mulheres entendem tal domínio como amor. Tem que, em verdade, não existe crime passional, porque quem ama não mata. Tem que o nome disso é crime de ódio. Tem que muitos homens ainda usam o verbo “ajudar” para qualificar sua participação na gestão do complexo cotidiano de uma família. Como se fosse um favor. Tem que, em muitos lugares, em pequenas ações diluídas na lira do dia a dia, ainda estamos mantendo costumes que ao fim, vão maltratar o amor. Ainda estamos agindo através das práticas educacionais que damos aos nossos filhos numa esfera tão pouco reflexiva que, por fim, vão não só respingar, mas sim decidir no futuro a vida amorosa desses filhos. Há sempre uma hora em que parte do futuro da humanidade está sob os nossos cuidados. Estará ali, na relação com nosso amor, tudo o que aprendemos desde a infância e logo fica provado se fomos criados para o amor ou para guerra. Muitos se reeducam depois de adultos, depois do susto destas dores. Outros seguem promovendo o individualismo que se estende em metástase nas orientações que se dá aos filhos. Cada vez menos tribais e coletivas, famílias se arrastam mudas, cada um agarrado à sua maquininha, sentados cada um, no seu mundo isolado, juntosporém separados, no restaurante, em casa, até na praia eu já vi.

    Pois venho dizer que nossas telas virtuais, tão úteis, tão necessárias à comunicação moderna,nos conectam com o mundo não como fim, mas como ponto de partida, como salto para o real e assim deve ser.

    Há mesmo muita gente com medo de amar, embora hoje o amor esteja mais saudável, mais sincero. Pelo menos hoje casamentos não mais se arrastam, moribundos, dependurados na mera aparência.  Há, mas diminuiu muito. O que se reclama agora é do medo de amar e talvez o temor de amar se dê por conta dessa infância sem conversa, dessa prisão dos condomínios fechados, etnicamente homogêneos por esse hábito calado de assistir a tudo, sem coragem de manifestar opinião,e o despreparo para viver a experiência de existir, coisa que não é bolinho não. Na relação direta da experiência humana os riscos são reais e muda-se de fase, tal qual nos joguinhos; mas é tudo improviso ali, nenhum luminoso avisa que o jogo continua ou acaba. Pelo menos não de maneira mecânica. No jogo ao vivo o olhar ao vivo conta. A luminosidade da presença. Tem a hora dele e da palavra. Tem a hora do olhar e da boca. Tem o cheiro, o ferormônico beijo que ninguém esperava, tem as unidas mãos dadas, o não desgrudar sem ninguém combinar nada. E tem as rejeições, os nãos, as discussões em nome até do próprio amor.

    Como ainda se encontra apinhada de caretices, moralizamos, normatizamos a vida afetiva, tudo com as devidas fundações do machismo, do racismo, da homofobia sistêmica. Imagina o bololô. É até compreensível tanta guerra. Explicável.

    Enquanto escrevo, a indústria bélica americana lucrou bilhões de dólares, só com o mercado interno, só com próprio consumo de armas de fogo. E todo produto precisa de propaganda. Para vender cada vez mais armas temos que vender antes o ódio, implementar sua cultura, torná-lo diário, cotidiano, até afirmarmos que o ódio é inerente a todo homem e assim decretarmos o fim do amor, seu único antídoto. Então,agora ,observe se o que há por trás de toda mazela não é a falta de amor?  O que são as corrupções, as injustiças, o roubo do dinheiro público, as escrotidões de nossos intolerantes senão o ódio pelas pátrias, pelo outro,pelo povo.Incrível!  No fundo de todas as misérias está a ausência do amor. É o amor de um pai pelo filho ou de outro adulto pela criança que desenvolve nela um amor por si capaz,principalmente, de reservar para o outro o carinho com o qual ela gostaria de ser tratada. Se observarmos esta medida e a aplicarmos como auto teste dentro do mais trivial gesto, vamos nos assustar ao ver o quanto somos injustos: será que eu gostaria de ser tratado com tanto controle como faço com minha mulher, com meu namorado? Será que eu suportaria este olhar de desprezo que ofereço ao meu conhecido só porque ele é negro, viado ou mais pobre do que eu?

    Tais perguntas bobas podem dar respostas que vão dizer se estamos, na vida, próximos ou não do abismo da infelicidade, coisa da qual toda humanidade foge. Muitas atitudes e sensações ultrapassadas como excesso de ciúmes, a ilusão da posse de pessoas, as hipocrisias das juras de fidelidade obrigatória, ainda reinam entre os tablets e as quartas dimensões da mesa do século 21. É preciso quebrar tais armadilhas. Há coisas ultrapassadas e nefastas que já não são mais aplicáveis.Não cabem nos saberes atuais.

    Bem, o assunto é vasto. Também não cabe aqui.

    O amor faz parte de uma política da existência. Como vai a sua?

    Só sei que há uma hora em que a ponta da dramaturgia da vida, o fio do novelo da novela vem parar na nossa mão e a gente continua a história do jeito que achamos melhor. Quando chega à minha mão, de minha parte, fico tentando levar a linha para o lado da cultura da paz com justiça. Pegar sempre uma mudinha de amor de um jardim e plantar no outro. Tenho mão boa, mas também erro e me traio, e me caio e me atrapalho querendo acertar, contaminada que também estou, por tantos sistemas condicionantes. Há muitas maneiras de cuidar dos afetos. Embora atenta, sei que não é fácil, mas ninguém falou que seria. O mundo todo precisa se acalmar, amar melhor, compreender a dimensão política que tem dentro do mais trivial gesto. Muitos em nome do amor praticam diariamente uma política de ódio sem perceber. Escrevo isso para que eu não seja aquela que observou tais pensamentos e atos e se omitiu,se calou. Vim falar do amor.

  • Com todo amor, para os filhos de dona Marisa

    Com todo amor, para os filhos de dona Marisa

    Por Flávia Martinelli, dos Jornalistas Livres

    Maio aponta no calendário e eu viro fugitiva. Pulo os anúncios das revistas. Por nada no mundo entro em loja feminina. Tento passar longe da TV ou enfrento a programação com o controle remoto na mão. Tenho que ser rápida no gatilho para mudar de canal antes de as propagandas começarem. Os comerciais de Dia das Mães são matadores para quem já perdeu a sua. E a minha teve a ousadia de morrer exatamente no Dia das Mães (por toda a vida ela foi irônica). Faz 11 anos e todo dia ainda é ontem, sim.

    Me esforço para não alimentar as dores do luto mas me sinto impotente diante dos apelos emocionais da publicidade e do jornalismo na data comercial mais rentável do ano. Por tudo isso, a propaganda da Lojas Marisa e a capa da revista Veja foram um soco no meu peito.

    Sei que publicitários não pensam nos mortos. Defuntos não são consumidores e a grande campanha do ano, de orçamento farto, tem a função de bater recordes de faturamento. Dia das Mães dá mais lucro do que o dos pais, das crianças, das avós, das secretárias, Natal ou de qualquer outra efeméride criada para vincular sentimentos ao consumo. Também sei que em redações de revista é obrigatória uma reportagem sobre as dores e as delícias da maternidade.

    Dia das Mães é o desafio dos “criativos”, a insônia dos redatores, o orgasmo dos marketeiros. O que são 12 prestações sem juros diante de todo nosso amor, não é verdade? O surpreendente desse 2017 é a mídia valer-se do ódio para atingir suas metas de vendas.

    Como num pesadelo, imagino os brilhantes publicitários da Lojas Marisa ou os jornalistas da Veja na reunião de pauta ou de brainstorm dizendo: “Sensacional, vamos usar a morte da Dona Marisa nesse Dia das Mães! Todo mundo odeia o PT e vamos atingir um imenso público consumidor!”

    Imagino a saliva escorrendo de suas bocas, os dentes clareados sorridentes, o olhar brilhante que nem o botox de suas testas aniquila. Na cabeceira da mesa longa e gigante, um pálido Michel Temer estica aqueles dedos compridos e aponta para o presidente da Fiesp acomodado do lado oposto. “Conseguimos.”

    Nesse ano não tive fuga. Até mãe morta virou produto do grotesco. Deixo registrada a minha solidariedade aos filhos de Lula e a todas as mães falecidas que, sim, serão sempre dignamente honradas em seu dia sem presente.

  • “Porque no Carnaval eles não fizeram greve?”

    “Porque no Carnaval eles não fizeram greve?”

    Manhã de quarta-feira, Belo Horizonte, 09h44, e o rosto trabalhador que diz essa frase ao vento, sem destinatário, mas de certo modo endereçada à mim, já está na metade de sua jornada. Tanto hoje como no carnaval, ele teve que madrugar para servir de cobrador no trajeto que vai do bairro Xangrilá à estação Pampulha. Dormiu pouco, mas menos do que muitos outros cujas linhas iniciam mais cedo, essa tem seu primeiro horário pouco antes das 06h da manhã.

    No carnaval, nosso sujeito passível de análise também despertou no mesmo horário, e enquanto todos iam para as festas, ele nos arrancava os R$2,85 como quem tira doce de criança. Prazer sórdido? Não, falta de diálogo. Agora, este mesmo sujeito, que está na base de nossa sociedade trabalhadora, serve aos interesses de quem quer que ele se aposente mais tarde, e tenha apenas seis meses de expectativa de vida após pendurar o uniforme.

    Foto: Maxwell Vilela/ Jornalistas Livres

    “Se a gente não lutar, a aposentadoria vai acabar!”

    Essa é a frase mais falada do ato que começou na Praça da Estação e foi até a Praça da Assembleia em Belo Horizonte. Porém, o trocador não grita, nem ele e nem muitos outros trabalhadores. Nos quatro cantos do país, os movimentos sociais, estudantes, professores, sindicatos e trabalhadores a repetem como um mantra que escancara uma verdade: a de que o governo Temer não terá piedade nem de nós, que protestamos, quiçá dos trabalhadores que estão na base da sociedade.

    Nosso carnaval, símbolo deste povo que resiste, do corpo que performa desejo negado, foi a maior demonstração de que a política se faz nas ruas, com a ocupação do espaço público. Como diz Cristal Lopes, musa do carnabelô: “a política tem que aprender muito com o carnaval”.

    Foto: Maxwell Vilela/ Jornalistas Livres

    Fomos de Fora Temer em Fora Temer, negando o assédio estrutural que insiste em violar os corpos das nossas mulheres, dizendo sim ao funk e à voz da periferia, fazendo poética e festa com nossas próprias mãos e provando o que já foi dito pelo companheiro carnavalesco José Guilherme: “nosso carnaval foi conquistado.”

    Dentre os reajustes propostos para a previdência, está o caso do nosso amigo de todos os dias, o trocador. Hoje, 4 milhões de idosos de baixa renda, com mais de 65 anos, recebem um salário mínimo. Se a reforma passar a idade mínima será de 70 anos. Nós, mulheres, que trabalhávamos até 55 anos, iremos até os 65, junto com os homens, que iam somente até os 60. Isso sem contar os 25 anos obrigatórios de contribuição, um aumento de 10 anos da exploração de nossos corpos trabalhadores, que não tem nem o direito de festejar o carnaval.

    Diante desse cenário, me vem à cabeça a palavra de ordem dos nossos companheiros argentinos, que traduzida, fica mais ou menos assim:

    “Vamos à luta companheiros, vamos em frente, que isso nos pede toda gente.”

    Foto: Maxwell Vilela/ Jornalistas Livres