As celebrações na cidade começam um pouco antes das brasileiras: elas iniciaram na quarta-feira (22/02) com a tradicional “Queima do Mau Humor”, uma sátira interpretada por comediantes locais que zombam de algum personagem contemporâneo.
No final da apresentação, se atea fogo em um boneco do rabugento, buscando exorcizar a amargura para as festas. Este ano, a caricatura escolhida foi o novo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. No entanto, ao invés, de queimar um fantoche do herdeiro nova yorkino, se incinerou uma representação da promessa de Trump de construir um muro na fronteira com os dois países.
Nesta terça-feira, o governo dos EUA criou novas políticas que buscam expandir o número de deportações, assim como aumentar o número de agentes migratórios e patrulhas nas fronteiras em 15 mil. As medidas permitem que praticamente qualquer pessoa sem documentação possa ser presa e deportada do país, mesmo que nunca tenha cometido um crime.
Uma infração de trânsito ou a suspeita de cometer um crime podem servir como base para deportações e simplesmente ser incapaz de confirmar a residência no país por mais de dois anos, já serve para deportação imediata, sem nenhuma audiência judicial.
Especula-se que essas novas diretrizes assinadas pelo presidente podem levar a milhões de deportados por ano. No mês passado, Trump já tinha anunciado a “construção imediata” de um muro na fronteira entre o México e Estados Unidos.
“Vejo nas notícias e sofro muito. Porque sei o que se passa lá e o que se vai passar lá”, me conta Lilian Garcia*, uma velha senhora de 50 anos que também participava do Carnaval.
Ela e seu marido, Leo Cerda* foram deportados há mais de dez anos, durante o governo Bush, junto com alguns filhos mais velhos ao serem parados por dirigir além do limite de velocidade. Então, foram separados de suas famílias e levados ao México, com nada além da roupa do corpo. O homem conta que viveram duas décadas nos Estados Unidos, conseguindo abrir uma empresa de mecânica e levar uma vida confortável.
Da noite para o dia, foram deixados a própria sorte em Monterrey, no Norte do México, sem trabalho ou contatos. “Vivíamos dividindo um sanduíche de 30 pesos (R$5,00) ao dia.” diz o senhor. “Mas, Lilian sofreu mais… muito mais.
Ela ficou sem poder ver seus filhos.” Segundo o casal, a mãe tentou retornar uma vez, buscando rever sua família. No final, foi recebida por policiais, que a encarceraram por seis meses e, ao final de sua pena, deportaram-na novamente. As crianças cresceram e se tornaram cidadãos americanos sem a mãe. Mesmo com anos sem os ver, ela me acompanha cada um nas redes sociais. “Olha como ele está bonito! E trabalha muito também, mas não gosto da sua namorada.” – diz ela, me mostrando a foto do filho no smartphone.
*Nomes ficctícios
Fotografia por Caio Santos e Alejandro Melendez