Jornalistas Livres

Categoria: Carnaval da Resistência

  • Cortejo do Carnaval das Minas leva mensagem dos direitos da mulher para ruas de BH

    Cortejo do Carnaval das Minas leva mensagem dos direitos da mulher para ruas de BH

     

     

    As ruas do baixo centro de Belo Horizonte receberam ontem o cortejo “Carnaval das Minas”. Organizado pelo Bloco Bruta Flor, o cortejo traz a mensagem do empoderamento feminino e da defesa dos direitos das mulheres todos os anos para o carnaval da capital mineira!

     

    O desfile foi puxado por mulheres de diversos blocos de carnaval da cidade, onde todas podem aprender e contribuir com a festa. O Bloco Bruta Flor foi fundado em 2015, formado exclusivamente por mulheres. Empoderamento, representatividade e fortalecimento embasam as ações do grupo, que hoje compreendem a formação de um repertório autoral com músicas de Cantautoras residentes em Belo Horizonte, rodas de conversa e oficinas.

    Bloco de Carnaval BRUTA FLOR, 17/02/2019

    Fotos: Maxwell Vilela/Jornalistas Livres

    Texto: Josué Gomes / Jornalistas Livres 

  • 18 anos do Bloco “Banda do Fuxico”, o primeiro bloco LGBTIQ+ no Estado de São Paulo

    18 anos do Bloco “Banda do Fuxico”, o primeiro bloco LGBTIQ+ no Estado de São Paulo

    Nesta entrevista exclusiva e especial, Roberto Mafra (44 anos),Presidente na Associação Recreativa e Cultural – ONG Banda do Fuxico e gerente-geral na FLASH CLUB, analisa a conjuntura real que vivemos na esfera política e pública, além das situações negativas que vem ocorrendo com a falta de patrocinador no Carnaval de Rua em SP. Ex-diretor artístico da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo – APOGLBT entre os anos de 2016 e 2017, Mafra atuou também como Property Master no Grêmio Recreativo Cultural Social Escola de Samba Vai-Vai e foi Coreógrafo no Grêmio Recreativo Social Cultural Escola de Samba Pérola Negra.

    Neste Carnaval, as responsabilidades são enormes devido à 18ª realização do Trio Elétrico “Banda do Fuxico”, bloco fundado em 2001, sendo o primeiro bloco LGBTIQ+ no Estado de São Paulo. A ONG é registrada pela Associação das Bandas Carnavalescas da Cidade de São Paulo (ABASP). Hoje, possui mais de 60 ONGs parceiras em diversos segmentos, apenas na cidade de São Paulo, levando a eles toda forma de apoio e inclusão.

    O desfile este ano ocorrerá no pré-carnaval (24/2) no Largo do Arouche, região central de São Paulo, com o título “MULHERES EMPODERADAS DA BANDA DO FUXICO, SOMOS A VOZ DA FOLIA”. Estima-se em mais de 40 mil pessoas seguindo o bloco em seus percursos pelas ruas do centro.

    HUMBERTO MERATTI – Mafra, como é encarar essa responsabilidade de dar voz e levar a alegria através do Carnaval, ao seu público em específico, que vem nos últimos tempos passando por tantas desigualdades frente às questões de diversidade e gênero?

    ROBERTO MAFRA – Humberto, somos o primeiro bloco assumidamente LGBTIQ+ na cidade de São Paulo. Quando surgimos no dia 29/01/2001, não existia essa gama gigantesca de blocos de rua na cidade. Só existiam os blocos da ABASP à qual nosso bloco é associado. Hoje, somos mais de 600 blocos e bandas de rua. Acredito que 30% desses blocos tenha temática LGBTIQ+ e os outros alternativos. É lógico, que as coisas ficaram mais difíceis aos órgãos públicos sobre a questão de logística, para essa quantidade de blocos, mas acredito também que atraímos mais cultura dentro do Carnaval de Rua, colocando nas ruas um grito de liberdade através de temas que trazem essa linguagem LGBTIQ+ e acredito que o carnaval é uma manifestação popular onde podemos esbanjar nossa alegria através da folia. Não é fácil fazer carnaval, principalmente hoje, quando os poucos patrocinadores escolhem os blocos e fazem questão de investir nos blocos de grandes artistas que chegam de fora para somar no nosso carnaval com os seus megablocos. Isso só tende em crescer.

    “Estamos lutando para resguardar nossas tradições de blocos que começaram há mais de 20 anos e que sejamos reconhecidos pela prefeitura e por cada gestão nova que chega a cada quatro anos e não conhece nossa historia, pois só queremos levar alegria para o povo desse País lindo e festivo que é o Brasil.”

    HUMBERTO MERATTI – Mafra, você também acredita que os movimentos artísticos e culturais da comunidade LGBTIQ+ estão chegando pra valer nos Carnavais de Rua pra ficar e não sair mais, ocupando assim seus lugares de direito?

    ROBERTO MAFRA – Com certeza Humberto, isso foi mais uma forma de expressar nossa cultura e gritar por nossos direitos. Através da cultura popular estamos cada vez mais nos fortalecendo e assumindo nossos gêneros e orientações sexuais.

    Foto: Roberto Mafra

    HUMBERTO MERATTI – Em relação ao dia de desfile do Bloco Bando do Fuxico, qual será a mensagem que vocês pretendem passar ao público presente, sabendo-se que hoje o Carnaval de Rua em SP é tão misto, que reúne em diversos blocos LGBTIQ+, uma quantidade altíssima de aliados ao movimento.

    ROBERTO MAFRA – Primeiro que o nosso tema será “MULHERES EMPODERADAS DA BANDA DO FUXICO, SOMOS A VOZ DA FOLIA”, e precisamos além da alegria e da folia, conscientizar as pessoas sobre os direitos para/e cada gênero, além de promover campanhas contra a homofobia e o machismo, e principalmente campanhas de uso do preservativo, para combate a doenças sexualmente transmissíveis, através da distribuição de insumos.

    “Mas o nosso maior objetivo é que todos sejam felizes nessa festa popular, assegurando inclusive o respeito”.

    HUMBERTO MERATTI – Vivemos em um cenário político completamente conturbado, onde pessoas no poder todo dia noticiam frases ingratas ou inoportunas, além das mensagens de ódio, principalmente, sobre a comunidade LGBTIQ+ e com isso, muitos replicam. Para o bloco, como é visualizado este cenário político e público atual?

    Foto: Roberto Mafra

    ROBERTO MAFRA – Um país onde se mata um LGBTIQ+ a cada 19 horas por homofobia e ódio, e olha que isso acontecia antes do atual cenário político de vitória da direita. Agora, com essa nova gestão presidencial, que tem um governo assumidamente homofóbico, machista, racista e que prega o ódio escancaradamente, infelizmente só tende a piorar. Acompanhamos diariamente as notícias sobre as mortes dos nossos LGBTIQ+ em nosso Brasil.

    “Infelizmente a maioria dos brasileiros também são assim, homofóbicos e racistas, tanto é, que elegeram o Bolsonaro. Acredito que a luta continua e não iremos desistir de nos defender e defender nossa população, somos todos iguais independente da raça, cor, religião e etnia.”

     

    *Humberto Meratti é especialista em políticas públicas culturais e gestor cultural

  • Manjericão, o bloco do verdinho, encerra o carnaval de Belo Horizonte

    Manjericão, o bloco do verdinho, encerra o carnaval de Belo Horizonte

    Quem acha que o carnaval acaba oficialmente na terça-feira se engana. Em Belo Horizonte, já se tornou tradição o desfile temático e libertário do Bloco do Manjericão na madrugada de quarta-feira de cinzas. O local da concentração é sempre um mistério e os organizadores só divulgam às vésperas do desfile.

    Desde 2016, o Bloco do Manjericão, passou a se reunir às 4h20 da madrugada para se despedir da folia em uma cidade que se tornou referência do carnaval no Brasil. Esse ano o desfile aconteceu na avenida José Cândido da Silveira, no Cidade Nova, região Nordeste da cidade, e a marcha seguiu pela Cristiano Machado, no sentido centro.

    “Desde as primeiras edições do desfile, os locais são escolhidos dando preferência para parques, matas, florestinhas e locais bonitos para se ver o sol nascer. Esse ano, por exemplo, escolhemos o único parque linear que existe em BH.”, justifica, um dos organizadores do bloco.

    O Bloco do Manjericão traz como tema principal o debate sobre a legalização da maconha. Seus foliões vão fantasiados de verde e levam consigo plantas, folhas de manjericão atrás da orelha e entoam juntos a celebre canção que virou o hino oficial do bloco –‘Hoje comigo ninguém pode’. O Bloco ressalta em sua letra o valor medicinal e recreacional da erva, incentiva também em algumas paródias das marchinhas de carnaval tradicionais a liberação para o plantio caseiro e sua descriminalização.

    “Não vou comprar manjericão
    Eu vou plantar no meu jardim
    Se todo mundo plantar um
    Manjericão! Não vai faltar pra mim
    Manjericão é muito bom
    Manjericão é natural
    Manjericão para a bronquite
    Manjericão para abrir o apetite
    Vão Manjericão! Depois te encontro na larica do Bolão…”

    (ouça a música: www.youtube.com/watch?v=gIh0l5u7mVo )

    Luiza Therezo, 24, é produtora audiovisual e participa do bloco desde 2013. Ela defende a bandeira e acredita que a legalização e regulamentação da planta traria mais benefícios coletivos do que individuais, como a diminuição da violência e a criminalização da população mais pobre. “Tenho muito carinho pelo bloco porque além de ser uma folia gostosa levanta uma bandeira que acho importante. Defendo a legalização ou regulamentação porque acredito nos benefícios coletivos que isso traria. (…) A criminalização da maconha é injusta e hipócrita: leva uma parte da população para cadeia enquanto os privilegiados traficam e usam drogas à vontade. Acredito que muito da violência diminuiria se não houvesse mais tráfico de maconha”.

    Foto por Isis Merdeiros, para os Jornalistas Livres

    Luiza ainda faz referência à operação da Polícia Federal que apreendeu em novembro de 2013 um helicóptero com 450 kg de pasta base de cocaína na fazenda da família de Aécio Neves (PSDB), pertencente ao senador Zezé Perrela(PMDB). Hoje, 5 anos pós operação ninguém foi punido, inclusive o dono do helicóptero é hoje Secretário Nacional do Futebol no governo Temer. “Como é possível aceitar que um político tenha seu helicóptero apreendido abarrotado de cocaína e continue livre enquanto são presas pessoas com pequeno porte de maconha?”, se indigna Luiza.

    Foto por Isis Merdeiros, para os Jornalistas Livres

    Outra pessoa que passava na rua e acabou entrando na folia do bloco foi o Sr.Geraldo, 59, mais conhecido como ‘boiadeiro’. Ele relembra que participou pela primeira vez do carnaval em Belo Horizonte aos 11 anos e afirma já ter feito uso da erva quando era mais jovem, mas que atualmente não faz mais uso. “Eu vou no carnaval desde os 11 anos. No meu tempo as pessoas cheirava ‘loló’, gostava de maconha e era proibido. Hoje ainda é proibido, mas pelo menos é liberado pra andar com um pouco, né? Eu não fumo mais não, não mexo com mais nada disso, mas eu sou liberal, todo mundo deveria ser, a vida é de cada um e cada um deveria cuidar bem da sua. Por exemplo, os gays. Já fui nessas festas de LGBT, que fala, né? Eu não sou contra não, cada um tem que ser feliz do jeito que quiser.”

    O bloco encerrou o desfile por volta de meio dia e prometeu ainda mais animação para o ano de 2019.

    Foto por Isis Merdeiros, para os Jornalistas Livres

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    Foto por Isis Merdeiros, para os Jornalistas Livres

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    Foto por Isis Merdeiros, para os Jornalistas Livres

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    Foto por Isis Merdeiros, para os Jornalistas Livres

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    Foto por Isis Merdeiros, para os Jornalistas Livres

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    Foto por Isis Merdeiros, para os Jornalistas Livres

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    Foto por Isis Merdeiros, para os Jornalistas Livres

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    Foto por Isis Merdeiros, para os Jornalistas Livres

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

  • A Paraíso do Tuiuti desceu o morro e calou os paneleiros

    A Paraíso do Tuiuti desceu o morro e calou os paneleiros

    O Brasil Racista
    O Brasil Racista

    A Tuiuti merece mais que o título. Ela tem que ser reverenciada pela obra por décadas e estudada nas escolas. Diz o sábio mestre, Candeia ao amigo Carlos Mumu Oliveira. Dois símbolos de um Rio de Janeiro que combate e sorri. Na mesa de um bar esta estória se deu de forma “real” como homenagem ao desfile que emocionou e deu recado ao mundo.

    Carlos Mumu Oliveira e Candeia

    Logo, Candeia, já emenda: “Passa a porção de manjuba, meu amigo, que hoje o papo é sério”.

    Candeia mastiga, toma um gole da sua cerveja e continua sua análise. “Vi esse desfile em lágrimas e pensei: Isso é o nosso Quilombo”.

    Mumu acena positivamente como quem concorda por ser verdade e não porque a companhia é ilustre. Mumu é Mangueira. Candeia Portela.

    Mas os dois não se constrangem em dizer “Hoje a Tuiuti nos representa”, diz Candeia, que de pronto Mumu completa:”Ela fala de nós e com a gente”.

    Nessa fala do manguerense já se mostra que as cores ali defendidas seriam do azul e amarelo. Diferentemente dos que vestem verde e amarelo como ostentação, ignorância e burlesca no pior sentido.

     

    Os que manipulados pela Fiesp foram às ruas numa gigantesca carna-falsomoralismo-alienante. Nesse papo de dois grandes comunicadores, o Morro tem Voz.

    Fantoches do sistema
    Fantoches do sistema

    Ele desce para gritar que panela não é adorno, adereço. É símbolo de fome e resistência. Assim continua o mestre.

    Flamenguista descarado e escancarado, Mumu manda: “Como em jogo de futebol, onde o pequeno cala um estádio do tal time ‘grande’, assim o fez a Tuiuiti quando calou a Rede Globo. Calou aqueles que bateram panela e incendiaram de esperança quem chora por causa do aumento do busão ou sobe cansado o morro de rua de terra após o dia de trabalho na casa do doutor”.

    E continua: “Os pequenos que estudam na escola que para aquela gente tem que ser sem partido, sem história, sem geografia, sem educação física, sem livros e sem saber”.

    Os patos!
    Os patos!

    Embalado por mais um gole da esperança, conclui: “Diria que a Tuiuti seria a segunda parte da música “Cale-se”, do Chico Buarque. Ou seria a continuação da escola de samba GRES Quilombo criada por você, mestre Candeia”. Candeia sorri. Escrever este papo de duas memórias do Rio que gostamos não foi fácil.

    Pois trazer Candeia é trazer uma parte nossa, que incomoda porque nos faz pensar. Já o segundo, nos faz rir, não da imagem fácil do racista ou preconceituoso.

    Nos faz rir pela inteligência. Assim são Candeia e Mumu. Um deu vida a um Quilombo e o segundo nos ensina com bom humor como viver em um Quilombo.

    Desse papo e do desfile da Tuiuti tirou-se a lição de casa que panelas não devem ser usadas como adorno de um carna-hipocrisia-partidária-em forma de pato.

    A escola ensinou e fez chorar esses dois marmanjos. Assim como os mais de 50 milhões que viram um golpe de dados de que não devemos e não vamos desistir.

    O Brasil é verde, amarelo, azul, branco e muito, mas muito preto (a). Dos campos de algodão à fábrica ou do navio negreiro ao camburão, continuaremos resistindo.

    Nossas correntes foram quebradas mais uma vez com o samba, ou hino, da Tuiuti.

    Tuiuti nos lembrou que lado cada qual está(ão). Nós somos o povo que usa a panela para nos sustentar para um dia de labuta.

    Brasil Racista!
    Brasil Racista!

    Eles usam a panela para brincar. Os de cá, rapaz, a panela de fome. Os do outro lado da ponte, que vão de camisa da seleção na Paulista usam a panela como adereço, assim como levam serpentina e apito para brincar mais um carnaval.

    Cada qual usa a panela de uma forma. O do lado de cá é um lamento (Grito de sim, nós podemos/ Unidos somos mais fortes / De quem quer maneira eu canto).

    Voltando aos anfitriões do bar da vida. Candeia por fim fala: “Vamos ser Reis todos os dias na universidade”…

    E passa a cerveja para o amigo Mumu, que complementa, enquanto batuca ouvindo o samba-hino campeão da Tuiuti de 2018.

    “O carnaval de 2018 marca a volta da escola de samba como elemento de conscientização. As mensagens de Salgueiro, Mangueira, Tuiuti e Beija-Flor precisam retornar no próximo sábado. Há tempos eu não via tanta troca de ideias, tantos debates e reflexões a respeito dos desfiles. Impossível passar despercebido pelas ‘Pietás’ de Salgueiro e Beija-Flor, que traziam nelas toda dor das mães que perderam seus filhos pra violência. Doeu ver alunos armados em sala de aula? Assalto? Corrupção? Ficou incomodado? Então, o ‘tiro foi certo’, pois os noticiários já não nos tocam mais, tamanha a recorrência desses fatos”.

    Carlos Mumu, continua: “Chorou com a comissão de frente da Tuiuti? Ótimo! Chore e se lembre que enquanto estamos aqui lendo, tem gente em pleno século 21 sendo açoitada, humilhada em troca de esmolas disfarçadas de salário”.

    E complementa: “Riu do prefeito no papel de Judas? Não ria, é sério! Somos traídos dia a dia por este senhor que dizia que iria cuidar das pessoas. Aliás, ele e seus assessores postaram nota, fazendo-se de vítimas do desfile da Mangueira. Prova de que a crítica doeu e ligou o sinal de alerta deles. Ponto pra nós! Tudo o que foi mostrado está longe de ser uma hipérbole, é real em grandes quantidades sim! Um primeiro passo foi dado. Que venham outros em 2019. Quem não viu, que veja no sábado.

    E quem viu, veja novamente. As escolas de samba precisam ficar à frente do seu povo. O recado começou a ser dado nesse ou naquele desfile!”

     

  • Ó padroeiro, abençoai a Tuiuti

    Ó padroeiro, abençoai a Tuiuti

    Meu Deus! Meu Deus!
    Se eu chorar não leve a mal
    Pela luz do candeeiro
    Liberte o cativeiro social

    Não sou escravo de nenhum senhor
    Meu Paraíso é meu bastião
    Meu Tuiuti o quilombo da favela
    É sentinela da libertação

    (Tuiuti 2018)

     

    Respondendo a “quem não gosta de samba, bom sujeito não é”, acho que sou bom sujeito. Gosto de samba. Muito! O ritmo se mistura com os batimentos do coração. O tummm dos surdos faz tremer as carnes todas, dos braços às pernas, dos pelos ao peito. Nem sempre suas letras estão à altura da alegria, do axé de seu ritmo, acho eu e relevo. Tamborins, pandeiros, cuícas, ganzás e agogôs escondem letras, às vezes, medíocres, machistas, racistas. Relevo, não sei bem por quê. Talvez tenha sido inoculado por uma alegria estrangeira aos sangues europeus que por aqui aportaram.

    Cada tum, tá, tum, tá faz vibrar cada celulinha. O surdão é meu instrumento de raiz. Entro em alfa, sei lá, tocando ou ouvindo.

    Mas de repente, quando tem uma letra junto, ai meu Deus, que fala da injustiça, da luta de todos nós por uma sociedade mais humana, mais justa, mais unida, a emoção vai aos céus. As lágrimas vertem de alegria. Alegria de saber que não estou só na busca da liberdade de todos, na busca da igualdade. Na alegria de um samba, na vadiagem de um samba nos sabemos iguais.

    Assim foi com o samba da Beija-Flor de 1989. A igreja resolveu proibir o Cristo Redentor no mesmo carro com o lixo da pobreza. Foram à Justiça (essa mesma)! O Cristo teve de sair coberto por sacos plásticos (a lei é para todos, não é?). E esse samba da Beija-Flor e sua rebeldia não mais me deixaram.

    Sai do lixo a nobreza
    Euforia que consome
    Se ficar o rato pega
    Se cair urubu come

    Vibra meu povo
    Embala o corpo
    A loucura é geral (é geral)
    Larguem minha fantasia, que agonia
    Deixem-me mostrar meu Carnaval

    (Beija-Flor 1989)

    A pergunta da Paraíso do Tuiuti em 2018 é: Meu Deus, Meu Deus, está extinta a escravidão? O desfile responde:

    https://www.youtube.com/watch?v=RkVKiEzQMUw&t=3216s

    Como será com a Beija-Flor 2018?

    Meu canto é resistência
    No ecoar de um tambor
    Vêm ver brilhar
    Mais um menino que você abandonou

     

    Oh pátria amada, por onde andarás?
    Seus filhos já não aguentam mais!
    Você que não soube cuidar
    Você que negou o amor
    Vem aprender na Beija-flor

     

    (Beija-Flor 2018)

    Ainda não memorizei o samba da Paraíso do Tuiuti. Mas no próximo samba com os amigos terei três sambas de enredo pra cantar: da Beija-Flor de 1989, da Paraíso do Tuiuti de 2018 e da Beija-Flor de 2018. Por rebeldia, por memória, por uma luta que só perderemos quando arriarmos os braços.

    Seguem as letras e os links para as músicas.

    Meu Deus, Meu Deus, Está Extinta a Escravidão?

    G.R.E.S Paraíso do Tuiuti 2018

    Irmão de olho claro ou da Guiné
    Qual será o seu valor? Pobre artigo de mercado
    Senhor, eu não tenho a sua fé e nem tenho a sua cor
    Tenho sangue avermelhado
    O mesmo que escorre da ferida
    Mostra que a vida se lamenta por nós dois
    Mas falta em seu peito um coração
    Ao me dar a escravidão e um prato de feijão com arroz

    Eu fui mandiga, cambinda, haussá
    Fui um Rei Egbá preso na corrente
    Sofri nos braços de um capataz
    Morri nos canaviais onde se plantava gente

    Ê Calunga, ê! Ê Calunga!
    Preto velho me contou, preto velho me contou
    Onde mora a senhora liberdade
    Não tem ferro nem feitor

    Amparo do Rosário ao negro benedito
    Um grito feito pele do tambor
    Deu no noticiário, com lágrimas escrito
    Um rito, uma luta, um homem de cor

    E assim quando a lei foi assinada
    Uma lua atordoada assistiu fogos no céu
    Áurea feito o ouro da bandeira
    Fui rezar na cachoeira contra bondade cruel

     

    Ratos e Urubus, Larguem a Minha Fantasia

    G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis (RJ) 1989

    Leba – larô – ô ô ô ô
    Ébo – lebará – laiá – laiá – ô

    Reluziu… É ouro ou lata
    Formou a grande confusão
    Qual areia na farofa
    É o luxo e a pobreza
    No meu mundo de ilusão
    Xepá, de lá pra cá xepei
    Sou na vida um mendigo
    Da folia eu sou rei

    Sai do lixo a nobreza
    Euforia que consome
    Se ficar o rato pega
    Se cair urubu come

    Vibra meu povo
    Embala o corpo
    A loucura é geral (é geral)
    Larguem minha fantasia, que agonia
    Deixem-me mostrar meu Carnaval

    Firme… Belo perfil
    Alegria e manifestação
    Eis a Beija-flor tão linda
    Derramando na avenida
    Frutos de uma imaginação

    Leba – larô – ô ô ô ô
    Ébo – lebará – laiá – laiá – ô

    Monstro É Aquele Que Não Sabe Amar (Os Filhos Abandonados da Pátria Que Os Pariu)

    G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis (RJ) – 2018

    Sou eu
    Espelho da lendária criatura
    Um monstro
    Carente de amor e de ternura
    O alvo na mira do desprezo e da segregação
    Do pai que renegou a criação
    Refém da intolerância dessa gente
    Retalhos do meu próprio criador
    Julgado pela força da ambição
    Sigo carregando a minha cruz
    A procura de uma luz, a salvação!

    Estenda a mão meu senhor
    Pois não entendo tua fé
    Se ofereces com amor
    Me alimento de axé
    Me chamas tanto de irmão
    E me abandonas ao léu
    Troca um pedaço de pão
    Por um pedaço de céu

    Ganância veste terno e gravata
    Onde a esperança sucumbiu
    Vejo a liberdade aprisionada
    Teu livro eu não sei ler, Brasil!
    Mas o samba faz essa dor dentro do peito ir embora
    Feito um arrastão de alegria e emoção o pranto rola
    Meu canto é resistência
    No ecoar de um tambor
    Vêm ver brilhar
    Mais um menino que você abandonou

    Oh pátria amada, por onde andarás?
    Seus filhos já não aguentam mais!
    Você que não soube cuidar
    Você que negou o amor
    Vem aprender na Beija-flor

  • Tribunal de Justiça proíbe desfile de Bloco que faz apologia à tortura

    Tribunal de Justiça proíbe desfile de Bloco que faz apologia à tortura

    Na tarde de hoje (08/02), o Tribunal de Justiça de São Paulo, que acompanha o processo que denuncia o bloco carnavalesco “Porão do DOPS” por fazer apologia ao crime de tortura, concedeu liminar proibindo o desfile marcado para o dia 10 de fevereiro próximo.

    “(…) concedo, por ora, efeito ativo parcial, para determinar que os réus Douglas Garcia Bispo dos Santos e Edson Salomão se abstenham de utilizar expressões, símbolos e fotografias que possam ser claramente entendidas como “apologia ao crime de tortura” ou a quaisquer outros ilícitos penais, seja através das redes sociais, seja mediante desfile ou manifestação em local público, notadamente através do Bloco Carnavalesco “Porão do Dops”.”

    A decisão do desembargador José Rubens Queiroz Gomes atende ao pedido de 25 entidades, que protocolaram nesta quinta-feira um documento contra sentença que autoriza o desfile do bloco Porão do Dops no carnaval de São Paulo. Entre as organizações que assinam estão o Grupo Tortura Nunca Mais, o Movimento Nacional dos Direitos Humanos, Comissão de Direitos Humanos da OAB e o Comitê Paulista.

    Na semana passada, a juíza Daniela Pazzeto Meneghine Conceição havia autorizado o grupo de extrema direita a realizar sua homenagem aos torturadores da ditadura militar, alegando “liberdade expressão”, o que gerou revolta em instituições que defendem os Direitos Humanos e o combate à tortura.

    O Comitê Paulista pela Memória, Verdade e Justiça divulgou nota de repúdio colocando-se ao lado daqueles que tentavam à margem da lei impedir o desfile.

    “Consideramos que a decisão da juíza Daniela, além de desrespeitar a memória das vítimas que tombaram dentro das masmorras da ditadura e os ex-presos que sobreviveram às sevícias de torturadores, como o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra e o delegado Sérgio Paranhos Fleury, ídolos desse grupelho fascista, ainda contribui para a agressão ao estado democrático de direito, possibilitando a disseminação de ódio nas ruas da capital paulista”.

    O desembargador determinou uma multa diária de R$ 50.000,00, caso a liminar seja desrespeitada. Sobre a liberdade de expressão o magistrado salientou que “a providência tem natureza preventiva e não implica em censura prévia à livre manifestação do pensamento, que sempre poderá ocorrer na forma da lei, sujeitando-se os infratores à responsabilidade civil e penal por cada ato praticado”.

    Veja a sentença.

    Efeito Ativo – Agravo de Instrumento