Texto: Maurício Abbade, para os Jornalistas Livres, com fotos de Rafaela Bonilla
A greve dos caminhoneiros entrou em seu quarto dia nesta quinta-feira (24) e seus efeitos começam a ser sentidos no Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns de São Paulo). Produtos como manga, mamão da Bahia, melão do Rio Grande do Norte, batata do Pará começam a faltar nas bancas.
O desabastecimento é consequência da imobilidade urbana causada pela paralisação das estradas devido às reivindicações populares, que começaram na segunda-feira e estendem-se à grande parte das rodovias brasileiras. A Associação Brasileira de Caminhoneiros (ABCam) demanda do Governo Federal medidas para mitigar os impacto do aumento do diesel, como a isenção de tributos.
O Ceagesp é o maior centro de abastecimento da América Latina, responsável por 60% do abastecimento da Grande São Paulo. Por ele circulam diariamente cerca de 50 mil pessoas e entre 10 e 14 mil veículos. Os caminhões circulam principalmente durante a noite e madrugada – fora do horário de pico.
Entre os abastecimentos afetados pela mobilização, o fornecimento de pescados destaca-se como um dos mais abatidos, principalmente pela diminuição da variedade de produtos. Moisés Pereira da Silva, distribuidor que transportar peixes do Ceagesp ao Mercado Municipal de São Paulo afirma que “durante o final de semana, tudo isso vai parar, já que é muito provável que fiquemos sem produto” e completa: “a greve é de extrema importância, é necessário tudo isso para que o governo comece a tomar atitudes.”
Porém, há divergências dentro da esquerda quanto a nomenclatura da mobilização social.
Alguns afirmam que greve é o melhor termo, já que caminhoneiros estão se movimentando para que melhorias ocorram para sua classe, inclusive, alguns acreditam que isto é trama do governo. Por conta de alguns afirmarem que são os empresários os responsáveis pela mobilização, outros acreditam que a palavra não seja adequada. Entretanto, o mote é o mesmo para as duas situações: a insatisfação do provável aumeto que ocorrerá aos produtos.
O aumento no valor do diesel acaba gerando um movimento em cadeia, prejudicando a sociedade como um todo. Com uma consequente alta no frete, o preço das mercadorias que chegam à mesa do consumidor é afetado. Entretanto, ao visualizar este quadro, há um problema: a conta não fecha. O consumidor não consegue pagar os altos preços, em vista do alto desemprego. “Menos pessoas estão vindo comprar mercadorias, nós [do Ceagesp] já estamos sentindo o prejuízo”, confirma Moisés.
Encarregado de transportar cereais, tanto para o Ceagesp quanto para o Porto de Santos, Eugênio Moreira é um dos caminhoneiros que hoje ocupa a estrada SP-264, alinhando-se à mobilização. Autônomo, ele arca com os valores de combustível e pedágios de seus trajetos, enquanto as empresas que o contratam apenas pagam o frete. De acordo com ele, o valor não é o suficiente para manter seu caminhão.
Jordan Viana, caminhoneiro que está enclausurado no Ceagesp desde de quarta-feira (23), por conta da falta de combustível, afirma que “A greve está certa pois o governo anda pensando, na minha opinião, que os motoristas são palhaços.” Ele é um entre os vários daqueles afetados pelo aumento do diesel.