Prevista no artigo 1º, inciso III da Constituição Federal, constitui um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito, inerente à República Federativa do Brasil.
O princípio da dignidade da pessoa humana é um valor moral e espiritual inerente à pessoa, ou seja, todo ser humano é dotado desse preceito, e tal constitui o princípio máximo do estado democrático de direito. Está elencado no rol de Principios Fundamentais da Constituição Brasileira de 1988.
Porém, em Ribeirão das Neves, ou qualquer outro município que tenha o sistema de transporte administrado pela iniciativa privada, pode-se afirmar que a capacidade de dialogar sobre este princípio ainda está distante.
O que se encontram são poucas linhas troncais, milhares de pessoas que dependem deste transporte e que a mediação do Estado para a garantia deste Direito Constitucional não existe na prática.
Sentados no chão, escorados nas janelas: crianças, grávidas, idosos, pessoas cansadas do dia trabalhado. A realidade do povo brasileiro nas grandes cidades, não apenas dos usuários do “transporte público” no entorno da capital mineira.
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Foto e texto: Leonardo Koury, especial para os Jornalistas Livres.
Entre a ausência da comida de verdade e a podridão apresentada pela indústria dos alimentos o que nos resta é ir além dos Oásis alimentares e construir uma rede entre o campo e a cidade que possibilite a população a alimentação saudável enquanto um direito no país.
Exposição e debate com o site O Joio e o Trigo no Metrô Vilarinho em Belo Horizonte
Em uma breve volta ao passado, podemos demarcar um tempo histórico dos últimos 100 anos que apresenta ao Brasil e ao mundo um novo horizonte sobre a alimentação. As últimas décadas o que é argumentado pelo agronegócio e toda cadeia industrial agroalimentar é que não é possível produzir comida saudável em suficiência para toda a população. Porém como há tanta comida e ao mesmo tempo tanta fome no século 21? Fica a pergunta.
A revolução verde da agricultura e a Ditadura Militar no Brasil, de forma conjunta apresentaram para o campo, águas, florestas e as cidades urbanas um novo panorama na alimentação da população brasileira. Os agrotóxicos, ou veneno, tinham como garantia a produção de alimentos para o monocultivos em larga escala e a ausência de pragas na produção. Também na mesma narrativa, a revolução verde trouxe o discurso do Produto Interno Bruto PIB da agricultura acima de qualquer política econômica e a ideia modernista de comer alimentos industrializados por sua praticidade e versatilidade. O que restou desta narrativa são os estudos científicos que ligam as doenças graves como o câncer crescente na sociedade.
Quem não lembra que após Ditadura Militar, com as eleições, o Frango foi a grande bandeira política em debate no Brasil. O ex presidente Fernando Henrique Cardoso apresentou a avicultura em confinamento e o seu controle químico como a alternativa de reposição proteica para a população em situação de pobreza. Neste mesmo processo a queda do valor da moeda, o recente criado real, apresentou um aumento no consumo de alimentos americanizados e a invasão dos fast food como o Brasil do futuro. Na atualidade as barras de cereais que contém todos os ingredientes, menos os cereais.
A luta das trabalhadoras e trabalhadores nos movimentos sociais rurais em qualquer tempo deste diálogo é sinônimo de resistência. Com a vitória do ex presidente Lula, o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional CONSEA e a articulação entre governo e a sociedade civil foram fundamentais para reposicionar a alimentação e a nutrição no cenário político. O tema: Brasil, país rico é país sem pobreza tem muito para nos dizer.
As políticas de aquisição de alimentos, às compras antecipadas, os recursos para fomento, a assistência técnica e a extensão rural apresentaram uma realidade que sobreviveu na resistência dos povos e comunidades tradicionais.
É a agricultura familiar quem produz o que comemos. Mas o processo da dialética é complexo, ao mesmo tempo cresce a resistência do campo é o tempo que se amplia o agronegócio e as bancadas ruralistas. Que se luta pela comida de verdade se apresenta a propaganda para crianças de alimentos ruins para a saúde.
Nos últimos anos o Guia Alimentar para a População Brasileira traz à sociedade um novo panorama, que além de combater a fome é necessário pensar o que se come. Estar alimentado não é o mesmo que estar nutrido!
Os desertos e pântanos alimentares estão a cada dia tomando conta da cartografia do país. Se entende por desertos os territórios que apresentam a ausência de venda ou acesso de alimentos saudáveis e por pântanos os espaços territoriais em que a grande oferta alimentar se resume aos produtos ultra processados e de baixo valor nutricional.
Esta conjugação entre a ausência de alimentos saudáveis e a presença de alimentos ruins para a saúde da população não fica apenas nos centros urbanos. A cada dia ganha as periferias das metrópoles e a ruralidade. Atravessa a questão da renda e apresenta em especial às famílias mais pobres, chefiadas por mulheres negras, a ausência do papel do estado enquanto regulador da economia e responsável pela saúde pública.
O Governo Federal, após o Golpe em 2016, avança em pacotes de veneno, incentivos para a indústria dos alimentos e perseguição aos movimentos sociais e aos povos e comunidades tradicionais. Uma conjugação que nos leva à ausência da democracia, perda da soberania e da segurança alimentar e nutricional e consecutivamente a morte em larga escala. A alimentação é indispensável para a vida.
Especialistas apresentam a ideia de que a oferta dos alimentos saudáveis em uma delimitação cartográfica devem ser compreendidos como Oásis. Porém este conceito também nos remete para algo distante, quase inatingível e possibilitador da vida frente aos desertos e pântanos. Os Oásis não podem ser a única forma de se comer com qualidade em um país de tamanha dimensão espacial, biomas e de toda formação ecológica que temos.
Lutar pelo Direito Humano à Alimentação Adequada é fortalecer as práticas e as culturas alimentares e apresentar para a população alternativas reais que possibilitem transformar a realidade que vivemos. As tecnologias e as redes sociais podem ser aliadas as feiras, as compras colaborativas e aos mercados alternativos.
E se comer é um ato político, a nossa organização coletiva nos alimentará!
Leonardo Koury Martins – Assistente Social, professor, escritor e conselheiro dos Conselhos Municipal de Belo Horizonte e Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional de Minas Gerais. Especial para os Jornalistas Livres
Não apenas paisagista, Roberto Burle Marx por ser um profissional multidisciplinar contribuiu com a perspectiva de integrar o que é construído pelo ser humano e a natureza. Para este olhar peças de vinil, mosaico de pedras, esculturas e jardinagem tinham como tarefa tratar os espaços com a harmonia entre as possibilidades de tempo e vivências.
O que poucos conhecem é a relação da militância política e das causas ambientais que o paisagista se empenhou ao longo de seus quase noventa anos em vida. Nascido no início do século 20, Roberto Burle Marx além de ter a oportunidade de conhecer boa parte do mundo, também teve papel relevante na articulação política em especial por trazer o tema da ecologia como um determinante para o contraponto do modelo de produção capitalista.
Entre os seus trabalhos, o conjunto arquitetônico da Pampulha, hoje patrimônio cultural da humanidade, foi possível com a participação de importantes nomes como Oscar Niemeyer e Cândido Portinari. O trio além de propiciar uma criação dotada de novos temas e cores, influenciaram as cidades brasileiras como os azulejos pintados e o cimento em curva. A relevância política de determinar uma cidade na qual os caminhos são feitos por seus habitantes e não pela própria construção marca o conjunto arquitetônico segundo a Unesco.
Não apenas o paisagismo marca o trabalho de Burle Marx, mas a ruptura e a modernidade. Adquiriu ao longo de suas intervenções artísticas a arte abstrata, o concretismo, o construtivismo entre outras que ao mesclar traços botânicos agregou a vegetação plantas ornamentais da caatinga às vegetações aquáticas. O cuidado com a natureza era o traçado vivo do seu trabalho.
No primeiro semestre de 2019, a Casa do Baile em Belo Horizonte MG recebe a Exposição Moderno Jardim Brasileiro com várias fotografias, plantas e croquis que contam a história de Burle Marx e Haruyoshi Ono, seu amigo e colega de boa parte das intervenções e diálogos sobre ecologia e política.
A Casa do Baile se localiza na Lagoa da Pampulha e é um dos mais importantes trabalhos deste nome do paisagismo no mundo.
Fotografia e Texto: Leonardo Koury, especial para os Jornalistas Livres
Enquanto nós ficamos falando nas redes sociais sobre as cores azul ou rosa, o presidente Bolsonaro quer mandar embora servidores públicos, inclusive concursados por perseguição ideológica. Pretende-se privatizar até março toda malha ferroviária, a Infraero e os quatro maiores portos brasileiros.
Não estou diminuindo as preocupantes declarações da ministra da “família”, em especial por confundir o papel do Estado e da religião. Digo família em aspas, pois as mulheres e os direitos humanos, na gestão deste ministério, sem dúvidas estará em segundo plano.
Vamos pensar na totalidade: O ministro chefe da Casa Civil quebrou vários acordos que tange o pacto federativo. O ministro da economia quer vender o Banco do Brasil. Para quê, para quem e quem ganha ou perde com isso? O Ministro da Justiça quer censurar o COAF que, inclusive, é um órgão importante no combate à corrupção na administração pública brasileira.
Não pretendo me alongar no texto por ser uma breve análise de conjuntura. Fato é que o governo eleito tomou posse a menos de uma semana, porém o discurso da liberação das armas, de perseguição aos povos indígenas, a medida provisória que extingue os espaços de participação social, como o Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional. Ou mesmo abandonar a pauta LGBT está em andamento mais rápido do que esperávamos.
Que tempos! Serão longos e duros anos entre o fascismo no poder e a luta popular contra o árbitro e o autoritarismo.
Por: Leonardo Koury Martins, especial para os Jornalistas Livres
A fotografia tem a sua própria proposta de descrição. Porém para que a mesma se torne um dialogo entre quem a visualiza e quem a registra é necessário com que as vivências nela expressa tenham um significado comum.
Neste ano de 2018, em dezembro, o trajeto de vinte e cinco quilômetros entre o Centro de Ribeirão das Neves e a região da Pampulha em Belo Horizonte esconde nove quilômetros que vão muito além do sistema prisional.
Este trajeto, que se considera flores nativas, verde imenso, animais e a ruralidade também tem a marca do desenvolvimento urbano e sua precarização. O conhecido Lixão de Ribeirão das Neves contrasta com esta realidade.
Fato também que traz ao céu centenas de urubus que dançam no céu. Segue as imagens de uma caminhada a pé pela LMG 806.
Cenário dos dois primeiros quilômetros. Entrada das propriedades rurais.
Mudas e verduras como composição da ruralidade.
Flores mativna na conhecida Lajinha e mata dos Bandeirantes.
Animais no pasto ao fundo do Lixão de Ribeirão das Neves.
Animais no céu. Imensidão de urubus nos dias quentes de dezembro.
Decadas de descaso. Uma reflexão sobre até que ponto vale o lucro e a expropriação da natureza.
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Fotografia e Texto: Leonardo Koury, especial para os Jornalistas Livres
Acontece neste final de semana em Belo Horizonte (MG) o 2° Festival Estadual de Arte e Cultura da Reforma Agrária promovido pelo Movimento dos/as Trabalhadores/as Rurais Sem Terra MST. Entre os significados que cercam a construção deste festival estão a resistência, a cultura camponesa e a gastronomia. Estes três são a exemplificação do movimento social e a sua contribuição por um país mais justo, igualitário e saudável. Latifúndio não combina com estes valores.
A riqueza do Estado de Minas Gerais contribui com a possibilidade de entre as centenas de barracas, divididas para cada assentamento, acampamento e outros movimentos parceiros trazer ao público do festival a diversidade nos produtos e alimentos oferecidos a preço popular. O MST é conhecido por lutar pela agroecologia enquanto forma de produção e relação entre o povo e a natureza. Esta perspectiva traz as bananas, farinha de mandioca, mel entre outros alimentos um sabor próprio sem exploração do trabalho, compromisso com o meio ambiente e com as relações de gênero e sexualidade.
A agroecologia também está presente na educação para o consumo e ao longo do festival ela se expressa no preço justo que diferencia-se do mercado privado, e no carinho das relações entre consumidores e produtores dos diversos pratos típicos.
O cardápio varia entre a Carne de Sol com Mandioca para um tira-gosto entre amigos e familiares, como também do pirão ou o arroz com pequi para almoçar. Cada um destes pratos além de bonitos, são forma de mostrar a resistência dos quatro biomas presentes no território mineiro. Além da relação com os povos e comunidades tradicionais e populações específicas.
É importante também falar da cachaça Veredas da Terra e da pasta da Castanha de Baru. Produtos da reforma agrária que você só encontrará neste final de semana ou no Armazém do Campo: Produtos da Terra que se localiza na avenida Augusto de Lima 2136 no Barro Preto. Para quem quer conhecer mais desses significados, quer ouvir uma boa música, comer bem e lutar, o festival acontece até este domingo (16/12) no Parque Municipal Américo Renné Giannetti no Centro da capital mineira.
Fotografia: Lucas Bois | Texto: Leonardo Koury Martins, especial para os Jornalistas Livres