Qual a saída para a crise política e econômica que destrói um país e corrói um povo? A resposta não é simples, mas é certo que provavelmente não será formulada em jantares de luxo com empresários e políticos ou em debates acadêmicos em universidades cujos negros e pobres são minorias, ainda que como ouvintes.
O ato desta segunda (29/05) no TUCA contou com a presença de lideranças políticas, representando partidos e movimentos sociais junto a pensadores-militantes progressistas, como se poderia esperar. Mas também teve povo, para ouvir e se manifestar, ainda que fosse com gritos de “diretas Já!” e, claro, “Fora Temer!”. Esta é a cara da Frente Brasil Popular!
O ato foi aberto pela fala da reitora da PUC-SP, Maria Amália, eleita após quatro anos de uma gestão instituída por um golpe nas eleições internas daquela universidade em 2012. Ressaltou a importância fundamental da PUC na luta por direitos sociais.
Falava cercada das paredes queimadas de um teatro que foi incendiado durante a ditadura militar.
O ex-ministro Roberto Amaral, iniciou sua fala saudando a tradição democrática da PUC-SP. Ressaltou que o objetivo do programa é “desenvolvimento econômico com distribuição de renda, pois é o regime que interessa aos trabalhadores”. Ressalta que o “Fora Temer” é um pressuposto que não se encerra em si, pois pede um complemento: eleições diretas para a eleição de um governo legítimo. Lembrou que o princípio fundamental do Plano Popular de Emergência é a Unidade.
Defendeu uma ampla democratização no país, que não se restringe a eleições e reformas econômicas, mas de mídia e Judiciário, inclusive. “O povo não é bobo, abaixo à Rede Globo!”, o povo respondeu. Lembrou que nos 13 anos de governo popular do PT não fizeram a tão defendida reforma, reconhecendo o quanto se tem perdido por isto. Reforma tributária, fortalecimento do SUS e reforma agrária não foram esquecidas. Terminou sua intervenção defendendo uma política externa independente, tendo em conta a soberania como eixo da Frente Brasil Popular.
A presidenta da UNE, Karina Vitral, estudante de economia da PUC, denunciou o “governo usurpador”, lembrou a história da Frente Brasil Popular, desde seu lançamento em Belo Horizonte-MG, em dezembro de 2015. Falando sobre educação, afirmou que essa é a forma de superar a dependência tecnológica do país, além de ser essencial para o cuidado dos jovens. “Se o povo votar seremos vitoriosos”.
O MST, representado por João Pedro Stedile, também teve fala. Afirmou que o povo reconheceu em 2017 o que ainda não havia percebido em 2016: o golpe é contra a classe trabalhadora. Afirmou que o plano levou seis meses para ficar pronto, tendo como objetivo não candidatos, mas o Povo.
“Ou o povo pressiona na rua com ideias, ou não mudaremos este país”, já que não dá para convencer candidatos com terapias de “psicodrama”. É preciso por o povo nas ruas, prometendo uma marcha a Brasília, só de ida, enquanto não acontecerem eleições Diretas.
Vagner Freitas, presidente da CUT, iniciou a fala sob expectativa de falar a data da próxima Greve Geral. Prometeu levar o plano para o Congresso do Partido dos Trabalhadores, para ser apresentado aos delegados. Corrigiu o termo “reforma da previdência” por “desmonte da previdência”, distinguindo o “trabalhador” do “colaborador”, que é aquele que colabora com o patrão por falta de opção. Deixou claro que não aceitará que o Temer seja substituído por outro eleito indiretamente, ainda que de Esquerda. Adiantou que a greve geral será entre 26 e 30 de junho, sendo ainda maior que a anterior, ocorrida em Abril.
O recém-eleito presidente do diretório estadual do PT-SP, Luiz Marinho, provou a Globo a apresentar um candidato para que pudessem derrota-lo. Falou que o governo Lula cometeu ingenuidade e que faltou força para impor reformas, como a da mídia e do judiciário. Enquanto ex-ministro da previdência, afirmou que a reforma é retirada de direitos. Diagnosticou o problema como consequência do desemprego.
Walter Sorrentino, vice-presidente do PCdoB, destacou três aspectos: I) o impeachment desmoralizou a nação, implementando uma agenda que jamais venceria nas ruas e nas ruas, e instaurando, por meio do protagonismo da Lava Jato, um agenda “liberal autoritária; II) o Governo Temer naufragou, mas as elites precisam de um nome de consenso; e III) defendeu que é hora de “unidade de ação”, de “amplas forças”, para que o povo possa assumir os rumos do país. Uma unidade acima de nomes, em torno de uma agenda. “É possível sair da crise. Não pela agenda maldita deles [burguesia], mas por uma agenda renovada.
No momento musical, a banda tocou e cantou “Coração Cívil”, de Milton Nascimento. “Sem a Polícia, sem a Milícia”. Tanto na música quanto na poesia, os presentes perceberam que a crítica à violência ditatorial se aplica aos dias de hoje.
O ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, contextualizou o espaço da esquerda na América Latina, afirmando que só houve golpe no Brasil e no Paraguai [alguém na plateia lembrou de Honduras!]. Ressaltou a importância do povo poder escolher seus representantes, ainda que erre. Indiretamente atacou Aécio Neves que, derrotado em 2014, entrou com ação no TSE para “encher o saco”. Disse que daremos o que ele quer: novas eleições, inclusive para ver se terá contagem para se apresentar como honesto.
Haddad lembrou do “golpe parlamentar” de um impeachment sem “crime de responsabilidade”. Haddad falou golpe sem gaguejar, devemos deixar claro. Uma micro-recuperação econômica não vai legitimar uma “desconstituinte”, e sai a gritos de “saudade do Haddad”.
O pastor Ariovaldo atacou a ação desastrosa da prefeitura de São Paulo, lembrando o termo “urbanização militar”. Lembrou do assassinato do dez sem-terra do Pará, pela polícia. Disse que temos que retomar o Brasil. Afirmou que a Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito vai levar adiante o Plano Popular de Emergência, como forma de catequese em cada vila e bairro. “Nós temos que tomar o Brasil para parar o sangue nas ruas”.
A jornalista, Laura Capriglione, falando em nome dos Jornalistas Livres e da mídia livre como um todo, ressaltou a importância da mídia livre em estabelecer uma narrativa de quem tem estado presente em eventos fundamentais como Greve Geral e Ato em Brasília. Defendeu a logística dos camaradas que acreditam na luta, compartilhando informações, sem depender de grandes estruturas de comunicação. Defendeu a união de todos os jornalistas para a criação de uma redação jornalística muito maior e mais democrática que a das grandes mídia.