Jornalistas Livres

Categoria: Agroecologia

  • Gastronomia é no Mercado do Povo

    Gastronomia é no Mercado do Povo

    Gastronomia uma relação necessária entre a arte da culinária e a ciência do preparo dos alimentos e não surgiu do apelo da mídia por uma melhor qualidade de vida.

     

    Ela foi se formando ao longo da cultura alimentar de povos e comunidades tradicionais, na relação com a natureza e na curiosidade sábia do povo em vários cantos do mundo.

    No sertão brasileiro, os Mercados Municipais que também são conhecidos como mercado do povo são o ponto de encontro desta cultura que mistura em um mesmo espaço as raízes, plantas medicinais, cheiros e diversos temperos além da música e dos alimentos frescos para o consumo.

    E nos vem uma pergunta. Como ao longo do tempo resiste estes espaços meio ao apelos dos supermercados, shoppings, televendas e comidas rápidas, os fastfoods. É nesta resistência que Mercados Municipais como o de Itamarandiba recebe aos sábados além de pessoas de toda região da Serra Negra ou mesmo turistas interessados pelo famoso requeijão moreno e da farinha de mandioca moída na hora.

    Não se faz comida sem história e não pode contar uma história sem colocar o povo e a natureza como protagonistas do sentimento que os faz ser vivos e vida em sua origem e tradição.

    Fotos e Texto: Leonardo Koury, especial para os Jornalistas Livres.

  • A LUTA POR FURNAS

    A LUTA POR FURNAS

    Devido ao pacote de privatizações de Michel Temer e do ministro Fernando Coelho, todas as instituições do grupo Eletrobras estão ameaçadas de serem vendidas para empresas pertencentes ao governo chinês, que possui mais de US$ 200 bi para adquirir corporações no mundo e escolheram o setor elétrico brasileiro, devido à alta lucratividade. A proposta inicial da venda é de R$ 20 bi por Furnas, valor inferior ao patrimônio de 20 usinas hidrelétricas, 24 mil km de linhas, duas termelétricas, três parques eólicos e 71 subestações que produzem 10% da energia do país.

    Em entrevista a Rede Brasil Atual, o senador Roberto Requião (PMDB-PR) declarou “Não é racional privatizar por R$ 20 bilhões uma empresa que tem como recebíveis R$ 40 bilhões, ativos de R$ 400 bilhões e receita líquida anual de R$ 60 bilhões”.

    Para defender a estatal, mais de 260 deputados e senadores (muitos da base aliada do governo e que votaram a favor de Temer), lançaram nesta terça, 31/10, no Congresso Nacional, a Frente Parlamentar Mista em Defesa de Furnas com o objetivo de lutar pelo setor elétrico público no Brasil. A Frente conduzida pelo deputado Leonardo Quintão (PMDB-MG) conta com o apoio dos trabalhadores da estatal, entidades e centrais sindicais que foram até Brasília repudiar as vendas do governo golpista e tem como objetivo fazer com que a defesa de Furnas repercuta por todo o país para ganharem o apoio de deputados estaduais, governadores, vereadores e da população.

    O setor elétrico é estratégico para qualquer nação. Países como os EUA, por exemplo, controlam sua energia investindo em suas estatais e recursos energéticos e procuram manter os chineses longe delas, pois a venda dessas instituições acarreta muitos prejuízos.

    O golpista Temer e seu ministro Coelho, estão elaborando um Projeto de Lei para acelerar o processo de privatização da Eletrobras, Furnas também está no pacote. Caso a companhia e suas subsidiárias sejam privatizadas, o Brasil prejudicará suas indústrias e se tornará um produtor de commodities (matéria-prima), a agricultura não terá mais subsídios para a produção de alimentos, a conta de luz e os produtos custarão bem mais caros e mais grave do que isso é que as nossas águas serão controladas por empresários, havendo a possibilidade de escassez frequente.

    O apoio de grandes estatais é muito importante para o desenvolvimento social do país. Os patrocínios incentivam programas de valorização e acesso à cultura, projetos, centro de apoio, trabalhos voluntários, entre outros. Enquanto as empresas privatizadas preocupam-se com o lucro de seus acionistas e se comprometem pouco com as ações coletivas.

     Sobre Furnas

    Em 1957, no período de industrialização e urbanização nacional do governo JK, nasceu Furnas Centrais Elétricas, a gigante da energia no país. Após muito investimento em estrutura, pesquisa e expansão, a estatal tornou-se umas das subsidiárias mais importantes do Grupo Eletrobras. Atualmente Furnas é vinculada ao Ministério de Minas e Energia e controla 40% da energia que move o país e ilumina 63% dos lares brasileiros, onde está situado 81% do PIB do Brasil¹. A instituição está presente em 15 estados e no Distrito Federal e sempre se destaca pela qualidade de seus serviços e incentivos que presta aos diversos projetos sociais.

    Subsidiárias ameaçadas de serem vendidas

    As outras instituições ameaçadas pela privatização são Amazonas GT, CGTEE, Chesf, Eletronorte, Eletronuclear, Eletrosul, Furnas, Itaipu Binacional, Cepel, Eletropar, Distribuição Acre, Distribuição Alagoas, Distribuição Amazonas, Distribuição Piauí, Distribuição Rondônia, Distribuição Roraima.

    Notas

    1 Confira os 11 motivos pelos quais vocês deve defender a energia do Brasil: http://bit.ly/2z4ZkCM

    2Para saber mais sobre Furnas: http://www.furnas.com.br/frmEMQuemSomos.aspx

    3 Para ler sobre a Frente Parlamentar Mista em Defesa de Furnas: http://www.redebrasilatual.com.br/politica/2017/10/parlamentares-aliados-e-de-oposicao-a-temer-lancam-frente-pela-defesa-de-furnas

  • A CIDADE E O CAMPO PELA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL

    A CIDADE E O CAMPO PELA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL

    Belo Horizonte recebeu o Encontro Regional Sudeste de Agroecologia, ou o menino Erê, como é chamado, para trazer à tona os debates da produção de alimentos, um gostinho do que será o ENA (Encontro Nacional de Agroecologia) em 2018 na capital mineira. Erê teve gosto de bolo de amendoim, feito por mãos atenciosas de quem sabe dosar amor e sabedoria popular.

    Café da manhã para os participantes do Erê. Foto: Lucas Bois

    Junto com companheiros e companheiras de diversos lugares, segui uma das 13 rotas planejadas pelo Encontro e visitei duas experiências de Agroecologia na região metropolitana de Belo Horizonte. Na primeira visita em Sete Lagoas (MG), conhecemos o trabalho da EMATER (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais) nas hortas comunitárias espalhadas pela cidade.

    As hortas comunitárias ocupam grandes áreas urbanas de Sete Lagoas (MG). Foto: Lucas Bois

    Este trabalho na região já acumula mais de 30 anos de experiência e reúne cerca de 300 famílias na produção de alimentos que abastecem a região. A EMATER parte da ideia de que é possível alimentar uma cidade plantando dentro da cidade. Uma de suas ações é o canteiro central de uma grande avenida ocupado por hortas de pequenos agricultores.

    Canteiro central de uma avenida de Sete Lagoas (MG) é ocupado por hortas comunitárias. Foto: Lucas Bois

    Partindo dali, seguimos para a segunda experiência em Ribeirão das Neves (MG) onde fomos recebidos com imenso carinho pela Ocupação Tomás Balduíno. Muito mais que enxergar uma experiência agroecológica, vimos uma comunidade que há 4 anos constrói um modelo de vida social exemplar.

    Moradores da comunidade Tomás Balduíno recebem participantes do Erê. Foto: Lucas Bois

    Apoiados pelo movimento Brigadas Populares e o coletivo Agroecologia na Periferia, os moradores da ocupação encaram a luta pela moradia e por direitos fundamentais, lado a lado à busca por um modelo agroecológico sustentável.

    Conversa entre os moradores da ocupação Tomás Balduíno, coletivo Agroecologia na Periferia e participantes do Erê. Foto: Lucas Bois

    Quem enxerga ali apenas um território ocupado, não é capaz de ver a horta comunitária estabelecida sob a rede de alta tensão, a coleta de lixo implantada pelos próprios moradores, o círculo de bananeiras que trata a água das casas e os pequenos jardins onde nascem frutas e verduras.

    Os próprios moradores da ocupação são responsáveis pela coleta de lixo da comunidade. Foto: Lucas Bois

    Ao fim do dia, não havia em nosso grupo uma pessoa que não tivesse aumentado a fé de que é possível (e já está acontecendo) um modelo de produção sustentável capaz de alimentar a cidade com produtos livres de agrotóxicos, em sintonia com a natureza e próximo ao ambiente urbano. De fato, não é possível melhorar a relação do homem e da natureza, se não cuidarmos da relação entre a cidade e o campo.

    *Editado por Agatha Azevedo

  • As mil facetas da agroecologia para transformar o mundo

    As mil facetas da agroecologia para transformar o mundo

    Entre os dias 6 e 8 de outubro, agricultoras, agricultores e militantes da agroecologia participaram do encontro regional de agroecologia (ERÊ) expondo seus produtos na Feira de Arte e Cultura do Movimento Sem Terra em Belo Horizonte. A união dos eventos foi uma oportunidade grande para valorizar cada ação realizada nos territórios para transformar dia após dia o modo de produção e de consumo de alimento. Descubram o perfil dos que participam dessa transformação. Lindas histórias bem sucedidas que mostram que a mudança é o abrigo das sementes.

     

    Foto de Wanessa Marinho, para os Jornalistas Livres

    Joaquim Carlos trabalha na Cooperfrutas em Paracatu no Noroeste de Minas. A cooperativa trabalha com polpa de fruta, a partir das frutas de 50 sócios de agricultores familiares. Damirom Rodrigues é da Copefran que produz alimento em geral (plantas medicinais e cachaça, exposto na barraca e outros produtos variados).
    Ambas são afiliadas à UNICAF (a união nacional de cooperativas de agriecologia e agricultura familiar). É a primeira vez que participam da feira do MST, mas já participaram da Agriminas.

    Joaquim também é Presidente do conselho municipal de segurança alimentar e nutricional. Para ele a maneira de defender e expandir a agroecologia é ocupar os espaços institucionais como o conselho de desenvolvimento rural sustentável e o fórum mineiro da economia popular solidária. Também a formação de agricultores familiares é fundamental.

     

    Foto de Wanessa Marinho, para os Jornalistas Livres

    Na região do Vale do Jequitinhonha e Diamantina, au lado do município de Presidente Kubitscheck, encontra-se a comunidade Quilombo de Raiz com cerca de 40 famílias.

    A comunidade tem três eixos de produção, a agricultura familiar, a colheita de sempre vivas e o artesanato. Ingrate e Tamara são apanhadoras de flores e aprenderam a tradição desde crianças. “Antes a gente só apanhava as flores e nosso coletivo foi se profissionalizando com o artesanato nos últimos dez anos”, conta Ingrate. O artesanato conhecido com o nome de capim dourado é feito com uma espécie de sempre-viva chamada sedinha.

    Mas a comunidade olha o futuro com preocupação. A expansão da monocultura do eucalipto na região, invadindo as terras do quilombo que está em processo de demarcação de terra, tem afetado o manejo das plantas nativas. “A colheita de flores de diminuído de 20kg para 5kg em 10 anos. Precisamos buscar sempre mais longe da comunidade para encontrar as flores”, lamenta Tamara.

    Para defender seus direitos, a comunidade compõe a CODECEX (comissão de defesa dos direitos das comunidades extrativistas), junto com dezenas de outras comunidades tradicionais.

     

    Foto de Wanessa Marinho, para os Jornalistas Livres

    Gilvania é agricultora em Divino, na região da Zona da Mata, onde a Cooperdom é a principal produtora de alimentos oriunda da agricultura familiar.
    Ela dedica sua militância para o projeto Eco jovem, voltado à formação de jovens lideranças nas organizações locais.

    “Nosso objetivo é manter e valorizar os jovens na roça, resgatar a identidade. E preciso acabar com a vergonha de dizer que moramos na roça”.
    O projeto é uma articulação de entidades onde sindicatos, cooperativas, e pastoral da juventude rural estão envolvidas.

    Foto de Wanessa Marinho, para os Jornalistas Livres

    Geraldo Gomes, é agricultor desde os 7 anos de idade em Sertanópolis em Minas, no semiárido do norte. O trabalho dele: guardião das agrobiodiversidade da caatinga. Aos 54 anos, ele montou um banco de sementes crioulas com mais de 200 espécies e aproveita todas as ocasiões de encontro com outros agricultores para resgatar e trocar sementes desaparecidas.

    “Por causa das mudanças climáticas, do desmatamento, dos agrotóxicos, cerca de 50% das espécies nativas da região tem desaparecido nos últimos 10 anos”, lamenta Geraldo. Para isso ele se envolve em feiras, projetos universitários, nas escolas, em projetos de documentários audiovisual, para tentar reverter o tempo.

     

    Foto de Wanessa Marinho, para os Jornalistas Livres

    Vender mudas de hortaliças por poucos centavos e alcançar sustentabilidade financeira é possível! Esse foi o desafio que George Lucas, jardineiro de Belo Horizonte está vivendo há dois anos, com o projeto “fábrica de hortas”.

    Ele começou a plantar mudas na horta de casa e vender nas feiras. Aos poucos expandiu no sítio familiar em Esmeraldas e hoje está com o projeto de iniciar uma horta urbana no centro da cidade nos próximos meses.

    “E preciso se preocupar mais com segurança alimentar e o processo de compra de alimento. Me envolvo para que todos tivessem sua horta caseira”, relata.

     

    Foto de Wanessa Marinho, para os Jornalistas Livres

    Quando em 1992 ela ocupou o acampamento Lauro Valencia, no interior de São Paulo (Itabera), com o MST, Maria Nazaré, nunca imaginava que se tornaria 25 anos depois, a sócia mais antiga da Coplantas, uma cooperativa de 32 mulheres que faz produtos medicinais.

    “A terra que ocupamos tinha sido envenenada pelo fazendeiro e causava feridas na pele das crianças e dos animais”, lembra. Procurando remédios, um grupo de mulheres aprendeu a fazer pomadas a partir das plantas que passaram a colher em vários assentamentos da região. “No início a gente até fazia as pomadas com banha de porco!”, brinca Nazaré.

    O grupo foi se estruturando e a cooperativa trabalha hoje em um laboratório farmacêutico de cerca 400m2 e um lote de cultivação de 3000m2. As ervas medicinais são vendidas em feiras e mediante parcerias com o SUS, a fundação FIOCRUZ e projetos universitários, contribuindo para garantir uma fonte de renda para todas as integrantes.

     

  • Liberdade na terra e nas formas de narrar o mundo

    Liberdade na terra e nas formas de narrar o mundo

    Acreditamos em um mundo novo e em como seria bom se pudéssemos ser e “renovar o homem usando borboletas”, como nas palavras de Manoel de Barros.

    A experiência de conviver com o povo do MST nos mostra como isso é possível nas pequenas coisas do dia a dia, no ato de plantar e colher. Estar próximo de quem semeia a terra dá um novo sentido para a palavra revolução, e quando vemos as crianças que ali estão conseguimos perceber a beleza de um futuro sem os estereótipos sociais.

    Imergir no Festival Estadual de Arte e Cultura da Reforma Agrária é como entrar em um mundo utópico onde nos alimentamos bem, não somos envenenados, compartilhamos e aprendemos valores de respeito com a terra e com o outro, a importância da amizade e de não ter medo do bicho papão. É como estar em um mundo onde o agronegócio está vencido e a batalha pela vida e pelo projeto popular se tornam realidade.

    Nada melhor do que poder ser Jornalista Livre e compartilhar bons momentos com os companheiros e as companheiras que fazem parte do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o maior produtor de arroz orgânico da América Latina.

    Foto de Maxwell Vilela, para os Jornalistas Livres
    Foto de Maxwell Vilela, para os Jornalistas Livres
    Foto de Maxwell Vilela, para os Jornalistas Livres
    Foto de Maxwell Vilela, para os Jornalistas Livres
    Foto de Maxwell Vilela, para os Jornalistas Livres
    Foto de Maxwell Vilela, para os Jornalistas Livres
    Foto de Maxwell Vilela, para os Jornalistas Livres
    Foto de Maxwell Vilela, para os Jornalistas Livres
    Foto de Maxwell Vilela, para os Jornalistas Livres
  • Tecendo reforma agrária

    Tecendo reforma agrária

    Durante o Festival de Arte e Cultura da Reforma Agrária, realizado nos dias 06, 07 e 08 de outubro, havia uma gigante toalha branca posicionada numa mesa no centro da Serraria Souza Pinto, em Belo Horizonte. Ela foi sendo preenchida com bordados feitos pelos participantes do evento. As linhas coloridas formando nomes são uma marca pessoal de quem passou por ali.

    Foto: Maxwell Vilela | Jornalistas Livres

    Além disso, os numerosos desenhos de coração e das palavras “paz” e “amor” demonstram os sentimentos e desejos de quem esteve no Festival, que abriu espaço para arte e cultura, por meio de apresentações musicais, sarau de poesia, mostra fotográfica e oficinas de artesanato.

    Foto: Maxwell Vilela | Jornalistas Livres

    Frases como “A fome não tá com nada” e “Comida de verdade – Campo e cidade” também ilustram outra parte importante do evento, a Feira da Reforma Agrária. Nela, produtores de diversos assentamentos e acampamentos comercializaram cerca de 80 toneladas de alimentos e mais de 150 produtos diferentes, cultivados de forma agroecológica e orgânica. Os pratos típicos vendidos foram uma atração à parte e conquistaram os visitantes.

    Acima de tudo, as frases “não desista”, “força” e “o futuro é nosso” presentes na toalha são uma mensagem de otimismo para quem luta diariamente pela democratização da terra. Durante estes três dias, a toalha que ganhou cor com linhas escritas por lutadores e lutadores que passaram pela Serraria é a materialização de como a terra é capaz de unir as pessoas.

    *Editado por Agatha Azevedo. 

    Foto: Maxwell Vilela | Jornalistas Livres