Jornalistas Livres

Autor: Helio Carlos Mello

  • Podes crer

    Podes crer

    Quase 10 mil km² da remanescente floresta amazônica foram devastados, diz o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), nos dados do PRODES, projeto de monitoramento do desmatamento da floresta amazônica brasileira por satélite. O programa calcula as taxas anuais de desmatamento, que foram divulgadas hoje, evidenciando a constante derrubada da floresta.

     

    Ficará furioso o presidente?

     

     

    O projeto PRODES realiza o monitoramento por satélites do desmatamento por corte raso na Amazônia Legal e produz, desde 1988, as taxas anuais de desmatamento na região, que são usadas pelo governo brasileiro para o estabelecimento de políticas públicas.

     

    A taxa anual de desmatamento PRODES tem sido usada como indicador para a proposição de políticas públicas e para a avaliação da efetividade de suas implementações.  Os dados espaciais do PRODES são utilizados em: (a) Certificação de cadeias produtivas do agronegócio como a Moratória da Soja e o Termo de Ajustamento de Conduta da Pecuária-TAC da Carne; (b) Acordos inter governamentais como a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 21) e os Relatórios de Inventário Nacional de Emissões de Gases de Efeito Estufa e (c) Doações monetárias pelo Fundo Amazônia, que usam o PRODES como dado de referência à atividade de desmatamento na Amazônia Legal.

    Mapas desenhados por Leonardo da Vinci

    É do alto, olhando de cima, que essas máquinas incríveis, os satélites artificiais e suas lentes, seus sensores, desmentem os governos insanos. Se o homem antigo se guiava pelos instintos e momentos de sabedoria, ou pela arte e ciência numa vontade de humanidade, hoje é o olho parabólico no cosmo que nos guia.

    O INPE, mesmo chacoteado, humilhado até, afirma sua dignidade.

     

     

     

     

    O satélite CBERS 04A já está na base de lançamento de Taiyuan (TSLC), China. O Programa CBERS (do inglês, Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres) no Brasil é desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e na China, pela Academia Chinesa de Tecnologia Espacial (CAST). O lançamento do CBERS 04A, o sexto da parceria Brasil-China, está previsto para o dia 17 de dezembro.

    Içamento do refletor parabólico

     

    Os satélites CBERS 04A e o Amazonia-1,  terão uma nova antena na Estação Terrena de Cuiabá (MT), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O novo sistema será utilizado para o rastreio, controle e a recepção de imagens dos dois satélites e permitirá a execução de passagens simultâneas, sem perda de dados dos novos satélites de observação da Terra.

     

    Montagem do refletor parabólico

     

    *informações e imagens por INPE

  • Idiossincrasia

    Idiossincrasia

     

    Darcy Ribeiro

     

    Como se entre os olhos que cegam, ninguém visse a fogueira que se instala em praça pública, contra os indígenas.

     

    O incêndio da taba, na Terra Indígena dos Pataxó, no sul da Bahia, berço da nação, é fato grave. Após mais de 500 anos, assistimos a chama acesa ainda, a queimar a resistência de gente da origem.

     

    Após a posse do atual presidente da república, muitos foram os ataques a postos avançados da Funai, do IBAMA ou ICMBio; até fogo em florestas, com povos indígenas desconhecidos, virgens de nós, atearam  fogo.

    O sorriso de Rapicho

     

     

    Preferem cinzas à razão, preferem a devastação, o escárnio. Por que sorriem homens tão brutos? 

     

    Como deter a ignorância de gente tão simples que serve aos donos das terras, do poder econômico? Gente que mata onça, que serra árvore milenar nas matas, que corta índio ao meio e os perfuram na bala?

     

    É índio, é negro, é ser periférico que negam, que vedam e enterram em cova rasa, arrancam o couro. São os habitantes dos ecossistemas todos que condenam à morte, tanta riqueza viva que jogam no ralo.

     

    O feriado da república nos deixa nu em 2019, nossas vergonhas à mostra.

     

  • Entre o fascínio e o preconceito

    Entre o fascínio e o preconceito

     

    Como as duas faces de uma moeda, nosso caráter de país se embaralha, ilude a própria cara no espelho. Saúde se escreve com rios e florestas, difícil entendimento para a nação. 

    Tudo vagueia, meandra entre fascínio e exclusão. Subserviência foi a regra estabelecida pela elite colonizadora na terra dos indígenas, seus povos. Toda a América foi varrida pelo bafo alienígena, imperialista. 

     

    Persistem os bravos, os fortes, a originária fé. Há em curso uma educação dos brancos do asfalto, seja pela arte, pela espiritualidade ou pelas ácidas palavras de um rapper Guarani, furando as bolhas das ideologias. 

    Apesar do fascismo que insiste na aridez do futuro, há um elo que reluz, naqueles que não temem o desconhecido, o novo, o arcaico, a testeira.  Temperança é seu nome, a ciência das coisas, é Tupã, é Mavutsinin, é Txai.

     

    Há brasileiros que até queimam um indígena dormindo em paz em seu chão, há tantos que nem se lembram deles, outros tantos querem sim abraçar sua gente, entender os caminhos, desvelar as mentiras.

    De tudo fica a determinação de seguir, de  saber-se imenso, imerso, gigante adormecido que sonha consigo mesmo, tão belo que assusta, apavora os insanos. Somos o sonho duma aldeia multiétnica, é fato, por mais que sufoquem o novo mundo. 

     

    Uma nova ordem se estabelece, feliz em seus cantos, vigora nosso destino. Há profetas, poetas, ilusionistas espalhados pelo campo largo de nossas dúvidas, sei apenas que falam do fundo das almas, tal olho d`água, fonte limpa das vontades e leitos.

    Enfim, não se cala o canto indígena das Américas.

     

    *relato de Beatriz de A. Sant’Anna recolhido por: http://www.aldeiamultietnica.com.br/

  • Ô dó

    Ô dó

     

    Entre o primeiro poço de petróleo no Brasil, em Lobato, bairro de Salvador, e o chamado megaleilão do pré-sal, passaram-se oitenta anos. Ironia ou castigo do destino, as bodas de carvalho deu-se com um banho de óleo, ouro negro, nas brancas praias da Bahia, uma mácula para Iemanjá.

     

    O dó. Pensar em tudo que o petróleo trouxe à humanidade dá-me uma imundice na alma; é plástico, é borra, é fumaça da pior espécie, é guerra, é soberba, é dominação.

    Como seria um mundo sem petróleo? Será que teríamos feito tanta guerra? Será que teríamos encontrado outras soluções para as necessidades e novidades do mundo e suas ideologias?

    Difícil saber se sem petróleo estaríamos mais plenos e limpos, tudo tão obscuro nas vontades e atitudes humanas, mas sei, estamos mais triste após o plástico e a gasolina, mais feios, mais sujos.

     

  • Índios Atravessando um Riacho (O Caçador de Escravos)

    Índios Atravessando um Riacho (O Caçador de Escravos)

    Madeireiro, garimpeiro, capitão do mato,

    petroleiro.

    palavras sem lei,

    sem dó,

    direito infeliz da cobiça, leilão das almas

    .

    Sinônimo,

    verbo

    perversão

    .

    Gente desdentadas em seus nós,

    sede capital,

    fome de carne ou fortuna

    .

    O óleo de averno

    a nos untar,

    ungir.

     

     

  • Caçador e caça

    Caçador e caça

     

     

    Querem cercar o índio, cercear, caçar. À bala, mataram mais um, emboscado entre nuvens, no chão da floresta, entre rios e bichos do mato.

     

    Apavorados ficam o sentimento e as ideias do mundo, sem saber quando pára isso no país que chamamos de nosso. Qual é a cifra dos mortos indígenas após 519 anos, neste chão tão grande, que tantos querem por a mão e gana? Quantos corpos serão necessários, ainda, para dar fim à cota da conquista da terra alheia? Dois, três, quatro milhões?

     

    Somos bárbaros, a fome da pátria livre não tem fim, Abapuru que se alimenta de homens, anemia refém de nossos erros.

     

    Araribóia, a cobra brava, é terra distante dos índios Guajajara. Lá inventaram sua guarda, seu exército de guerreiros guardiões.  Em caça, tornou-se o caçador, abatido por tiro certeiro na ordem das coisas. Madeireiros invasores, gente barbuda e bárbara, que matam árvores e homens que se põem no caminho.

     

    É morte o que querem, perversa aritmética.

     

    Resta a dúvida de velho cacique dos índios Sioux, famosa carta de impossível compreensão aos incautos:

     

    Como pode-se comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal ideia é estranha. Nós não somos donos da pureza do ar ou do brilho da água. Como pode então comprá-los de nós? Decidimos apenas sobre as coisas do nosso tempo. Toda esta terra é sagrada para o meu povo. Cada folha reluzente, todas as praias de areia, cada véu de neblina nas florestas escuras, cada clareira e todos os insetos a zumbir são sagrados nas tradições e na crença do meu povo.

    Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um torrão de terra é igual ao outro. Porque ele é um estranho, que vem de noite e rouba da terra tudo quanto necessita. A terra não é sua irmã, nem sua amiga, e depois de exaurí-la ele vai embora. Deixa para trás o túmulo de seu pai sem remorsos. Rouba a terra de seus filhos, nada respeita. Esquece os antepassados e os direitos dos filhos. Sua ganância empobrece a terra e deixa atrás de si os desertos. Suas cidades são um tormento para os olhos do homem vermelho, mas talvez seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que nada compreende.

     

    https://youtu.be/VTKIXqpO79E

     

    imagens por Helio Carlos mello© – Jornalistas Livres