Jornalistas Livres

Autor: Aloisio Morais

  • Torcedores dão cartão vermelho para Bolsonaro

    Torcedores dão cartão vermelho para Bolsonaro

    Após o presidente da Gaviões da Fiel, Rodrigo Gonzalez Tapia, o Digão, soltar nota sugerindo que os torcedores corintianos não votem em Bolsonaro, a ideia foi analisada e aprovada pelo Conselho Deliberativo da torcida organizada, que também divulgou nota a respeito, por considerarem o candidato do PSL um retrocesso e uma ameaça à democracia. Na última quarta-feira foi a vez da Torcida Jovem do Santos também divulgar nota no mesmo sentido, assim como vários coletivos e torcedores do Palmeiras, Flamengo e Internacional. Confira abaixo as notas do Conselho Deliberativo da Gaviões, da Torcida Jovem Santista, dos palmeirenses, da Flamengo Antifascista e Inter Antifascista:

     

     

    NOTA OFICIAL – POSIÇÃO DOS GAVIÕES DA FIEL SOBRE CANDIDATO ANTIDEMOCRÁTICO

    Foi misturando política e torcida que, em 1969, alguns jovens Corintianos fundaram o que viria se tornar a maior torcida organizada do país, os Gaviões da Fiel. Em uma época marcada pela fortíssima repressão da Ditadura Militar, aqueles torcedores decidiram se unir para lutar contra Wadih Helu, então presidente do Corinthians e também político do regime.

    Ao declararem a contrariedade ao regime que impedia toda e qualquer liberdade de expressão, os primeiros jovens Gaviões foram perseguidos e, por vezes, espancados pelos capangas do cartola e político.

    Paralela à batalha em prol do Corinthians, ilustrada pelo conhecido primeiro enterro simbólico de um dirigente no país, também estava a luta pela redemocratização do Brasil. A abertura de faixas na arquibancada exigindo o direito da sociedade escolher o presidente, bem como anistia ampla, geral e irrestrita aos exilados políticos da época, faz parte do conjunto de fatos marcantes dos 49 anos dos Gaviões da Fiel.

    Por este e outros motivos, é importante deixar claro a incoerência que há em um Gavião apoiar um candidato que, não apenas é favorável à Ditadura Militar pelo qual nascemos nos opondo, mas ainda elogia e homenageia publicamente torturadores que facilmente poderiam ter sido os algozes de nossos fundadores.

    Hoje, com mais de 112 mil associados, entendemos existirem diferentes formas de pensar e posicionar-se numa sociedade democrática. Respeitamos essa pluralidade de ideias, pois ela é a essência da democracia pelo qual nossos fundadores lutaram. Não podemos, portanto, concordar jamais com quem se posiciona justamente contrário aos valores básicos do Estado Democrático de Direito.

    Não se trata de exigir que nossos associados se posicionem obrigatoriamente à esquerda ou direita, mas em um momento conturbado de nossa política, pedimos para que nossos associados olhem para nosso passado e entendam tudo o que hoje fomenta nossa ideologia.

    Afinal, foi contra todo ditador que no Timão quiser mandar que os Gaviões nasceram pra poder reivindicar.

    // Gaviões da Fiel Torcida – Força Independente \\

    *Nota aprovada pelo Conselho Deliberativo dos Gaviões da Fiel

    MANIFESTO TORCIDA JOVEM
    A Torcida Jovem do Santos, ao longo dos seus 49 anos, construiu uma história marcante na luta pela democracia e contra a opressão que sempre tentou calar a voz da arquibancada. Uma luta que começou no final dos anos 60 enfrentando a ditadura militar e que se estende até hoje contra os mecanismos que almejam destruir o futebol popular e a nossa liberdade.

    Nossa torcida é composta pela classe trabalhadora, por pessoas de diferentes etnias, crenças e demais individualidades que se unem como povo. Em função disso, e pelo nosso compromisso com a liberdade, nos posicionamos contra uma plataforma política que defende a ditadura militar como saída para os problemas do país. Não reconhecemos como opção viável um discurso que reforça o estereótipo preconceituoso que marginaliza o povo pobre e, por consequência, o torcedor.

    Essa plataforma política é nociva para a evolução da sociedade e vai contra os ideais defendidos pela Torcida Jovem do Santos, que foram construídos com muito suor.

    Respeitamos as escolhas pessoais de cada Tejota e não defendemos nomes específicos no atual panorama político, mas reforçamos a origem da nossa Torcida deixando claro que as pautas apresentadas pelo candidato Bolsonaro – e demais candidatos com o mesmo alinhamento ideológico – são incompatíveis com as raízes da Torcida Jovem e não representam os interesses coletivos que sempre buscamos ao lado do povo e da massa santista. Nosso repúdio a essa pauta extremista não apaga o olhar crítico que temos em relação ao cenário político em geral, tomando como referência a nossa postura histórica de combate aos retrocessos sociais.
    A opressão jamais irá vencer a nossa luta por liberdade dentro e fora dos estádios!

    TORCIDA JOVEM
    Com o Santos onde e como Ele estiver…

     

     

    PALMEIRENSES CONTRA O FASCISMO

    Em virtude de acontecimentos recentes envolvendo a imagem pública da Sociedade Esportiva Palmeiras, nós, palmeirenses abaixo assinados, expressamos publicamente nosso repúdio às posturas e declarações preconceituosas, antidemocráticas e fascistas.

    Nosso clube foi fundado em 26 de agosto de 1914 por trabalhadores imigrantes, e rapidamente tornou-se uma das equipes mais populares da cidade de São Paulo, atraindo grande público à assistência de seus jogos e contrapondo-se às agremiações tradicionais da elite paulistana. Ao mesmo tempo em que o Palestra chamava a atenção da imprensa da época por sua torcida essencialmente popular, as vitórias em campo foram consolidando o clube como força importante do futebol paulista e brasileiro.

    Em 1942, por pressão do governo durante a Segunda Guerra Mundial, o clube foi obrigado a mudar seu nome, tornando-se a Sociedade Esportiva Palmeiras. Apesar das ofensas e ataques xenofóbicos que recebia por sua origem imigrante, o Palmeiras já era profundamente diversificado na composição de seu time e torcida, assim como o povo brasileiro. De “time dos italianos” passou a ser o time de todas e todos.

    São razões históricas, portanto, as que nos motivam neste posicionamento público contra a onda fascista que se ergue e a sua nefasta representação eleitoral. Respeitamos a coexistência democrática de opiniões e posicionamentos políticos variados; mas não podemos tolerar a ameaça às instituições democráticas e os posicionamentos de teor racista, xenofóbico, machista e homofóbico. Não podemos tolerar discursos de ódio dirigidos a grupos historicamente oprimidos. A trajetória da Sociedade Esportiva Palmeiras é uma trajetória de acolhimento à diversidade destes grupos.

    Coletivo Porcominas
    Coletivo PorComunas
    Coletivo Palmeiras Livre
    Coletivo Palmeiras Antifascista

     

    FLAMENGUISTAS CONTRA BOLSONARO!

    A torcida do Flamengo é a mais popular do país. Ela abrange todos os segmentos sociais, desde homens e mulheres, brancos e negros, jovens e idosos, pobres e ricos. Representamos o povo brasileiro na sua essência. Nesse sentido, é inaceitável qualquer declaração preconceituosa manifestada por Bolsonaro e seu vice, Mourão, sobretudo ao que tange a população mais pobre, negra e as mulheres, mães e avós. Ao se referir a essa parcela considerável das famílias brasileiras de maneira jocosa e desrespeitosa, consideramos tal atitude uma afronta a torcida do Flamengo, maioria absoluta no Rio de Janeiro e no Brasil. Para além dessas questões, entendemos que as propostas econômicas dessa candidatura fascista a presidência da República significa empurrar mais ainda a população mais pobre para a miséria, destruindo a frágil estrutura de assistência social existente no país. As privatizações e corte orçamentários, propostos por Paulo Guedes, significa aprofundamento das políticas neoliberais que foram implementadas por Temer, no Brasil, e por Macri, na Argentina, promovendo uma crise social sem precedentes. Ou seja, Bolsonaro é continuação mais aprofundada da política nefasta que vigora hoje contra a classe trabalhadora.

    Conclamamos as torcidas organizadas do Clube de Regatas Flamengo a resgatarem suas origens de resistência aos ataques ao povo, sobretudo durante a ditadura militar, ao defender a democracia e os direitos da classe trabalhadora, sob pena de todos nós, torcedores organizados ou não, sermos engolidos pela miséria e caos social propostos por esse nefasto programa de governo.

    #ELENAO #ELENUNCA

    Flamengo Antifascista-Fla-antifa


     

    TORCEDORAS E TORCEDORES DO CLUBE DO POVO: NENHUM VOTO EM BOLSONARO

    No cenário atual temos candidatos dos mais variados espectros políticos distribuídos entre as intenções de voto. Esquerda e direita. Progressistas e conservadores. Assalariados e burgueses. É da democracia. No entanto, o que chama a atenção é que o candidato que lidera as pesquisas é recorrente em declarações preconceituosas e demonstra o maior desprezo pela democracia.

    O Internacional se destacou desde cedo na sua história pela participação de jogadores negros em campo e entre seus torcedores. Também, o clube foi fundado e jogou os primeiros anos num bairro de maioria negra e próximo a comunidades quilombolas. A alcunha de Clube do Povo não veio por acaso. Desde essa época, insultos racistas são dirigidos ao Inter e a sua torcida pelos seus rivais.

    É uma incoerência que um colorado, que conhece e admira a história de seu clube, apoie um candidato que coleciona episódios de racismo. Ele declarou em 2011 na Band que seus filhos não se apaixonariam por uma mulher negra “porque foram muito bem educados”. Nessa mesma oportunidade, classificou um relacionamento de um homem branco com uma mulher negra como “promiscuidade” (1). Ainda em 2011, devido a repercussão negativa dos comentários feitos por Bolsonaro, um grupo de neonazistas organizou um ato em defesa do candidato, reunindo por volta de quarenta pessoas (2). Em entrevista à revista Época, assumiu-se preconceituoso: “Sou preconceituoso, com muito orgulho” (3). Mais recentemente, Bolsonaro foi denunciado pela Procuradoria Geral da República (4) e pelo Ministério Público Federal do Rio de Janeiro (5) pelo forma racista que se referiu a comunidades quilombolas, tratando-os como animais. A denúncia prevê pena de até 3 anos de prisão e multa de R$ 400 mil.

    Pela nossa história, repetimos: NENHUM VOTO EM BOLSONARO!

    Inter Antifascista

     

     

     

  • Dilma ganha sinal verde rumo ao Senado

    Dilma ganha sinal verde rumo ao Senado

    Líder disparada nas pesquisas eleitorais, com mais do dobro de intenção de voto em relação ao segundo colocado, a presidenta Dilma Rousseff (PT) teve sua candidatura ao Senado aprovada por 4 votos a 3 pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRT) de Minas Gerais, beneficiada pelo voto de minerva do presidente do órgão.

    Desta forma, ela escapou de mais uma casca de banana imposta desta vez pelo partido Novo, candidatos a deputado federais e estaduais e entidades e membros da sociedade civil. Eles haviam solicitado a impugnação alegando que o impeachment teria tornado a presidenta inelegível em 2016. Porém, o Ministério Público Eleitoral havia enviado parecer ao TRT informando que durante o processo de impedimento o Senado deliberou sobre o afastamento do cargo, mas manteve o direito político para que Dilma pudesse concorrer em eleições.

    “A nosso ver, a decisão do Senado de realizar o ‘fatiamento’ do julgamento é insuscetível de revisão judicial por esse egrégio Tribunal Regional Eleitoral”, afirmou o procurador regional Ãngelo Giardini de Oliveira.

    Votaram a favor do deferimeento da candidatura os juízes Pedro Bernardes, Paulo Abrantes, João Batista e Ricardo Matos. Os votos contrários foram de Rogério Medeiros, Nicolau Lupiantes e Fonte Boa.

  • Tiradentes, o bode expiatório

    Tiradentes, o bode expiatório

    Depois de cinco anos de trabalho, com pesquisas em arquivos do Brasil, de Portugal, França e dos Estados Unidos, finalmente o livro ficou pronto. O Tiradentes – Uma biografia de Joaquim José da Silva Xavier será lançado nesta segunda-feira, 30/7, pela Companhia das Letras. Seu autor, o jornalista mineiro Lucas Figueiredo, conversou com Jornalistas Livres e conta aqui um pouco de sua obra em torno deste interessante personagem na Inconfidência Mineira.

     

     

    Quais foram as surpresas com as quais que você deparou ao vasculhar a história do Tiradentes? O que mais o impressionou?

    Tiradentes sempre foi tratado de maneira institucional. O que importava na história era seu papel na Conjuração Mineira. Na pesquisa, o que mais me surpreendeu foi conhecer a história do homem, que é bem diferente do mito. Uma história que nunca tinha sido contada, por incrível que pareça. Tiradentes era um homem com frustrações, sonhos, devaneios, equívocos e grandes qualidades. Tinha grandes ambições pessoais, queria muito vencer na vida, e deu muito duro para isso. Foi mascate, fazendeiro, minerador, militar, dentista e médico prático. Um homem intenso.

     

    Como surgiu a ideia da biografia? Quanto tempo demorou sua pesquisa e quais os principais lugares percorreu?

    A ideia surgiu quando eu fazia meu livro Boa Ventura!, sobre a corrida do ouro no Brasil no século XVIII. Percebi que um capítulo seria pouco para contar a história da Conjuração  Mineira e principalmente de Tiradentes, então revolvi fazer a biografia. Passei cinco anos pesquisando em arquivos do Brasil e do exterior, Portugal, França e Estados Unidos. E tabulei todo o processo judicial da Conjuração, os 12 volumes dos Autos de Devassa. É um documento incrível, com mais de 300 depoimentos.

     

    Como Tiradentes tornou-se o líder e o centro da conjuração mineira? Ele realmente era tido como um líder?

    Sem dúvida, Tiradentes foi um dos líderes da Conjuração Mineira. Não era do grupo da formulação política, mas da ação, sobretudo da propaganda e do recrutamento. Tinha um grande carisma, e por isso exerceu um papel importante, trazendo muitos elementos para as trincheiras rebeldes, sobretudo no meio militar. Também tinha uma enorme capacidade de trabalho e era extremamente dedicado, o que o destacava dos demais. Era também um dos mais destemidos, e sabia que seu pescoço estava em risco por causa de sua militância aberta.

     

    Pelo o que você pesquisou, ficou confirmada a ligação dele com a maçonaria? 

    Em relação a Tiradentes, não há nenhuma prova documental a esse respeito. Sabe-se, porém, que muitos conjurados eram ligados à maçonaria, e foi através dos laços da maçonaria que chegaram até Thomas Jefferson, que na época era embaixador dos Estados Unidos em Paris.

     

    Como foi a relação amorosa de Tiradentes com Perpétua Mineira e com o Rio de Janeiro, onde teria chegado até a propor a canalização dos rios Andaraí e Maracanã?

    Tiradentes era boêmio, gostava de frequentar prostíbulos. O único amor documentado de sua vida foi Antônia Maria do Espírito Santo. Quando se conheceram, em Vila Rica, ele tinha 40 anos e ela, 15. Ele levou-a para viver com ele e juntos tiveram uma filha, Joaquina. Como a relação se tornou um escândalo na época, Joaquim acabou prometendo casamento a Antônia, mas logo depois viajou ao Rio de Janeiro para organizar a conjuração por lá. Joaquim queria se tornar homem de negócios. Quanto já tramava a revolução, que prometia ser sangrenta, ele fez vários requerimentos à Coroa solicitando autorização para abrir três frentes de negócio: Canalizar águas dos córregos Laranjeiras e Catete e do rio Andaraí (também conhecido como Maracanã) para vender água potável no chafariz da Carioca, no centro da cidade, e para mover moinhos; construir armazéns no porto Valongo, área de comércio atacadista; transportar passageiros e cargas na baía da Guanabara por meio de barcas. Os projetos de Tiradentes bateram de frente com setores da elite carioca, e encontraram grande oposição.  

     

    Tiradentes foi condenado à morte por ser o único inconfidente de classe social mais baixa?

    A Coroa e os governadores de Minas e do Rio não quiseram fazer grande estardalhaço em torno da conjuração, pois temiam parecer frágeis perante os colonos e as nações estrangeiras. Mas precisavam de um exemplo a futuros candidatos a rebelde. Então, escolheram aquele que não tinha relevância política, que não era rico e que não vinha de família importante. Tiradentes foi um bode expiatório.

     

    O que você pôde detectar como equívocos na historiografia sobre nosso herói republicano? Ocorreram?

    Ao sabor das conveniências, Tiradentes teve sua história manipulada e apropriada por movimentos das mais variadas tendências. Começou servindo ao movimento republicano no século XIX, que criou a fantasia um Tiradentes barbado, à semelhança de Jesus Cristo. Depois, foi apropriado por ‘n’ setores. Basta dizer que Tiradentes é o patrono da Polícia Militar de Minas Gerais e, durante a ditadura civil-militar, teve seu nome incorporado pelo MRT (Movimento Revolucionário Tiradentes), que pregava a luta armada.

     

    Por que você fixou residência na Suíça? Pretende permanecer mais tempo neste país?

    Eu pretendia morar em Paris, mas o destino acabou me trazendo para a Suíça. Morei no campo, tendo vacas e vinhedos como vizinhos, e agora moro próximo a um lago, numa cidade de 5 mil habitantes. Por ora, vou ficando. Mas sempre ligado no que acontece no Brasil.

     

    Sobre o autor

    Foto Pablo SaboridoO jornalista e escritor Lucas Figueiredo nasceu em Belo Horizonte em 1968. Recebeu três Prêmio Esso, dois Vladimir Herzog e os prêmios Jabuti, Folha, Direitos Humanos de Jornalismo, Imprensa Embratel e BDMG Cultural.

    Foi repórter da Folha de S.Paulo e colaborador da rádio BBC de Londres. Também atuou como pesquisador da Comissão Nacional da Verdade e consultor da Unesco. Em 2015, foi um dos autores convidados do 35º Salão do Livro de Paris, que teve o Brasil como país homenageado.

    É autor dos livros-reportagem Morcegos NegrosMinistério do SilêncioO OperadorOlho por OlhoBoa Ventura!, Lugar Nenhum e O Tiradentes (leia mais sobre os livros de Lucas Figueiredo aqui).

     

  • Lula dispara em Minas

    Lula dispara em Minas

    É, realmente, assombroso o desempenho de Lula em Minas, como mostrou a jornalista Raquel Faria, assim como no Norte e Nordeste do país. A pesquisa realizada pelo Instituto Doxa em municípios mineiros, entre os dias 5 e 8 deste mês, mostra dados interessantes após ouvir 2.500 eleitores em seus domicílios, o que é importante, já que não foi feita por telefone ou aleatoriamente na rua.
     
    Apenas Lula, só ele entre os demais candidatos, consegue ganhar dos votos nulos, que aparecem como uma avalanche nessa pesquisa encomendada pelo PSB mineiro. No caso, cerca de 36%. É curioso notar, ainda, que, tirando aqueles que admitem votar apenas em Lula (cerca de 20%) ou Bolsonaro (cerca de 13%) restam apenas cerca de 20% de votos a serem disputados pelos demais candidatos, considerando que os demais eleitores preferem votar nulo ou em branco.
    Quanto à disputa pelo governo de Minas, a pesquisa do Doxa mostra o senador tucano Antonio Anastasia na frente com 15% dos votos, enquanto o governador Fernando Pimentel, do PT, tem 12%.
    Na disputa pelo Senado, a ex-presidente Dilma Rousseff transita em céu de brigadeiro liderando com 20% doso votos, enquanto o senador tucano Aécio Neves teria 11%, mas ele optou por disputar uma à Câmara dos Deputados. Com isso, os demais candidatos ocupam uma mesma faixa com apenas 2%, o que favorece a candidatura da deputada federal Jô Morais, do PCdoB, que pode participar da corrida pegando carona com Dilma.
  • UM POUCO DA GREVE EM MINAS

    UM POUCO DA GREVE EM MINAS

     

    Minhas impressões sobre a greve dos caminhoneiros em Minas, depois de conversar com muitos deles, hoje, em Betim, na Grande Belo Horizonte, onde estão instaladas a refinaria Gabriel Passos e a fábrica da Fiat:

    – Enquanto não houver uma redução significativa no preço do diesel eles continuarão parados, principalmente os autônomos. Não vai ser tropa do Exército que vai fazer com que voltem às rodovias. O movimento tem obtido solidariedade e apoio da sociedade. Isso é bem nítido de ser visto nos locais onde há concentração de caminhoneiros parados, das mais diferentes formas.

    – O golpista Temer é o centro da revolta deles, por isso é sempre chamado de “corrupto” e “ladrão”. A TV Globo também é repudiada, finalmente, digo eu. Eles não permitem, por exemplo, que repórteres da emissora se aproximem, ao contrário do que vi, por exemplo, com a equipe da TV Record.

    – Confirmando o que os caminhoneiros me disseram, não vi nenhum caminhão com gêneros alimentícios ou de primeira necessidade retido, muito menos os chamados ‘frigoríficos’. Mas nota-se, também, que eles não estão partindo de suas bases, talvez preventivamente. A ordem é liberar caminhões-tanque com combustíveis para aeroportos, empresas de ônibus, hospitais, polícia etc.

    – A direita está aproveitando o movimento para tirar partido, usando, principalmente o lema “Intervenção militar”, mas isso, felizmente, não está sendo absorvido pelos discursos dos caminhoneiros. Em todos os locais que fui havia faixas pedindo “intervenção militar”, que são colocadas, parece, de forma oportunística pelo pessoal da direita.

    – Todos os postos de Belo Horizonte e região metropolitana estão fechados por falta de combustíveis.

     

  • Aécio fez Joe$ley pagar compra de jornal

    Aécio fez Joe$ley pagar compra de jornal

    BELO HORIZONTE – Não há como negar, boleto para pagamento do IPTU obtido pelos Jornalistas Livres comprova que realmente a J&F, a holding de Joesley Batista, pagou a compra do jornal Hoje em Dia, de Belo Horizonte, por R$ 17 milhões, a pedido do senador Aécio Neves. Isso é mais uma prova de que o senador Romero Jucá, do MDB, sabia mesmo muito bem do que dizia quando se referiu ao colega mineiro como o “primeiro a ser comido”, durante diálogo telefônico com o ex-presidente do PSDB e ex-senador Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro.

     

    Falou-se muito dos R$ 2 milhões pedidos por Aécio ao dono da JBS “para pagar advogado”, conforme delatou o empresário, mas só agora fala-se com mais vigor sobre os R$ 17 milhões usados na compra do “predinho” do jornal, como chegou a ser dito pelo próprio Joesley. Se faltava algo para comprovar a destinação dos R$ 17 milhões aos negócios do senador mineiro, aí está a guia de pagamento do IPTU do tal prédio da Rua Padre Rolim, 652, um filé mignon imobiliário bem na região hospitalar da capital mineira. Curiosamente, este é o único bem de Joesley em Minas, onde não possui qualquer negócio.

     

    O imóvel, usado como sede do Hoje em Dia durante décadas, está em nome de nada menos do que a J&F Investimentos S/A, a holding da empresa JBS que, por sinal, teve o ministro Henrique Meirelles no comando de seu conselho de administração entre 2012 até pouco antes de assumir o atual cargo. Ali ele recebia R$ 40 milhões por ano e uma de suas raras funções seria irrigar as campanhas eleitorais dos apaniguados de Joesley. E quando se pesquisa na Prefeitura de Belo Horizonte para saber quem são os titulares da J&F, eis que aparece o nome de Joesley Mendonça Batista abaixo de Antônio da Silva Barreto Júnior como ‘contatos’

     

    Um prédio polêmico

     

    Após a confissão de Joesley sobre suas relações com Aécio, há um ano, o prédio de cinco andares começou a dar o que falar. Desocupado desde que o jornal mudou de endereço nas mãos de novo dono no início de 2016 e sem alguém que se apresentasse como seu proprietário, chegou a ser ocupado, na marra, em 1º junho de 2017 por jornalistas, gráficos, pessoal da administração e movimentos sociais. Demitidos pelo atual dono sem receber seus direitos e até mesmo salários, os jornalistas viram na ocupação do prédio um bom motivo para chamar atenção sobre o drama que viviam. Conseguiram.

     

    Em junho do ano passado o “predinho” foi ocupado por ex-funcionários do jornal Hoje em Dia e Joesley Batista acabou reconhecendo a sua posse – Foto de Isis Medeiros

    A ocupação colocou os holofotes sobre o prédio. Logo a J&F se apresentou como dona do pedaço e colocou o imóvel à venda por R$ 17,5 milhões. Só que surgiu nova pedra no caminho da holding de Joesley: a Justiça do Trabalho bloqueou a venda do imóvel até que se resolva o pagamento de todos aqueles que buscam seus direitos. E assim continua, e, enquanto aguarda uma solução, um terreno ao lado, também de Joesley, foi arrendado para estacionamento de veículos.

     

    Pelo boleto do IPTU nota-se que a J&F vem pagando religiosamente as 11 parcelas de R$ 5.686,06, que vão totalizar R$ 34.116,36. Reza a lenda que o prédio é um pau que nasceu torto desde que foi construído pelo jornal Diário do Comércio, o primeiro dono, e não teria habite-se, principalmente depois que um bispo da igreja Universal resolveu construir mais um andar para instalar a nova redação sem a contratação de um arquiteto ou engenheiro.

     

    Trajetória sinistra

     

    Também o jornal tem uma trajetória sinistra desde que foi criado pelo então governador Newton Cardoso, há 30 anos, para ser o “maior de Minas”. Mas pouco depois acabou vendido para a TV Record/Igreja Universal, num pacote em que incluía a emissora mineira de TV da rede Record. Nas mãos dos bispos de Edir Macedo chegou a ter 64 mil exemplares impressos. Depois, decadente e acumulando um prejuízo de R$ 38 milhões em 2012, a TV Record/Igreja Universal trataram de se livrar do abacaxi em 2013. Logo apareceram apressados interessados.

     

    Há cinco anos o empresário mineiro Rogério de Aguiar Ferreira, então dono da Axial Medicina Diagnóstica, irrompeu pela redação anunciando a compra do jornal. Saiu carregando o apelido de “Boneco de Olinda”, devido à sua estatura avantajada. Na semana seguinte correu para São Paulo a fim de acabar de fechar o negócio com os bispos da Universal. Deu com os burros n’água naquela terça-feira. À boca pequena correu a versão de que não teria levado a mala recheada com dinheiro vivo, uma exigência do bispado.

     

    Era tudo o que a dupla Aécio/Andrea Neves queriam. Imediatamente entraram em ação rumo a algum pomar onde encontrassem laranjas. Semanas depois era a vez de Marco Aurélio Jarjour Carneiro, do Grupo Bel, irromper pela redação do jornal para anunciar a sua compra no dia 18 de setembro de 2013. Parte do dinheiro da aquisição teria vindo da desapropriação de parte de um terreno da antena de rádio dos Carneiros no alto do bairro Novo São Lucas, porta de entrada da favela do Cafezal, com valor superfaturado. R$ 10 milhões, o que motivou uma ação do governo de Minas em tramitação na 5ª Vara da Fazenda, processo 1700189-54.2013.8.13.0024 do Tribunal de Justiça de MG contra a Rádio Del Rery Ltda., de Jarjour Carneiro. Outro dinheiro que entrou no negócio foram R$ 2 milhões da construtora Andrade Gutierrez, a título de publicidade que nunca foi vista.

     

    Dono também da Rádio 98, concorrente da Jovem Pan em BH, entre outros negócios, Carneiro colocou o filho Flávio Jaques Carneiro, um amigão de Aécio, na presidência do jornal, e trouxe para comandar a redação o jornalista Ricardo Galuppo, um mineiro radicado em São Paulo.

     

    A função de Galuppo era, principalmente, azeitar o jornal para ser usado na campanha de Aécio Neves à presidência. E azeitou. Principalmente na acirrada disputa do segundo turno, quando o jornal se esmerou em publicar, com exclusividade, sensacionais manchetes a favor da candidatura do tucano, baseadas em estranhas pesquisas eleitorais do desconhecido instituto de pesquisas Veritá, de Uberlândia, no Triângulo Mineiro. Manchetes e números que eram largamente expostos nos horários de propaganda eleitoral gratuita de rádio e TV. Cuidou o jornal também de deturpar e mentir sobre Igor Rousseff, um pacato irmão da então presidente Dilma Rousseff, morador na também pacata Passa Tempo, no interior de Minas, informações que foram exploradas por Aécio nos debates de TV entre os dois candidatos.

     

    O episódio rendeu, inclusive, uma denúncia de ‘crime eleitoral’ contra Aécio Neves no Ministério Público Federal, onde recebeu o número de expediante 1.22000.002391/2016-50. Atualmente a denúncia está sob sigilo, após ser absorvida por Rodrigo Janot, que ordenou investigação a respeito e mandou o caso até mesmo para a Lava Jato.

     

    Na época, Jarjour Carneiro dizia aos mais chegados: “Estamos com um dinheiro aí, vamos ver até onde poderemos ir”. E, realmente, foi até onde pôde. Se Aécio tivesse sido eleito à Presidência da República estaria nadando de braçadas no paraíso, mas, com a derrota do senador, deu com as portas abertas do inferno. Acabou vendendo o jornal por apenas R$ 1 mil, isso mesmo, sem o prédio, logicamente, para o então prefeito de Montes Claros, Ruy Muniz, marido da deputada Raquel Muniz (PSC), que ficou conhecida negativamente pelo seu “Sim, sim, sim” após elogiar a honestidade do maridão e votar pelo impeachment da presidente Dilma. Na manhã seguinte, Ruy Muniz era preso pela Polícia Federal por corrupção.

     

    Muniz ficou com o jornal e seus credores, enquanto o prédio, o patinho feio que ninguém queria assumir, voltou para os braços daquele que patrocinou a sua compra a pedido de Aécio Neves: Joesley Mendonça Batista.