Jornalistas Livres

Autor: JLCampinas

  • Mulheres pelas lentes das mulheres

    A galeria de imagens do Ato Mulheres Unidas Contra Bolsonaro – #elenao em Campinas (SP) , no último sábado de setembro, através das lentes de 5 fotógrafas que registraram  a manifestação.

    Os olhares  das fotógrafas: Alice Carvalho,  Fabiana Ribeiro, Marina Barbim, Natt Fejfar e Paula Rodrigues retratam o quanto foi gigante o movimento na cidade. Mulheres por mulheres.

    #elenunca#épelavidadasmulheres #fotografecomoumamulher

     

     

  • Hoje (13/08) o operário da fotografia, João Zinclar, completaria 62 anos

    Hoje (13/08) o operário da fotografia, João Zinclar, completaria 62 anos

    “Mudar o mundo eu acho que é uma tarefa muito maior do que a fotografia. Mudar o mundo é ter milhões de pessoas na rua em movimentos contra os opressores, contra as ditaduras, é isso que muda o mundo. E a fotografia, se ela quiser cumprir esse papel, tem que andar com esses movimentos, colocando realidades objetivas e subjetivas, porque não existe verdade absoluta.” João Zinclar, em “Caçadores de Alma”, de Silvio Tendler.

    João Zinclar é sem dúvida alguma um dos grandes fotógrafos contemporâneos  da narrativa da história recente movimentos sociais latino-americanos.

    O fotógrafo que faleceu em 2013 foi militante nos campos do sindicalismo, cultura popular, direitos humanos e das lutas por moradia, terra e democratização da comunicação. Participando ativamente dos movimentos sociais e suas lutas nos últimos 24 anos.

    O seu trabalho extrapola classificações convencionais, principalmente as imagens que retratam olhares, se reconhece nitidamente o olhar humano através das suas lentes.

    É importante reconhecê-lo em seu papel como narrador das imagens do povo e das pelejas desse povo  dentro da construção da democracia e direitos humanos.

    O livro fotográfico autoral “O Rio São Francisco e as Águas no Sertão”, lançado em 2009, é sua obra mais conhecida e traz o registro da cultura do povo ribeirinho e sua luta em defesa do rio. O livro é resultado dos cinco anos em que Zinclar percorreu as margens do Rio São Francisco em oito estados.

    O legado de João Zinclar

    O acervo, a partir da morte do fotógrafo, passou  a ser de propriedade da sua filha; Victória Ferraro Lima Silva.  Ela em conjunto com um grupo de militantes das áreas de memória e cultura visual vem dando sequência as ações de organização, preservação e difusão do Acervo. Composto de 53.849 negativos flexíveis, cerca de 180 mil imagens digitais, além de dezenas de publicações impressas. O acervo abarca documentos iconográficos da luta de classes na história política brasileira entre 1994 e 2013, com destaque para as lutas dos movimentos de trabalhadores e trabalhadoras no campo e nas cidades.

    O Grupo Gestor do Acervo, em parceria com o cineasta Carlos Pronzatto está desenvolvendo o projeto de documentário Trajetória militante do fotógrafo João Zinclar.

    O foco da pesquisa não é apenas a trajetória individual, mas sim o que essa trajetória carrega da atuação dos agentes políticos coletivos da classe trabalhadora enquanto sujeitos conscientes da produção de sua imagem.n

    Também visa problematizar a atuação de organizações da classe trabalhadora brasileira na condição de autoras de suas imagens fotográficas, em especial no período  como Ciclo de Governos Progressistas dos países latino-americanos.  É esse o recorte histórico dos processos de luta por emancipação latino-americana em que o documentário de situa.

    A historiadora  Sônia Fardin, integrante o Grupo Gestor  do Acervo Zinclar, fala da importância do legado de Zinclar. “ As imagens do Acervo João Zinclar são parte da ação de um trabalhador inserido nas lutas sociais, que soube identificar as transformações na cultura visual e sua importância na luta política.

    São imagens que registram inquietações sobre sonhos, frustrações, vitórias, projetos, desejos, contradições com as quais a vida, a luta, a militância e a memória se fazem.

    São imagens que esgarçam as fronteiras entre criação e documentação jornalística, que registram inquietações sobre sonhos, frustrações, vitórias, projetos, desejos, contradições e as impermanências com as quais a vida, a luta, a militância e a memória se fazem.”

    A documentação fotográfica das lutas de entidades e movimentos sociais de resistência da classe trabalhadora foi uma das militâncias de Zinclar que reconhecia a importância  dos registros  das lutas populares sob a ótica de quem vive o movimento por dentro. Victória Ferraro Lima Silva , filha do fotógrafo,  proprietária e integrante  do grupo gestor do acervo do pai  relata.

    “A fotografia para o meu pai não era apenas uma arte, era uma forma de contribuir para a mudança de sociedade. A necessidade de preservar o momento, de contar uma história a partir da imagem, de registrar um fato, estava presente em todas as suas falas sobre o que era importante na fotografia, mas a história que ele contou, os momentos que preservou, os fatos que registrou, fazem parte de uma luta muito maior que a fotografia. O que movia meu pai era a luta política e a convicção da necessidade, mais que urgente, de transformar a sociedade. A partir disso, ele viu na fotografia uma maneira de contribuir com essa transformação, e hoje temos um grande acervo onde está presente uma parte da historia da luta dos trabalhadores, dos povos ribeirinhos, dos indígenas, das mulheres, dos povos explorados e oprimidos, uma historia que dificilmente vemos estampada nas capas de grandes jornais, uma historia que deve ser preservada.”

    Falar, lembrar de João Zinclar é falar do povo, da classe operária das suas lutas e anseios.

    Sônia Fardin reconhece o grande patrimônio do legado do fotógrafo.  “O acervo João Zinclar guarda indagações políticas e estéticas sobre inquietações , conflitos e estratégias de lutas. Trata-se de um dos mais importantes acervos da história brasileira recente. Não apenas pela quantidade e qualidade de imagens, nem somente pelo período histórico, mas principalmente por ter como agente produtor um olhar forjado ao longo de anos em estudos e leituras. No peso da rotina operária, nos improvisos da vida de andarilho, no trabalho artesanal, nos embates da luta sindical, na formação foto-cineclubista, na luta política de esquerda e na troca de olhares vivida em metrópoles e vilarejos. Realidades registradas pela ótica de quem recusou-se a ser mera extensão de máquinas, tanto na fábrica como na mídia, e escolheu não se acomodar na camada confortável da obviedade – da vida, da política e da produção fotográfica.”

    Gente e cotidiano,  é título dado por Zinclar a uma série realizada entre 2005 e 2006, durante a pesquisa para a produção do livro O Rio São Francisco e as águas no Sertão, publicado em 2010.  A exposição virtual traz mais de 90 imagens  que compõe uma  série inédita de um dos mais dedicados documentaristas visuais da vida e das lutas do povo nordestino. O acervo  de João Zinclar pode ser visitado no endereço:  https://ajz.campinas.br.

     

    Grupo Gestor do Acervo João Zinclar

    O Acervo João Zinclar, datado de 1994 a 2013, é resultado da atuação do fotógrafo João Zinclar, que foi militante nos campos do sindicalismo, cultura popular, direitos humanos e das lutas por moradia, terra e democratização da comunicação.

    Composto de 53.849 negativos flexíveis, cerca de 180 mil imagens digitais, além de dezenas de publicações impressas, este acervo é um dos maiores legados da história recente dos movimentos sociais latino-americanos.

    Também organiza cursos, debates, exposições e outras atividades militantes nas áreas do audiovisual e da história dos movimentos sociais por direito à comunicação, terra, trabalho e moradia. O Acervo João Zinclar é uma iniciativa popular sem fins lucrativos que preserva e divulga a trajetória e o trabalho do militante João Zinclar, reconhecido como o “fotógrafo das lutas sociais”.Integram a coordenação o Grupo Gestor do Acervo João Zinclar: Victória Ferraro Lima Silva (detentora do acervo), Sônia Aparecida Fardin (historiadora e curadora), Batata (agente cultural), Augusto Buonicore (historiador), Orestes Augusto Toledo (historiador), Carlos Tavares (fotógrafo e cinegrafista) e Danilo Ciacco Nunes (administrador).

    Nesse percurso, os conjuntos de documentos foram inicialmente depositados no Museu da Imagem e do Som de Campinas e passaram por um processo de identificação de suportes, inventário, higienização e parcial digitalização dos negativos.  O Grupo Gestor do Acervo, neste cinco anos, vem realizando ações de difusão, com destaque para o site www.ajz.campinas.br, que é uma  ferramenta de difusão do acervo com destaque para as exposições temáticas virtuais. Este ano já foram realizadas: O Rio São Francisco e as águas no Setor; Mulheres em Luta: Imagens da classe trabalhadora em Luta, e a última Gente e Cotidiano.

    Também provomendo debates e diálogos com diversos segmentos dos movimentos sociais com os quais João Zinclar atuou.

    O objetivo desses diálogos é formatar um modelo de gestão do Acervo João Zinclar que tenha a garantia da presença ativa de três pilares da memória com os quais a ação militante de João interagiu: o Arquivo Edgar Lourenhot, como representante da academia, o Museu da Imagem e do Som, como representante da esfera pública de cultura e a Casa de Cultura Tainã, como sujeito político dos movimentos sociais de cultura e memória.

     

     

    Colaboração

    Sônia Fardin

    Victória Ferraro Lima Silva

    www.ajz.campinas.br

     

     

     

  • A Comunidade Jongo Dito pede ajuda para o replantio nas áreas afetadas pelo incêndio

    A Comunidade Jongo Dito pede ajuda para o replantio nas áreas afetadas pelo incêndio

     

    Agricultura quilombola desenvolvida na Casa de Cultura Fazenda Roseira que foi destruída pelo incêndio
    Foto: Fabiana Ribeiro

    … “Mato seco pegou fogo
    Mamoeiro ficou de pé, mamoeiro ficou de pé
    Se é fogo morro acima
    Ou tu fica ou dá no pé, se é mamoeiro fica em pé
    Se é água morro abaixo
    Ou tu fica ou dá no pé, se é mamoeiro fica em pé ”…

    (Ponto de jongo da Comunidade Dito Ribeiro, Campinas)

     

     

     

    Resistir, persistir, prosseguir e unir para que todos e todas façam aquilo que uma única pessoa não consegue fazer sozinha, assim é a Comunidade Jongo Dito Ribeiro, guardiões do legado do Jongo do Sudeste  que é patrimônio imaterial da cidade de Campinas (SP).

    A Comunidade Jongo Dito Ribeiro está fazendo uma campanha para a doação de mudas de diversas espécies, e promoverá nos dias 1  e 2 de setembro um mutirão  para replantio nas áreas que foram destruídas pelo incêndio no mês de junho,  no  local  ocupado pela Casa de Cultura Fazenda Roseira.

    A Casa de Cultura Fazenda Roseira é gestada pela comunidade e abriga  inúmeras ações culturais e educativas promovidas pela comunidade. As ações que tem como eixos a cultura, a história, a mitologia e o meio ambiente em uma perspectiva afro-brasileira, no local funciona também o Centro de Referência dos Jongueiros e Jongueiras do Sudeste.

    Esse rico patrimônio foi ameaçado no final de junho (26) por um incêndio que consumiu parte da APP (Área de Preservação Permanente), quase toda da plantação da comunidade e por pouco não atingiu um dos casarões do complexo da Casa de Cultura Fazenda Roseira. A comunidade desenvolve a agricultura quilombola no local, que é uma prática baseada nos saberes e  fazeres da cultura de matriz africana, respeitando o tempo de produção de cada cultivo,  não se utiliza  nenhum tipo de agrotóxico para controle da vegetação espontânea e nem para o controle de pragas.

    O prejuízo causado pelo incêndio foi grande,  a plantação de legumes, de feijão, a horta  e as árvores frutíferas foram destruídas em quase sua totalidade, restando algumas bananeiras e um mamoeiro. Apesar de controlado, o incêndio iniciado no entorno da Casa de Cultura demonstrou a vulnerabilidade do local , segundo Bianca Lúcia Lopes, coordenadora geral da casa. “ Não temos cerca, não temos segurança . Se fosse durante a noite, o fogo teria atingido a casa” declarou. O alambrado que cercava a Casa de Cultura Fazenda Roseira  foi roubado meses atrás.

    Para a ação restauro do plantio, a Comunidade Jongo Dito Ribeiro precisa e conta com voluntários para a doação de mudas (preferencialmente) ou sementes  de diversas espécies de hortaliças,  ervas, legumes e frutas ( lista completa no final da matéria). A colaboração também pode ser realizada por meio da doação de mudas de primaveras que serão utilizadas para o cercamento da área pertencente a Casa de Cultura Fazenda Roseira. Os voluntários também poderão ajudar na atividade de plantio das áreas, ou com doação de gansos para servirem  de alerta a invasores e auxiliarem na segurança do espaço ocupado pela casa de Cultura Roseira.

    Os gansos são aves consideradas territorialistas, característica que faz com que o animal não responda com tanta facilidade a estímulos que podem torná-lo dócil. Dessa forma, são altamente utilizados para fazer a segurança de locais diversos.

    O quê doar?

    100 –  Mudas de Primavera – Urgente/ para o cercamento

    Mudas de Hortaliças – Replantio 

    100 –  Alface

    100 –  Rúcula

    100 –  Chicória

    100 –  Couve

    100 –  Agrião

    100 –  Cebolinha

    50 –  Salsinha

    50 –  Salsão

    50 –  Coentro

    50 –  Mostarda

     

    Ervas – Replantio

    50 –  Alecrim

    50 –  Orégano

    50 –  Arruda

    50 –  Manjerona

    50 –  Manjericão

    50 –  Alfazema

    50 –  Hortelã

    50 –  Colônia

    50 –  Poejo

    50 –  Cidreira

    50 –  Erva Doce

    50 –  Cana Do Brejo

    50 –  Quebra Pedra

     

    Legumes e Frutas – Replantio

    50 –  Tomate

    50 –  Chuchu

    100 –  Bulbos Inhame

    100 –  Bulbos Cará

    100 –  Manivas de Mandioca

    30 – Abacaxi

    30-  Limão

    30 – Laranja

    30 – Jabuticaba

    100 –  Mudas de Banana

    30 –  Acerola

     

    10 –  Gansos para Preservação da área

     

    Como doar?

    As doações poderão ser levadas  diretamente na  Casa de Cultura Fazenda Roseira ( Rua Domingos Haddad, s/nº – Residencial Parque da Fazenda – Campinas SP – de terça à sexta-feira das 10 às 17h ), mais informações e contato pelos telefones (19) Alessandra Ribeiro 19 99134 3922, Maira 19 99409 5247, ou ainda  pelos e-mails : alejongo@gmail.com ou mai17.silva@gmail.com.

     

  • MILICIANOS COM ARMAS DE FOGO AMEAÇAM AS FAMÍLIAS DO ACAMPAMENTO MARIELLE VIVE

    MILICIANOS COM ARMAS DE FOGO AMEAÇAM AS FAMÍLIAS DO ACAMPAMENTO MARIELLE VIVE

    O acampamento Marielle Vive em  Valinhos segue para o quarto mês de luta e resistência. Atualmente são mais de 1300 famílias acampadas em terras improdutivas que eram destinadas a especulação imobiliária.

    A organicidade do acampamento tem se firmado a cada dia, os núcleos de base organizados sustentam a estrutura que conta com cozinha coletiva, almoxarifado, atendimento médico e diversas outras ações envolvendo as famílias acampadas.

    A luta das famílias é grande, além do direito fundamental ao acesso à água potável negado pela Prefeitura Municipal de Valinhos.  O acampamento vem sofrendo constantes ameaças de milicianos vinculados empresa Eldorado Empreendimentos Imobiliários, dona da fazenda. A intimidação é feita por meio de disparos com armas de fogo na direção do acampamento.

    A empresa Eldorado Empreendimentos Imobiliários teve sua solicitação de reintegração de posse suspensa no dia 03 de maio,  e  no dia 27 de junho foi ratificada pelo Ministério Público do Estado de São Paulo em parecer favorável para o Acampamento Marielle Vive.

    Não é a primeira vez que a empresa age de forma irregular, os milicianos ligados a empresa ameaçar ou forjar provas irregulares contra as famílias acampadas, além dos milicianos armados e disparando armas de fogos, também houve a  tentativa  de forjar provas através do ingresso de gado, de forma sistemática e certamente irregular na área ocupada.

     

     

  • O adeus ao Mestre Alceu do Urucungos

    O adeus ao Mestre Alceu do Urucungos

    Alceu Estevam, o Mestre “Alceu do Urucungos”  partiu em uma viagem para Orum, no dia 18 de junho.  Alceu era negro,  da periferia, músico, fazedor de cultura, agitador cultural, militante e defensor do movimento negro, e  mais recentemente transitava pela área de documentários como vídeo documentarista.
    Meses atrás, por conta da partida da grande Raquel Trindade e a minha aproximação com a Cultura Popular  foi sugerido que eu escrevesse  um texto para os Jornalistas Livres, mas eu pensei nele, no Mestre Alceu, ele sim era a pessoa para escrever. Hoje, eu faço questão de escrever o texto em homenagem a ele, mestre, parceiro e grande amigo.

    Alceu José Estevam parte dias antes de completar 59 anos, vítima de um infarto fulminante, ele tinha problemas renais, o que o levou a fazer hemodiálise. No entanto, conseguiu se submeter a transplante renal há cerca de dois anos e estava bem.

    Alceu foi um dos fundadores e um dos mais ativos integrantes do grupo Urucungos, Puitas e Quijengues que foi formado por Raquel Trindade a partir de um curso na Unicamp. As suas memórias do samba de bumbo praticado nos quintais das casas de familiares. A sua militância e como fazedor cultural começa no final da década de 70 e início da década de 80 no teatro que o fez perceber que o caminho era a cultura popular e a de matriz africana.

    No final da década de 80, ele inicia no curso de extensão universitária criado pela grande Raquel Trindade onde negros funcionários e da comunidade misturavam-se a brancos e orientais, um grande fato multicultural.

    O grupo é um praticante das estéticas ligadas ao teatro negro brasileiro, com a marcante presença do samba de bumbo, o samba campineiro.

    Nesse ano de 2018, Urucungos, Puitas e Quijengues completa 30 anos de existência e Alceu foi um dos responsáveis por manter vivo os caminhos sonhados e trilhados por Raquel Trindade, o grupo em Campinas, é um dos únicos que mantém a tradição da Nação Maracatu, com a coroação e todas as referências culturais do legado dos Trindade.

    Alceu tem papel essencial na história contemporânea da cultura paulista. Ele tem papel fundamental no movimento negro e na preservação da cultura de matriz africana no estado de São Paulo.

    Militante atuante no movimento negro abriu caminho fazendo o Museu Afro na PUC de Campinas e representou várias vezes a cultura de matriz africana, lutava por políticas culturais e pelo reconhecimento dos mestras e mestras da nossa cultura. Uma das referências da Cultura Viva no país.  Ativista de comunicação digital livre articulou várias ações na área, mais tarde sua paixão por comunicação começou a trilhar um caminho de documentarista.

    Junto ao seu caminho de documentarista, Alceu travava uma nova luta pelo reconhecimento do Samba de Bumbo como patrimônio imaterial da cidade de Campinas. O samba do qual ele era herdeiro, seus pais traziam esse legado, e ele lutava pelo reconhecimento do valor cultural.

    Alceu era um cara agregador, petista e pontepretano sempre fazia provocações nas redes sociais, mas era incrível, ele discutia, defendia o ponto de vista, eu vi altas tretas dele, mas sempre no final, havia a ponderação do tipo” vamos sentar uma hora e tomar um café para conversar melhor” ou “ discordo do ponto de vista dele mas o cara é um parça e o respeito”.  E tudo tinha um final feliz. Ele construía diálogos onde parecia ser impossível.

    O nosso diálogo e parceria começou anos atrás, em 2011, com uma proposta de exposição que retratava um recorte importante sobre história do samba em Campinas (SP) , fiquei encantada com a narrativas do mestre. Eu atuava junto a (Cepir) Coordenadoria Especial de Promoção da Igualdade Racial e era responsável pela construção do material expositivo, conversei várias vezes com o Alceu pelo telefone. No dia da abertura da exposição recomecei a fotografar a partir da apresentação do Urucungos. Anos depois, volto para a Secretaria de Cultura e começo a fotografar a cultura e seus movimentos na cidade, principalmente a cultura popular, a cultura ancestral. Eu me rendo a sabedoria dos mestres e mestras uma fonte infinita de aprendizados. Reencontro o Urucungos e o Alceu, nessa trajetória, a partir daí começamos uma parceria de camaradagem, reciprocidade, respeito, coisas que são familiares na cultura popular.

    Ele e a Rosa, sua companheira, me acolheram como se eu pertencesse a comunidade do grupo, e sempre diziam “ A Fá pertence ao Urucungos, agora só falta vestir a saia”.

    Esse acolhimento que tem ao mesmo tempo respeito e liberdade, certa vez em das conversas com o Alceu, ele narra; “aqui (no Urucungos) somos parceiros pela nossa escolha pessoal, cada um tem a liberdade de ir e vir quando quiser. Ninguém é dono de nada, a coletividade é formada por laços de respeito e de parceria”.

    Várias longas conversas tive com o Mestre, mais recentemente, com ele investindo em uma carreira de vídeo documentarista, trocávamos informações sobre técnicas, linguagens e direção de fotografia e planejávamos fazer alguns projetos em conjunto.  Ele foi apelidado de “Griô Ninja” quando estava com a câmera na mão, e montou uma produtora “ Koroamaisboy” e dentro das suas produções destaca-se o documentário “Candombe, Comparsas e Mocambos” que contextualiza a passagem do Grupo Nación Zumba lelé, companhia de comparsa de candombe do Uruguai, na Casa de Cultura Tainã, de Campinas.

    A espontaneidade, a alegria, um jeito inventivo de ser e de fazer, o dom de agregar eram qualidades naturais nele. Em um curso sobre patrimônio em Itu, após o almoço, o grupo que estávamos parou na praça central e lá o Mestre puxou uma roda, cantamos e dançamos. Algumas das pessoas que estavam pela praça, param para ver e se divertiram. No dia seguinte do curso, o Alceu, que era também ouvinte do curso, levou os tambores e ele e a Rosa puxaram uma grande roda de Samba de Bumbo, em uma discussão teórica, o Alceu levou a vivência, a cultura pulsante, ancestral para os corações e almas dos que estavam no curso.

    Alegria, irreverência, agregador esse era o Mestre Alceu.

    Ele partiu em meio a festa, em meio ao aniversário do grupo, as festas da cultura popular em seus arraiais nos meses de junho e julho. Mestre Alceu escolheu partir durante as festas, no meio de muita alegria, celebração, mu.

    Salve! Salve grande mestre da Cultura Popular!  Salve grande guerreiro pela luta contra as desigualdades!

    Salve Mestre que fez luta, que construiu diálogos, conquistou e caminhou de braços dados, agregando, incluindo sempre com muita alegria.

    Salve Mestre Alceu Estevam do grupo Urucungos, Puitas e Quijengues.

    Salve Mestre querido!

    Gratidão por todos os largos papos e grandes ensinamentos.

     

    Texto e Fotos:  Fabiana Ribeiro

     

     

     

     

     

  • AMEAÇAS CONTRA O ACAMPAMENTO MARIELLE VIVE

    AMEAÇAS CONTRA O ACAMPAMENTO MARIELLE VIVE

    Após a decisão da justiça (03/05) de suspender a ordem reintegração devido à ausência de comprovação de posse da Eldorado Empreendimentos Imobiliários, que sustentava uma fictícia criação de gado na área, as famílias que fazem parte do Acampamento Marielle Vive denunciam ameaças e o ingresso irregular de bovinos na área ocupada no município de Valinhos (SP).

    Segundo atestam testemunhas, desde a última quinta- feira (03/05), homens vinculados aos fazendeiros têm ingressado gado de forma sistemática e certamente irregular nas áreas das fazendas São João das Pedras e Eldorado, ambas comprovadamente improdutivas. As famílias alertam sobre tentativas de forjarem provas para contrapor a decisão do desembargador do Tribunal de Justiça em torno da posse da terra ocupada.

    Além disso, a ocupação Marielle Vive tem sido alvo de ataques e ameaças desde seu início. Recentemente as famílias se depararam com homens portando armas de fogo em frente à portaria e em seguida ouviram dois disparos de arma de fogo realizados na madrugada do domingo (06/05). Relatam também que homens armados intimidam cotidianamente os sem terras na entrada do acampamento. Desse modo, as famílias denunciam as ameaças e receiam sobre a segurança do acampamento.

    Próximo de completar um mês na próxima segunda-feira, as 700 famílias que moram no Acampamento Marielle Vive continuam se organizando na luta contra a especulação imobiliária e em defesa da Reforma Agrária, amparada constitucionalmente.
    Não aceitamos nenhum tipo de violência contra as famílias e denunciamos as agressões e ameaças.

    Conclamamos as entidades de defesa dos direitos humanos, partidos políticos, sindicatos, movimentos populares e apoiadores a manifestar o repúdio a este tipo de prática e zelar pela garantia de direitos das famílias sem terra.

     

    Fotos: Fabiana Ribeiro | Jornalistas Livres

     

    Ocupação Marielle Vive em Valinhos, foto: Fabiana Ribeiro