Jornalistas Livres

Autor: Clara Luiza Domingos

  • Marcha pelo Fim da Violência Contra a Mulher em Lisboa

    Marcha pelo Fim da Violência Contra a Mulher em Lisboa

     

    Texto V.G.

    Cobertura Fotográfica Victor Rodolpho Villa Real

    Vídeos Clara Luiza Domingos

     

    As irmãs ativistas dominicanas conhecidas como “Las Mariposas”, Minerva, Pátria, e María Teresa Mirabal, que se opunham ativa e fortemente ao regime ditatorial presidido pelo general Trujillo, entre os anos de 1930 e 1961, na República Dominicana, foram assassinadas em 25 de novembro de 1960 pela polícia secreta, que as espancou até a morte e tentou fazer a brutalidade passar por acidente automobilístico jogando o carro em que estavam a viajar com seus corpos, junto com o do motorista, barranco abaixo na estrada. Foi criada esta data, 25 de novembro, em mémória. A população não engoliu e, aproximadamente 6 meses depois do fato, em 1961, Trujillo é, finalmente, assassinado. 

    Em 1981, durante o primeiro Encontro Feminista Latino-Americano do Caribe, em Bogotá, Colômbia, decidiu-se adotar a data do assassinato dessas supracitadas mulheres como o “Dia Internacional da Não-Violência Contra a Mulher” e, em 1999, a ONU (Organização das Nações Unidas) reconheceu a data e criou o “Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres”. Ainda hoje esta é uma luta muito necessária; vide Marielle Franco.

    Na semana passada, a jornalista chilena Albertina Martinez Burgo, de 38 anos, que registrava abusos e agressões policiais durante as recentes manifestações no Chile foi encontrada morta em seu apartamento, sem sua câmera, celular e computador. Veja bem, o que Las Mariposas nos alertam é que não se matam mulheres por matar. Matam-nas quando fazem valer suas opiniões e vontades ou simplesmente por estas serem contrárias às dos homens. Se aos olhos da sociedade parece ser um insulto uma mulher dizer “não” com convicção a um desconhecido qualquer que seja, dando “passe-livre” para classificá-la como agressiva, gerar comentários e narizes torcidos, imagina dizer “não” a um cônjuge ou a uma figura de poder? Isso sem contar a privação da liberdade de ir e vir, em muitas escalas, as quais são submetidas. Ser puxada pelo braço, por exemplo, para fazer valer a vontade, quase incontrolável e animalesca, que os homens têm de controlar as mulheres, é corriqueiro. Quando estas não se calam, são expostas, no mínimo, a uma violência do tipo passiva-agressiva, onde o agressor tenta se passar por vítima aos olhos de terceiros.

    Foi o meu caso, mesmo no domingo último, ao sair da sessão única do filme “Marighella”, no espaço Olga Cadaval em Sintra, Portugal. O rapaz fez-se de tonto e respondeu ao meu grito no escuro de que me largasse, dizendo: “Mas eu só queria te fazer uma pergunta!”. “Pois não me encoste! Se eu quiser a respondo.” foi o que pensei em responder. Pensei. 

    Mulheres que pensam; que discordam; que fazem o que querem, são consideradas audaciosas sob a ótica do patriarcado no qual estamos inseridxs. É natural que a mulher que, através dos ciclos menstruais e suas mudanças hormonais mensais lida com pontos-de-vista e percepção diversos dentro de um mês, saiba intrinsecamente respeitar e valorizar a pluralidade e a vida. Enquanto arquétipo, é subversivo aos olhos vorazes, competitivos e mesquinhos do capitalismo. O capitalismo é egoísta. A natureza feminina arquetípica, não. 

    Em Portugal o Número de feminicídios cresceu 40% desde 2016. Num país considerado pacífico este dado assusta, e muito. Eles estão desatinados com o nosso re-despertar de ativa insurgência. Sim, cá há poucos assaltos, pode-se andar “tranquilamente” pela noite, mas não ouse ter opinião e atitude se for mulher. Ainda há uma forte cultura de culpabilização indireta da mulher vítima de violência doméstica que aqui abre queixa contra seus agressores homens, que respondem pela maior parcela destes mesmos feminicídios. Pode esperar um olhar xereta e desprezível pra com estas vítimas vindas por parte da sociedade. “Mas o que foi que você fez pra ele te bater?” ainda é uma frase comum de se ouvir. 

    Existem muitas formas de violência e controle da mulher além das físicas óbvias. Após a crise econômica de 2011 os preços dos aluguéis só sobem e hoje estão exorbitantes. No país com o menor salário mínimo da União Européia (600 euros), arcar com aluguéis desse valor, ou muitas vezes maiores, sozinhx, é impraticável. Principalmente atualmente, em que a contratação de empregados está a ser substituída pela cultura neoliberal da terceirização através dos chamados “recibos verdes”. Para divorciar-se cá, um valor de 600 euros é cobrado e muitas mulheres não têm esta oportunidade. Manter as mulheres em situação de dependência econômica de seus cônjuges é uma forma violenta de tentar calá-las e privá-las de liberdade. O diferencial salarial se traduz em 58 dias de trabalho não pagos para as mulheres em Portugal pois grande parte dos empregos socialmente desvalorizados e informais são relegados à elas. 

    A Marcha foi linda de se ver e estar. Caminhou do Largo do Intendente até a Praça do Rossio e contou ainda com uma instalação com muitos pares de sapatos que simbolizavam aquelas que, infelizmente, não estão mais entre nós, pois lhes foram tiradas as vidas. 

    https://www.instagram.com/tv/B5TqgcNBIcu/

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    Abaixo estão dois Manifestos: da “Marcha pelo Fim da Violência Contra as Mulheres” (que contêm a lista dos movimentos subscritos e não inclui os grupos musicais presentes – Baque Mulher e Ritmos da Resistência – e tampouco os partidos políticos. Os partidos Bloco de Esquerda e Livre participaram ativamente da Marcha e levaram faixas); e, em seguida, o Manifesto da “Rede 8 de Março” que organiza a Greve Feminista no Dia Internacional da Mulher, que em Lisboa neste ano reuniu por volta de 30 mil manifestantes aos gritos com frases como “Caladas nos querem, rebeldes nos terão!” envoltas por uma aura violeta. 

    Manifesto MARCHA 25N 2019 

    LUTO pelas mulheres assassinadas. Em 1999, em memória de Minerva, Pátria e Teresa Mirabal, as dominicanas assassinadas em 1960, e conhecidas como Las Mariposas, as Nações Unidas declararam o dia 25 de Novembro como o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres. 20 anos passados sobre esta declaração, 20 anos passados sobre as manifestações que, anualmente, em todo o mundo, marcaram esta data, homenageando e celebrando a coragem destas três irmãs, em que todas e todos que lutam pela plena implementação dos Direitos Humanos se revêm, passados quase 60 anos sobre o cruel assassinato de Las Mariposas, continua a ser preciso erguer bem alto a voz e dizer que estamos de LUTO pelas mulheres assassinadas, em todos os continentes, vítimas de múltiplas formas de violência de género. Em Portugal, um país com legislação avançada no que diz respeito ao reconhecimento da plena igualdade de direitos das mulheres, os femicídios acontecem a um ritmo assustador. No ano de 2019, em média, houve um femicídio a cada 10 dias. Em Portugal, este ano, em média, foram assassinadas em contexto de intimidade três mulheres por mês. Os números revelam que, também no nosso país, aproximadamente uma em cada três mulheres reconhece ser, ou já ter sido violentada de alguma forma ao longo da sua vida, apenas por ser mulher. Portugal, que se diz ser um país de brandos costumes onde, como na maior parte dos países latinos, “as mães” são aparentemente “idolatradas”, as mulheres continuam a ser as grandes vítimas do sistema patriarcal (e ancestral) porque ainda somos regidas e regidos por práticas sociais atentatórias da liberdade individual de cada mulher. A lei foi à frente tentando marcar o passo, mas as práticas sociais têm-se mantido ofensivamente retrógradas, em muitas circunstâncias, também, apoiadas por sentenças infames e julgamentos públicos sobre a disponibilidade dos corpos das mulheres. A violência contra as mulheres está de tal forma naturalizada em Portugal que, em contextos de profunda brutalidade e de crimes de ódio em razão do género, os media continuam a referir crimes “passionais”, ou a diabolizar as vítimas, por terem escolhido novos parceiros sentimentais, por simplesmente terem deixado de aceitar um quotidiano de violência ou por quererem seguir novos rumos. O caldo “cutural” em que nos movimentamos ainda não reconhece o pleno direito das mulheres a escolherem os seus caminhos e, de forma não oficial, mas “tradicional”, aceita que estes crimes continuem a ocorrer. É por isso que, em 2019, vinte anos passados sobre a declaração do dia 25 de Novembro como Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, estamos na rua em protesto contra a discriminação a que as mulheres continuam a ser sujeitas no nosso país, contra o não reconhecimento do femicídio como um crime de ódio e contra todas as manifestações de violência de género, que são ainda 

    mais abusivas, degradantes e ofensivas no caso de mulheres lésbicas, bi e transexuais, mulheres negras ou de outros grupos étnico-“raciais” oprimidos, mulheres migrantes e mulheres pobres. É por isso que, em 2019, vinte anos anos passados sobre a declaração do dia 25 de Novembro como Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, estamos na rua em protesto contra a discriminação e a violência a que as mulheres continuam a ser sujeitas em todo o mundo, em particular em contexto de guerra e em contextos castradores do ponto de vista cultural, político e religioso. O LUTO pelas mulheres assassinadas que exibimos nas ruas no dia 25 de Novembro de 2019, Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres é o nosso grito individual de compromisso: “LUTO pela erradicação de todo o tipo de violência contra as mulheres!” Em Lisboa, marchamos em LUTO pelas mulheres assassinadas e em atitude de LUTA por todas as mulheres, de todas as condições sociais, culturais, étnicas, funcionais, etárias, reconhecendo-lhes pleno direito de viverem de acordo com a sua orientação sexual, de identidade de género, em paz e numa sociedade que lhes reconheça, e que pratique, a igualdade em todos os seus aspetos. Em Lisboa, 25 de Novembro de 2019, concentração às 17:30 no Largo do Intendente. Partida às 18:00 para o Rossio. SUBSCREVEM: A SEIES – Sociedade de estudos e Intervenção em Engenharia Social AMPLOS ANIMAR APDMGP – Associação Portuguesa pelos Direitos da Mulher na Gravidez e Parto CABE – Combate ao assédio ás brasileiras no exterior CASA DO BRASIL CASA QUI FEM – Feministas em Movimento FEMAFRO Festival Feminista de Lisboa GRAAL ILGA IMUNE Humans Before Borders Plano I POR TODAS NÓS – MOVIMENTO FEMINISTA REDE EX AEQUO Rede 8M UMAR- União de Mulheres Alternativa e Resposta”

    https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/1041173566226978/

     

    “Todas estamos convocadas para a Greve Feminista Internacional 8 de Março de 2019 Juntas somos mais fortes! A cada 8 de Março a rede 8M mobiliza e convoca todas e todos a fazer greve em defesa dos direitos das  Celebramos a união entre as mulheres e mobilizamo-nos em defesa dos nossos direitos. Somos herdeiras das lutas feministas e das resistências operárias, anticoloniais e antirracistas. Reclamamos o património das lutas pelo direito ao voto, ao trabalho com salário, a uma sexualidade livre e responsável, à maternidade como escolha, à habitação, à educação e saúde públicas. Por todo o planeta, somos as mais traficadas e as mais sacrificadas pela pobreza. Somos do país onde existem 6576 mulheres e raparigas vítimas de mutilação genital. Somos as sobreviventes da violência de género, que em Portugal mata, em média, duas de nós a cada mês, 80% das vítimas de violência doméstica e 90.7% das de crimes sexuais. Somos as vítimas da justiça machista, quando esta fundamenta as suas decisões em preconceitos, e da cultura da violação, que desacredita a nossa palavra e desvaloriza a nossa experiência, procurando atribuir-nos a responsabilidade das violências que sofremos. Somos as que vivem em alerta permanente, porque o assédio no espaço público e no local de trabalho continua a estar presente. 

    Somos múltiplas e diversas, de todas as cores e lugares, de todas as formas e feitios, com diferentes orientações sexuais e identidades de género, profissões e ocupações. Somos trabalhadoras, estudantes, reformadas, desempregadas e precárias, do litoral e do interior, do continente e das ilhas. Somos as invisíveis, as negras e as ciganas. Somos tu e eu, somos nós, somos tantas e tão diversas. A 8 de Março, mulheres em todo o mundo levantam-se em defesa dos seus direitos e mobilizam-se contra a violência, a desigualdade e os preconceitos. Porque as violências que sofremos são múltiplas, a Greve que convocamos também o é. No dia 8 de Março faremos greve ao trabalho assalariado, ao trabalho doméstico e à prestação de cuidados, ao consumo de bens e serviços e greve estudantil. Basta de desigualdade no trabalho assalariado! É a nós que nos é exigida a conciliação entre a atividade profissional e a vida familiar, razão que explica que sejamos as que mais trabalhamos a tempo parcial, o que originará reformas e pensões mais baixas no futuro, reproduzindo o ciclo de pobreza. Somos mais de metade das pessoas que ganham o salário mínimo, o que compromete a nossa autonomia financeira. As profissões em que somos a maioria da força de trabalho são muitas vezes social e salarialmente desvalorizadas. Nelas, as mulheres negras e imigrantes são as trabalhadoras mais exploradas e precarizadas. A diferença salarial é, em média, de 15.8%, ou seja, para trabalho igual ou equivalente, os nossos salários são inferiores, o que faz com que trabalhemos 58 dias por ano sem receber. Os cargos mais bem pagos são ocupados por homens, embora sejam as mulheres as que mais concluem o ensino superior (60.9%). A desigualdade salarial com base no género está presente em todo o lado, nas empresas e instituições privadas e públicas. Exigimos salário igual para trabalho igual ou equivalente e a reposição da contratação coletiva como forma de proteger o trabalho e combater as desigualdades. Temos direito a um projeto de vida digno e autónomo: não somos nós quem tem de se adaptar ao mercado de trabalho, é ele que tem de se adaptar a nós. A gravidez ou os cuidados com descendentes e ascendentes não podem ser o argumento escondido para o despedimento ou a discriminação. Basta de desigualdade no trabalho doméstico e dos cuidados! Para além do trabalho assalariado, muitas mulheres, sem que a maior parte das vezes isso resulte de uma escolha, têm de desempenhar diversas tarefas domésticas e de prestação de cuidados e assistência à família. Este trabalho gratuito, desvalorizado e invisibilizado ocupa-nos, em média, 1 hora e 45 minutos por dia, o que corresponde, durante um ano, a 3 meses de trabalho. A contratação de serviços domésticos reproduz muitas vezes várias desigualdades – raciais, de género e de classe, porque é um trabalho frequentemente desenvolvido por mulheres migrantes e racializadas, sem contrato e sem direitos. Reclamamos o reconhecimento do valor social do trabalho doméstico e dos cuidados e a partilha da responsabilidade na sua prestação. Propomos que este tipo de trabalho seja considerado no cálculo das reformas e pensões e defendemos o reconhecimento do estatuto de cuidador/a. Defendemos a redução do horário de trabalho e igualdade nos tempos de descanso e de lazer. Queremos respostas públicas de socialização de tarefas domésticas e de cuidados, das creches às residências assistidas e de cuidados continuados, das cantinas às lavandarias. Basta de reprodução das desigualdades e do preconceito nas escolas! Os currículos pelos quais estudamos continuam a contar a história dos vencedores, reproduzindo vieses de género, classe e raça. A praxe académica, onde o poder é exercido por meio da humilhação, reproduz violência machista, lesbitransfóbica e racista, estereótipos e preconceitos de género e objetificação dos nossos corpos. Defendemos o direito a conhecer a nossa história e a das resistências ao machismo e ao colonialismo, as alternativas económicas, culturais e ambientais. Exigimos o direito a uma educação pública e gratuita em todos os seus níveis. Reivindicamos uma escola da diversidade, crítica, sem lugar para preconceitos e invisibilizações, uma escola livre de agressões machistas e lesbitransfóbicas, dentro e fora das salas de aula, uma escola empenhada na educação sexual inclusiva como resposta ao conservadorismo. Basta de estereótipos e de incentivos ao consumo! Identificamos nos media, nas redes sociais, na publicidade e na moda a difusão da cultura machista. Rejeitamos a sociedade de consumo, que nos condiciona a liberdade e nos transforma em consumidoras. Não somos mercadoria e, por isso, recusamos a exploração dos nossos corpos e das nossas identidades, os estereótipos que ditam medidas- padrão, ideais de beleza formatados, gostos, comportamentos e promovem estigmas e discriminações. Porque exigimos ser protagonistas das nossas vidas e donas dos nossos corpos, recusamos o negócio em torno da nossa sexualidade e saúde reprodutiva e reclamamos a gratuitidade dos produtos de higiene. Basta de destruição ambiental! Recusamos as políticas neoliberais, porque elas são predatórias, destroem a biodiversidade, provocam alterações climáticas e originam milhões de migrantes ambientais, o que dificulta de forma muito particular a vida e a sobrevivência de mulheres, que, em muitas zonas do planeta, são quem se dedica à agricultura e tem a responsabilidade de prover a família de alimentos. Estamos solidárias com as mulheres indígenas que resistem à 

    globalização e estão comprometidas com as lutas contra as alterações climáticas, contra a dependência de energias fósseis e em defesa da soberania alimentar. Basta de guerra e de perseguição às pessoas migrantes! Rejeitamos as guerras e a produção de armamento. Para saquear matérias-primas e garantir controlo geopolítico e económico, destroem-se culturas, dizimam-se povos e expulsam-se populações dos seus territórios. As guerras originam milhões de pessoas refugiadas, entre as quais muitas mulheres e crianças, vítimas de redes de tráfico humano e sexual, da pobreza e da destruição. Levantamo-nos pelo fim das guerras, pelo acolhimento das pessoas migrantes e em defesa da alteração da lei da nacionalidade. No mundo ninguém é ilegal! Quem nasce em Portugal é português/portuguesa! Todas estamos convocadas para a Greve Feminista. Todas temos mil e uma razões para protestar, parar, reivindicar. Fazemos Greve porque não nos resignamos perante a desigualdade, a violência machista e o conservadorismo. Fazemos Greve para mostrarmos que as mulheres são a base de sustentação das sociedades. 

    VIVAS, LIVRES E UNIDAS! 

    SE AS MULHERES PARAM, O MUNDO PÁRA!”.

     

  • 1 ano do desaparecimento de Rosiney Trindade de Oliveira em Portugal

    1 ano do desaparecimento de Rosiney Trindade de Oliveira em Portugal

    Texto: Coletivo Vozes no Mundo

    Neste dia 14 de novembro de 2019 completa-se um ano do desaparecimento de Rosiney Trindade de Oliveira, em Portugal, ocorrido em circunstâncias misteriosas e possivelmente associado ao tráfico de mulheres.Muitas e muitos de nós lutamos por melhores condições e direitos na vida de uma mulher, principalmente na condição de imigrante. Infelizmente, Rosy tornou-se mais um caso concreto para esta luta.

    Mulher, trabalhadora, de origem humilde, estava fora dos círculos universitários que dominam a cidade de Coimbra e, portanto, fora de uma rede apoios que facilitaria a denúncia e a atenção ao caso. Rosy é de Curitiba, mas nos últimos anos morou em Itajaí, Santa Catarina. Chegou em Portugal no dia 1 de outubro de 2018 e começou a trabalhar em Lisboa. Poucos dias depois, aceitou uma proposta de emprego anunciada na internet para trabalhar no restaurante Restinova, na região de Coimbra.Como funcionária do restaurante, poderia também usufruir dos alojamentos que existiam nos fundos do restaurante e foi ali mesmo onde Rosy morou por 28 dias. O restaurante, localizado em uma curva mal iluminada à beira de uma pequena estrada, é conhecido por ser parada de caminhoneiros e viajantes.

    No dia 14 de novembro de 2018, durante a madrugada, Rosy desaparece e todos seus pertences, exceto documentos e celular, ficam no alojamento. O caso logo é abordado com um discurso irresponsável, seja pela mídia ou por funcionárias e dono do restaurante, sugerindo um comportamento duvidoso da vítima. De imediato, despejam a clássica versão estereotipada sobre mulher brasileira: “Rosy gostava de beber vinho de noite”, “Rosy usava lingeries” e etc. A irresponsabilidade é tanta que uma das primeiras matérias realizadas mostram funcionárias e repórter revirando as malas de Rosy antes mesmo da polícia chegar ao local.

    Desde então, acontecimentos levantam suspeitas sobre o restaurante e o dono, José Correia, como o caso de uma ex-funcionária que diz ter sido assediada pelo mesmo. Correia se recusa a dar entrevista há mais de 6 meses.
    Enquanto isso, no Brasil, a família tentava se organizar com doações online para conseguirem vir à Portugal, mas o valor arrecadado foi suficiente para pagar apenas a taxa de emissão do passaporte de um deles.

    Neste marco de um ano após o desaparecimento de Rosy, o cenário não é dos melhores. O caso está sendo investigado pela Polícia Judiciária de Coimbra, mas em sigilo. Não há nenhuma informação ou declaração após abril de 2019. São 7 meses em silencio e 1 ano sem respostas. O consulado brasileiro no Porto e em Lisboa se solidarizaram com o caso, mas nunca se pronunciaram ou pressionaram por respostas às investigações.

    No dia de hoje, o Vozes no Mundo – Frente pela Democracia no Brasil, realizou em Coimbra uma manifestação para fazer valer a continuidade de investigações efetivas que, na ausência da família, que não tem condições financeiras de estar presente para garanti-la, pode cair no esquecimento e se tornar mais um dado para a estatística das mulheres brasileiras trabalhadoras desaparecidas em Portugal e na Europa.

    Protesto realizado na cidade de Coimbra na tarde de
  • A Festa do Avante e os valores da Liberdade

    A Festa do Avante e os valores da Liberdade

    Por Bruno Falci e Clara Domingos, de Lisboa, especial para os Jornalista Livres 

    Foto de capa: Adja Marcela Barros / Jornalistas Livres 

    Foi ao fim de quarenta e oito anos de ditadura, como um grito de alívio, que nasceu a Festa do Avante. O maior festival progressista de Portugal e uma dos maiores do mundo reuniu nos dias 6, 7 e 8 de setembro partidos de esquerda dos quatro cantos do globo, nas proximidades de Lisboa, Portugal, para debater os atuais problemas que o capitalismo tem causado, prestar solidariedade às nações sob ameaças democráticas e ainda festejar a força da unidade de esquerda.

    Foto: Adja Marcela Barros / Jornalistas Livres

    O festival que reúne centenas de milhares de pessoas todos os anos é organizado pelo Avante!, órgão editado  pelo Partido Comunista Português (PCP). A deputada do PCP na Assembleia da República, Rita Rato, e Sandra Pereira, deputada do PCP no Parlamento Europeu, contaram com exclusividade ao Jornalistas Livres um pouco do que é a Festa do Avante e como surgiu o festival revolucionário, que já teve mais de 40 edições.

     

     

    Na Festa do Avante, o  Brasil foi representado pelas tendas do PT e do PCdoB. A barraca do Partido dos Trabalhadores do Brasil teve como objetivo o fortalecimento da internacionalização da campanha Lula Livre. Foram coletadas 1147 assinaturas de pedidos de liberdade do líder popular. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) também esteve no stand apresentando os produtos produzidos pelos trabalhadores no campo, livros que contam a história do movimento no Brasil e mostram a luta diária dessa classe camponesa.  dos camponeses. Além das intervenções políticas, a barraca do PCdoB também abrigou um restaurante com comidas típicas, onde os brasileiros emigrantes puderam se sentir mais perto de casa.

    Stand do Partido dos Trabalhadores na Festa do Avante (Foto: Mauricio Moura / Jornalistas Livres)

    A campanha Lula Livre, contudo, não se limitou às tendas brasileiras. Além das camisetas, bonés, adesivos e bottons facilmente (encontrado)  encontrados  em diferentes áreas do festival, a solidariedade ao ex-presidente Lula também  esteve na fala de lideranças políticas de diferentes países e momentos distintos.

    Veja o depoimento de Padre Camilo, liderança política na Colômbia, perseguido e exilado no Brasil por Lula quando presidente.

     

    No Ato de Solidariedade ao Brasil, realizado na tarde do domingo, toda as atenções estiveram voltadas para os problemas e possíveis soluções propostas para o país, apresentadas por Walter Sorrentino, do PCdoB; Zeca Dirceu, do PT; Igor Felipe, do MST. Sorrentino, o primeiro a ter a voz no ato, agradeceu à festa do Avante por sair em defesa do do Brasil, que, como ele descreve, vive um processo de desmanche nacional de sua soberania, da constituição, da democracia e de direitos alcançados nas últimas décadas.

    Foto: Adja Marcela Barros / Jornalistas Livres

    O Deputado Federal Zeca Dirceu descreveu a situação atual do Brasil como uma das difíceis já enfrentadas, já que além do desmanche nacional, tem a o autoritarismo, desrespeito e o ódio como marcas. O parlamentar relembrou e citou os números que mostram todo o progresso que as últimas décadas alcançaram até o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Assista na íntegra a transmissão do ato de solidariedade na Festa do Avante, em Portugal:

     

    https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/476880519820992/?epa=SEARCH_BOX

     

    O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, subiu ao palco de encerramento do festival Avante  para lembrar do dever do partido de continuar lutando pelo desenvolvimento de Portugal e para continuar avançando com os direitos dos trabalhadores. A multidão que assistiu o discurso de encerramento participou ativamente, cantando, aplaudindo e balançando as bandeiras vermelhas. O engajamento do público mostra o apoio que a esquerda mantém em Portugal, desde a revolução de 25 de Abril de 1974, a primeira edição da Festa do Avante aconteceu em 1976, na Feira Internacional de Lisboa.

    Secretario geral do PCC, Jeronimo de Sousa foto: Adja Marcela Barros

    Portugal de hoje é governado por uma histórica aliança entre as esquerdas . O Partido Socialista (PS) governa o país com uma aliança parlamentar com o Partido Comunista Português (PCP), Bloco de Esquerda (BE) e os ecologistas, “Os Verdes”.

     

    https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/918005255247325/

  • Maior festival de esquerda da Europa pede por solidariedade para América Latina

    Maior festival de esquerda da Europa pede por solidariedade para América Latina

    Bruno Falci e Clara Domingos, de Lisboa, especial para os Jornalistas Livres

    Foto de capa: Midia Ninja

    O segundo dia da Festa do Avante, realizado nas cercanias da cidade de Lisboa pelo Partido Comunista Português (PCP), foi de atividades intensas. A festa que se realiza desde 1974, o ano da Revolução dos Cravos, é tradição anual para o encontro de diferentes partidos de esquerda do mundo. Neste ano, a América Latina tem sido tema central de muitos debates e atos de solidariedade no Avante. O imperialismo norte-americano sobre o continente tem preocupado líderes de diferentes nações. Na tarde deste sábado (09/), lideranças dos partidos comunistas de Portugal, Brasil, Cuba, Venezuela e Colômbia debateram a verdadeira resistências que países como Cuba e Venezuela representam neste momento à conjuntura político-econômica marcada pela agenda neoliberal selvagem conduzida por Donald Trump. Neste contexto, a crise da democracia brasileira, a prisão politica do presidente Lula e a destruição do Estado brasileiro promovido pelo governo Bolsonaro foram questões citadas por toda a composição da mesa.

    Para os representantes é perceptível como isso está atrelado a uma estratégia internacional de derrubada de governos progressistas eleitos na América Latina.  As lideranças latino-americanos denunciaram serias tentativas de  desestabilização de governos democraticamente eleitos, travestido por uma falsa retórica de liberdade feita pelos EUA. O bloqueio criminoso imposto a Cuba foi lembrado pelo representante do Partido Comunista Cubano, deputado do Congresso Abel Prieto, um dos maiores intelectuais da ilha caribenha e da América latina.  O dirigente cubano, que também é educador e foi ex-ministro da Cultura, relembrou os diversos momentos em que os Estados Unidos operaram para derrubar governos progressistas democraticamente eleitos, desde a doutrina Monroe até a desestabilização que a Venezuela vem sofrendo atualmente.

    Walter Sorrentino, vice-presidente do Partido Comunista do Brasil e secretário de relações internacionais, representou o Brasil na roda de conversa. Com o suporte de ativistas brasileiros, que fizeram intervenções em diversos momentos com palavras de ordem como “Lula Livre” e “Fora Bolsonaro”, Sorrentino denunciou o absurdo das políticas do governo Bolsonaro. “O Governo Bolsonaro promove uma agenda pós-colonial agressiva que alterou profundamente o lugar do Brasil no mundo, colocando o país subserviente à estratégia norte americana, com uma aliança que humilha o Brasil e aprofunda a condição semi periférica dependente de nosso país aos Estados Unidos”. Ele ainda lembrou  que essa problemática em que o país se encontra atualmente foi possibilitada por meio do golpe contra a presidenta Dilma Rousseff e a prisão do presidente Lula. Para Sorrentino,  a solução para mudar este cenário é a ampla aliança dos setores progressistas e democráticos brasileiros.

    Confira na íntegra o debate entre as lideranças políticas. Na sequência da esquerda para a direita: Carolus Wimmer (PCV), Ângelo Alves (PCP), Gabriel Beleina (PCColombiano), Walter Sorrentino (PCdoB)
    e Abrl Prieto (PCC).

    https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/2483454898413696/

    https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/475533223028044/

    Solidariedade à Venezuela 

    A questão da soberania e democracia na Venezuela também tem sido uma das questões em pauta em diferentes manifestações. Cartazes em suporte ao país latino-americano estão estampados em stands de partidos de diferentes lugares do mundo, um abaixo-assinado contra o bloqueio econômico financeiro e comercial imposto pelos Estados Unidos está sendo coletado em solidariedade ao governo de Nicolás Maduro.

    https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/349063265973390/

    Já na sequência de manifestações, líderes venezuelanos pediram pelo fim da agressão imperialista, imposta por Washington, que vem asfixiando economicamente o país, causando graves danos humanitários à nação sul-americana. Carolus Wimmer, secretário de relações internacionais do PCV denunciou as graves violações do direito internacional feita contra a soberania do povo venezuelano. Wimmer aproveitou o encontro com a equipe do Jornalistas Livres na Festa do Avante e concedeu um depoimento exclusivo sobre a situação da Venezuela e do Brasil. Veja abaixo:

    https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/2296784263966078/

    Outras lideranças latino-americanas estiveram presentes no debate, como o Padre Camilo Medina, ex-dirigente das Farc, que em setembro de 2015 teve o pedido de extradiçao decretado pelo governo de Alvaro Uribe. O Presidente Lula interviu e ajudou no processo que foi decidido no final pelo Supremo Tribunal de recusar a extradiçao do Padre Camilo. Abaixo veja o depoimento do dirigente do Nuevo Partido

    https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/1329827933807747/?epa=SEARCH_BOX

    Ao final da noite, o show do Cachorro Latino atraiu centenas de pessoas para o Palco Solidariedade. O público que foi escutar o som da banda que surgiu com a ideia de fundir a música cubana com a música brasileira também gritava Lula Livre. O deputado federal pelo estado do Paraná Zeca Dirceu, que está acompanhando a programação do Festival do Avante desde a abertura, também subiu ao palco.

    https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/378877989453237/?epa=SEARCH_BOX

    Video: Francisco Mateus