Do face de Walter Falceta
“Sinto muito, mas não adianta insistir nesse discurso diagonal de elogio choroso ao Bolsonaro, de reconhecimento masoquista de seu poder de comunicação e de sua suposta identificação com as massas.
O ur-fascismo é, e sempre foi, essa sedução calcada no sufocamento da civilidade. O bolsonarismo já se constitui nessa ausência de razão, já é a insensatez, já é a truculência glamourizada.
Você não precisa repetir o óbvio.
Deixe que esse cidadão amarelinho, em transe, faça a apologia e o marketing desse discurso. Não cabe ao lado de cá, em autocomiseração e deslumbramento resignado, erguer loas a um idiota.
Não, meu caro, dourar o discurso político da gratuidade chula não é bacana, tampouco somos nós que devemos enxergar credibilidade nestes arroubos de populismo fascista.
Em nada contribui para a resistência lotar a Internet de rendições a um suposto mérito do capitão.
O gado e suas opiniões são irrelevantes neste momento. Ou você acredita que se comoveriam com o empenho na compra de respiradores mecânicos ou no reforço aos protocolos de isolamento social?
O gado não se alegraria de um combate a mineradores, grileiros e madeireiros. Tampouco se lançaria ao pranto pungente de assistir à devastação de uma comunidade indígena.
Nosso papel civilizatório, neste momento, é comer pelas bordas do prato quente de mingau, e nunca com seus olhos iluminados, nos quais se registram um misto de admiração e resignação pela bufonaria do presidente.
É hora de mover esforços para informar, contradizer e expor a barbárie sistêmica que representa este governo.
É mostrar o oportunismo-banditismo de Salles, interessado em fazer passar sua boiada de desregulamentação.
É hora de mostrar como Damares avilta o preceito republicano ao tramar a prisão de governadores.
É hora de mostrar para o seu amigo, vizinho e patrão como Guedes pretende lucrar com a crise, salvando grandes empresas e largando à míngua as pequenas. Está tudo lá.
A missão é destrinchar, decupar, decantar, exibir como tradução a infâmia do inimigo. Esse discurso laudatório, beirando o niilismo, em nada auxilia. Ao contrário, empodera a besta”.
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