A vitória do primeiro ministro Narendra Modi não é surpresa para ninguém: assim como Bolsonaro foi eleito com um discurso pelos valores tradicionais brasileiros, afirmando ser uma pessoa religiosa e de família, Narendra Modi também o fez.
O atual primeiro ministro indiano é conhecido pela sua intolerância religiosa em relação aos grupos minoritários (que são muitos), e especialmente contra a população islâmica, que teme pela sua segurança.
Nos últimos anos os casos de violência contra a população islâmica tem aumentado consideravelmente, com ruas, bairros e até cidades tendo seus nomes islâmicos alterados para nomes hindus, como foi o caso de Allahabad, cidade islâmica hoje nomeada Prayagraj, que em sânscrito significa ‘local de sacrifício’.
Para ganhar a eleição Modi precisava de 272 cadeiras no parlamento, e até agora conseguiu 350 delas. Seu partido, porém, é bem diferente do PSL, já que é tradicional na política indiana e o maior partido do mundo em termos de membros, com mais de 110 milhões de pessoas.
Povo da Índia (Bharatiya Janata Party), partido de Modi, é de extrema-direita, tendo como seu principal adversário Congresso Nacional da Índia (Indian National Congress), que é considerado centro-esquerda e é o partido mais antigo da Índia, tendo sido o primeiro movimento nacionalista dentro do Império Britânico nas regiões asiáticas e africanas.
Rahul Gandhi, presidente do partido e candidato a primeiro ministro, é jovem e carismático. Aqui no Brasil isso talvez fosse uma vantagem, como o foi no caso de Collor, mas na Índia isso não é valorizado em um político, e Modi, com seus 68 anos e longa carreira política, tem uma grande vantagem.
Além do mais Rahul Gandhi é fruto da família Nehru-Gandhi, dinastia política que lutou pela liberdade de seu país (mas atenção: a família não tem nenhuma relação com Mahatama Gandhi: o avô de Rahul Gandhi, Feroze Jehangir, adotou o nome de Gandhi porque ele o inspirou). Sua família ficou no poder 54 anos, seu avô foi primeiro ministro, sua avó, seu pai, é compreensível que a população queira algo diferente.
O problema é que a Índia teima em heroicizar seus políticos, como é o caso de Modi, cujo filme sobre sua vida foi lançado hoje, no dia dos resultados da eleição. Os indianos estão sempre reelegendo as mesmas famílias, e como Modi não fazia parte de nenhuma delas é considerado um exemplo. Eles não estão reelegendo a mesma família, mas a mesma pessoa, que é um nacionalista de extrema-direita.
Fora o problema do populismo, também enfrenta a questão da corrupção (o Congresso diz que Modi ganhou alterando os votos), e o próprio sistema eleitoral, que não é nada fácil de entender: como a Índia é o segundo país mais populoso do mundo, eles dividem a votação em sete etapas, e mesmo depois de completada a votação só se sabe o resultado vários dias depois, tempo suficiente para alterar votos. Para se ter uma ideia, a eleição desse ano começou dia 11 de abril e só acabou 19 de maio, mas só soubemos o resultado hoje.
A Índia, assim como o Brasil, tem mais de 20 partidos, porém poucos conseguem destaque, sendo a maioria partidos políticos de famílias oligárquicas que utilizam a política para manter o seu poder local. Não é uma situação fácil mesmo que não contemos com a questão das castas, que legalmente foi banida na década de 50, mas que culturalmente ainda persiste no interior do país.