Pela segunda semana consecultiva, as mulheres pararam o centro do Rio. Elas prometem voltar em atos cada vez maiores, até Cunha cair.
Nenhuma mulher veio da costela de um homem, mas todos os homens vieram do útero de uma mulher. Em plena ruína do patriarcado, quando todos os privilégios são postos em xeque e os preconceitos se tornam definitivamente velhos, elas se levantam munidas do amor e da criatividade do gênero feminino para parir um tempo novo para toda a humanidade.
No Brasil inteiro, mulheres de todas as idades tomam as ruas para lançar luz sobre as trevas do obscurantismo que ameaça o país colocando na agenda pública sérios retrocessos políticos. As mulheres não assistirão caladas e já começaram uma nova primavera! A democracia é um processo de permanente construção e elas definitivamente assumem seu protagonismo como construtoras de um novo impulso democrático a partir da resistência ao machismo e a todos os fundamentalismos que desafiam nosso futuro comum.
Elas não estão sozinhas em sua luta justa e urgente. Trazem em seus braços seus bebês, em suas mãos os cartazes com dizeres que abrem um tempo novo e elas vem ainda de mãos dadas com aqueles que também sofrem com a opressão secular: LGBTs, negros, indígenas, trabalhadores e estudantes, todos juntos na reconstrução da esperança que brota nas ruas sob a forma de uma nova agenda política para o século XXI. Nenhum passo atrás será permitido! A pílula fica e Cunha sai, afirmam estas mulheres vindas de todos os territórios do Rio. E impedir a retirada de direitos não basta. Elas querem mais! Querem alargar sua participação política e avançar na conquista de mais direitos e liberdades.
Apesar de uma considerável redução da mortalidade materna, 43% desde a década de 90, o fato é que as complicações derivadas do aborto seguem como uma das principais causas de morte materna no Brasil. Apesar dos avanços legislativos, como a Lei Maria da Penha, nos últimos 10 anos o assassinato de mulheres aumentou 21% no país vitimando sobretudo as negras. É violência doméstica e violência institucional por onde quer que se olhe! Mas os tempos mudaram e elas não serão mais silenciadas. As questões do feminismo estão na ordem do dia, na prova do ENEM, nos debates públicos e dentro de nossas próprias casas, obrigando-nos a uma verdadeira reeducação sentimental, desafiando-nos a construir uma nova cultura de equidade e respeito que nos fará mais livres a todos.
“Um, dois, três, quatro, cinco, mil… Pelo #ForaCunha nós paramos o Brasil!” Assim saíram as mulheres, cantando em passeata pelo centro do Rio de Janeiro. Um dia antes de novas manifestações no resto do país, as mulheres do Rio e SP apontam o caminho da mobilização permanente e da organização popular como resposta contundente aos absurdos desta crise institucional na qual os setores conservadores mergulharam o país. Juntas contra Eduardo Cunha e contra o ajuste fiscal do Governo Dilma, as brasileiras gritam pra quem quiser ouvir: “Fora já, fora já daqui o Eduardo Cunha junto com o Levy!”
Ninguém pode proibir o futuro. Ninguém pode mais calar as questões da sexo-gênero-diversidade que mobilizam milhões em todo o mundo. Na Era da Alteridade que está apenas começando, o biopoder e as questões da subjetividade e das liberdades individuais não poderão mais ser aprionadas pelo cárcere dos velhos sistemas de poder. As fissuras no ordenamento econômico mundial, a fragilidade dos sistemas políticos frente à crise de representantividade do mundo contemporâneo, o colapso ambiental que ameaça todo o planeta e comoveu o país inteiro na última com o crime ambiental da Samarco/Vale em Mariana matando todo o Rio Doce, as agressões envolvendo o Secretário Executivo do Município do Rio, Pedro Paulo-PMDB, contra quem mais de 10 mil cariocas já assinaram petição pública exigindo a imediata demissão, nada disto escapou das milhares de mulheres que trouxeram sua lucidez para as ruas da cidade no 2.o Ato das Mulheres Contra Cunha.
Daqui pra frente será assim… E amanhã vai ser maior! Porque as mulheres estão parindo um novo imaginário político para o século XXI e doa a quem doer, o futuro delas lhes pertence. O machismo que mata agora agoniza. Em breve morrerá. É assim que nasce o mundo novo!